quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

POR QUE NÃO OPERAMOS MILAGRES MAIORES QUE OS OPERADOS POR JESUS? - por Ruy Marinho




“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai.” João 14:12

Certo dia, um amigo muito angustiado me procurou, preocupado com o seu ministério, dizendo que não conseguia adquirir a promessa de Jesus descrita nesta passagem. Em outras palavras, não chegava a um nível de espiritualidade elevada, a ponto de operar milagres maiores dos que o Mestre operou em seu ministério terreno.

A primeira coisa que questionei: se realmente as “obras maiores” que Jesus prometeu que iríamos fazer, for os sinais miraculosos que Ele operou durante seu ministério terreno, então estamos com um problema muito grave: A realidade da Igreja hoje estaria muito distante do ideal! Os sinais extraordinários operados por Jesus deveriam acontecer em quantidades maiores, com milagres mais espetaculares e extraordinários dos que o Mestre operou. Imaginem, por exemplo, qual milagre seria maior do que ressuscitar um morto? Ou então reconstruir uma orelha decepada?

Confesso que até hoje não vi ninguém operar milagres e sinais extraordinários como: andar sobre as águas, curar cegos e paraplégicos, reconstituir mutilados, ressuscitar mortos, transformar água em vinho, ler pensamentos, multiplicar pães e peixes etc.

Na verdade, o grande problema é que muitos pregadores “milagreiros” utilizam Jo 14:12 de forma isolada e fora de contexto, interpretando o texto de maneira literal, para tentar justificar seus truques de ilusionismo e de misticismos exóticos. Este errôneo “padrão de ensino” vem sendo propagado há muito tempo nas igrejas neopentecostais brasileiras, tendo em vista os inúmeros casos de pessoas que se frustraram ministerialmente por não conseguir alcançar esta suposta “promessa sobrenatural” de Jesus, bem como por serem vítimas dos milagreiros fraudulentos.

Analisando o versículo de maneira exegética, o termo grego utilizado para “maiores” é meizõn, literalmente significa “coisas maiores”. Já o vocábulo “obras” a palavra grega é ergon, que significa trabalho, ato, ação. [1] O termo ergon é direcionado, em sentido amplo, a “trabalho”. Na versão Bíblica inglesa King James (KJV), o vocábulo ergon é empregado a “works”, que significa trabalho. [2] Seguindo o contexto direto da passagem, as “obras maiores” significam a longitude do trabalho através da expansão do evangelho. Em outras palavras: o foco é trabalhos maiores e não milagres maiores!

Cristo não está afirmando que faríamos milagres extraordinários maiores do que Ele fez, mas sim que a obra da Igreja, no poder do Espírito Santo, será “maior” do que a obra de Jesus, em sentido numérico e territorial. As obras maiores estão diretamente conectadas à ida de Cristo ao Pai (“porque eu vou para junto do Pai”), onde após isso o Espírito Santo seria enviado (Jo 14:16) e os discípulos revestidos de autoridade para anunciar o evangelho (At 1:8). Quando o Espírito foi derramado sobre os discípulos, todos eles pregaram a Palavra de Deus. Com isso, converteram-se ao evangelho uma enorme multidão de pessoas, quantidade bem mais numérica do que todas as pregações de Jesus juntas (At 1:15, 2:41, 4:4, 5:14, 6:7, 9:35, 12:24, 16:15). As “obras maiores” que os discípulos realizaram foram, sem dúvida, às milhares de conversões de vidas, através da propagação do evangelho pelo poder do Espírito Santo.

Os apóstolos não operavam milagres como meio de pregar o evangelho, mas em casos específicos como sinais inquestionáveis do poder de Deus (At 19:11). O Evangelho em si tem como objetivo de salvar vidas e não de operar milagres físicos, pois estes são meros coadjuvantes da mensagem evangelística (1Co 15:1-4, 1Tm 1:15). Em seus sermões, Jesus nunca priorizou curas, milagres e sinais. Os mesmos eram acompanhantes de suas pregações, nos quais testificavam que Ele era o Messias Ungido de Deus.

Sendo assim, não devemos de forma alguma lamentar por não realizar milagres iguais ou maiores dos que Cristo operou. Na verdade, o nosso lamento deve estar na superficialidade bíblica em que algumas igrejas estão inseridas, pois o que é pregado e ensinado por muitos vem prejudicando a essência da mensagem bíblica, enfatizando experiências místicas extra-bíblicas em detrimento da verdadeira mensagem evangelística que é a salvação e transformação de vidas.

O maior milagre que pode acontecer na vida de alguém é a salvação em Cristo Jesus. Portanto, vamos anunciar o evangelho!

Soli Deo Gloria!


Notas:

1 GINGRICH, F. W.; DANKER, F. W. Léxico do N.T. grego/português. Vida Nova, 2003, pág 85.
2 KING JAMES Amplifield Parallel Bible, 2005, Thomas Nelson Publishing Staff.


Extraído de: http://www.materiasdeteologia.com

A Regeneração Precede a Fé


por R.C. Sproul


Um dos momentos mais dramáticos em minha vida, na formação de minha teologia, ocorreu em uma sala de aula de um seminário. Um de meus professores foi ao quadro negro e escreveu estas palavras em letras garrafais:

A regeneração precede a fé

Aquelas palavras foram um choque para o meu sistema. Eu tinha entrado no seminário crendo que a obra principal do homem para efetivar o novo nascimento era a fé. Eu pensava que nós tínhamos que primeiro crer em Cristo, para então nascermos de novo. Eu uso as palavras "para então" aqui por uma razão. Eu estava pensando em termos de passos que deviam ocorrer em uma certa seqüência. Eu colocava a fé no princípio. A ordem parecia algo mais ou menos assim:

"Fé - novo nascimento - justificação."

Eu não tinha pensado sobre esse assunto com muito cuidado. Nem tinha atentado cuidadosamente às palavras de Jesus a Nicodemus. Eu presumia que mesmo sendo um pecador, uma pessoa nascida da carne e vivendo na carne, eu ainda tinha uma pequena ilha de justiça, um pequeno depósito de poder espiritual remanescente em minha alma para me capacitar a responder ao Evangelho sozinho. Possivelmente eu tinha sido confundido pelo ensino da Igreja Católica Romana. Roma, e muitos outros ramos do Cristianismo, tem ensinado que a regeneração é graciosa; ela não pode acontecer aparte da ajuda de Deus.

Nenhum homem tem o poder para ressuscitar a si mesmo da morte espiritual. A divina assistência é necessária. Esta graça, de acordo com Roma, vem na forma do que é chamado graça preveniente. "Preveniente" significa que ela vem antes de outra coisa. Roma adiciona a esta graça preveniente o requerimento de que devemos "cooperar com ela e assentir diante dela", antes que ela possa atuar em nossos corações.

Esta concepção de cooperação é na melhor das hipóteses uma meia verdade. Sim, a fé que exercemos é nossa fé. Deus não crê por nós. Quando eu respondo a Cristo, é a minha resposta, minha fé, minha confiança que está sendo exercida. O assunto, contudo, se aprofunda. A questão ainda permanece: "Eu coopero com a graça de Deus antes de eu nascer de novo, ou a cooperação ocorre depois?" Outro modo de fazer esta pergunta é questionar se a regeneração é monergista ou sinergista. Ela é operativa ou cooperativa? É eficaz ou dependente? Algumas destas palavras são termos teológicos que requerer maior explanação.

