terça-feira, 23 de outubro de 2012

Imago Dei



Introdução

Conceito - É a doutrina de que o Homem foi criado à Imagem Divina. É a resposta bíblica a como surgiu o Homem, Criatura singular entre as existentes.
Dados Bíblicos - As idéias paulinas de Imago Dei são contextualizadas da Teologia Hebraica que a aceita no contexto da Criação e da Redenção. As palavras hebraicas Tselem, imagem, e demuth, semelhança, constituem-se nos vocábulos dessa doutrina e que no grego são correspondidas por eikon e homoiosis, respectivamente. O Homem foi feito Ícone de Deus e Jesus Cristo é a Ícone em Plena Essência do Deus Invisível.
Teologia Patrística

Irineu - Foi quem primeiro introduziu a distinção entre Ícone e Essência, identificando em Ícone a Razão e o Livre-arbítrio e na Essência a capacidade de fé e obediência. Mas o Homem perdeu esta Essência de Deus devido à sua desobediência deliberada.
Clemente de Alexandria - Reconhece a existência de três tipos de Imago Dei: a do Logos, a do Cristão e a de todos os homens. Ícone é a imagem natural e Essência é a imagem sobrenatural do Cristão. O homem, ao nascer, é um Ícone de Deus e, mais tarde, convertido, passa a possuir a Essência de Deus. Possui fundamento gnóstico tal definição.
Gregório de Nissa - Não vê diferença entre Ícone e Essência pois, na sua opinião, Imago contém a reprodução fiel e integral do Modelo e, conseqüentemente, estreita semelhança com ele, embora diferente em sua identidade. Se a imagem não é exata, não é imagem. No que tange a sexualidade, Gregório acha ser ela corrupção da Imago Dei, o que revela influência do Platonismo.
Santo Agostinho - O conceito que Agostinho tem de Deus é a base para sua definição de Sua Imago. A Imago Dei faz do Homem protótipo da Santíssima Trindade. Toda imagem é semelhante, embora tudo que seja semelhante não seja imagem, havendo relação de causa e efeito. Para Agostinho, sendo o homem Ícone de Deus, possui a Essência de Deus mas com o Pecado houve conturbação dessa Imago Dei.


Teologia Católica ( Medieval e Moderna)

Tomás de Aquino - Aplicou dogmaticamente a concepção de Irineu, ressaltando que Adão necessitava da ajuda divina para continuar no caminho de santidade, mas tal ajuda dependia do esforço e da resolução de Adão em crer e obedecer. A manifestação da Graça na Imago Dei, concebida por Aquino, é dependente do mérito humano.
Os Católicos Romanos possuem diversas concepções teológicas acerca da Imago Dei e a que predomina é que Deus dotou o Homem de certos dons naturais como a Espiritualidade da alma, a Liberdade da Vontade e a Imortalidade do Corpo, constitutivos da Imagem Natural. A harmonia dos constituintes acontece através da justitia, perdida na Queda do Homem. Para a Teologia Católico-Romana, o Homem ainda é Ícone em Essência de Deus embora desarmônica em seus constitutivos.



Teologia da Reforma

Calvino - A Imago Dei do Homem reside na alma e abrange tudo que distingue o Homem dos animais. Não existe diferença em ser Ícone e ter a Essência, é apenas um realce escriturístico. A definição de Imago Dei traz luz ao estado original de pureza do Homem.
Lutero - De posse desta imagem, o Homem era como os anjos e, após havê-la perdido inteiramente, tornou-se como os animais e o que o distingue deles tem pouca significação. Os luteranos, com isso, aceitam o traducianismo.


Teologia Moderna e Contemporânea

Emill Brunner ( liberal) - Imago Dei é o ponto de contato da Divindade no Homem e que capacita o Homem a receber a Palavra, podendo aceitá-la ou não. É um retorno à posição tomista. Acusado de heresia por Barth.
Karl Barth ( neo-ortodoxo) - Há uma contradição na doutrina barthiana da Imago Dei. A Total Corrupção do Homem é em função da perda da Imago Dei segundo Römerbrief. Mas, segundo Kirchlicke Dogmatik, a bondade essencial do homem não pode ser destruída. Em suma, no Comentário de Romanos Barth diz que o Homem deixou de ser Ícone de Deus e de ter a Essência de Deus; na Dogmática Eclesiástica ele afirma que o Homem apenas deixou de ser Ícone mas nele reside a Essência porém, diferente de Brunner, ela está incognoscível e não serve de "ponto de contato".
John Dagg ( Ortodoxo) - A expressão "Imagem de Deus" inclui o domínio do Homem sobre os animais e, em estrutura familiar, o homem como Cabeça da mulher, imagem de Deus ( I Cor. 11:7), Ícone do Governante Supremo, o Homem é o Senhor da Terra. A alma humana traz a "Essência de Deus": Espiritualidade e Imortalidade. A Essência, com a Queda, ficou ofuscada e o caráter de Ícone foi perdido. Desde então todos os gerados trazem a imagem do Pai Adão decaído e a sua essência depravada.
Paul C. Guiley ( Fundamentalista) - A Imago Dei se manifesta através da Inteligência, Emoções e Livre Arbítrio e a pessoa do Homem criado por Deus é a Imagem de Deus. Pela Queda, sua inteligência foi entenebrecida, suas emoções pervertidas e seu livre arbítrio anulado. Não há no Homem nenhuma possibilidade de esperança. Ele é agora totalmente depravado, possuidor duma natureza caída, morto em delitos e pecados, sem Deus e sem esperança no mundo. Logo, a Imago Dei foi anulada ou negativizada, não tem o efeito original.
Nossa Opinião

É expressamente afirmado que o Homem foi criado à Imagem de Deus e Deus sendo um Ser Triúno em Sua natureza constitutiva, o Homem possui uma natureza triúna constitutiva: Corpo, Alma e Espírito que administram a matéria física do Homem, a mente do Homem e a Comunhão do Homem com Deus. Isto é estranho à Teologia Hebraica que apenas vê o Homem de uma forma única mas é verdade que o Homem só pode ser apresentado unitariamente, independente de sua natureza constitucional. Da mesma forma que há um só Deus, Ele é Triúno e ninguém possui apenas o Espírito Santo, por exemplo. Por isso, não estamos muito longe da concepção hebraica.

A Imago Dei abrange toda a pessoa do Homem e foi apagada em sua Essência, embora a Ícone permaneça pois o Homem ainda é Senhor da Terra como em Salmo 8, manifesta sua Ícone na administração familiar quando o homem é o Cabeça da mulher e, quando Deus condena o homicídio, condena por tirar a vida de Seu Ícone, embora desprovido da Essência ( pois os animais selvagens já não lhe respeitam; pois ao invés de considerar, na família, a mulher como parte mais frágil, ou a coloca em posição de escravo ou aceita sua subversão).

Cristo existe como Ícone Essencial do Deus Invisível, ou seja, é a Ícone Existencial e Essencial. Ele é Completo e por Sua Completude nós podemos ser recompletados e voltarmos à situação original. Somos reconstituídos como Imago Dei pelo Decreto do Pai, pelo Sacrifício de Cristo e pela Visitação do Espírito, embora ações diferentes em termos existenciais possuem a mesma essência ( da mesma forma a constituição humana: existe tríplice em essência una). Nada há em nós que possibilite a recepção da Palavra: Cadáver não ouve nem pensa!

Teologia Exegética\Teologia Bíblica do Antigo Testamento
JosiaS Macedo Baraúna Jr.

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