sábado, 16 de março de 2013

A NATUREZA CONSTITUCIONAL DO HOMEM




     Houve sempre dois conceitos predominantes na história da igreja com respeito à composição da natureza essencial do homem: dicotomia e tricotomia. Historicamente, especialmente nos círculos cristãos, concebeu-se o homem composto de duas partes: corpo e alma. No decorrer do desenvolvimento do pensamento cristão, contudo, apareceu outro conceito que compunha o homem de três partes: corpo, alma e espírito — a tricotomia.

Este último movimento apareceu com a influência da filosofia grega, que concebeu a relação entre o corpo e o espírito ligados entre si por meio de uma terceira substância, ou um terceiro elemento, que é a alma. A alma era considerada, por um lado, como imaterial quando relacionada com o espírito e, por outro lado, material, quando se relacionava com o corpo.
     “A forma mais familiar e mais crua da tricotomia é a que toma o corpo como a parte material humana, a alma como o principio da vida animal, e o espírito como o elemento racional e imortal que há no homem para relacionar-se com Deus.” [24] Berkhof ainda diz: “A alma se apropriava do “nous” (ou pneuma) se fosse considerada como imortal; mas se fosse relacionada com o corpo, ela era carnal e mortal.” [25] O pensamento tricotômico encontrou apoio em vários pais da igreja grega, nos primeiros séculos da era cristã. O pensamento dicotômico já teve seus adeptos na igreja ocidental ou latina, como por exemplo, em Agostinho. Na Idade Média, foi crença comum a dicotomia. Na Reforma aconteceu o mesmo, exceto uns poucos estudiosos.
Base Escriturística da Natureza Constitucional do Homem 

      A apresentação que a Escritura dá do homem não é a de uma tricotomia (embora haja dois textos que pareçam favorecer essa corrente), nem da dicotomia (embora muito mais textos favoreçam, como veremos, a apresentação dicotômica), mas é a da unidade do homem. Cada ato do homem contempla-se como sendo um ato do homem completo. Não é a alma que peca, mas o homem que peca; não é o corpo que morre, mas o homem que morre; não é a alma que Cristo redime, mas o homem. O homem é uma unidade. Portanto, quando a Escritura fala do corpo, ela está falando do homem; quando fala da alma, está falando do homem; ou quando fala do coração, está falando do homem. A concentração das Escrituras não é nas partes que compõem o homem, mas na unidade que cada parte apresenta. Temos sempre que ver o homem como uma unidade. E assim que a Bíblia o apresenta.
      Analisaremos o material bíblico debaixo dos seguintes tópicos:

1. O homem é Corpo (Adão foi criado um ser material)

2. O homem é Alma (Adão foi criado um ser espiritual)

3) O homem é Coração.
Antes da exposição destes três tópicos, vejamos as palavras hebraicas e gregas usadas para os termos:
a) Corpo no VT — rfpf(
('apar) = pó
rf&fB
(basar) = carne
hfl"b:n
(nebhlah) = corpo (cadáver)
Corpo no NT — sw=ma

b) Alma no VT - #pn
(nephesh)
Alma no NT — yuxh\n

c) Espírito no VT — axUr
(ruah)
Alma no NT — pneu=ma

d) Coração VT — bfb"l
(lebhabh)
b"l
(lebh)
Coração no NT — kardi/a


1. O HOMEM É CORPO (Adão foi criado um ser material ou físico)
     a) Considere a ênfase sobre homem nos seguintes textos: Gn 2.7 — “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó (rfpf() da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem a passou a ser alma vivente.”Esta é a primeira informação a respeito da natureza constitucional do homem. Neste verso nos é dito que o ser humano possui uma natureza física ou material. Antes dele ser “alma vivente”, já é dito que ele é homem. Contudo, quando o autor sagrado fala dessa natureza ele não está pensando numa parte do homem, mas do homem na sua unidade. 
Gn 3.19 — “Do suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado: porque tu és pó (rfpf) e ao pó tornarás.”Este outro verso de Gênesis mostra a materialidade que o homem é. Antes de botar a “alma vivente” Deus fez o homem. Novamente posso afirmar que o autor quis mostrar a natureza terrena do homem, não enfatizar que ele tem um corpo. Esse corpo (pó) é o homem. Esse elemento de unidade não pode ser perdido de vista quando se estuda este verso. Nesses textos acima, embora se esteja falando da parte física do homem, que é o seu corpo, a ênfase é no homem como uma unidade.