Monergismo e Sinergismo

Uma obra monergística é uma obra produzida por uma única pessoa. O prefixo mono significa um. A palavra ergrefere-se a uma unidade de trabalho. Palavras como energia são construídas com base nessa raiz. Uma obra sinergística é uma que envolve cooperação entre duas ou mais pessoas ou coisas. O prefixo sun significa "juntamente com".

Eu faço esta distinção por uma razão. O debate entre Roma e Lutero foi travado sobre este simples ponto. A questão era esta: A regeneração é uma obra monergística de Deus ou uma obra sinergística que requer cooperação entre homem e Deus? Quando meu professor escreveu "A regeneração precede a fé" no quadro negro, ele estava claramente tomando o lado da resposta monergística. Depois de uma pessoa ser regenerada, esta pessoa coopera pelo exercício de sua fé e confiança. Mas o primeiro passo é a obra de Deus e de Deus tão-somente.

A razão pela qual não cooperamos com a graça regeneradora antes dela agir sobre nós e em nós é que nós não podemos. Não podemos porque estamos mortos espiritualmente. Não podemos assistir o Espírito Santo na vivificação de nossas almas para a vida espiritual, da mesma forma que Lázaro não podia ajudar Jesus a ressuscitá-lo dos mortos.

Quando comecei a lutar com o argumento do Professor, fiquei surpreso ao descobrir que o estranho som de seu ensino não era novidade. Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, George Whitefield - até o grande teólogo medieval Tomás de Aquino ensinaram esta doutrina. Tomás de Aquino é o Doctor Angelicus da Igreja Católica Romana. Por séculos seu ensino teológico era aceito como dogma oficial pela maioria dos Católicos. Então, ele era a última pessoa que eu esperava sustentar tal visão da regeneração. Todavia Aquino insistiu que a graça regeneradora é uma graça operante, e não uma graça cooperativa. Aquino falou da graça preveniente, mas ele falou de uma graça que vem antes da fé, que é a regeneração.

Estes gigantes da história Cristã derivaram a visão deles das Sagradas Escrituras. A frase chave na Carta de Paulo aos Efésios é esta: "estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)" (Efésios 2:5). Aqui Paulo localiza o tempo em que a regeneração ocorre. Ela ocorreu"quando estávamos ainda mortos". Com um único raio de revelação apostólica foram esmagadas, total e completamente, todas as tentativas e entregar a iniciativa na regeneração aos homens. Novamente, homens mortos não cooperam com a graça. A menos que a regeneração ocorra primeiro, não há possibilidade de fé.

Isso não diz nada de diferente do que Jesus disse a Nicodemus. A menos que um homem nasça de novo primeiro, ele não pode ver ou entrar no reino de Deus. Se nós cremos que a fé precede a regeneração, então nós colocamos nossos pensamentos, e, portanto, nós mesmos, em direta oposição não só aos gigantes da história Cristã, mas também ao ensino de Paulo e do nosso próprio Senhor Jesus Cristo.

(do livro, O Mistério do Espírito Santo, Tyndale House, 1990)

Meu Comentário:

Outras passagens na Bíblia que claramente ensinam que a regeneração precede a fé:

1 João 5:1 - "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é o nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou, ama também ao que dele é nascido.", João 1:13, Rom 9:16

João 6:63,65 "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido".

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Fonte: Monergismo
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 18 de Março de 2003.
Via: Monergismo

Voce pertence ao movimento da igreja organica simples?


Muitos que me escrevem confundem o fato de eu e outros irmãos estarmos congregados somente ao nome do Senhor com movimentos modernos conhecidos como "igreja simples", "igreja orgânica", "igreja nas casas" e outros grupos semelhantes. Quando falamos de estar congregados ao nome do Senhor em comunhão com irmãos que fazem o mesmo em todo o mundo não estamos falando desses conceitos, mas de voltar aos princípios estabelecidos na doutrina dos apóstolos. 



Neste ponto você poderá dizer que a ideia de "igreja simples", "igreja orgânica" ou "igrejas nas casas" também tem a mesma intenção, mas eu pergunto: "Será?". Quando entro em um site que explica os princípios do movimento chamado de "igreja simples" vejo ali a ideia descrita como algo que "tem foco na comunhão e relacionamento real com os irmãos". Embora os irmãos devam se relacionar e exercitar uma comunhão prática uns com os outros, não é esta a principal função da igreja de Deus na terra. Se fosse, a igreja seria algo que Deus criou para se ocupar consigo mesma, pois seu foco estaria no relacionamento com os irmãos. 

Apesar de ser uma ideia bonita e cativante, a de cristãos vivendo juntos em harmonia como uma grande família, no fundo essa aplicação como o cerne ou motivo de cristãos estarem reunidos tem tanta consistência quanto dizer que uma noiva existe para passar o dia olhando sua própria imagem no espelho. O foco da igreja jamais está em si mesma, mas em Cristo. Deus entregou o seu Filho à morte para de seu lado rasgado tirar uma companheira para ele, portanto a origem, função e destino da igreja tem tudo a ver com Cristo, o Noivo, e não consigo mesma. Quando a igreja se ocupa com Cristo ela está cumprindo o seu propósito; quando ela se ocupa consigo mesma não está sendo muito diferente de uma comunidade de ajuda mútua. 

A igreja está na terra em sua jornada aguardando a volta do Noivo para a tirar daqui, portanto todos os seus sentimentos e todo o seu foco estão no céu onde Cristo está. Até mesmo suas atividades aqui têm esse caráter conectado ao céu. Em Atos 2:42 vemos que os primeiros cristãos "perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações" (At 2:42). 

Primeiro, eles se ocupavam em aprender juntos a doutrina dos apóstolos por intermédio dos dons, e isto se traduz no ministério da Palavra. Toda a comunhão cristã deve estar baseada na doutrina dos apóstolos e não no "achismo" ou no "sentimentalismo". Muitos cristãos se reúnem para buscarem uma experiência de satisfação, emoções e muitas outras coisas, mas nada disso será real a menos que tenha por origem e fundamento a doutrina dos apóstolos. 

Em muitos lugares hoje você escuta muito de prática de vida cristã, psicologia cristã, como manter relacionamentos, criar filhos etc., e por mais que tudo isso possa ser bom para nosso andar aqui como indivíduos, a doutrina dos apóstolos vai muito além do que um discurso motivacional ou de dicas para o dia a dia. Não é à toa que muitos cristãos hoje vivem em busca da última grande sacada para ser feliz, algo não muito diferente do que fazem as pessoas que frequentam as seções de livros motivacionais das livrarias. 

O versículo em Atos fala também de comunhão, e obviamente aí está incluída a comunhão uns com os outros que é bastante salutar, mas ela não fará sentido se não estiver fundamentada na doutrina dos apóstolos e não for voltada para Cristo. Darby traduz este versículo assim: "E perseveravam no ensino e comunhão dos apóstolos, no partir do pão e nas orações", mostrando que essa comunhão era também com a doutrina, ou seja, um mesmo pensamento formado pelo que os apóstolos ensinaram. 

