segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Decálogo, a Ética e a Reforma


por Dr. Hans Ulrich Reifler

Nos escritos deixados pelos líderes da Reforma protestante do século XVI, percebe-se claramente que a lei de Deus, a lei moral, é o conteúdo principal da ética cristã. Em suas reflexões éticas, os reformadores sempre partiram dos princípios do decálogo antes de percorrer o restante das Escrituras.

Lutero chama o decálogo de sacratissimus decalagus e de summa et excellentissima doctrina. Por isso, K. Bockmühl conclui: “...que a ética cristã tem seu fundamento nos dez mandamentos e foi apresentada de maneira convincente por Lutero”. Para o teólogo luterano Troeltsch, os dez mandamentos foram “o livro cadastral da ética luterana”. Para Lutero e o luteranismo, os dez mandamentos são a lei fundamental para qualquer reflexão ética. Calvino e as confissões reformadas edificam seus postulados éticos sobre o mesmo decálogo.

Já no primeiro livro das Institutas, Calvino ensina que “o verdadeiro conhecimento de Deus nos constrange a adorá-lO, e o verdadeiro conhecimento do próprio eu leva à humildade e auto-humilhação genuínas. A lei é o instrumento que o Senhor emprega para produzir esses resultados. Ao declara através dela Seu direito de ordenar, Ele nos chama para prestar-LHE a reverência devida a Sua majestade; e, ao colocar diante de nós o padrão de Sua justiça, demonstra nossa injustiça e incapacidade”. Calvino salienta a validade constante do decálogo. Afinal os dez mandamentos foram escritos em tábuas de pedra.

 “Mesmo que a lei cerimonial tenha sido anulada, a verdade e a doutrina do decálogo devem ser pregadas até o fim do mundo”. Nas Institutas de Calvino percebe-se claramente que os dez mandamentos foram o conteúdo principal de qualquer postulado ético, quando ele declara que o cristão tem o dever de meditar neles constantemente, e que o decálogo é, na verdade, a única regra de vida perpétua e inflexível.

 Por isso o reformador de Genebra escreveu nada menos do que cinco exposições completas sobre o decálogo: no segundo volume das famosas Institutas, no Catecismo antes de 1538, no Catecismo de Genebra de 1542-1545, em seus comentários sobre Êxodo e Deuteronômio e em dezesseis sermões sobre o decálogo, em 1555.

Para Calvino, o decálogo é uma regra infalível, aperfectae iustitiae regula, à qual nada precisa ser acrescentado; é uma...perpetua et inflexibilis vivendi regula, regula suos formare (regra à qual nos adaptamos). No final do Catecismo de Genebra, Calvino formula que o decálogo é a perfeita regra da justiça. H. Bullinger, sucessor de Zuínglio em Zurique, define na mais importante confissão reformada, a Segunda Confissão Helvética, que a lei de Deus “explica a vontade de Deus, o que devemos fazer ou não, o que é bom e reto, mal e injusto...A vontade de Deus para todos os aspectos de nossa vida revela-se perfeitamente nessa lei”.

 Pelo fato de o decálogo ser completo e perfeito, é lógico e evidente que nada lhe pode ser acrescentado (Deuteronômio 4:2;12:32). Conseqüentemente, a ética bíblica é apenas uma exposição da lei de Deus. A lei perfeita e absoluta. Essa é a opinião uniforme de Calvino e das Confissões reformadas. Por isso, qualquer reflexão ética parte do decálogo. Os postulados éticos não podem contradizê-lo; e ele é o conteúdo principal da ética cristã.

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