quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A MENTALIDADE DE PIOLHO - Por Helbert Souza


coçando a cabeça
Certo menino acordou pela manhã, tomou seu café e saiu para escola. 
Durante o recreio, correu junto com dezenas de crianças, abraçou-as, pulou, suou e se divertiu tanto, que nem mesmo tocou em sua merenda. Quando chega em casa, além de informar à sua mãe que estava esfaimado, disse-lhe: "mamãe, minha cabeça não para  de coçar"
Ao examinar a cabeça do pequeno, que já estava ferida de tanto que se coçou, eis o motivo de tamanho incômodo: piolhos, muitos... piolhos.
Um ser tão pequeno e insignificante, mas tão molesto, é capaz de nomear uma certa maneira de se pensar e julgar. 

Há alguns dias, encontrei-me com uma irmã que, após ouvir uma pregação em sua congregação, concluiu:
"não podemos ter a mentalidade de piolho. Tem muitos crentes que ainda não aprenderam a pensar grande. Meu pastor disse que temos que abandonar a filosofia do 'inho' - carrinho, dinheirinho, empreguinho - e aderir a filosofia do 'ão': carrão, dinheirão, empregão."
Expliquei-lhe que  aquela mentalidade era realmente perigosa, mas que ao tentar largá-la, aquela jovem senhora agarrava-a ainda mais fortemente.


Com tantos afazeres diários, raramente as pessoas param para pensar sobre a forma como estão vivendo. Que tipo de mentalidade possuem.
Correm de um lado para o outro, trabalham, estudam, cuidam dos filhos, vão à igreja e ouvem mais uma mensagem.  Na maioria das vezes, nem sequer analisam se seu conteúdo é realmente bíblico.

Somos uma geração imediatista, valorizamos as coisas segundo a sua capacidade paliativa. 
Alimentamo-nos de fast-food, o que elimina rapidamente o problema da fome, mas não fornece os nutrientes necessários para uma boa saúde. 
As mensagens contemporâneas prometem soluções imediatas, mas não fortalecem a alma. 
Pensamentos da mente humana são expostos no púlpito e não os pensamentos da mente de Deus. Prega-se um evangelho bastante diferente daquele que os discípulos pregavam. Na verdade, ensina-se uma nova "boa nova", pois o antigo Evangelho de Deus tem sido esquecido e abandonado, até mesmo por igrejas históricas, no anseio de atrair novos membros para si. 
Existe uma música do Paulo Cezar - Grupo Logos, chamada O Evangelho, que traduz muito bem a nossa realidade atual: 

"Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração 
Em constatar que o Evangelho já mudou. 
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor 
E diz a Deus como Ele tem que ser ... 
Mas o verdadeiro Evangelho exalta a Deus 
Ele é tão claro como a água que eu bebi 
E não se negocia sua essência e poder 
Se camuflado a excelência perderá! [...] " 

Esta música já passou por várias décadas e continua a denunciar o mesmo problema, que infelizmente persiste. 

A bíblia é a Palavra de Deus e não o pensamento de homens.Ela traz aquilo que Deus deseja falar e não aquilo que nós desejamos ouvir. Porém muitos têm ignorado a Escritura, contagiados por aquilo que acredito poder chamar de: a verdadeira "mentalidade de piolho".
É engraçado como essa analogia volta-se exatamente contra a ideia que aquele pregador expressou.

Mentalidade de piolho - pensamento ínfimo, desprezível, raso, superficial:
É justamente o que o referido pastor fez, reduziu todas as bênçãos espirituais, com que Deus nos abençoou nas regiões celestiais em Cristo (Ef. 1.3), à meras conquistas materiais.
Ter pensamentos altaneiros e superlativos é, certamente, buscar a alegria em Deus por Suas provisões, que são infinitamente superiores aos nossos méritos, e não quando nos revoltamos contra àquilo que achamos que merecíamos de Deus e não temos. 

