segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

DOIS CAMINHOS E DOIS DESTINOS - por Leonardo Dâmaso


Texto base: Salmo 1.1-6
INTRODUÇÃO

    O salmo 1, de autor desconhecido, é uma introdução de todo o livro. Este salmo, juntamente com o salmo 2, não é especificamente uma oração como os demais salmos, mas uma afirmação categórica. A primeira oração no livro dos salmos começa a partir do salmo 3. Não obstante o Salmo 1 é um salmo de sabedoria, e, portanto, é mais que uma introdução, pois ele contém ensinamentos preciosos para nós. Neste salmo vemos patente todas às pessoas inseridas em dois modos de vida e o destino final de ambos.

     O esboço homilético do salmo 1 pode ser dividido em três seções. Na primeira e na segunda seção o salmista descreve um profícuo contraste entre duas classes de pessoas em suas respectivas categorias morais e espirituais – o justo e o ímpio (1.1-5). E na terceira seção, o salmista conclui a sua declaração mostrando o destino final dos justos e dos ímpios (1.6).  
  
EXPLANAÇÃO

1. O RETRATO DO JUSTO (1.1-3)

a) O estado do justo (vs.1a)

     O termo bem aventurado אשך (esher), no hebraico, é o nome de um dos filhos de Jacó – “Aser” (Gn 30.12-13). A estrutura desta palavra no masculino é um plural [“alegrias”], e significa que o homem aqui descrito é “feliz, abençoado”.

     Na cosmovisão grega, a ideia de bem-aventurança μακάριος (makarios) era geralmente ligada a algum tipo de benção terrena, tal como: saúde, prosperidade financeira, estabilidade, casamento, filhos etc., podendo, também, ainda que não exclusivamente se referir as coisas espirituais, como o conhecimento e à paz interior.

    No Antigo Testamento, especialmente nos salmos, podemos observar que a bem aventurança ou a verdadeira felicidade está intrinsecamente relacionada à confiança em Deus (Sl 40.4; 84.12); a estar debaixo da proteção de Deus (Sl 2.12; 34.8); em ser disciplinado e educado por Deus (Sl 94.12); a seguir a lei do Senhor (Sl 119.1-2); ter Deus por auxílio, esperança e senhor (Sl 146.5); ser escolhido de Deus para a salvação em Cristo Jesus (Sl 65.4); ter os pecados perdoados (Sl 32.1) e, por fim, temer a Deus e andar em seus caminhos (Sl 128.1).  

APLICAÇÃO PRÁTICA

     A condição do homem justo é de plena felicidade. Todavia, esta felicidade não reside ou, tampouco, é proporcionada pelas bênçãos de Deus, pelo dinheiro, pelos bens materiais, pelo status social, por amigos, pelo namoro, pelo casamento dentre outras coisas. São muitos os cristãos imaturos na fé, em virtude da falta do conhecimento correto das Escrituras, que se equivocam em pensar que a felicidade está nas bênçãos, e não no Deus das bênçãos! Antes, quão feliz e abençoado é o homem que está em Cristo (2Cor 5.17), que foi comprado e resgatado da escravidão do pecado, da lei e salvo da morte eterna (1Tm 2.6). A posição de felicidade que o homem bem aventurado e justo se encontra é espiritual! Quem não está em Cristo não pode experimentar esta felicidade interna produzida pelo Espírito Santo.

b) O caráter do justo (vs.1)

     O salmista, aqui, descreve o justo em sua posição de feliz no aspecto passivo/negativo, isto é, o que ele não faz, enfatizando, assim, três classes de pecadores – “ímpios, pecadores e escarnecedores”; três manifestações de pecado – “andar, deter e assentar” e três caminhos de pecado – “conselho, caminho e roda”. Estes três compêndios a lume estão disponíveis para o justo, entretanto não são praticados por ele, ou seja, o justo não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores e não se assenta na roda dos escarnecedores. Portanto, vejamos, então, as três atitudes passivo-negativas do justo – ou seja, o que ele não faz?

       i. Não anda no conselho dos ímpios (vs.1b)