O terceiro pilar sobre o qual a igreja se apoia em suas práticas é o "partir do pão", e aí o erro no site que fala de "igreja simples" fica notório. Ali eles interpretam esse "partir do pão" simplesmente como uma refeição conjunta, como a que fazemos em família. É claro que a expressão "partir do pão" também aparece nas escrituras com este sentido, mas não é o caso aqui, especialmente quando analisamos o contexto. 

Por exemplo, podemos entender que em Lucas 24:28-31, quando os dois discípulos se encontram com o Senhor, o partir do pão ali significa simplesmente que se sentaram para comer junto com o Senhor. Não era a ceia do Senhor; não era a expressão de comunhão com sua morte e nem a celebração da memória do corpo e do sangue de Cristo, como fazemos no primeiro dia da semana. Era sim uma refeição em comum. 

Mas aqui em Atos 2 nós temos as duas coisas. Temos a refeição em comum no versículo 46, onde diz que eles"perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração" (At 2:46), pois é dessa vida em comum que o contexto fala, mas no versículo 42 temos a ceia do Senhor conectada às outras práticas, como doutrina dos apóstolos, comunhão e orações. 

Como distinguir se ambas passagens e também outras usam a expressão "partir o pão"? Veja em que contexto está inserida a primeira passagem que fala de "partir o pão"

At 2:41-42 "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas; E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações". 

Veja que a passagem nos fala de uma atividade corporativa como assembleia ou igreja, mesmo que eles não entendessem perfeitamente o que estavam vivendo, já que a verdade da igreja seria revelada mais tarde a Paulo e aos outros apóstolos. Mas eles certamente já obedeciam a ordenança do Senhor dada aos apóstolos na última ceia para que partissem o pão em memória dele. A Paulo seria dado ratificar a prática por meio de uma revelação direta do Senhor: 

1 Co 11:23-26 "Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha". 

Não faria sentido dizer em Atos 2:41-42 que "perseveravam... no partir do pão" se a expressão indicasse meramente a alimentação diária. Interpretar assim seria como dizer que "perseveravam em tomar café da manhã, almoçar e jantar", o que não teria qualquer importância e nem conexão com "doutrina dos apóstolos""comunhão" e "orações"

As atividades de Atos 2:42, quando vistas de forma ampla, também serão encontradas de forma mais detalhada nas epístolas. Por exemplo, o perseverar na doutrina (1 Co 14:26-40), na comunhão (pode ser o caso de Jd 1:12 ou 1 Co 11:21, em ambos os casos apontando distorções), no partir do pão (a ceia do Senhor, 1 Co 11:23-26) e orações (1 Co 14:14-17). 

Mas ao continuarmos a leitura de Atos 2 chegaremos ao versículo 46, quando aí sim fala dos costumes da vida diária, onde o "partir o pão" refere-se à alimentação regular e diária. Aqui poderíamos parafrasear como "tomando café da manhã, almoçando e jantando em casa, comiam juntos..."

At 2:46 "E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração". 

Outras passagens que falam do partir do pão também podem ser interpretadas segundo o contexto de cada uma. A que você encontra em Atos 20:7-11, quando se congregaram com o objetivo específico de partir o pão, está falando da ceia do Senhor. Outra em Atos 27:35 está falando de uma refeição em comum, já que ninguém iria achar que pagãos incrédulos seriam admitidos à ceia do Senhor. 

Sugiro que leia alguns textos que escrevi sobre o assunto e que mostram que estar congregado ao nome do Senhor do modo como muitos irmãos em todo o mundo fazem não é o mesmo que os movimentos modernos de "igrejas nas casas", "igreja simples" ou "comunidades". Numa época em que se fala muito em "redes sociais", "conectividade" etc. é fácil sermos levados por uma ideia assim de uma rede de cristãos que se reúnem simplesmente para terem comunhão uns com os outros. A pergunta é: Cristo está no centro? Sua autoridade é exercida ali? É o Espírito Santo quem dirige? Ou é apenas uma reunião informal que procura dar oportunidade a todos de se expressarem? 

Todos estes movimentos podem ter práticas salutares de comunhão entre irmãos, mas uma simples passada de olhos permite ver que o ministério de Paulo, que são as práticas dadas à igreja, foi deixado de lado como faz a cristandade denominacional como um todo. Nessas reuniões vemos elementos importados do judaísmo, como cantores, bandas e instrumentos musicais, mulheres falando, e em alguns casos homens claramente ocupando a posição de líderes. Alguns desses grupos não passam de satélites de denominações, uma prática comum há muitos anos quando igrejas denominacionais criavam "comunidades" para abrigar nelas membros que não se sentissem bem no ambiente tradicional da "igreja" institucional. 

Mas o que me parece muito claro ser um erro nesse movimento todo é seu caráter independente. Não existe independência na Palavra de Deus e quando vemos um grupo de cristãos vivendo de forma independente e autônoma isso certamente não tem paralelo no que encontramos na igreja de Atos e das epístolas, cujas assembleias eram interdependentes. Se eu e outros irmãos entendemos que devemos nos apartar dos erros da cristandade para estarmos congregados ao nome do Senhor, seria um erro iniciar uma reunião por nós mesmos e de forma independente sabendo que em todo o mundo já existiriam muitos irmãos e assembleias congregadas sobre os fundamentos da doutrina dos apóstolos e em comunhão umas com as outras. Certamente isto seria visto como "começar uma nova igreja", o que não tem fundamento bíblico.

por Mario Persona 

Repentistas do púlpito


É comum encontrar pregadores que não preparam sermão, deixam a coisa inteiramente por conta do Espírito, da unção, do repente. Há também os repentistas que gostam mesmo de perder tempo, porque dedicaram-se no preparo do sermão durante a semana por algumas horas e mudam tudo cinco minutos antes de subir ao púlpito.

Já observei que é típico desse pessoal dizer que a mudança do sermão aconteceu aos 45 do segundo tempo e que a entrega da Palavra foi uma bênção, o poder de Deus verdadeiramente se manifestou, pessoas foram tocadas e blá blá blá. Pode até ser, mas custo a acreditar!

Se o Espírito está com o pregador repentista para entregar a ele uma mensagem poderosa no momento da pregação, por que não estaria com ele antes para entregar a mensagem no momento de preparo do sermão? Ou ele nega a onisciência do Espírito para conduzi-lo na mensagem que deveria ser pregada naquela noite em particular ou o Espirito sobre ele é assim meio no estilo de Saul, entre e sai... Estranho, não é!?

Se o Espírito que está com ele no púlpito é o mesmo que permanece com ele, conduzindo-o em tudo, nos momentos entre púlpitos, só posso mesmo crer que é o fator emoção a causa da mudança no sermão. A mesma emoção que envolveu o pregador repentista antes do púlpito, durante a parte inicial do culto, é também responsável pela avaliação dele da eficácia do repente improvisado.

Nosso estado de espírito influência nossa percepção do mundo. Para uma pessoa deprimida, tudo está ruim; para uma pessoa eufórica, tudo está uma beleza! Outro efeito da histeria emocional do repentista é a sua influência sobre a audiência. Um animador de auditório deve ser eufórico para contagiar as pessoas. Coloque o Spock na frente do auditório e espere a interação da plateia... Nada!