      Jó 34.15 — “Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria ao pó.”Novamente aqui a ênfase recai sobre o elemento físico ou material do homem, considerando-o como uma unidade. A verdade é que quem expira é o homem, não o corpo. A morte é do homem, não do corpo. Essa é a grande dificuldade que muitos ministros da Palavra enfrentam quando vão oficiar uma cerimônia fúnebre. Partamos do pressuposto que a pessoa que morreu seja cristã. O oficiante geralmente fala de Fulano que foi estar com Cristo, como se a pessoa consistisse unicamente da sua alma. “O corpo do Fulano”, diz o oficiante, “vai ser enterrado, mas o Fulano já está no céu”, como se o corpo não fosse o homem, ou como se o homem não fosse corpo. Embora a morte separe o homem (alma) de si mesmo (corpo), devemos sempre pensar no ser humano como uma unidade. Quem morre é o homem (não o corpo) e quem ressuscita é o homem (não o corpo). A morte é a separação do homem de si mesmo, enquanto que a ressurreição é reunião do homem consigo mesmo. Isto se dará somente no dia final, quando haverá a completação da salvação do pecador.


      b) Considere a expressão: “O homem é espirito, mas ele tem um corpo”. Não seria mais próprio dizer que o “homem é corpo”? A Escritura indica que o corpo representa o homem como uma unidade e também como um ser total, completo. O corpo não é um mero acessório (apêndice, departamento), nem é a prisão da alma (ou espirito). Se dizemos que o ser humano é um espirito que tem um corpo, o corpo não tem muita importância. Mas não é esta a idéia que a Escritura dá do corpo, como já vimos acima.
      c) Veja as seguintes observações sobre esta doutrina: Quando a Bíblia ensina que Adão foi feito “do pó da terra” (Gn 2.7), está claramente afirmada a natureza material do homem. Desde o principio houve uma identificação, harmonia e continuidade com este mundo. O homem é terreno. Portanto, todas as noções gnósticas da criação material como pecaminosas, devem ser terminantemente rejeitadas. Deus não somente declarou a criação material “muito boa” (Gn 1.31), mas fez o homem de elemento material. Vários textos do NT São respostas às heresias gnósticas, nas quais o universo material era mau. Veja a luta de Paulo e João contra as heresias gnósticas em Cl 1.19; 2.9; 1 Jo 1.1; 4.2; 5.6-8. Esta é a razão porque Paulo, quando fala da morte, diz a respeito do anelo próprio do crente em assumir outro corpo, porque seria algo anormal não querê-lo (2 Co 5). A morte é um estado natural para o homem. E natural para o homem sempre ser corpo. Na morte, o homem fica sem o que é muito importante nele, o corpo, que é a devida expressão da alma. E de grande importância para nós o estado de Cristo ressuscitado ser corporal, e o nosso estado final vai ser similar ao dEle.

      No novo céu e na nova terra, viveremos em plenitude a nossa humanidade perfeita.“O corpo não é para ser considerado, como os antigos filósofos pensaram dele, como a prisão material, da qual o homem deveria ficar feliz se pudesse escapar na morte. Ele (o corpo) é parte de si mesmo: uma parte integral de sua personalidade total, e corpo e a alma em separação, não completam o homem.” O ser humano não funciona melhor sem o corpo. O corpo é o veículo adequado para a expressão da alma. Essas duas realidades São o homem e o homem é essas duas realidades. E verdade que a criação material foi amaldiçoada por causa do pecado, tanto os elementos da natureza como o corpo humano, mas não por causa da materialidade dele (porque os anjos foram pecaminosos, sem terem qualquer forma corporal).

      A materialidade humana nunca deve ser considerada (como infelizmente alguns o fazem) a parte mais baixa da natureza humana, e a parte espiritual (imaterial) a mais elevada. Ambas as criações, material e espiritual, São igualmente boas e igualmente importantes, porque ambas vieram de Deus e vão para Deus (1Co 6.14-15). Ambas as partes, igualmente, foram corrompidas pelo pecado e têm que ser redimidas. Freqüentemente, num pensamento pecaminosamente distorcido, o espiritual é identificado com Deus e o material com o diabo. E bom ser lembrado que Satanás é espiritual (imaterial), e que sua esfera de ação é no mundo material. A materialidade humana, portanto, jamais deve ser identificada com o mal, pois a matéria não é má. Ela é criação de Deus. Corpo e espírito não São antitéticos (isto é, opostos entre si). Não há necessariamente qualquer conflito entre esses dois aspectos da natureza humana.

