domingo, 28 de outubro de 2012

O super Baal de nossos dias


Por - César Augusto Vargas Américo

No Antigo Testamento, enquanto Moises estava no topo do Monte Sinai, com Deus lhe revelando coisas grandes e ocultas ( Jr 33:3), o povo de Israel, liderado por Arão, sacerdote de Israel e irmão de Moises, fundiram um bezerro de ouro para adorá-lo, levantando um altar e oferecendo a imagem de escultura sacrifícios, como se tal abominação fosse Deus.

Charles C. Ryrie, em seus comentários na Bíblia Anotada e Expandida comenta que o povo de Israel adorava o bezerro de três maneiras:
1° O povo adorava o bezerro de ouro como um Deus secundário, abaixo de Javé.
2° O povo adorava a Javé como se fosse um super-Baal. Sabemos que Baal era o deus dos cananeus, deus da fertilidade, o senhor da terra.
3° O povo abandonou a Javé, passando a adorar Baal.

O fato mais importante a se notar aqui, é o chamado sincretismo religioso, uma fusão de doutrinas religiosas. Este relato do bezerro de ouro está em Êxodo 32, mas Deus já havia dito ao povo: “não farás para ti imagem de escultura” Êxodo 20:4. O povo foi desobediente, desobedecendo à vontade preceptiva de Deus, que é a sua lei e seus mandamentos.

Vamos agora fazer uma analogia, entre o povo de Israel e a Igreja Moderna. Se existe hoje um bezerro de ouro, na Igreja Moderna, não é a teologia da prosperidade, mas sim a “oração do pecador”. Quem não conhece o mais famoso método moderno para salvar milhares de almas, como muitos afirmam, quanto desses chavões tem destruído a Igreja. Observe:

Levante a mão se você quer aceitar Jesus.

Venha até a frente e ore a Deus, peça para ele entrar em seu coração. Está escrito na Bíblia irmãos, “se com tua boca confessares”.

Você quer ir para o céu? Repita essa oração comigo, só vai levar cinco minutos.

Quem nunca ouviu e até mesmo fez essa oração ou respondeu alguns desses apelos? Geralmente esses apelos vêm acompanhados de uma explicação de tudo aquilo que Jesus pode fazer pela pessoa, consertar sua vida, ajeitar o lado financeiro, melhorar sua autoestima. Jesus é a solução dos seus problemas, ele é a cereja que estava faltando no topo do bolo.

Irmãos, eu fiz essa oração quando era mais novo, me tornei um religioso, mas nada mudou em minha vida. Incrível não? Ao contrário do que a maioria de nos crentes imagina, o apelo feito no final do culto para que o perdido entregue sua vida à Cristo, é uma prática relativamente nova, portanto completamente desconhecida dos apóstolos. Durante seus primeiros 1.800 anos, o cristianismo se desenvolveu sem a famosa ajuda do “apelo”. Há propósito, alguém já encontrou o termo, “Aceite a Cristo” no Novo Testamento?

“Foram os Metodistas e os Evangelistas reavivalistas do século XVIII, que deram luz a esta novidade no cristianismo que se chama “apelo”“. Esta prática de convidar pessoas que desejam orações a colocar-se de pé e vir à frente para recebê-las surgiu de um evangelista Metodista chamado Lorenzo Dow. Posteriormente o reverendo James Taylor foi um dos primeiros a chamar pessoas para virem à frente em sua igreja em 1785 no Tennessee. O primeiro uso do altar de que se tem registro com relação a um convite público aconteceu em 1799 em um acampamento metodista em Rio Vermelho, Kentucky, E.U.A.

Mais tarde, em 1807 na Inglaterra, os metodistas criaram o “banco dos penitentes”. O “banco dos penitentes” localizava-se defronte ao lugar onde os pregadores se postavam no púlpito. O evangelista Charles Finney (1792-1872) acatou esse método, e começou a utiliza-lo a partir de sua famosa cruzada de 1830 em Rochester, Nova Iorque. Finney elevou o “apelo ao altar” ao nível de uma obra de arte, tornando tal método tão popular que “após 1835, chegou a ser um elemento indispensável no evangelismo moderno”. O cristianismo moderno nunca se recuperou desta ideologia antiespiritual. É o pragmatismo que governa a maioria das atividades das igrejas modernas, não a Bíblia. (Posteriormente as igrejas atentas aos seus “índices de audiência” foram além de Finney). “O pragmatismo aliado a Teologia da Prosperidade, liberalismo, sincretismo religioso entre outros fatores agravantes, levou a Europa ser chamada de mundo pós-cristão”. São “os fins que justificam os meios”, é feito o que funciona, mas não o que é bíblico.