     “Os ímpios são pessoas deliberada e persistentemente perversas”.1 O justo, todavia, é conhecido por aquilo que ele evita; nas coisas que ele não faz; no que ele nega. Desse modo, o progresso no pecado começa pelo o andar no conselho equivocado que, influenciando a pessoa, culmina na prática moral deste conselho, ainda que não abertamente. Não andar no conselho dos ímpios, então, implica que, a conduta do justo e as suas atitudes não são moldadas pelos padrões éticos do mundo que regem a mentalidade do ímpio que são contrários aos padrões de ética estabelecidos por Deus nas Escrituras. O cristão, portanto, não dirige a sua vida pautando-se no conselho dos ímpios. Antes, ele é passivo agindo de forma negativa a estes padrões evitando-os. 

      Jó. 21-16 – ... longe de mim o conselho dos perversos. ARA

     O Antigo Testamento fornece alguns exemplos de pessoas que caíram porque seguirem os conselhos dos ímpios. Amnon, um dos filhos de Davi, seguiu o mau conselho de seu amigo Jonadabe e estrupou a sua meia irmã, Tamar (2Sm 13.1- 20). Este pecado, todavia, levou à desintegração da família de Davi, onde Absalão, indignado com o ato sórdido de seu irmão para com a sua irmã, decidiu matá-lo por vingança (para mais detalhes veja 2Sm 13.23-36). Roboão, sucessor de Salomão, recusou dar ouvidos ao conselho dos anciãos sábios e optou por seguir a recomendação de seus jovens amigos. Como resultado, a nação de Israel se dividiu em dois reinos que nunca mais se reuniram (1Rs 12-1- 20).

 APLICAÇÃO PRÁTICA

     O pecado começa com andar, que denota seguir os conselhos pecaminosos  praticando-os, porém não ainda inelutavelmente, onde a pessoa está de tal modo envolvida e já não possui mais forças para se libertar da prática do pecado e sair do estado decadente de fraqueza espiritual em que se encontra. Assim, quando andamos no conselho dos ímpios, pecamos contra o Senhor e desprezamos o seu conselho descrito nas Escrituras. Antes de tomarmos qualquer decisão, seja qual for ela, devemos nos aconselhar primeiramente observando o conselho de Deus pela sua Palavra (Pv 19.21) e, em seguida, com pessoas de confiança e maduras.  

     Provérbios 15-22 – Os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem sucedidos quando há muitos conselheiros. NVI

      ii. Não se detém no caminho dos pecadores (vs.1c)

     Uma vez que o justo não anda no conselho dos ímpios, evitando-os, vemos que ele também é passivo, agora, nas coisas manifestas preferindo não se deter. O justo se afasta não vivendo habitualmente da maneira que os pecadores vivem, isto é, numa vida campeada pelo pecado deliberado. “Os pecadores, contudo, são aqueles que erram os alvos determinados por Deus, mas não se importam com isso”.2

APLICAÇÃO PRÁTICA

      Não se deter no caminho dos pecadores é não fazer associação, aliança com eles. Por outro lado, isso também não significa que o cristão terá de se isolar dos pecadores não cristãos e não se relacionar com eles de forma alguma. O salmista não tinha isso em mente. O que o cristão não deve fazer é ter uma amizade, profunda, se relacionar amorosamente ou, tampouco, se casar com pessoas que não professam a fé no Deus das Escrituras. Isto equivale também para aqueles que não são cristãos e também para aqueles que se dizem cristãos evangélicos, mas que não creem no Deus verdadeiro que as Escrituras corroboram. Ou seja, são aqueles “cristãos evangélicos obstinados” que possuem uma prática de vida cristã equivocada em virtude de um entendimento equivocado de Deus e das Escrituras quase que num todo, além de muitos destes escandalizarem o evangelho (veja 1Cor 5.9-11).  

