Josivaldo de França Pereira
Muito se tem escrito sobre Neemias como um homem de liderança e empreendedorismo. Conquanto não seja errado pensar assim - posto que foi ele quem conduziu a grande reconstrução dos muros de Jerusalém, destruídos por ordem de Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 587/86 a.C. - não podemos perder de vista que Neemias, antes de tudo, era um homem de oração. É interessante que quando se fala de Neemias como homem de oração, o que se tem em mente, muitas vezes, é aquela oração relâmpago que ele fez ao ser indagado pelo rei Artaxerxes: “Disse-me o rei: Que me pedes agora? Então, orei ao Deus dos céus e disse ao rei...” (Ne 2.4,5).
Não são poucos os que se baseiam nesta oração de Neemias para justificar suas súplicas apressadas e preguiçosas, dizendo que não é pelo muito falar que seremos ouvidos por Deus. O resultado lamentável disso é que um número considerável de nós, cristãos, não gasta mais que cinco minutos em oração por dia. À luz do capítulo 1 do livro de Neemias aprendemos que só temos o direito de fazer uma oração pequena a Deus se as circunstâncias de fato assim exigirem e se costumeiramente oramos ao Senhor de forma relativamente prolongada.
É verdade que Jesus ensinou: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo muito falar serão ouvidos” (Mt 6.7), mas, conforme o próprio texto deixa claro, ele se referia às vãs repetições dos pagãos. De modo semelhante nosso Senhor criticou os escribas e fariseus, não por suas longas orações propriamente, mas pela hipocrisia deles (cf. Mt 23.14; Mc 12.40; Lc 20.47). O próprio Cristo passava horas e horas orando.
O salmista Davi dizia: “Na tua presença há plenitude de alegria” (Sl 16.11). A oração deve ser uma coisa prazerosa, e nunca um fardo e enfado. Quando há plenitude de alegria diante de Deus, certamente não haverá pressa em se deixar a presença dele. O capítulo 1 de Neemias mostra o quanto seu autor se dedicou à oração ao saber da grande miséria e desprezo do restante dos judeus que não foram levados para o cativeiro, e da destruição dos muros e portas de Jerusalém. “Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus” (Ne 1.4). Os versículos 5 a 11 do capítulo primeiro são apenas uma parte da oração de Neemias, visto que por alguns dias ele esteve assentado, chorando, lamentando, jejuando e orando ao Deus dos céus.
Todas as orações de Neemias contêm o verbo “lembrar”. Vejamos: “Lembra-te da palavra que ordenaste a Moisés, teu servo, dizendo: Se transgredirdes, eu vos espalharei entre os povos” (Ne 1.8); “Lembra-te de mim para o meu bem, ó meu Deus, e de tudo quanto fiz a este povo” (Ne 5.19); “Lembra-te, meu Deus, de Tobias e de Sambalá, no tocante a estas suas obras, e também da profetisa Noadia e dos mais profetas que procuraram atemorizar-me” (Ne 6.14); “Por isto, Deus meu, lembra-te de mim e não apagues as beneficências que eu fiz à casa de meu Deus e para o seu serviço” (Ne 13.14); “Também mandei aos levitas que se purificassem e viessem guardar as portas, para santificar o dia de sábado. Também nisto, Deus meu, lembra-te de mim; e perdoa-me segundo a abundância da tua misericórdia” (Ne 13.22); “Lembra-te deles, Deus meu, pois contaminaram o sacerdócio, como também a aliança sacerdotal e levítica” (Ne 13.29); “... Lembra-te de mim, Deus meu, para o meu bem” (Ne 13.31).
O que as orações de Neemias nos ensinam? Elas nos ensinam que o mesmo Deus que nunca se esquece da gente também quer ser “lembrado” por nós de suas promessas e de seus atributos em nosso favor.
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