Por Márcio Jones
Que o evangelho não se resume a uma proposição filosófica, calcada em sabedoria humana, isso é claro, notório e indiscutível. O alcance da verdade revelada de Deus nem sequer é possível mediante a ação ainda que dos mais brilhantes intelectos que já houve sobre a Terra, pois se do contrário fosse, o homem poderia se gloriar em ter conhecido o Senhor por seus próprios méritos. Entretanto, Deus fez conhecida a sua estupenda sabedoria, que outrora se encontrava oculta (1 Co 2:7), por intermédio da revelação da pessoa de Cristo.
Cabe enfatizar que a inteligência humana não apreende por si só essas verdades. Quando, porém, lhe é desvelado o conteúdo do evangelho, então o homem não só as entende, mas também as aceita (1 Co 2:15), passam a lhe fazer sentido (2 Co 4:3-5). É dizer, citando John Stott, "crer é também pensar".
Nessa esteira, não poucos apresentam um contraste entre a fé e o raciocínio; entre o Espírito Santo e Sua obra de um lado e os dons naturais e a educação do outro. Afirmou Lloyd-Jones que "alguns parecem ter a ideia de que absolutamente nada importa, exceto que o homem seja convertido e receba o dom do Espírito Santo. E então, baseados nisso, há os que alegam que, seguramente, não importa quais sejam os dotes naturais da pessoa; não importa se ela é inteligente ou não, se é instruída ou ignorante - nada importa, senão o poder do Espírito".
Ora, a Escritura contradiz o referido ponto de vista. Basta folhear suas páginas e perceber que Deus usou homens notáveis, de destacada capacidade, de brilhantismo inequívoco, que foram preparados de maneira singular. Vejamos Moisés, v.g., com habilidades naturais notórias e um grande saber adquirido na casa de Faraó. Notemos Isaías, com sua linguagem apresentada em forma de argutos e vigorosos argumentos, demonstrando o grande poeta que era. Cheguemos a Saulo de Tarso. O que dizer deste erudito? Judeu, educado como fariseu, teve o privilégio de ser instruído aos pés de Gamaliel, o maior mestre dentre os fariseus. Além de ser um homem oriundo de um dos maiores centros de cultura da época, similar à Atenas e Alexandria. O Senhor utilizou-se nitidamente de de toda essa capacidade para realizações especiais. É inegável. Vemos ainda base sólida para esse argumento ao longo da história da Igreja cristã. Homens de extrema capacidade e extraordinariamente dotados foram Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, João Wesley e tantos outros.
O que resta sabermos, sim, é que não devemos estabelecer a nossa confiança nos dons naturais. Não devemos nos gloriar neles, creditar a eles nosso êxito. Essa, segundo o Dr. Lloyd-Jones, foi a preocupação de Paulo ao escrever aos coríntios. "Os dons naturais não são descartados nem deixados de lado pelo Espírito Santo. O Espírito Santo exerce controle sobre eles e faz uso deles".
Fonte: Despertar de um avivamento
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