      Geralmente, no ambiente em que interagimos na sociedade, como no trabalho, na escola, na faculdade, na nossa própria casa, quando um filho (a), marido ou esposa não é cristão ainda, e os nossos outros familiares que também não são cristãos, todavia, podemos e devemos nos relacionar com eles, porém em um nível restrito evitando a amizade profunda, com exceção dos filhos, marido ou esposa. O nosso relacionamento com o pecador deve ser estritamente, no caso do trabalho, escola e faculdade, para aconselhá-los quando possível e evangeliza-los a fim de que, se for da vontade de Deus, algum destes venha a ser alcançados e salvos por Cristo Jesus. 

       iii. Não se assenta na roda dos escarnecedores (vs.1d)

      Se o justo não anda no conselho dos ímpios e não se detém no caminho dos pecadores, ele, também, mais uma vez, é passivo não buscando um lugar para se assentar na roda dos escarnecedores. O assentar é o último e o mais torpe estágio de uma vida arraigada no pecado.

     No hebraico, a palavra escarnecedores לךץ (lûs) traz a ideia de uma pessoa que “faz caretas, que zomba das coisas divinas; um imitador sarcástico que ridiculariza pessoas, coisas e, especialmente Deus, demonstrando, assim, um profundo desprezo por estes”. Warren Wiersbe diz que os escarnecedores são aqueles que fazem pouco das leis de Deus e ridicularizam aquilo que é sagrado.3 O homem neste estado é peremptoriamente obstinado pelo hábito de uma vida pecaminosa.

     Hermisten maia sintetiza que este homem familiarizou-se com os conselhos dos ímpios; daí, ele passa, então, a se deter com uma curiosidade mais intensa no caminho dos pecadores e, por fim, se assenta na roda dos escarnecedores. Aqui há um agravamento de sua situação pecaminosa; ele passa a zombar das coisas santas.Derek Kidner afirma que as três frases mostram três aspectos, e, realmente, três graus de separação de Deus, ao retratarem a conformidade a este mundo em três níveis diferentes: a aceitação dos seus conselhos, a participação dos seus costumes, e a adoção da sua atitude mais fatal.5      

APLICAÇÃO PRÁTICA

      John Stott ressalta com propriedade que o justo não modela sua conduta pelo conselho de pessoas más. E mais, os justos não se demoram na companhia de ímpios persistentes; muito menos ficam “permanentemente” [ainda que estejam sujeitos temporariamente – minha ênfase] entre os cínicos que zombam de Deus abertamente.6  

     Calvino, por sua vez, complementa observando que, mesmo que uma pessoa, em especial, o cristão, não tenha todo o aviltamento provido dos maus exemplos, no entanto é possível que se assemelhe aos escarnecedores perversos, ao imitar espontaneamente seus hábitos corruptos.7  

c) As virtudes do justo (vs.2)

     Depois de esboçar o aspecto passivo/negativo do justo, destacando aquilo que ele não faz, o salmista, agora, mostra o justo em sua posição de feliz no aspecto ativo/positivo (vs.2-3), ou seja, aquilo que ele faz. Sendo assim, vejamos, então, as três atitudes ativo/positivas do justo – a saber, o que o justo faz? 

      i. Tem prazer na lei do Senhor (vs.2a)

      Em vez de andar no conselho dos ímpios, se deter no caminho dos pecadores e se assentar na roda dos escarnecedores, o homem feliz é caracterizado pelo prazer que tem na lei de Deus. O substantivo prazer ץפע (hephes), no hebraico, acentua “um desejo por algo valioso”. Basicamente traz a ideia de “inclinar-se para algo com interesse nesse algo”. A expressão lei do Senhor refere-se não apenas à lei de Moisés [o pentateuco], mas a Escritura num todo.