Se o repentista já foi arrebatado pela emoção, é evidente que ele estará mais apto a envolver seus ouvinte, colocando-os no mesmo nível de excitação emocional, e a predisposição natural da plateia para essa “empatia eufórica” com o animador de auditório é fato já muito bem conhecido e explorado! Se assim não fosse, não seria tema de estudo de quem trabalha com teatro, comédia, apresentadores de show de auditório, etc. Converse com um dublador de filmes por cinco minutos e entenda a dificuldade da dublagem de harmonizar a cena com tom emocional da fala do personagem dublado. Se toda a cena é de completa euforia, e o dublador fala como quem acaba de enterrar o pai, a emoção é perdida. Se o filme é um drama e convidam um comediante inveterado para dublar todas as falas com ar jocoso, a angústia do drama vira um deboche para a percepção dos ouvintes. Quem poderá chorar e envolver-se com o drama dos personagens assim? Ninguém!

Não é verdade também que uma das grandes armas dos ilusionistas é envolver sua audiência emocionalmente. Verdade ou não? Se o mágico não souber arrebatar as emoções de sua plateia, certamente não conseguirá iludir ninguém!

Há verdadeiros homens de Deus por aí que são usados para falar coisas grandiosas no momento certo. Aquela palavra para qual não houve preparo, e Deus, por misericórdia, usa o vaso para entregar uma Palavra eficaz para sua Igreja. Mas esses casos são raros... Estou cansado de ouvir mensagens vazias em nome da emoção.




Autor: André R. Fonseca 

Não adianta…

Não adianta você falar da Bíblia, Ler a Bíblia, 

Estudar a Bíblia, se você não VIVE a Bíblia!




(Tiago 1:22)  “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra…” 

No mundo mas nao do mundo - W. J. Prost


Em Sua oração ao Pai em João 17, pouco antes de ir para a cruz, o Senhor Jesus fez várias referências a Ele mesmo no que diz respeito ao mundo. Duas delas são muito significativas para o cristão hoje. Primeiro, lemos: "Eu não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo" (v. 11). Em segundo lugar, Ele diz: "porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo" (v. 14). Nestas duas afirmações pairam algumas considerações muito importantes para nós, a nossa relação com o mundo ao nosso redor. 


Até a crucificação do Senhor Jesus, o mundo estava sob julgamento, pois Deus estava colocando o homem caído em diversas provas para ver se havia algo de bom nele. Não que Deus precisasse de uma prova disso para que Senhor Jesus pudesse dizer: "pois bem sabia o que havia no homem" (João 2:25). No entanto, Deus estava provando ao homem que, mesmo sob as melhores circunstâncias, ele era um completo fracasso.  

Quando este mundo crucificou o Filho de Deus, o julgamento do homem acabou e Deus pronunciou Seu julgamento sobre o mundo. Daquele ponto em diante, até o julgamento ser consumado, aqueles que honram ao Senhor e vivem para Ele neste mundo, devem seguir um Cristo rejeitado - aquele que foi expulso. É claro que, desde o início da história do homem, a rejeição foi o pagamento das pessoas que procuraram ser fiel a Deus, uma vez que Cristo foi rejeitado, Satanás tornou-se o deus e príncipe deste mundo, e sendo assim, as linhas de batalha foram claramente desenhadas. 

É maravilhoso observar que o Senhor Jesus nos associa a Ele em tudo isso, pois "não são do mundo" assim como Ele"não é do mundo". Se ele foi jogado fora, nós também seremos se formos fiéis a Ele. É em Seus passos que andamos. Sendo assim, somos chamados para um caminho de separação do mundo, pois "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele" (1 João 2:15). O amor e os propósitos de Deus convergem em Seu Filho amado e Ele nos ama como ama Seu Filho amado. Se quisermos desfrutar desse amor e termos comunhão com o Pai, nosso coração deve estar em sintonia com o Dele. Isso somente pode ser verdadeiro se nós compartilharmos o mesmo objeto, o Senhor Jesus Cristo. Cristo e o mundo não podem existir no mesmo coração, ao mesmo tempo, o amor do Pai não pode coexistir com o amor do mundo. É um ou outro. 

Separação versus Isolamento 

No entanto, deve haver equilíbrio em nosso caminho cristão para tudo isso, como em muitas outras áreas da nossa vida cristã. Se somos chamados para fora do mundo, não somos chamados ao isolamento. Mesmo não sendo do mundo, estamos no mundo e somos chamados para sermos um testemunho nele. A incumbência dada aos crentes é encontrada em Lucas 24:47: "que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém". Isso não pode ser feito em um caminho de isolamento, deve haver contato com este mundo e devemos ser acessíveis a ele. A questão é saber como isso pode ser feito da maneira correta. 

Alguns queridos irmãos (e muitos, sem dúvida, com um sincero desejo de levar o evangelho a este mundo) sucumbiram à noção errada de que devem descer ao nível deste mundo para alcançar as almas. Em vez de "transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Rm 12:2). O efeito da total discordância disto é visto na chamada teologia do pacto, que ensina que é responsabilidade dos cristãos endireitar este mundo e torná-lo pronto para o reino de Cristo. Assim, encontramos atualmente muitos crentes na política e outras formas de ajudar este mundo, usando as suas energias nessa direção.  

Desnecessário dizer que, aqueles que trabalham com este mundo descem a seus princípios, assim, sendo seu testemunho diluído, seu discernimento espiritual também sofre. Tais crentes não somente estão no mundo, mas praticamente são do mundo. Claro, há graus de mundanismo e alguns têm muito mais do mundo do que outros. Dessa forma, outros crentes que têm pouco interesse em melhorar este mundo acham que é suficiente levar uma vida boa, moralmente correta e ao mesmo tempo aproveitar ao máximo tudo o que este mundo tem para oferecer. A questão é: “Qual o mal nisso?" Este é um nível bastante baixo para um crente, pois o que é do mundo não pode ser de Deus. 

Outros crentes, horrorizados com o aumento generalizado da violência e da corrupção (e novamente com a melhor das intenções), assumiram um caminho de isolamento, procurando proteger a si mesmos e suas famílias de tudo neste mundo. Esta forma de lidar com o assunto não é nova, eremitas cristãos, ordens monásticas e outras formas de isolamento extremo estão conosco há mais de 1500 anos. Mas como alguém mais acertadamente disse: 

"A mera vida monástica, não importa quão rígida, não fecha a mundanidade, mas sim, a desliga. Você pode colocar um homem atrás de paredes de pedra e nunca deixá-lo ver o mundo justo de Deus, você pode privá-lo dos luxos da vida, quase de suas necessidades e ainda tê-lo como bem mundano como sempre. Se o Pai é excluído, há mundanismo. Não é suficiente fechar uma parte do terreno com muros para torná-lo um jardim. A menos que seja cultivado com o bem, ele vai produzir mais ervas daninha do que nunca". 

Tais crentes não são do mundo, mas na prática eles não estão no mundo e seu testemunho é fraco ou inexistente. Da mesma forma, o mundo pode continuar a florescer em seus corações, apenas de uma forma diferente. A soberba da vida, um dos personagens do mundo que desejam evitar, pode muito bem continuar a prosperar. 