É por isso que eu concordo com A.W Tozer, John Wesley, Dr Lloyd Jones, Spurgeon entre outros, que lançam como base para a regeneração, o texto de Romanos 3:23-27,intitulando o de“ O Grande Luminar das Escrituras” ou “ Acropóle da Fé Cristã”. Esse texto nos ensina a justificação pela fé, fé essa que não provém de nós, é um dom de Deus. Esses grandes homens, apesar das diferenças teológicas e doutrinárias, tinham um pensamento comum, que a salvação não pode ser manipulada por mãos humanas ou métodos. Um metodista piedoso E.M.Bounds tem uma frase simples, mas extremamente verdadeira e atual: “Nós estamos à procura de melhores métodos, Deus está à procura de melhores homens”. “Geralmente se aquela pessoa que “aceitou Jesus” não cresce nas coisas de Deus, a falta de crescimento é relacionada à falta de discipulado ou a Doutrina do cristão carnal, tentando dar uma justificativa ao problema, mas a Bíblia diz ”As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. João 10:27.

Salvação é somente pela graça (Sola Gratia), não é baseada no mérito humano, pois “todos pecaram” (Rm 3:23). A palavra que melhor define a salvação do homem que está morto em delitos e pecados “(Ef 2.1), é monergismo [uma benção redentora adquirida por Cristo para aqueles que o Pai lhe deu (1 Pedro 1:3; João 6:39)].

Nosso método evangelístico deve ser baseado na Sola Scriptura, ”somente as Escrituras”. Em nossos dias o evangelismo moderno prega o sinergismo, isto é, o homem coopera com Deus em sua salvação. Infelizmente isso tem arruinado o Evangelho não só no Brasil, mas em todo o mundo. As Igrejas crescem numericamente na teoria, porque em um dia entram mil pessoas pela porta da frente da igreja, enquanto, na porta dos fundos saem outras novecentos e noventa e nove. Na verdade a Igreja não cresce, é como o “fermento dos fariseus”, só cria volume, mas não traz nenhum resultado benéfico.

Vivemos num mundo antropocêntrico, centrado no homem. Os homens são hedonistas, amantes de si mesmo, Deus é muito claro em sua palavra “Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador." Isaías 43:11; "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura." Isaías 42:8.

Quantos enchem os lábios, dizendo que milhares de almas são salvas, multidões aceitaram Jesus, e idolatram pregadores modernos, ou dizem que já levaram alguns a aceitarem a Cristo. Como Pr. Paul Washer diz: “nós criamos uma Imagem de Deus, e a adoramos, pois ela pode satisfazer todas as nossas vontades”. Martinho Lutero dizia "Chuva de milagres? Todo e qualquer ensinamento contrário as Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias." Irmãos, a verdade é que nós trocamos REGENARAÇÃO por DECISIONISMO, e qual foi o fruto que tudo isso trouxe para o Evangelho de Jesus Cristo?

Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores alertava constantemente sobre esses apelos: “Pare de contar os pintinhos antes de saírem da casca do ovo, odeio essa exibição de troféus duvidosos, hoje cinco se renderam a Cristo, oito foram batizados e quinze santificados”. Não afirmem o que leva uma vida inteira para se provar se de fato a pessoa nasceu de novo.

George Whitefield, o maior evangelista inglês, e talvez de todos os tempos, enfatiza muito em suas pregações, fervorosamente, dizendo: “Você tem que nascer de novo”. Conta-se que certa senhora, ao se aproximar de Whitefield, indagou: Por que você vive nos dizendo que nós temos que nascer de novo? O evangelista exclamou: Minha senhora, porque você tem que nascer de novo.

Que Deus nos liberte desse estereótipo, que foi inculcado em nossas mentes, e nos leve ao conhecimento de Cristo, como o profeta Oséias nos ensina “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” Oséias 6:3.

Uma definição perfeita de “aceitar a Jesus”, é o que a palavra nos ensina em Jeremias 8.20: ”Passou a sega, findou o verão e nós ainda não estamos salvos”. Se você que está lendo esse artigo e ainda faz esses apelos às pessoas PARE! Ou se está em uma igreja, onde o evangelista deveria passar mais tempo estudando a Bíblia do que levando pessoas a tomarem decisões por Cristo, ALERTE-O “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”. Tiago 3:1.

E se você “acredita” ser salvo por essa decisão, e não por confiar em Cristo, leia 2 Coríntios 13:5 “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; portai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.".

Precisamos de uma nova geração de expositores, homens eruditos que peguem fogo no púlpito, homens que preguem sobre o pecado,  sobre a Ira Vindoura, que preguem o amor e também a justiça de Deus. Não precisamos de nada novo, somente o antigo e verdadeiro evangelho.

Como John Stott dizia “Temos que fazer uma conexão entre a Bíblia e o mundo contemporâneo, tem de haver equilíbrio, não podemos ser “tradicionais demais”, ou contemporâneos demais”. Temos que saber o que a Bíblia nos fala hoje, a palavra de Deus  é infalível, inerrante e inspirada, mas a partir do momento que nos afastarmos dela, estaremos caindo na armadilha de Satanás.

Que Deus venha com seu fogo santo e traga Despertamento espirtual, Reforma e Avivamento. Que possamos cair diante da Majestade do Deus Trino e confiar somente nele para nossa salvação. Encerro com a frase de Spurgeon “Eu escolhi a Deus porque Ele me escolheu primeiro, caso contrário, eu nunca o teria escolhido”.

Soli Deo Gloria!
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