2. O HOMEM É ALMA
 (Adão foi criado um ser imaterial ou espiritual)
 

      Não podemos deixar de fazer referência a esse aspecto tão importante da composição da natureza humana. Este é o outro lado da mesma moeda. Ambos os elementos, o material e o imaterial, aparecem na narrativa da criação: Adão foi formado do pó da terra, mas somente quando o espírito foi soprado é que Adão foi tornado “alma vivente”. O fato de Adão ser “alma vivente” não foi único. Em Gn 1.21, 24 e 30 o mesmo é dito de outras criaturas vivas não humanas. O único ponto digno de nota na criação do homem é a maneira pela qual Deus fez isso: Ele soprou em Adão o espírito da vida. Este ato da parte de Deus foi pessoal, direto, singular, que distinguiu a criação humana (e a vida humana) das outras vidas animadas (Gn 2.7). O homem pertence aos dois mundos, ao espiritual e ao físico. O sopro da vida animada mostra que o homem é mais do que corpo. O próprio Deus deu vida ao corpo por soprar o espírito nele. Este ato especial aponta para um caso especial. Este soprar do espírito é a fonte da vida animada, e sem ela o homem propriamente pode ser chamado de morto (Tg 2.26). Há uma referência óbvia a Gn 2.7 em Ec 12.7 onde se lê: “e o pó volte a terra como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” — Está claro que o uso que o autor de Eclesiastes fez do Gênesis refere-se à natureza dupla do homem. Diferentemente dos animais, Adão foi formado de um elemento tomado da terra (pó) e um elemento que veio diretamente de Deus, que Ele “deu”.

      Na morte, estes dois elementos novamente se tornam distintos, e retornam às suas fontes distintas. Está claro também que o autor de Eclesiastes entendeu que a vida humana diferiu da vida animal em sua fonte e composição. Ec 3.20-21 diz: “Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó, e ao pó tornarão. Quem sabe que o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirige para cima, e o dos animais para baixo, para a terra?” — Aqui, o principio que anima é mencionado e usado para ambos os casos, mas há uma clara distinção entre os dois, o homem e os animais: o espírito do homem vai para cima, para Deus que o deu (Ec 12.7), enquanto que a “alma” do animal desce para a terra, de onde veio (Gn 1.24 — “produza a terra seres viventes (hfYah $epen) conforme a sua espécie...”). O espírito humano, então, é separado do corpo humano na morte por causa dos aspectos singulares que ele recebeu na criação (ele veio diretamente de Deus, de cima), enquanto que o poder animador das outras criaturas é preso aos seus corpos, e ambos deixam de existir como constituintes daquele animal, sendo sepultados na terra. Este assunto, o da natureza dual do homem, tem conduzido os estudiosos àquilo que, infelizmente, tem sido chamado de dicotomia e tricotomia. A questão do número dos elementos distintos que compõe a natureza humana é muito importante, mas o foco tem sido o da separação, como os termos dicotomia e tricotomia claramente indicam.

A. Unidade do Homem
 

      A ênfase das Escrituras, contudo, é sobre a unidade desses elementos. O homem não é o que é sem o corpo, e nem pode ser o que é sem a alma.“Corpo e alma existem somente em e um para o outro; o corpo não é um corpo, mas o corpo da alma; a alma não é uma alma, mas a alma do corpo; na nossa consciência do 'eu' os dois são um...O homem é uma unidade, não uma junção de duas partes separadas ou mesmo faculdades separadas, e a Bíblia trata com ele como tal.” É por isso que neste estudo preferiremos o termo duplo ou dúplex, ao nos referirmos à natureza humana, ao invés da idéia tradicional da dicotomia. Os termos duplo ou dúplex enfatizam a unidade dos elementos, antes que sua separação. O número desses elementos que compõe a natureza humana é importante, por causa das diferenças práticas que resultam em problemas sérios, dependendo da posição que se toma.

     O psicólogo cristão Clyde Narramore, por exemplo, mostra que sua tricotomia o levou a um ponto insustentável biblicamente. No aconselhamento ele diz que o corpo deve ser tratado pelo médico, o espírito pelo pastor, e a alma pelo psicólogo. É estranha tal separação na Escritura. A Escritura não permite a visão triplex (tríplice) do homem. Quando há separação é só por causa da morte, mas a ênfase é sobre a unidade. Além disso, na separação da morte, só há dois elementos. Em adição a Gn 2.7, examine Mt 10.28. Nesse verso de Mateus, é ensinado que o todo (a totalidade) do homem sofre no inferno. A verdadeira ênfase é sobre a totalidade (unidade) do homem sofrendo e não apenas o corpo ou a alma. A afirmação "alma" e "corpo" mostra que a natureza humana é dúplex (veja outro exemplo em 1 Co 7.34b).Vejamos este ensino de maneira sistemática:

A) A ESCRITURA FREQÜENTEMENTE DISTINGUE ENTRE CORPO - ALMA E/OU CORPO-ESPÍRITO.


      (1) O VT SUGERE UMA DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO), Contudo, esta distinção só entrou em uso mais tarde, debaixo da filosofia grega. A idéia é de que as duas partes formam uma unidade, um conjunto harmonioso — o homem, um ser que vive. Gn 3.19 — (após a queda com respeito à maldição) — “...tu és pó e ao pó tornarás.”A ênfase neste verso cai na parte física, mas o intento de Deus é tratar o ser humano como uma unidade. O particular é tomado como sendo a totalidade. Ec 12.7 — “e o pó (rfpf( - corpo) volte a terra, com o era, e o espírito (axUr) volte a Deus, que o deu.”Este verso já mostra o homem com uma composição dúplex, mostrando a sua origem. Ambas as partes, material e imaterial vieram de Deus. Jó 32.8 – “Na verdade há um espírito no homem (corpo), e o sopro do Todo-Poderoso o faz entendido.”Neste verso de Jó a ênfase cai sobre a parte material (corpo), que é chamada de “homem”. Contudo, a parte imaterial, o espírito, foi colocado no homem por Deus. Portanto, este verso trata da composição dúplex da natureza humana, embora dê mais força ao aspecto material. A mesma ênfase vem neste verso seguinte, do mesmo autor: (Jó 33.4) – “O Espírito de Deus me fez: e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida.”

      (2) O NT TAMBÉM SUGERE A DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO):

1 Co 2.11 – “Porque qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito que nele (corpo) está?”A mesma ênfase dada no VT está agora no NT. A parte enfatizada aqui é o corpo porque ela é chamada de “homem” e que “nele” está o espírito. Contudo, o intento de Paulo é falar da unidade, embora os dois elementos apareçam claramente nesse verso. Certamente o propósito de Paulo é tratar da capacidade perscrutadora do espírito humano, mas deixa evidente a composição dual da natureza humana. Mt 10.28 – “Não temais os que matam o corpo (soma) e não podem matar a alma (yuxh\n) temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.”Jesus Cristo está ensinando neste verso sobre o poder de Deus em contraste com o poder dos homens. Obviamente, ele usa o linguagem comum das pessoas quando fala da morte do corpo, pois o corpo fica inerte sem a presença da alma.

     Contudo, quando Deus exerce o seu poder ele pode fazer perecer tanto o aspecto físico como o aspecto espiritual do homem. A idéia de morte ai é de separação, não de extinção. O mesmo acontece se fala da morte do corpo: é a separação dele da alma — por isso o homem fica sem vida. Sem entrar mais do mérito desta questão, o texto mostra essa distinção entre as duas partes constituintes da natureza humana. E exatamente essa mesma idéia que Tiago mostra no verso a seguir: Tg 2.26 — “Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem as obras é morta.”Mesmo embora ele esteja falando da morte do corpo (que é a separação do homem de si mesmo), o texto nos ensina sobre a composição dual da natureza humana. 1 Co 7.34 — “.. Também a mulher, tanto a viúva quanto a virgem, cuida das cousas do Senhor, para ser santo, assim no corpo como no espírito.”A pureza de uma mulher, segundo Paulo, em qualquer estado civil que possa estar, deve produzir uma vida que evidencie a santidade cristã na totalidade do seu ser: no material e no espiritual.2 Co 7.1 — “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne (sarko\j) como do espírito (pneu/matoj) aperfeiçoando a nossa santidade no amor de Deus.”Este verso de Paulo aos Coríntios é muitíssimo claro quanto à obra santificadora do Senhor que é feita na totalidade do homem, isto é, na sua parte material como na imaterial. Deus realiza a obra da redenção. Assim como a santificação é uma obra de Deus, também ela é um dever do homem que deve ser puro tanto na sua natureza física quanto na sua natureza espiritual. Mt 26.41 — “… o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” Jesus ensina sobre o dever de orar e vigiar e, ao fazê-lo, ensina sobre a fraqueza da natureza humana. É provável que espírito esteja ligado com uma nova natureza e que carne significa as fraquezas de nosso ser. Seja como for, a idéia da composição dúplex não deve ser deixada de lado, mesmo neste texto que pode ter dupla interpretação.

B) A ESCRITURA PARECE, AO MESMO TEMPO, DISTINGUIR OS TERMOS ALMA E ESPÍRITO. 


     Sem dúvida, há duas passagens que parecem contradizer a idéia da apresentação da composição dual da natureza humana. São os dois únicos textos usados pelos chamados tricotomistas: 1 Ts 5.23 e Hb 4.12. A pergunta levantada é esta: “Não ensinam estes dois textos sobre a separação de alma e espírito, o que indica uma tríplice concepção do homem?” A resposta é enfaticamente, “não”!!!
      a) Vejamos primeiro, Hb 4.12. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito (yuxh=j kai\ pneu/matoj), juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e os propósitos do coração.”A Palavra de Deus, a Escritura, é como uma espada aguda, de dois gumes, que penetra bem fundo, ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas. Diz o tricotomista: “Se a Bíblia afirma a possibilidade de separar alma de espírito, por que não podemos fazer?” - O fato é que o pensamento grego não está dizendo realmente isso. O problema não é de tradução. O texto grego não diz que a alma é separada do espírito, ou que as juntas podem ser separadas das medulas.