APLICAÇÃO PRÁTICA

       “É preciso que cultivemos o hábito de ler a Palavra e descobrir dentro de um processo de aprendizado, o prazer em cumpri-la. O prazer na Palavra faz com que direcionemos nossos pensamentos e corações para ela. Ao invés de alimentarmos mágoas, ressentimentos e desejos de vingança, buscamos na Palavra, que é o nosso prazer, o suprimento para as nossas necessidades e a orientação em nossas decisões. Quando descobrimos o prazer na Palavra de Deus, passamos mais tempo lendo e refletindo sobre os seus ensinamentos.”.8

        Salmo 119.24 – Teus testemunhos são meu prazer e meus conselheiros. Almeida Século 21 

      Salmo 112.1 – Bem aventurado o homem que teme ao Senhor e tem grande satisfação em seus mandamentos. Almeida Século 21 

       Salmo 40.8 – ... agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei. ARA       

        ii. Medita na lei do Senhor de dia e de noite... (vs.2b)

      Do prazer pelas Escrituras e a sua observação na vida prática, nasce o desejo de meditar nela diligentemente de dia e de noite. No hebraico, o termo medita הנה (haghah) significa refletir; contemplar algo; pensar detidamente; proferir palavras com voz baixa e suave.

      Este verbo representa algo tranquilo diferente do sentido de meditação enquanto exercício mental. No pensamento hebraico, meditar nas Escrituras é repeti-las calmamente em som suave e baixo, abandonando interiormente as distrações exteriores. Dessa tradição vem um tipo especial de oração judaica chamada reza, ou seja, recitação de textos, oração intensa ou estar absorto em comunhão com Deus, curvando-se ou balançando-se para frente e para trás. Essa forma dinâmica de meditação remonta evidentemente ao tempo de Davi.9

APLICAÇÃO PRÁTICA

     O verbo meditar, em sua origem latina, significa, entre outras coisas, “preparar para a ação”. A meditação nas Escrituras, em vista disso, não é um fim em si mesmo, antes, o seu propósito é conduzir-nos a viver na prática aquilo que meditamos.

     J.I. Packer corrobora que meditação é o ato de trazer à mente as várias coisas conhecidas sobre os procedimentos, as peculiaridades, os propósitos e as promessas de Deus; pensar, deter-se nelas e aplicá-las à própria vida.10 O meditar na Palavra e nos feitos de Deus, destaca Hermisten Maia, é uma prática abençoadora pelo fato de ocupar nossas mentes e corações com o que realmente importa; estimula a nossa gratidão e perseverança em meio às angustias.11

     É lamentável como grande parte dos cristãos de hoje não tem o prazer de meditar na lei do Senhor de dia e de noite. Que venhamos a estar continuamente, meditando nas Escrituras, pois é deste ato que procede o crescimento na santificação (Jo 17.17). Charles Hodge salienta que não podemos fazer progresso na santidade a menos que empreguemos mais tempo lendo e ouvindo a Palavra de Deus, e meditando sobre ela; pois é ela que é a verdade pela qual somos santificados.12 Portanto, o homem bem aventurado e justo é aquele que ama meditar e obedecer a lei do Senhor a qualquer custo.

     Josué 1.8 – ... antes, medite nele [no livro da lei] de dia e de noite, para que tenha cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem sucedido. ARA      
       
c) A posição do justo (vs.3)

    Além de ter sublinhado o estado de bem aventurança e o caráter do homem justo (vs.1-2), o salmista, dessa vez, lista três aspectos de sua posição na graça de Deus. Portanto, quais são as virtudes do justo, então?   

      i. Estável na vida cristã (vs.3a)

     Fazendo uso de uma metáfora, o salmista diz que o justo é como árvore plantada à beira de águas correntes. NVI Por causa do solo essencialmente árido em Israel no Antigo Testamento, uma árvore frondosa servia como um símbolo apropriado de benção.

     A palavra plantada indica que o justo não tem raízes acidentalmente e nem tem iniciativa própria de se auto plantar. Árvores não são plantadas sozinhas e nem pecadores se transportam sozinhos pela vontade própria para o reino de Deus. O pecador é morto espiritualmente e incapaz de se voltar para Deus em arrependimento e fé (Ef 2.1-3; Rm 3.10-11). Antes, ele foi enraizado junto a correntes de águas ARA, que simboliza a graça maravilhosa de Deus que o alcançou, vivificando o seu espírito morto salvando-o da morte eterna. “Não somos capazes de nos nutrir nem de nos sustentar por nossa própria conta; precisamos estar arraigados em Cristo e nos alimentar de seu poder espiritual”.13Assim, o propósito de Deus em plantar o homem no solo fértil de sua graça divina por meio de Cristo Jesus é viver uma vida que o glorifica, o que veremos mais detidamente a seguir como outra virtude do justo.  
  
      ii. Produz frutos (vs.3b)

    O propósito de Deus plantar o homem no solo fértil da sua graça é a produção de fruto de justiça que glorifiquem o seu nome (Jo 15.16). O homem não é salvo pelas obras, mas para as boas obras; em outras palavras, para os bons frutos (Ef 2.10). Note você que a árvore não dá o seu fruto logo após quando é plantada, mas, sim, na estação própria, no tempo certo, ou seja, no tempo de Deus.

APLICAÇÃO PRÁTICA

    Os frutos aqui são variados, e podem se referir a uma vida piedosa, o serviço diligente na obra do Senhor, contribuir financeiramente, evangelizar, presença frequente nos cultos dentre outras coisas. Desse modo, percebemos aqui um incentivo a perseverança na fidelidade a Deus, pois a obediência aos seus preceitos produz frutos, porém não imediatos, mas no tempo certo e em alegria iremos colhê-los. Nem sempre vamos colher todos os frutos nesta vida como resultado de uma vida dedicada a Deus, apenas alguns. Mas na eternidade, quando estivermos na terra restaurada, glorificados, iremos colher todos os frutos como resultado do nosso serviço e obediência que oferecemos ao Senhor nesta terra.

      William McDonald escreve: 

     O homem que está separado do pecado e separado para as Escrituras tem todas as qualidades de uma árvore forte, saudável e frutífera plantada junto a ribeiros de águas – ele tem suprimento de alimento e refrigério que nunca falha. Isso faz com que seus frutos aparecem na estação apropriada. Ele mostra a graça do Espírito, e suas palavras e ações são sempre oportunas. Suas folhas também não murcharão – sua vida espiritual não está sujeita a mudanças cíclicas, mas é caracterizada pela renovação contínua interior.14 

      As intempéries da vida quando sobrevém na vida do homem bem aventurado, especialmente em virtude da sua obediência e temor a Deus não tem o poder de fazer murchar as suas folhas verdes, tirando a sua alegria de servir a Deus em fidelidade e permanecer firme em seus caminhos. Acima de tudo o homem bem aventurado é uma árvore plantada; suas raízes estão arraigadas no solo da graça divina onde ele tem todos os nutrientes para permanecer firme e crescer com vigor espiritual. As árvores plantadas pelo Senhor podem até se secar durante um tempo, que implica um período de fraqueza espiritual e pecado que o cristão está passível a cair. Porém, a árvore plantada no solo da graça não pode morrer, ou, em outras palavras, apostatar-se da fé rejeitando o Senhor Jesus. A árvore que morre, portanto, nunca foi plantada por Deus! 

     Jeremias 17.7-8 – Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto. ARA

     João 6.39 – E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum de todos os que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia. Almeida Século 21

   João 10.28 – Dou-lhes [as minhas ovelhas] a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrancará da minha mão. Almeida Século 21

      Hermisten Maia afirma que assim como as árvores se alimentam e se solidificam por meio de suas raízes, o fiel se nutre espiritualmente, fortalecendo a sua fé em Deus por meio da meditação sincera e constante na Sua Palavra.15

      iii. É bem sucedido por Deus (vs.3c)

     A vida bem sucedida que o salmista e as Escrituras enfatizam não é financeira, necessariamente, mas está associada especificamente à vida espiritual e a observância da lei do Senhor (vs.2). A verdadeira prosperidade é uma abundância da graça divina em nossa vida, que nos é proporcionada como o resultado de uma vida frutífera para a glória de Deus. A nossa prosperidade, sobretudo, é Cristo ardendo fortemente em nós; é o Espírito de Deus que transforma a nossa vida.
   
