quinta-feira, 25 de outubro de 2012

As Naturezas de Cristo


1. AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO: Cristo é o Mediador entre Deus e o homem e não obstante ser uma só Pessoa, Ele é o Deus e homem, ao mesmo tempo. Essa constituição está acima de nossa capacidade de compreendê-la e a Bíblia se refere a ela como um mistério (I Tim. 3:16).

 Franklin Ferreira e Alan Myatt dizem o seguinte a este respeito:

 E a formulação clássica da pessoa de Cristo inclui três proposições que nossa exegese do Novo Testamento revela. Em Cristo, temos duas naturezas em uma só pessoa, ou seja: (1) Cristo é verdadeiramente Deus, (2) Cristo é verdadeiramente humano e (3) Cristo é uma só pessoa. Há nele duas naturezas, divina e humana, claramente distintas e substancialmente diferentes, mas “inconfundíveis e imutáveis, indivisíveis e inseparáveis” (F. Ferreira e A. Myatt, Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Vida Nova, 2007, p. 510)

 A não aceitação dessa doutrina tem sido a responsável por muitas controvérsias doutrinárias e pelo surgimento de heresias quanto a doutrina de Cristo, através dos tempos. O docetismo, o apolinarismo e o eutiquianismo negaram a humanidade de Cristo. O ebionismo, o adocionismo e o arianismo negaram a divindade de Cristo. Além dessas podemos citar ainda o nestorianismo que negava a união pessoal de Cristo e o sabelianismo, que juntamente com o modalismo, negaram a distinção entre o Pai e o Filho.

 As heresias citadas acima e qualquer outro sistema que deixar de considerar a realidade das duas naturezas de Cristo, subsistindo harmoniosamente numa única pessoa, estará se afastando do ensino bíblico.

 1.1. A natureza Divina de Cristo.

 Fazia-se necessário que o Redentor fosse Deus visto que só Deus é capaz de salvar. Só Deus pode vencer o poder do pecado trazendo pecadores à vida eterna. Atanásio, combatendo o arianismo, disse:

 Uma criatura não podia unir a criatura a Deus; uma parte da criação não pode alcançar a salvação à criação, ela mesma tendo necessidade de salvação. (...) Uma criatura não teria podido criar. Uma criatura não podia de modo algum nos resgatar (Atanásio, Contra arianos II.69; Ad Adelphium 8; Ad Maximum 3).

O homem já havia demonstrado ser incapaz de render obediência completa a Deus, de modo que seu redentor precisava ser alguém que tivesse esse poder, além do que precisava ser alguém com poder sobre a vida já que precisa entrega-la e toma-la de volta vencendo assim a morte. Só Deus tem esse poder.

 A divindade de Cristo pode ser visto através de diversos fatores. Podemos, por exemplo, ver a natureza divina de Cristo no fato dele ser apresentado no Novo Testamento como sendo preexistente. Em João 1.3 ele é chamado de Criador enquanto que em I Co. 15.47 é dito que ele veio ao mundo, descendo dos céus.

Outro fator que demonstra a divindade de Cristo são os atributos divinos a ele atribuídos no Novo Testamento. Eternidade (Jo. 17.5), imutabilidade (Hb 13.8), onipresença (Mt 18.20), onisciência (Jo 2.23), onipotência (Jo 5.17), entre outros, são atributos divinos aplicados a Cristo.

Além das perfeições, ou atributos, divinos atribuídos a Cristo, obras divinas também são atribuídas a Cristo no Novo Testamento: criação (Jo 1.3); milagres (Jo 5.21); concessão de vida eterna (Jo 10.28), entre outras.

 Leandro Antonio de Lima diz o seguinte:

 No Novo Testamento, a divindade de Jesus está muito clara. O Novo Testamento atribui a Jesus uma série de poderes que somente podem ser atribuídos a Deus. O próprio Jesus usou, em relação a si mesmo, expressões que são conotativamente divinas. Jesus disse aos judeus: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou” (Jo 8.58). Claramente essa é uma referência à sua eternidade, e somente Deus é eterno. A própria expressão “Eu Sou”, dessa passagem, é um eco do que Deus disse a Moisés quando ele se revelou na sarça ardente: “Eu sou o que sou” (Ex 3.14). (...) Jesus disse ainda: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra”(Mt 28.18), o que é uma referência clara à sua onipotência. O mesmo pode ser dito de sua onipresença, pois ele disse: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mt 28.20). Sua onisciência, por outro lado, pode ser vista no fato de que ele conhecia os pensamentos dos seres humanos (Mt 9.4; 12.25; 22.18; Lc 5.22; 6.8).

 Somente Deus pode ser adorado. Pedro, Paulo e os anjos recusaram adoração (At 10.25, 26; 14.14, 15; Ap 22.8, 9), mas Jesus aceitou e até incentivou, como pode ser visto de suas próprias palavras: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor, e dizeis bem; porque eu o sou” (Jo 13.13; ver Mt 14.33; Lc 5.8; 24.52; Jo 4.10; 20.27-29). (...) Somente Deus pode perdoar pecados, e Jesus perdoou pecados, como no caso do paralítico que foi descido pelo telhado diante dele. (...) O mesmo ele fez com a mulher pecadora que lhe ungiu os pés (...).