      Ao contrário, o que é dito é que a Palavra de Deus divide o espírito e também a alma, assim como as juntas e as medulas. Os escritor, de mentalidade hebraica, está usando paralelismos, utilizando-se de sinônimos para reforçar a idéia da natureza tanto material como espiritual do homem. Ele fala de “alma” e “espírito” e de “juntas” e “medulas”, mostrando a composição dual, não tríplice da natureza humana. Esse paralelismo também se evidencia na idéia básica do texto de que a Palavra de Deus penetra profundamente, o suficiente para discernir no ser mais interior do homem, que é o coração, onde o autor usa duas idéias similares - os seus pensamentos e propósitos (vv. 12c e 13). O quadro aqui fala em dividir as juntas, medulas, alma e espírito. Observe que há duas categorias básicas aqui: material (juntas e medulas) e imaterial (alma/espírito), não três. Exatamente como os “pensamentos e propósitos” do coração não podem ser divididos, mas São colocados juntos, abrangentemente, a fim de expressar o aspecto total do intelecto, assim espírito e alma São mencionados para mostrar que nenhum aspecto do interior do homem está além do poder penetrante da palavra de Deus.


     b) Vejamos agora 1 Ts 5.23. “O mesmo Deus vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”Novamente a ênfase do texto não está sobre o número dos elementos que compõe a natureza humana, nem como podemos dividi-la. Antes, está sobre a totalidade do homem. Poderíamos traduzir este verso, da seguinte maneira: “O mesmo Deus vos santifique em tudo (completamente); e o vosso ser total (corpo, alma e espírito), seja conservado integro e irrepreensível na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”Paulo aqui não está dividindo, mas unindo. Se você não se conforma com essa argumentação, mas crê que Paulo está somando ao corpo a alma e o espírito, formando três partes, o que você faria com os seguintes textos: Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27? Estes textos falam de alma, coração, força e entendimento. Você acresceria essas partes mencionadas à composição do homem? Naturalmente que não! A Escritura usa freqüentemente dois, três ou até quatro termos sobre a natureza imaterial do homem, para enfatizar a idéia de totalidade. E necessário que observemos o sentido da passagem à luz de toda a verdade, vê-la à luz de seu propósito e não daquilo que queremos que o texto diga.

C) A ESCRITURA USA, FREQÜENTEMENTE, OS TERMOS ALMA E ESPIRITO INDISTINTAMENTE


(1) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a uma pessoa desincorporada.


      a) Nos texto abaixo as pessoas desincorporadas São chamadas de espírito: Todas as pessoas que morrem, isto é, que têm a sua natureza material separada da sua natureza imaterial, São consideradas como “espíritos”. Na morte de qualquer ser humano, aplica-se a velha máxima do sábio Salomão em Ec 7.12- “E o pó ('apar) volte a terra, como o era, e o espírito volte a Deus que o deu.” Tanto os homens comuns como o Salvador deles provaram a mesma experiência: Lc 23.46 — “Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou.” Desde a encarnação, o Redentor é vere Deus e vere homo, possuindo as duas naturezas — a divina e a humana. Como homem, ele possuía os dois aspectos da natureza humana — o material e o espiritual. 

      Quando o Redentor morreu, seu corpo foi para a sepultura e o seu espírito (que não é o Espírito Santo) voltou para Deus, até que ele ressurgiu ao terceiro dia. Nesse período essa pessoa desincorporada era um espírito. At 7.59 — “E apedrejavam a Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito (pneu=ma/ mou).” Quem morreu apedrejado foi Estevão, seu corpo ficou inerte porque foi separado do seu espírito. Essa parte, que veio diretamente de Deus, voltou para Deus onde goza da alegria até que a redenção se complete. Mas é o espírito de Estevão que está com Deus. Hb 12.23 — “… e igreja dos primogênitos arrolados no céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos (pneu/masi dikai/wn) aperfeiçoados. ”Todos aqueles que fazem parte dos remidos, que já morreram com Cristo, estão na presença de Deus gozando de suas delicias, sendo “justos e aperfeiçoados”, São chamados de “espíritos”.