Mentalidade de piolho - coceira das ideias:
É extremamente desconfortável imaginar que possa haver na Bíblia um segredo para se conquistar uma vida próspera e você não descobri-lo. Parece indispensável a especulação. Viver doente, podendo ser curado; pobre, podendo ser rico; miserável, podendo empresário; solitário, podendo ser popular e famoso? "Como assim? Aquele pregador só pode estar certo!"
Deus não deseja nos dar novas revelações, o que Ele almeja é que nos apoiemos e confiemos em Sua antiga verdade, Sua imutável Palavra.
Que a Escritura nos seja suficiente. Ela não deve ser amoldada de acordo com nossas vontades. 
Se simples como é, não nos agradar, não a mudemos, deixemos a Palavra nos mudar! 
  
Mentalidade de piolho - vai por cabeças alheias, não tem opiniões próprias:
Frequentemente, ouvia na minha adolescência: “fulano é igual ao piolho, vai pela cabeça dos outros” 
Essa é a mentalidade desse inseto:  "Preciso seguir a cabeça de alguém".

Infelizmente a televisão brasileira está infestada - do mesmo modo que se encontrava a cabeça do garoto - de pregadores que divulgam suas ideias atraentes  e impactantes aos leigos, mas este é o problema: são suas [deles] e não de Deus. São completamente forâneas à intenção do Evangelho. A meia verdade é mais perigosa do que a mentira. O joio e o trigo se parecem, porém um é veneno, o outro é alimento.
Não é pequeno o número de pessoas que se deixam levar por toda a perniciosidade destes ensinos maléficos e assim, ou aprendem a inserir seus próprios pensamentos nas entrelinhas da Bíblia, ou permitem que os outros o façam e lhes ofereça esse caldo venenoso (2 Re 4:38-41).
A sã doutrina tem sido distorcida. A pureza do Evangelho tem sido diluída em um caldo mortífero de doutrinas que prometem riquezas na Terra.

Inúmeros líderes evangélicos se entregaram a todo tipo de métodos, altamente funcionais, porém antibíblicos. Por exemplo, a famigerada teologia da prosperidade financeira - e aqui não adianta querer argumentar em defesa. Digo isto porque dou aula de teologia e constantemente algum aluno neófito tenta defender esta heresia terrível, mas até então, pelo que tenho visto, não o fazem maliciosamente, mas porque seguem a mentalidade falaciosa de seus pastores e acreditam sinceramente que isto é bíblico. 
Existem dezenas de motivos pelos quais essa doutrina se mostra perniciosa, porém não nos cabe citá-los agora, recomendo que aqueles que ainda os desconhecem leiam os artigos do Matérias de Teologia sobre o assunto. O que eu dizia anteriormente é que esse é um ensinamento antibíblico, porém altamente funcional. Algum pastor diz ao outro: "eu fiz a campanha na minha igreja e funcionou" e, infelizmente, logo o outro vai - tal como os piolhos o fazem - por sua cabeça e começa a reproduzir esta atitude asquerosa, driblando a sua consciência e tentando se convencer que aquilo não é tão ruim, muito menos herege. Todavia precisamos manter-nos firmes, esteja a igreja cheia ou não. Preguemos o puro e verdadeiro Evangelho. É melhor ter uma igreja com poucas ovelhas a uma congregação lotada de bodes. 

O falso Evangelho, além de não engrandecer a Deus, pois lisonjeia o ego dos irregenerados, produz conversões meramente psicológicas. 
Pessoas que nunca nasceram de novo, frequentam a igreja como se esta fosse um clube social, ou um comércio, onde se compra, com valores materiais, bens espirituais. 

Que aqueles líderes que não falsos mestres disfarçados; aqueles que por ventura foram enganados, se iludiram, sejam despertados pelo Senhor e voltem a pregar o verdadeiro Evangelho de Deus. 
Que os sofrem dessa mal, deixem de ser como piolhos e lembrem-se que os salvos - os verdadeiramente salvos - não tem a mente dos outros, mas a mente de Cristo (1 Co 2.16), portanto, não podem pensar da mesma forma que os homens perversos que fazem do Evangelho um produto; dos crentes, consumidores e dos púlpitos, verdadeiros balcões comerciais.
Querido irmão, nunca se prenda a pensamentos alheios ou aos seus próprios. Façamos como Lutero, o qual disse:
"Minha mente está cativa à Palavra de Deus. Eu não posso e não vou renunciar nada, pois ir contra a consciência não é certo nem seguro. Assim permaneço; não posso fazer outra coisa. Deus me ajude! Amem!"


Extraído de: http://www.materiasdeteologia.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário