Primeiro de tudo é bom deixar claro que considero os arminianos como irmãos em Cristo, uma vez que temos em comum a crença na salvação pela graça, por meio da fé (Ef 2.8) e que o único caminho que nos leva a esta salvação é Jesus Cristo (Jo 14.6). No entanto, isso não me impede de denunciar alguns erros que tenho percebido ultimamente, não relacionados à controvérsia calvinismo x arminianismo, mas à maneira como alguns arminianos têm confrontado o sistema calvinista.
Eu disse “sistema calvinista”, mas na verdade me refiro ao “Deus” do calvinismo visto pela ótica arminiana. Nesse sentido, eu gostaria de apresentar algumas afirmações de um dos “maiores” (maiores?) arminianos da atualidade cujas obras como, por exemplo, sua mais recente Contra o Calvinismo, tem “conquistado” muitos. Chama-se Roger Olson¹.
Um trecho do livro de Olson me paralisou. Ele diz o seguinte:
“Um dia, no fim de uma sessão de aula sobre as doutrinas da soberania de Deus do calvinismo, me fez uma pergunta que eu tive que parar de levar em consideração. Ele perguntou: “se fosse revelado a você de uma forma que você não pudesse questionar ou negar que o Deus verdadeiro na verdade é como o calvinismo diz e os preceitos como o calvinismo afirma você ainda o adoraria?” Eu sabia que a única resposta possível sem um momento de reflexão, embora eu soubesse que isto chocaria muitas pessoas. Eu disse não, que eu não o adoraria porque eu não podia. Tal Deus seria um monstro moral. É claro, eu tenho consciência de que os calvinistas não pensam que os seus pontos de vista da soberania de Deus fazem dele um monstro moral, mas eu posso simplesmente concluir que eles não têm pensado nisso através de sua conclusão lógica ou mesmo levado suficientemente a sério as coisas que dizem sobre Deus e o mal e o sofrimento inocente no mundo" (p. 85)
É exatamente isso o que você leu. Roger Olson disse que mesmo que se fosse revelado para ele que a maneira como o calvinismo apresenta Deus, ele não O adoraria. Então, que tipo de cristão é Olson? Quer dizer que nós temos o direito de estabelecer padrões do que é aceitável e inaceitável para Deus? Respondam por si mesmos.
Uma outra acusação mais séria ainda que Olson faz é: “O Deus que está no centro do Calvinismo clássico e extremado, tipificado pela TULIP, é um ser moralmente ambíguo em poder e controle, que dificilmente se distingue do diabo."²
É isso mesmo o que li? Isso é nada mais que blasfêmia! Então quer dizer que o Sr. Olson não consegue distinguir o “Deus do calvinismo” do diabo? Sinceramente, eu não teria a coragem de falar algo assim.
Por último, Em uma resenha do livro Defending Constantine: The Twilight of an Empire and the Dawn of Christianity de Peter Leithart, ele não se contentou em criticar apenas Constantino, mas também resolveu direcionar suas críticas a um personagem bastante improvável: Ulrico Zuínglio. Ele diz:
“Isto toca em um assunto que eu já levantei anteriormente. Até onde nós devemos deixar figuras históricas saírem do lamaçal só porque o contexto cultural e os tempos onde viveram – especialmente quando eles clamavam ser cristãos e tinham suas Bíblias e as liam? Deveríamos perdoar Zuínglio por fazer o conselho da cidade de Zurique torturar Hubmaier? Por todos os relatos Zuínglio ficou na câmara de tortura e exigiu que Hubmaier, que veio a Zurique por convite de Zuínglio para um debate assumindo proteção, desistisse de seus pontos de vista anabatistas. E, é claro, Zuínglio deu amplo suporte ao afogamento de de homens e mulheres anabatistas. Deveríamos dizer “Bem, aqueles eram tempos difíceis”? Eu não acho. Ou Zuínglio está no inferno ou ele teve que passar por um processo no estilo purgatório antes de entrar no céu. Se você não acredita em nada como o purgatório (mesmo na versão altamente protestante de C. S. Lewis), eu não vejo como você poderia evitar colocar Zuínglio no inferno.”³
Ok, Roger Olson condena Zuinglio ao inferno. Quem é ele para afirmar tal coisa? Parece que Olson não sabe que o único soberano juiz é Deus. Será que ele nunca leu na Bíblia:
“Mas eu digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por suas palavras serão condenados”. (Mateus 12:36-37)
“Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo. Quando colocamos freios na boca dos cavalos para que eles nos obedeçam, podemos controlar o animal todo. Tomem também como exemplo os navios; embora sejam tão grandes e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno, conforme a vontade do piloto. Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha. Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniquidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno. Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e tem sido domada pela espécie humana; a língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero. Com a língua bendizemos o Senhor e Pai e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não pode ser assim! Acaso podem sair água doce e água amarga da mesma fonte? Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira figos? Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce. Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria. Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso nem neguem a verdade.” (Tiago 3:1-14)
“Mas eu digo a vocês que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: 'Racá', será levado ao tribunal. E qualquer que disser: 'Louco!', corre o risco de ir para o fogo do inferno.” (Mateus 5:22)
Se Roger quer combater o calvinismo, que faça isso exegeticamente, não com acusações imbecis e blasfêmias. Isso vale também para os arminianos, leitores ou não das obras de Roger Olson.
Oro para que Deus ilumine a mente de Olson, e que ele se arrependa das suas afirmações, primeiro das que ele faz contra Deus, embora não perceba isso, e segundo das que ele faz contra os calvinistas. Oro também para que os nossos irmãos arminianos não se deixem enganar com as artimanhas de Olson. Querem debater? Repito: façam isso exegeticamente. Chega de acusações infantis que só separam o corpo de Cristo e peçam a Deus discernimento para não falar aquilo que não devem.
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Notas:
Divulgação: Bereianos
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