Transformado 

Então qual é a solução? Como podemos alcançar o equilíbrio adequado? Gostaria de sugerir que podemos ir a um dos extremos sugeridos - mundanismo ou isolamento - sem muito exercício diante do Senhor. Eu posso ir pelas minhas próprias pernas para ambos os extremos e sem discernimento espiritual a todos. Minhas próprias concupiscências me controlarão em um e um espírito lícito no outro. No entanto, para equilibrar isso no caminho certo, eu devo ser"transformado pela renovação da minha mente" (Rm 12:2) e "o amor do Pai" (1 João 2:15) deve estar em mim. Quando meu coração é atraído para Cristo e a alegria do Seu amor encher meu coração, estou ocupado com o mesmo objeto que o Pai tem diante de Si. O amor do Pai forçará para fora de mim o amor do mundo. 

Então serei separado deste mundo, porém mais no coração do que na localização. Não me associarei com o mundo em seus prazeres, ambições e política, mas viverei e morarei nele em vez de me conformar a ele, não serei somente um testemunho vivo, mas também um testemunho para o mundo do caráter de Deus como Salvador. Minha mente terá sido renovada, serei transformado, não conformado. 

Isso não quer dizer que eu vou ser caracterizado por um ascetismo* miserável. Em vez disso, eu serei grato pela graciosa provisão de Deus para mim, lembrando que o meu lugar é estar entre aqueles que "usam deste mundo, como se dele não usassem em absoluto, porque a aparência deste mundo passa" (1 Cor 7 : 31). Reconhecerei que ao andar por este mundo, vou me contaminar ao longo do tempo e assim aproveito "a lavagem da água, pela palavra" (Ef. 5:26), aplicada pelo próprio Senhor ou por outro irmão. 

Acima de tudo, buscarei a orientação contínua do Senhor, em um espírito de dependência Dele. O Espírito de Deus é capaz de me conduzir, me guiar e me mostrar como estar no mundo, mas não ser dele. Isso requer constante dependência do Senhor, pois "não é do homem o seu caminho; nem é do homem que caminha o dirigir os seus passos" (Jeremias 10:23). Temos o exemplo perfeito em nosso bendito Senhor que, voluntariamente, tomou o seu lugar entre nós como o perfeito, o homem dependente, andando no poder do Espírito de Deus. Sabemos que, por vezes, Ele passou a noite em oração, não somente para si mesmo, mas como um exemplo para nós. É um privilégio "seguir seus passos" (1 Pedro 2:21).

*Nota do tradutor: Ascetismo - abstenção de prazeres e até do conforto material. 

Como entender o dispensacionalismo?


Você sabe o que é uma "conta conjunta", não sabe? É quando duas pessoas possuem tudo em comum. O sentido de Efésios 3:6 é de uma conta conjunta, de uma união de comunhão total, que poderia ser lido assim: 

"Os gentios são co-herdeiros, e co-membros de um mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo pelo evangelho"



O problema é que quando olhamos para as profecias do Antigo Testamento e de Apocalipse que falam do futuro vemos um Israel que é cabeça sobre as nações da terra (os gentios). Vemos os gentios indo atrás dos judeus pedindo que estes os ensinem a Palavra de Deus. Vemos também o que há de melhor na terra sendo dado a Israel e os gentios aparecendo como tributários levando presentes e ofertas a Jerusalém, como acontecia nos tempos do reino de Salomão. Como conciliar isso com a ideia de dois povos tendo uma conta conjunta, uma união com comunhão universal de bens, em condições iguais? 

A única forma é entendendo que Efésios 3 está falando da Igreja como uma entidade distinta de Israel e gentios, apesar de ser formada por indivíduos convertidos de ambos os povos. Mas estes já não são considerados por Deus como judeus ou gentios, e sim um só corpo de Cristo. Enquanto isso Deus continua enxergando as duas outras entidades no mundo - judeus e gentios (ou gregos) separadamente, como fez no passado e fará no futuro, após o atual parêntese da Igreja no desenrolar da profecia. 

1 Co 10:32 "Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus." 

William MacDonald explica assim: "A era da Igreja é um parêntese nos desígnios de Deus que pode ser explicado da seguinte forma. Durante a maior parte do período de história registrado no Antigo Testamento Deus estava tratando principalmente com o povo judeu. Na verdade, de Gênesis 12 até Malaquias 4 a narrativa fica quase que exclusivamente centralizada em Abraão e seus descendentes. 

Quando o Senhor Jesus veio ao mundo Ele foi rejeitado por Israel. Como consequência Deus deixou de lado aquela nação temporariamente como sendo o Seu povo escolhido na terra. Vivemos agora na era da Igreja, quando judeus e gentios estão em um mesmo nível diante de Deus. Após a Igreja estar completa e tiver sido levada para o lar celestial, Deus voltará a tratar com Israel como nação. Mais uma vez os ponteiros do relógio profético voltarão a se mover. 

Portanto o atual período é uma espécie de parêntese entre os desígnios passados e futuros de Deus para com Israel. Trata-se de uma nova administração no programa divino, que é singular e separada de tudo o que veio antes ou virá depois."  ["Comentário Bíblico Popular" - W. MacDonald] 

por Mario Persona 

O Dia do Senhor




Por Ludgero Braga


O sábado é o símbolo da Soberania de Deus sobre a Criação (Êx 20.8). Ele recorda a redenção de Israel (Dt 5.12) e representa a esperança de repouso eterno no final dos tempos (Hb 4.9). Como Senhor do sábado, Jesus cumpre todos os aspectos do significado que o sábado possuía (Cl 2.16,17). A Igreja Cristã, por isso, observa o Dia do Senhor. 

A Bíblia apresenta o sábado inicialmente ligado à Criação porque em seis dias Deus criou o mundo e no sétimo dia descansou do seu trabalho criador. Por isso, abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera (Gn 2.3; Êx 20.8-11). Mas ela o apresenta também ligado à redenção. Quando a lei é repetida em Deuteronômio, o motivo dado para a guarda do sábado é a libertação do Egito (Dt 5.12-14). A partir desse princípio, a instituição do sábado foi uma demonstração de misericórdia divina para com o homem. Mas, especialmente nos séculos entre o Antigo e o Novo Testamentos, os escribas fizeram do sábado um peso para os judeus. É que o legalismo procurou definir com detalhes absurdos o que era trabalho e o que era descanso, a ponto de perder de vista a ideia original do sábado. Por exemplo, os fariseus, que se dedicavam a cumprir os regulamentos dos escribas, criticaram Jesus por seus discípulos colheram espigas num sábado (Mt 12.1-8). Mas e lei do sábado não os proibia disso. Proibia, isso sim, aos lavradores de fazerem sua colheita no sábado. Os discípulos não eram lavradores. Só haviam colhido o bastante para matar a fome no momento. 

O Novo Testamento declara sem possibilidade de confusão que o sábado era um tipo de Cristo e que se cumpriu nele (Cl 2.16,17). Por isso, o sábado não é um dia que deva preocupar o cristão. Por isso, os crentes do Novo Testamento começaram a reunir-se no primeiro dia da semana, o dia da Ressurreição de Cristo. Por isso também o sábado não foi incluída na lista básica de exigências a serem feitas aos gentios que aceitassem a fé (At 15.20,29). No primeiro dia da semana, quando se reuniam (At 20.7), os crentes de Corinto deveriam separar ofertas aos irmãos de Jerusalém (1Co 16.2). Não é surpresa que em Apocalipse 1.8 o primeiro dia da semana seja chamado de Dia do Senhor.