2. O RETRATO DO ÍMPIO (1.4-6)

a) O estado do ímpio (vs.4)

    Existe aqui um contraste rigidamente definido. O salmista pinta a superficialidade dos ímpios com um duplo negativo – não e assim, tanto em sua conduta como no seu estado de aparente “felicidade”. O dinheiro e a vida bem sucedida que muitos ímpios desfrutam não são e não podem trazer a verdadeira felicidade. Ao contrário dos justos, os ímpios não são descritos como árvores, uma vez que estão mortos em seus pecados e não possuem raízes.

b) O caráter do ímpio (vs.4b)

     Se a vida do perverso não pode ser sequer comparada a uma árvore plantada aos ribeiros de águas, tampouco, também, pode ser comparada a uma árvore seca. Antes, o ímpio pode e é comparado pelo salmista apenas a palha que o vento dispersa.

    O caráter do ímpio, todavia, é comparado pelo salmista à palha, uma imagem comum no AT, extraída das épocas de colheita de trigo, também foi usada por João Batista em sua mensagem chamando o povo de Israel ao arrependimento (Mt 3.7-12). “O trigo era debulhado numa superfície dura e plana, sobre um monte, e exposto ao vento. O trigo era erguido por pás e jogado para cima. Os grãos preciosos então caíam e eram recolhidos, enquanto que as palhas leves eram espalhadas pelo vento”. 

     A palha é composta de cascas de grãos vazias, não tem peso substancial para estabilizar-se e é facilmente levada pelos ventos da adversidade. Pelo modo de peneiração do oriente contra o vento, a palha era totalmente espalhada. Assim é o ímpio – que vive superficialmente e não tem raízes na graça de Deus porque é morto espiritualmente. Os ímpios não estão plantados junto a corrente de águas, isto é, na palavra de Deus e não são salvos. Portanto, não possuem valor algum, pois são facilmente levados pelo vento porque são leves, estéreis e vazios da presença de Deus em amor.16

c) A condenação dupla dos ímpios (vs.5)

      i. O destino final dos perversos (vs.5a)

    A conjunção por isso introduz a indubitável conclusão de que os perversos, no último dia, serão reprovados por Jesus Cristo no julgamento. Henry Law traz à baila que

     O julgamento está próximo. O juiz está às portas. O grande trono branco em breve será estabelecido. Os mortos serão julgados pelas coisas escritas nos livros, de acordo com suas obras. Eles não podem fugir desse tribunal terrível. Nenhuma máscara pode ocultar a culpa deles. Seus pecados estão todos registrados. Nenhum sangue apagou as manchas. Eles não buscaram o mérito do salvador. Não tiveram interesse na cruz salvadora. Eles não podem permanecer.17 

      Mateus 25.46 – E irão estes para o castigo eterno... ARA 

     ii. A separação dos pecadores da congregação dos justos (vs.5b)

     A expressão congregação dos justos se refere a um grupo de pessoas e nações sobre os quais Deus preside como governante (veja como exemplo o Sl 7.7-8). Esta expressão também tem conotação escatológica, e denota que os ímpios não farão parte da comunidade dos justos na eternidade na terra restaurada.

     Matthew Henry chama a atenção para o fato de que o joio pode estar no meio do trigo por um tempo [na igreja – minha ênfase], porém, vem aquele que tem em sua mão a foice afiada e que limpará o seu solo completamente. Os que por seus próprios pecados e atitudes néscias são como o joio, encontrar-se-ão diante do redemoinho e do fogo da ira divina.18 Warren Wiersbe completa dizendo que quando o dia do julgamento chegar, o senhor, o justo juiz, separará o trigo do joio, as ovelhas dos bodes e os grãos da palha, e nenhum incrédulo poderá reunir-se com os justos.19

3. DUAS VIDAS E DOIS DESTINOS DIFERENTES (1.6)

      A base que determinará o julgamento de Deus destas duas classes de pessoas é o conhecimento que ele possui de ambos. “O conhecimento refere-se a todo o curso de vida incluindo o que a motiva, o que ela produz e onde termina”.20 Este conhecimento de Deus é denominado de onisciência, que é o conhecimento que ele tem de todas as possibilidades (veja como exemplo Mt 11.20-21) e eventos concretos preordenados pela sua soberania que ocorrem no tempo – “passado, presente e futuro”. Em vista disso, senão vejamos o conhecimento que Deus tem do justo e do ímpio.  
   