      b) Nos textos abaixo uma pessoa desincorporada também é descrita na Escritura como alma: Esta observação cabe tanto aos homens comuns como ao Redentor deles. At 2.27 — “Porque não deixarás a minha alma (yuxh/n) na morte, nem permitirás que o teu santo veja corrupção.”Como humano que também era, Jesus possuía o seu corpo que foi sepultado, separado de sua alma até o terceiro dia. Perceba que o texto fala da morte da alma. Ora, morte significa separação. O que o escritor bíblico profeticamente diz é que o Senhor Deus não haveria de deixar a alma humana do Redentor no estado de morte, isto é, no estado de separação do seu corpo. Nem o seu corpo haveria de experimentar corrupção. A razão dessa incorrupção física e da alma não poder ficar par sempre no estado de morte é que ambos os aspectos da natureza humana do Redentor estavam indissoluvelmente ligadas à sua natureza divina, ao Logos. Portanto, quando houve a morte do Redentor, estando desincorporado, ele foi chamado de “alma”, que é a mesma coisa que “espírito”. Ap 6.9 — “...vi as almas (yuxa\j) daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus.”Ap 20.4 — “vi ainda as almas (yuxa\j) dos decapitados por causa do testemunho de Jesus...”Esses dois textos acima falam da situação dos remidos do Redentor. Quando eles morrem, e nestes textos há o motivo de suas mortes, eles São separados de si mesmos. O físico deles repousa na sepultura e espírito deles vai estar com Deus. No entanto, quando desincorporados eles São chamados de “almas”, o que equivale a “espíritos”. 

Obs.: 

     a) Note que a Escritura apresenta a pessoa desincorporada como espírito que é, auto-consciente, cônscio de sua identidade pessoal: Lc 23.43; Lc 16.19-31; Fp 1.22-23; 2 Co 5.1-10 (especialmente vv.6-8). 

     b) quando se fala de almas ou espíritos das pessoas desincorporadas, deve se ter em mente que o escritor bíblico tem como meta falar de pessoas em sua unidade, não somente uma das partes delas.


(2) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a expressões de emoção e de devoção.


      Esta argumentação que se segue destrói qualquer possibilidade de alguém reivindicar a tese tricotomista. A Escritura é a intérprete de si própria. Ela mesma dá as respostas às nossas inquirições. 

     (a) A Dor faz alusão tanto à alma como ao espírito: isto está claro nos ensinamentos sobre a pessoa de Jesus Cristo: Este ponto pode e deve tanto ser aplicado aos homens comuns como ao Redentor deles. Vejamos primeiro sobre Jesus: Jo 12.27 — “Agora está angustiada a minha alma (yuxh/), e que direi eu?...”Jo 13.21 — (após lavar os pés dos discípulos) – “Ditas estas cousas, angustiou-se Jesus em espírito (pneu/mati).”Esses dois textos acima falam de uma situação de sofrimento angustiante de nosso Redentor. De acordo com o ensino geral dos tricotomistas, somente a alma deveria ser a portadora dessa angústia. Contudo, como esses termos São usados indistintamente, tratando da mesma natureza espiritual do homem, é dito também que o espírito estava angustiado. Mt 26.38 — (No Getsêmani) – “Então lhes disse: a minha alma (yuxh/ mou) está profundamente triste até a morte...”Mc 8.12 — (quando os fariseus pediram um sinal) – “Jesus, porém, arrancou do intimo do seu espírito (pneu/mati au)tou=) um gemido, e disse: por que pede esta geração um sinal?...”

O mesmo caso se aplica nestes dois textos acima. A emoção chamada “tristeza” que normalmente é atribuída pelos tricotomistas à alma, a Escritura atribuí ao espírito, porque as duas palavras São indicativas da mesma coisa — a natureza imaterial do homem. (Obs.: note que o uso que Marcos faz de espírito é menos intenso do que na situação de Mateus, quando este usa a palavra alma. Isto é uma grande dificuldade para quem pensa tricotomísticamente). Também no caso dos homens comuns, a dor é atribuída tanto a alma como ao espírito. At 17.16 — “Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito (pneu=ma au)tou=) se revoltava em face da idolatria reinante na cidade.”2 Pe 2.8 — (Sobre Ló em Sodoma) – “Porque este justo, pelo que ouvia e via quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa (yuxh\n dikai/na), cada dia, por causa das obras iníquas daqueles.” Tanto Paulo como Ló, ao contemplar o mal, num reflexo da imagem de Deus que já havia sido restaurada neles, pois eram justos, sentiram dor que lhes atormentava a “alma” (ou “espírito”- pois essas duas palavras São usadas indistintamente) deles, pois é essa sensação dolorida que o pecado causa na vida dos redimidos. Veja-se ainda Sl 77.3; 142.3; 143.7 - aplicando a dor ou a tristeza ao espírito.

     (b) Alegria Ação de Graças estão relacionadas tanto à alma como ao espírito:O escritor sacro narra uma ocasião quando Maria deixa os tricotomistas numa situação muito embaraçosa, pois ela inverte a ordem estabelecida por eles na distribuição dos elementos distintos na natureza não material do homem. Veja o que Maria, a mãe do Redentor, diz: Lc 1.46-47- “Então disse Maria: a minha alma (yuxh/ mou) engrandece ao Senhor, e o meu espírito (pneu=ma/ mou) exulta em Deus meu salvador.”Segundo a teoria geral dos tricotomistas, o que é próprio da alma é o sentimento, é atribuído ao espírito — “o meu espírito exulta em Deus meu salvador”. E o que é próprio do espírito, a adoração cristã, é atribuído à alma — “a minha alma engrandece ao Senhor”.