A observância do domingo (Dia do Senhor) pode ser encontrada nos primeiros séculos da história da Igreja como uma característica dos cristãos. Pouco depois do ano 100, a obra Didaquê - O Ensino dos Doze Apóstolosexortava: "No dia do Senhor, reúnam-se, partam o pão, participem da Eucaristia" (Didaquê 14.1). Plínio, o governador da Bitínia, escreveu ao imperador Trajano em 111 d.C. relatando que os cristãos tinham o hábito de "se reunir num certo dia" (Plinio, Cartas, 10.96) e Justino Mártir (150 d.C.) registrou que "todos (os cristãos) se reúnem em um lugar no dia do Sol" (primeiro dia da semana) (1ª Apologia, 67). Que o domingo não era o sábado ficou bem claro. Em 360 d.C., Atanásio declarou que "não observamos o sábado: observamos o Dia do Senhor como um memorial do inicio da nova criação" (Do Sábado e da Circuncisão). 

Só no século VII os cristãos começaram a ver o domingo como o "sábado cristão", chamando a não observância do domingo de "quebra do quarto mandamento". Essa posição ganhou força até hoje, mesmo (se não principalmente) no meio evangélico. 

Os Reformadores, voltando à Bíblia, separaram o sábado do Dia do Senhor. Lutero insistiu que os trabalhadores devem ter um dia de repouso, quando podem então reunir-se para ouvir a Palavra, orar e louvar a Deus. Mas qual dia seja, não importa, pois todos os dias são iguais (Rm 14.5). Calvino, do mesmo modo, insiste que Cristo é o cumprimento do sábado, o que resultou na abolição desse dia: "Distante deve estar, portanto, dos cristãos a supersticiosa observância de dias" (Institutas II, VIII, 31). Segundo esse Reformador, o que permanece é a necessidade de um dia para o culto (por uma questão prática e para descanso). Pena que não possamos nos reunir todos os dias para isso (Institutas, II, VIII, 32). É preciso destacar, porém, que mesmo separando-se um dia, e mesmo sendo ele o Dia do Senhor, ou seja, o primeiro dia da semana, não o veremos como a lei via o sábado. Calvino diz que o domingo é apenas "um remédio necessário para reter-se ordem na Igreja" (Institutas II, VIII, 33). Ninguém pode ser condenado pela sua não observância (Rm 14.5). Calvino encerra sua exposição sobre o quarto mandamento falando duramente contra os que mudaram o dia (do sétimo para o primeiro), mas conservam a santidade do dia (quando todos os dias são santos). Segundo Calvino, para essas pessoas valem as reprimendas de Isaías 1.13-15; 58.15. 

Tendo sido essa a posição dos Reformadores, como foi que recebemos a tradição da sabatização do domingo? Ocorre que, no século XVII, especialmente na Inglaterra e Escócia, os crentes permitiram essa volta ao catolicismo, que não podemos aceitar por ir contra as Escrituras e contra o espirito da Reforma. 

O que devemos aceitar? 

1º) A necessidade de um dia semanal de repouso. Deus descansou no dia sétimo. Mas isso não é inativo. Ele apenas parou de fazer o que vinha fazendo até ali. Hoje notamos que quem executa trabalhos físicos precisa de um tipo de descanso. Quem leva vida sedentária precisa de outro tipo de descanso. 

2º) A necessidade de um dia para as reuniões de igreja. Como a Igreja Primitiva, vamos nos reunir para estudar a Palavra, para orar, para desenvolver a comunhão cristã, para o exercício da caridade cristã, para louvar a Deus, para crescer espiritualmente nesse convívio adorando a Deus. Isso não quer dizer que nos outros dias não possamos (e devamos) fazer essas coisas. Mas apenas em um dia da semana previamente escolhido, nos reunimos com os crentes (Hb 10.25) para esse fim. Sem essa ordem a igreja enfraquecerá e os crestes desviarão. 

Concluindo, nossa pergunta não deve ser "O que não posso fazer no domingo?" mas sim "O que devo fazer no domingo, para repousar e para adorar e louvar a Deus na companhia dos irmãos?" Ou melhor, ainda, "Como posso glorificar a Deus nesse dia?"

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Fonte: Série Crescimento - Bases da fé cristã (Vol 3). A Vida do Crente, págs. 21-24. São Paulo. Editora Cultura Cristã.

domingo, 26 de janeiro de 2014

ARREPENDIMENTO


É muito importante entendermos bem o que é arrependimento. Nós estamos rodeados de conceitos do mundo e de conceitos religiosos que não definem exatamente nosso problema com Deus. Ora, se não entendermos bem qual é o nosso problema, como poderemos saber qual é a solução?

Para compreender, devemos analisar como tudo começou, como foi a queda do homem (Gn 3:1-7). Aqui nós temos a descrição da entrada do pecado no mundo. A chave para este entendimento está nas palavras: "... como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal" (v5) e "...árvore desejável para dar entendimento" (v6). Porque o conhecimento era tão tentador para Adão? Porque queria tanto ter entendimento, a ponto de se arriscar ao castigo da morte que Deus tinha prometido? Para que ele queria conhecimento e sabedoria que vinham de uma árvore e não de Deus?

Simplesmente porque Adão queria dirigir a própria vida, queria fazer sua própria vontade, ser seu próprio Deus. Adão queria INDEPENDÊNCIA. Foi uma decisão interior no seu coração. Uma disposição de ser independente, de ser o dono de sua própria vida. O pecado foi consumado pela sua desobediência, mas foi gerado por uma atitude interior de REBELIÃO. Quando Adão pecou, sua própria natureza humana se degenerou. O pecado se tornou parte de sua natureza, e portanto, a herança de toda raça humana, pois todos são descendentes dele ( Rm 5:12;19). O problema de Adão, agora é o problema de toda a raça humana. Qual é o nosso problema então? O nosso maior problema aos olhos de Deus não está nas coisas erradas que fazemos, mas sim na nossa atitude interior de INDEPENDÊNCIA e rebelião. Todos os pecados que cometemos são conseqüência desta disposição interior. Quando no meu interior há uma atitude de independência (sou dono da minha vida, faço a minha vontade), como conseqüência disto, os meus atos e as coisas que vou fazer no meu dia a dia não vão agradar a Deus. Entendemos então, que o problema principal é A INDEPENDÊNCIA (o pecado), enquanto que os atos pecaminosos (os pecados) são a conseqüência. Aqui cabe uma pergunta: É suficiente que o homem abandone alguns pecados mais grosseiros (como os vícios, a orgia e a idolatria), e creia em Jesus para o perdão dos pecados, sem no entanto resolver o seu problema fundamental que é a independência? A resposta é NÃO. Deus quer atingir a raiz do problema. Ele quer que mudemos de atitude, que abandonemos a INDEPENDÊNCIA e nos tornemos DEPENDENTES de Deus. A palavra do evangelho de Jesus, não é para curar superficialmente a ferida do homem. Deus quer tratar a causa, a raiz do problema e não apenas a conseqüência. E para isto Ele mandou o seu filho Jesus. Ele não veio trazer apenas o perdão dos pecados mas veio trazer a solução do problema do pecado e da rebelião.