a) O caminho do justo (vs.6a)

    O verbo conhecer, aqui, indica que Deus não apenas conhece toda a vida do justo, e que, pela sua presciência, conhece que ele não irá apostatar da fé e que será salvo no dia do julgamento. Antes, o conhecimento que Deus possui do justo significa que, desde a eternidade, antes da criação do universo, ele o conheceu, o predestinou, o chamou, o justificou e o glorificou para ser feito conforme a imagem de Jesus Cristo para a sua glória (Rm 8.29-30). Portanto, os justo nunca há de perecer, uma vez que são guardados por Deus para a consumação da salvação que se dará no último dia (1Pe 1.5).

b) O caminho dos ímpios (vs.6b)

     O mesmo conhecimento que Deus possui da vida do justo e todo o seu percurso neste mundo se aplica ao conhecimento que ele também possui da vida do ímpio. Entretanto, o conhecimento que Deus tem do ímpio aqui é uma antítese do conhecimento que ele tem do justo no que se refere à salvação eterna. Deus não conheceu, predestinou, chamou, justificou e glorificou na eternidade o ímpio para ser feito conforme a imagem de Jesus Cristo.

      O ímpio de coração obdurado que permanece na incredulidade até o fim de sua vida demonstra que não foi escolhido por Deus, antes, ele e muitos outros são entregues por Deus aos seus desejos pecaminosos, onde os quais não serão, mas “já estão” condenados à justa punição eterna no lago de fogo.

      João 3.18 – Quem nele não crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. ARA  
  
CONCLUSÃO

      Os dois modos de vida apresentados no salmo 1 determina o destino final dos que o seguem. O justo, que é ó homem bem aventurado, obedece aos preceitos de Deus e tem prazer em esmerar-se no estudo das Escrituras frequentemente. O ímpio, por sua vez, não é assim, antes, ele não obedece aos mandamentos de Deus, não tem prazer, não deseja e ignora as Escrituras e o estudo da mesma.

      Portanto, o salmo 1 termina com uma solene advertência acerca da importância de vivermos uma vida cristã diligente e frutífera a Deus em todos os aspectos com vista no julgamento de Deus. Assim, por amor a Deus ficará provado quem é justo e verdadeiro cristão, e quem é ímpio e falso cristão na igreja. Jesus disse que aquele que o amar verdadeiramente obedecerá aos seus mandamentos (Jo 14.15).

   Que a mensagem do salmo 1, aplicada pelo Espírito Santo em nossos corações, produza o reconhecimento de nossos pecados, omissões e negligencias e, por conseguinte, nos leve ao arrependimento sincero, a confissão e o abandono deles, para, assim, recebermos o perdão e a restauração de Deus.       






NOTAS:

1 Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 88.
2 Ibid.
3 Ibid.
4 Hermisten Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
5 Derek Kidner. Salmos 1-72. Introdução e Comentário –Vida Nova, pág 63.
6 Calvino. Comentário de Salmos – Vol 1, pág 45.  
7 John Stott. Salmos Favoritos, selecionados e comentados – Abba Press, 1997, pág 8.  
8 Hermisten Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
9 Dicionário Hebraico do Antigo Testamento de James Strong, pág 1601.
10 J.I. Packer. O Conhecimento de Deus, pág 17.  
11 Hermisten Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
12 Charles Hodge. O Caminho da Vida, New York: Sociedade Americana de Tratados, pág. 294.
13 Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 88.
14 William McDonald. Believers Commentary. 
15 Hermisten Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf 
16 John Stott. A Bíblia toda, o ano todo, pág 94.
17 Henry Law. Psalms.
18 Matthew Henry.  Comentário Bíblico transcrito e adaptado – CPAD, pág 398.
19 Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 89.
20 Thomas L. Constable. Nots on Psalms.


Extraído de: http://www.materiasdeteologia.com

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