Por que Maria faz esse uso “indevido” dessas palavras? Obviamente, não há uso indevido. O que acontece é que não há nenhuma autorização nas Escrituras para considerarmos essas duas palavras — alma e espírito — como elementos distintos na composição da natureza humana. Na adoração dos crentes comuns é muito usada a expressão do Salmista no Sl 42.1-2 — “Como a corça suspira pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma (yi$:pan) tem sede de Deus, do Deus vivo...” — Todos os verdadeiros cristãos adoram a Deus com todos os anelos de sua alma. Eles poderiam perfeitamente usar duas outras palavras para expressar a mesma idéia. Eles poderia dizer que suspiram pelo Senhor com todo o seu coração ou com todo o seu espírito. São termos usados indistintamente para expressar o mesmo sentimento de adoração num desejo ardente por Deus.

     (c) Adoração e Devoção São também atribuídos a ambos: alma e espírito. Os textos abaixo criam uma dificuldade enorme para aqueles que possuem uma mentalidade tricotomista, pois se a regra for aplicada literalmente, os tricotomistas não mais poderiam ser tricotomistas, mas pentatomistas, pois o verso abaixo fala de cinco partes. Uma dela obviamente se refere ao corpo (“toda a tua força”). As quatro restantes dizem respeito às partes imateriais do homem que deveriam ser consideradas distintas se fôssemos aplicar a tese tricotomista. Veja o texto: Mc 12.30 - (pergunta sobre o l.º grande mandamento) – “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração (kardi/aj sou), de toda a tua alma (yuxh=j sou), de todo o teu entendimento (dianoi/aj sou), e de toda a tua força (i)sxu/oj sou).Observe os outros textos paralelos:

Mc 12.30 - coração, alma, entendimento, força

Mt 22.37 - coração, alma, entendimento,

Lc 10.27 - coração, alma, entendimento, força

Dt 6.5 - coração, alma, força

      Obs.: Uma observação que não pode deixar de ser feita é esta: A parte mais importante no nosso culto a Deus e na expressão de nosso amor a Deus, segundo o entendimento tricotomistas é o espírito do homem. Contudo, a ausência de espírito nestes textos é um problema sério para o tricotomista. Perceba no verso abaixo que o que é dito de um (espírito) é dito do outro (alma) no que respeita ao esforço do cristão em preservar o corpo de doutrinas que ele recebe, que aqui é chamado de “fé evangélica”. Isto é assim porque não se trata de elementos distintos, mas do mesmo elemento. Paulo, obviamente, está usando um paralelismo hebraico. Fp 1.27 — “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos, ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito (pneu/mati), com uma alma (yuxv=), lutando juntos pela fé evangélica.” Ef 6.5-6 — “Quanto a vós outros, servos, obedecei a vossos senhores, segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração (kardi/aj u(mw=n) como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração (e)k yuxh=j) a vontade de Deus.”Note: de todas as referências à dor, alegria, adoração, perceba que o lugar dos exercícios espirituais de um homem regenerado está, tanto na alma como no espírito. Nenhum exercício espiritual da alma deve deixar de ser atribuído ao espírito, porque ambos os termos significam a mesma coisa — o aspecto imaterial do ser humano. E importante ser observado que é a alma que tem anelos de Deus em vários textos da Escritura (Sl 42.1-2; 62.1, 5, 8; 84.2; 86.4; 130.5-6; 143.6; Is 26.9.). Observe-se ainda que é a alma que é devota a Deus (S1103.1, 2, 22; 104.1, 35; 108.1; 119.175; 143.8).


(3) Alma e espírito são usados indistintamente para descrever o objeto da obra redentora e santificadora de Cristo. 