E como fez isto? Trazendo o evangelho do reino (Mt 9.35; Mc 1.14,15; Lc 4.43; 8.1; 9.60; 16.16). Os apóstolos também pregaram o evangelho do reino (At 8.12; 19.8; 28;30-31).

O que é o evangelho do reino? É o governo de Deus. O evangelho do reino é o fim da rebelião e da independência do homem. Deus quer perdoar, mas também quer governar, quer reinar sobre o homem. E este é o significado do arrependimento. No grego a palavra que aparece para o arrependimento é "Metanóia", que significa mudança de mente, mudança de atitude interior. Que mudança é esta? É a troca de uma atitude de INDEPENDÊNCIA para uma atitude de DEPENDÊNCIA. Da atitude de rebelião (faço o que eu quero) para a atitude de submissão (pertenço a Deus para fazer a sua vontade). O homem foi expulso do Reino de Deus, porque quis ser Deus e só pode voltar quando desistir de querer ser deus. O arrependimento está ligado com o reino de Deus, ou seja, com o governo - (Mt 4;17). Arrependimento é uma troca de governo. Antes eu governava, agora Cristo é que vai governar. Quando mudamos a nossa atitude para com Deus, mudam também os nossos atos. Quando mudamos somente os nossos atos (deixamos de fazer algumas coisas que consideramos muito erradas), mas continuamos no interior com uma atitude de independência, estamos ainda em rebelião e necessitamos de arrependimento.

O que não é arrependimento?

Não é apenas um remorso ou uma simples convicção de pecados, não é somente tristeza, uma simples troca de opinião, sentimento de culpa por ter sido descoberto em alguma falta, não é uma reforma parcial, não é aparência, religiosidade. (Mt 23; 27-28)

O que é arrependimento? Mudança de mente e de coração, mudança de rumo, uma mudança radical. A mudança interior vai transformar o nosso exterior. Não é somente uma mudança exterior. O arrependimento começa a transformar a nossa vida de dentro para fora.

Vejamos abaixo a ilustração da árvore

Vejamos abaixo a ilustração da árvore:de Volta Redonda



  ARREPENDIMENTO É A SOLUÇÃO


Nesta ilustração, os galhos representam os pecados (os atos pecaminosos), e o tronco da árvore representa o pecado ( a atitude de rebelião e independência). Se cortarmos os galhos (os pecados), mas deixarmos o tronco (o pecado), o problema continua e logo os galhos vão começar a crescer novamente. Necessitamos é de cortar o tronco.
Como fazer isto? Arrependendo-se. Isto é, abandonando a independência.

Pelo conceito comum, arrependimento é um mero sentimento de tristeza pelos pecados cometidos. Agora Deus está nos revelando algo mais sólido: por meio do verdadeiro arrependimento, temos o nosso interior totalmente mudado, vivemos uma nova vida, estamos com uma atitude correta diante do nosso Senhor. O arrependimento deve produzir fruto: (Mt 3;8). Se houver verdadeiro arrependimento no coração, haverá evidência exterior (o fruto).Toda a pregação de Jesus estava impregnada dessa mensagem. Jesus não pregava um evangelho "fofinho", um evangelho de ofertas, creia e mais nada, mas pregava um evangelho contundente e extremamente exigente. Toda a sua pregação visava levar o homem a um verdadeiro arrependimento, a uma revolução interior. Ele mostrou de que maneira prática o homem poderia experimentar este arrependimento.

Que é necessário para se arrepender e se tornar um discípulo de Jesus?

Basicamente quatro coisas:

1º - NEGAR-SE A SI MESMO (Mc 8.34). Não é negar apenas alguns pecados. É...

2º - TOMAR A CRUZ (Mc 8.34). Mas que é tomar a cruz? É...

3º - PERDER A VIDA (Mc 8.35). Como ocorre isto? Devo morrer literalmente? Não. Esta é uma realidade espiritual, é o próprio arrependimento. Até hoje, a vida era minha, eu era meu dono. Mas agora, eu perco minha vida porque a entrego para Deus. A partir de hoje Ele é o meu dono. Deus só pode governar a minha vida se eu a entrego voluntariamente. Mas para fazer isto eu devo estar disposto a perdê-la. Mas arrependimento também envolve...

4º - RENUNCIAR A TUDO QUE POSSUI (Lc 14.33). Se eu próprio já não pertenço a mim mesmo, muito mais as coisas que eu possuía. Agora tudo pertence a Deus. Família, emprego, casa, móveis, automóvel, salário, poupança, etc, tudo é de Deus. Em face dessa verdade podemos observar que hoje há no mundo três tipos de homem. O primeiro não quer saber de Deus, o segundo está muito interessado em Deus e o terceiro vive para Deus. São eles.
Vamos analisar isto:

.Incrédulo.......................................Religioso....................................Discípulos



Incrédulo

É alguém que não tem interesse em Deus. Qual é o seu problema? Ele é quem governa a sua vida. Controla todas as áreas de sua vida conforme a sua vontade e para seu próprio prazer. Tem o EU no centro de sua vida. Ele vive para si mesmo.

Religioso

Acredita em Deus, lê a Bíblia, ora, canta, vai a reuniões, chama Jesus de Senhor. Mas qual o seu problema? O mesmo do incrédulo. Tem o EU no centro. Vive para si mesmo. E Deus? Deus existe para abençoá-lo, curá-lo, servi-lo e salvá-lo. É um quebra-galho. Este está pior que o incrédulo porque está se enganando.

Discípulo

Não vive mais para si mesmo. Vive para Deus. Toda sua vida está estruturada em função da vontade de Deus. Jesus é o SEU SENHOR. Este experimentou um verdadeiro arrependimento. Cresce e frutifica! Recebeu a revelação do reino de Deus!

O arrependimento, com tudo o que ele significa e produz, está na PORTA DE ENTRADA do reino.

Preciso entender que o Reino de Deus tem uma porta estreita e essa porta é Jesus: (Jo 10:9/MT 7:13-14). Estes textos nos revela que Jesus é o único ponto de passagem da velha vida para a nova vida.

A velha vida fala de uma vida sem reino. (independente de Deus).

A nova vida fala de uma vida governada por Deus. (dependente de Deus).

Uma vida sem reino é uma vida de alguém que não passou pela porta.

Ninguém pode dizer que passou pela porta se não se submeter a Cristo. (Submeter-se a Cristo também é submeter-se ao corpo de Cristo). Viver a vida cristã sem vínculo, sem luz, sem verdade, sem perdão é estar do lado de fora.

3 - Qual a importância do arrependimento?

É importante porque restaura a nossa comunhão com Deus. Por isso é o primeiro passo que devemos dar para restaurar esta comunhão. É impossível termos comunhão com Deus sem passarmos por esta experiência. Viver na independência é viver sem Deus no mundo. Sem arrependimento não há libertação.

O arrependimento cancela os nossos pecados. (AT 3:19-20 /At 17;30 / Rm 2:4 / II Co 7:9-10)

Você deve ler com atenção os textos abaixo para ter mais esclarecimento: Mt 7.16-23; 8.18-22; 11.28-30; 13.44-46; 16.24,26; 19.29;
Lucas: 14.25-33; Jo 12.24-26.