Aquele que perdoou pecados, que recebeu adoração, que demonstrou consciência de atributos divinos, com certeza, era muito mais do que um homem (L. A. De Lima, Razão da Esperança – Teologia Para Hoje, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, pp 232, 233).

1.2. A Natureza Humana de Cristo.

A doutrina da humanidade de Cristo trouxe menos controvérsia que a doutrina da divindade, porém aquela doutrina não é menos importante que esta. Sua importância pode ser vista no fato de que se Cristo não tivesse assumido uma natureza humana real não poderia haver salvação já que só um homem poderia ser substituto da humanidade.

 Assim como a divindade pode ser percebida através de alguns fatores a humanidade de Cristo também o pode.


Podemos ver a humanidade de Cristo no fato de serem atribuídos a ele títulos que indicam humanidade: “homem” (I Tim. 2:5); “filho do homem” (Mat. 13:37); “semente da mulher” (Gen. 3:15); “semente de Abraão”(Atos 3:25); “filho de Davi” (Luc. 1:32) e “nascido de mulher” (Gal. 4:4).

Sua humanidade também pode ser vista no fato de ter ele um corpo e de apresentar limitações tanto físicas quanto intelectuais: fome, sono, sede, etc. (Luc. 2:52).

Leandro A de Lima diz:

 Jesus sentia sede, fome, cansaço, tristeza, e muitos outros tipos de sentimentos, necessidades e limitações que são próprias de um homem. É verdade que ele possuía o poder de fazer o que quisesse conforme sua divindade lhe conferia, mas isso não anulava as suas condições humanas. Após os quarenta dias de jejum no deserto, a Bíblia simplesmente diz que Jesus teve fome (Mt 4.2). Durante a sua viagem pela Galiléia, João o descreve como um viajante cansado que se aproxima de uma poço com sede (Jo 4.6-8). Em outra ocasião, o vemos profundamente adormecido na popa da embarcação durante uma tempestade no mar, o que certamente denotava esgotamento físico (Mc 4.36-41). A maior prova de suas limitações humanas, e que comprovam a sua humanidade, foi a sua própria morte. Ele realmente morreu, tendo padecido dores e privações humanas antes e durante a crucificação (Mt 26.38; Jo 19.28) (Ibid, p.237).

1.3. A Necessidade das Duas Naturezas de Cristo.

Para que Cristo pudesse ser o Redentor, precisava ser tanto homem quanto Deus. A queda exige um sacrifício e esse sacrifício devia ser humano uma vez que a promessa de morte foi feita ao homem. Deste modo só um homem podia morrer pelo homem. No entanto, a morte de um homem qualquer não podia nos resgatar. Precisava ser alguém que tivesse o poder de dar a vida e toma-la de volta, ou seja, precisava ser divino.

 Só uma natureza divina poderia sustentar a natureza humana impedindo-a de cair. Só uma natureza divina poderia dar valor e eficácia aos sofrimentos e obediência a Deus Ao mesmo tempo só uma natureza humana poderia substituir o homem em sua necessidade de obediência a Deus e no sofrimento da punição do pecado. É preciso, no entanto, deixar claro que são duas naturezas, mas não duas pessoas.

Louis Berkhof diz o seguinte:

Há somente uma pessoa no Mediador, e essa pessoa é o imutável Filho de Deus. Na encarnação Ele não se mudou numa pessoa humana, nem adotou uma pessoa humana. Simplesmente assumiu a natureza humana, que não se tornou uma personalidade independente, mas se tornou pessoal na pessoa do Filho de Deus. Sendo uma só pessoa divina, que possuía a natureza divina desde a eternidade, assumiu uma natureza humana e agora tem as duas naturezas. Depois de assumir uma natureza humana a pessoa do Mediador não é apenas Divina, mas Divino-humana; é agora o Deus-homem. É um só individuo, mas possui todas as qualidades essenciais tanto da natureza humana como da divina. Ainda que possua uma só consciência, possui tanto a consciência divina como a humana, bem como a vontade humana e a divina (L. Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, Patrocínio: Ceibel, 1992, p.178).

Em nenhum lugar do Novo Testamento encontramos traços de uma dupla personalidade de Cristo, pelo contrário, é sempre uma mesma pessoa quem fala, seja com a consciência humana ou divina. As coisas feitas por Cristo são feitas por uma Pessoa e, por conseguinte, são a obra de uma Pessoa toda. É, portanto, impróprio falar das ações de Cristo como sendo da natureza divina ou da natureza humana, isoladamente. As ações de Cristo são as ações de uma Pessoa.

Welerson Alves Duarte,
diretor do Seminário Presbiteriano Conservador Riacho Grande.

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