      (a) Quem vai para o céu ou para o inferno é a alma ou o espírito. A existência humana no futuro, seja em vida ou em morte, isto é, em comunhão com Deus ou em separação de Deus, é dita pertencer à alma ou ao espírito. Os dois textos paralelos abaixo demonstram que a existência em morte pertence à alma. Mt 16.26 — “Pois que aproveitaria o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma (yuxh\n)? Ou o que dará o homem em troca de sua alma (yuxh=j au)tou=)?” (cf. Mc 8.36) Lc 12.20 — “Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma (yuxh/n), e o que tens preparado, para quem será?”Nos textos abaixo é dito que a existência em vida dos cristãos pertence à alma. E curioso que, na concepção tricotomista, quem vai para o céu é o espírito, não a alma. No entanto, a Escritura usa o termo alma como equivalente a espírito. Lc 21.19 — “E na perseverança que ganhareis as vossas almas (yuxa\j u(mw=n).” Hb 10.39 — “Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé para a conservação da alma (peripoi/hsin yuxh=j).” Tg 1.21 — 
“Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas (yuxa\j u(mw=n).” Tg 5.20 — “Sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado, salvará a alma dele (yuxh\n au)tou=) e cobrirá multidão de pecados.”1 Pe 1.9 — “Obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas (u(mw=n swthri/na yuxw=n).” Ez 3.19 — “Mas, se avisares o perverso, e ele não se converter da sua maldade e do seu caminho perverso, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu salvaste a tua alma (!:$:pan)).”Nos dois textos abaixo é mostrado que um cristão que morre vai para a vida com Jesus. No entanto, a palavra usada aqui é “espírito” não “alma”, como nos textos anteriores. At 7.59 — “E apedrejavam a Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito (pneu=ma/ mou).” 1 Co 5.5 — “... seja entregue a Satanás para a destruição da carne (sapko/j), a fim de que o espírito (pneu=ma swqv=) seja salvo no dia do Senhor.”

      b) A Santificação é da alma (ou espírito). A salvação é alguma coisa que já aconteceu no passado, mas ainda é uma realidade presente. Deus continua ainda a nos salvar. A isto a Escritura chama “santificação”. O processo da santificação acontece com a totalidade do seu humano, tanto da sua parte material como da imaterial. Escrevendo aos Coríntios, Paulo deixa bem claro esta verdade. A parte material ele chama de “carne” e a parte imaterial ele chama de “espírito”. Estes são os únicos dois elementos que compõem a natureza humana. 2 Co 7.1 — “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne (sarko\j), como do espírito (pneu/matoj) aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.”Pedro, no entanto usa, nos textos abaixo, a palavra “alma” como sendo o locus da santificação que Deus opera em nós, e que nós operamos mediante nossa obediência à verdade. 1 Pe 1.22 — “Tendo purificado as vossas almas (yuxa\j) pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros, ardentemente.”1 Pe 2.11 — “Amados, exorto-vos como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma (yuxh=j).”Is 38.16-17 — “Senhor, por estas disposições tuas vivem os homens, e inteiramente delas depende o meu espírito (yixUr); Portanto, restaura-me a saúde, e faze-me viver. Eis que foi para a minha paz que tive eu grande amargura; tu, porém, amas a minha alma (yi$:pan) e a livraste da cova da corrupção porque lançaste para trás de ti todos os meus pecados.” O ensino dos profetas do Antigo Testamento não é diferente dos escritores do Novo Testamento. A contaminação da “alma” torna necessária a purificação dela. Da mesma forma a saúde do “espírito” do homem depende da obra santificadora de Deus. Analise com propriedade estes dois textos abaixo e verifique que alma ou espírito São o locus da obra santificadora de Deus, pois são termos usados indistintamente. Ez 4.14 — “Então, disse eu: Ah! Senhor Deus! eis que a minha alma (yi$:pan) não foi contaminada, pois desde a minha mocidade até agora, nunca comi animal morto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou na minha boca.” Is 38.16-17 — “Senhor, por estas disposições tuas vivem os homens, e inteiramente delas depende o meu espírito (yixUr); portanto, restaura-me a saúde, e faze-me viver. Eis que foi para a minha paz que tive eu grande amargura; tu, porém, amas a minha alma (yi$:pan) e a livraste da cova da corrupção porque lançaste para trás de ti todos os meus pecados.”

      (c) O Perdão de Deus é para a Alma. Na concepção tricotomista, o perdão de Deus deveria ser para o espírito humano, não para a alma. Contudo, a Escritura diz em vários lugares que a alma humana é objeto da compaixão perdoadora de Deus. Sl 41.4 — “Disse eu: compadece-te de mim, Senhor; sara a minha alma, porque pequei contra ti.” S1102.2-3 — “Bendize, ó minha alma ao Senhor, e não te esqueças de nenhum só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades.” Observe: É muito importante que se leve em conta que, quando a Escritura se refere ao perdão da alma, ao fato dela ir para o céu, a ênfase não está na divisão da pessoa, mas na unidade dela. Portanto, é salutar pensar que Deus perdoa a pessoa, e não apenas o lado imaterial dela; que é a pessoa que vai para o céu, não um pedaço dela.

      Explicação: O fato de que a Escritura usa alma e espírito indistintamente em muitos contextos, como sinônimos básicos em tais contextos, não implica que não possa haver outro sentido do seu uso em outros contextos; o mesmo acontece com carne e corpo.

Heber Carlos de Campos. Apostila de Antropologia.

Extraído de: http://www.materiasdeteologia.com/2013/03/

Nenhum comentário:

Postar um comentário