Como podemos passar por esta experiência? Através do PODER de Deus que opera em nós.
Este é um milagre que Jesus realiza em nós. Quem vai nos capacitar para o arrependimento?

O Espírito Santo de Deus. (Ezequiel 36;26-27).

Amém!

sábado, 25 de janeiro de 2014

Jesus à porta do coração?

"Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Ap 3.20

O versículo de Ap 3:20 é comumente utilizado para comprovar que Jesus está à porta batendo e é o homem que decide abrir ou não a porta. A aplicação feita é sempre em defesa do livre arbítrio do homem, em contraposição à doutrina da graça eficaz, pela qual Deus não apenas dá o desejo como a capacidade de crer nEle. A interpretação arminiana desse versículo é bem expressa numa figura onde Jesus está do lado de fora de uma porta, segurando com uma mão uma luz e com a outra batendo numa porta sem trinco pelo lado de fora. Uma legenda normalmente informa que a falta de trinco se explica pelo fato de que a porta do coração só se abre pelo lado de dentro.

Vamos estudar esse versículo sob dois aspectos, primeiro de forma isolada e depois em seu contexto e veremos se o mesmo ensina o que se alega ensinar.

O versículo de forma isolada não ensina o livre arbítrio

O versículo coloca Jesus à porta, batendo e falando para que a abram. O que leva alguém abrir a porta é o ouvir a voz dEle. Uma vez aberta a porta, Ele entra na casa e faz uma refeição com quem abriu a porta. Mais longe que isso não se pode ir na interpretação isolada dessa passagem.

É importante notar que palavras como livre arbítrio, vontade, querer e escolha sequer aparece no texto, embora fique implícito que há duas possibilidade: abrir e não abrir. Mas não há uma declaração positiva a respeito do livre arbítrio nem uma interpretação natural e necessária que requeira isso.

Voltando ao ato condicionante do abrir a porta: o ouvir a voz de Cristo. O texto bíblico não diz "ao ouvir" mas "se ouvir", deixando claro que nem todos ouvem. Na pregação do Evangelho, o ouvir é fator determinante:

"Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi" Isaías 55:3

"Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus." Romanos 10:14-17

O fato é que embora o Evangelho seja pregado a todos, sem distinção, nem todos ouvem o Evangelho, no sentido bíblico do termo:

"Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo" 
Isaías 6:10


"Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados" Mateus 13:15

Jesus deixa bem claro, no Evangelho de João, que nem todos ouvem Sua voz, crêem em Suas palavras e O seguem. E dá a razão disso:

"Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão"
 João 10:26-28


"Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora. Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz"
 João 10:3-4


"Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor" João 10:16

"Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão" João 5:25

"Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra" João 8:43

"Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus"João 8:47

Das palavras acima fica claro que nem todos ouvem a voz de Jesus, que aquelas que ouvem é porque são as suas ovelhas e que aqueles que não ouvem, não ouvem porque não "sois das minhas ovelhas" e "não sois de Deus". Como o ouvir não é uma ação autônoma do homem, mas algo operado por Deus nele, fica claro que Ap 3:20, visto isoladamente, não ensina o livre arbítrio.

Mas estudar uma texto de forma isolada não é uma boa prática de interpretação, pois o todo texto deve ser lido e entendido à luz de seu contexto. E quando colocamos o texto em questão dentro de seu contexto percebemos claramente que o mesmo não é dirigido a não crentes e que, portanto, não é uma passagem evangelística.

O versículo em seu contexto não se refere a evangelismo

Vejamos o contexto bíblico imediato e mediato do texto em consideração:

"Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas." Apocalipse 3:14-22

A série de sete cartas são dirigidas não a descrentes, mas aos crentes das igrejas estabelecidas na Ásia:

"Dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia" Apocalipse 1:11

Da mesma forma, ao concluir cada carta, há um aviso solene:

"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" Apocalipse 3:22

Todo o texto contido nas cartas apocalípticas se dirigem e se referem à igreja, portanto a crentes. Não é um texto evangelístico no sentido que está falando a pecadores não crentes que precisam abrir a porta de seus corações a Jesus. Se bem que é verdade que as pessoas devem ser instadas a crerem na mensagem do Evangelho e a aceitarem a Jesus, mas o texto em apreço não é um apelo dirigido a quem ainda não se converteu.

A carta em que Jesus diz estar batendo à porta é dirigida ao "anjo da igreja" de Laodicéia, o que creio seja o pastor da igreja. Com isso, a mensagem é dirigida a todos os crentes laodicenses. Jesus é direto ao dizer "conheço as tuas obras" e ao taxá-los de mornos. Eram crentes autoconfiantes, visto não sentirem falta de coisa alguma, sem perceberem a sua realidade de pobreza espiritual. Apesar disso Jesus os ama e por isso a disciplina seria certa. Conclama-os ao zelo e ao arrependimento. Todas essas palavras deixam claro que Jesus está se dirigindo a crentes e não a descrentes. Pois somente as obras de crentes tem valor gradual, a dos descrentes não tem valor algum, somente os filhos são disciplinados e somente crentes podem ser ter zelo com as coisas de Deus. Após dirigir essas duras palavras, e no mesmo fôlego, Jesus diz "eis que estou à porta e bato". Não há nada no texto que sugira, nem de longe, que Jesus mudou os destinatário de suas palavras. Ele continua falando com crentes, o que fica claro por dizer em seguida "ao vencedor", título somente atribuível aos feitos mais que vencedores por Cristo e pelo aviso solene para ouvir o que o Espírito diz "às igrejas".

A conclusão é que Apocalipse 3:20 não é dirigido a inconversos, mas a uma igreja que confiante em seus próprios recursos torna-se independente de Jesus, negando o Seu senhorio e, na prática, deixando-o de fora de seus assuntos. É um igreja em que Jesus bate à porta, querendo assumir a posição de centralidade que lhe é de direito, como aquele que é o cabeça da igreja. Concluir que Jesus está batendo à porta do coração de pecadores é fazer uma aplicação com demasiada liberdade de um texto fora de seu contexto.

Conclusão

Um texto deve ser compreendido à luz de seu contexto, apoiado sempre por passagens paralelas e em conformidade com o ensino geral das Escrituras, tendo em mente que a revelação bíblica é progressiva.

Assim, a análise isolada de um texto não serve para referendar uma doutrina, exceto se a mesma for ensinada claramente em outras passagens bíblicas. Não é o que ocorre com o popular, mas extra-bíblico, livre arbítrio. Não há nas Escrituras uma só passagem que o declare, e mesmo as inferências feitas a partir de algumas passagens como a de Apocalipse 3:20, após melhor exame, demonstram-se totalmente falhas. Isto porque, ao chegar ao texto pressupondo existir o livre arbítrio, até parece que o mesmo é ensinado em tal passagem. Mas posto à prova, o pressuposto mostra-se um equívoco.

Assim é que mesmo analisado de forma isolada, Apocalípse 3:20 não ensina nem dá apoio à filosofia humanista do livre arbítrio. E quando iluminado pelo contexto, tal passagem sequer está se referindo ou dirigindo a não crentes, mas a crentes mornos que negligenciaram o senhorio de Cristo e desenvolveram um falso senso de auto-suficiência.

De uma forma ou de outra, o fato é que Apocalipse 3:20 não apóia, nem indiretamente, o precioso livre arbítrio humano.