quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A verdade por trás do arrebatamento


Por Samuele Bacchiocchi.

Muitos sinceros cristãos crêem que a Segunda Vinda de Cristo ocorrerá em
duas fases distintas. A primeira fase é conhecida como “o arrebatamento secreto”
da Igreja e pode ocorrer a qualquer momento. Nessa ocasião, Cristo desce apenas
para as proximidades da Terra para ressuscitar os santos adormecidos e para
transformar e glorificar os crentes vivos. Ambos os grupos são então
arrebatados, ou seja, levados secreta, súbita e invisivelmente, para encontrar
no ar o Senhor que desce. Esse corpo de crentes, chamado de “Igreja”, então
subirá para o céu para celebrar com Cristo por sete anos as bodas do Cordeiro,
enquanto os judeus e os gentios não-convertidos permanecerão sobre a Terra para
sofrerem os sete anos finais de tribulação. Ao final desse período de sete anos,
a segunda fase da Vinda de Cristo, geralmente o Retorno ou Revelação, terá
lugar. Cristo então vem em glória com os santos até a Terra para destruir Seus
inimigos na Batalha do Armagedom, e para estabelecer o Seu trono em Jerusalém e
iniciar seu reino milenial terrestre.

Quanto tempo se espera que levará para o desaparecimento maciço dos
verdadeiros cristãos de todas as nações? Muitos acreditam que esse evento está
iminente porque sua principal pré-condição, ou seja, o reestabelecimento do
Estado de Israel e a posse da antiga Jerusalém, já tiveram lugar. Essa crença é
expressa em adesivos de automóveis como o que declara: “Se o motorista
desaparecer, agarre o volante”, ou “Em caso de arrebatamento este carro ficará
desgovernado”.

Segundo os cálculos iniciais de Hal Lindsey, esse arrebatamento secreto da
Igreja já passou do prazo. Em 1970 ele predisse que “em quarenta anos desde 1948
[ano da formação do Estado de Israel], ou por volta disso, todas essas coisas
poderiam ter lugar. Lindsey calcula os “quarenta anos” da duração bíblica de uma
geração e alega, com base na parábola da Figueira (Mat. 24:32-33) que a formação
do Estado de Israel em 1948 assinala o início da última “geração” (Mat. 24:34)
que verá primeiramente o arrebatamento, daí os sete anos de tribulação, e
finalmente o Retorno de Cristo em glória. Sendo que o arrebatamento, de acordo
com Lindsey e a maioria dos dispensacionalistas, ocorre sete anos (Dan. 9:27)
antes do Retorno visível de Cristo em glória, já deveria ter ocorrido em 1981 ou
1982. O que isso significa é que o tempo já se esgotou para essas predições
sensacionais, porém sem sentido.

A ascensão, expansão e declínio do pré-tribulacionismo


Origem do pré-tribulacionismo. A crença de que a Igreja será arrebatada
súbita e secretamente antes da grande e final tribulação é conhecida como
pré-tribulacionismo. Sua origem é em geral identificada por volta dos anos da
década iniciada em 1830. John N. Darby, um pregador anglicano que se tornou
fundador dos Irmãos de Plymouth, é considerado o expositor e promotor mais
influente do arrebatamento pré-tribulacionista. Mediante suas seis visitas à
América e extensa campanha de literatura do pré-tribulacionismo dos Irmãos de
Plymouth, as idéias pré-tribulacionistas espalharam-se rapidamente.

O período de expansão máxima e predomínio do pré-tribulacionismo foi a
primeira metade do século vinte. Homens como Arno C. Gaebelein, C. I. Scofield,
James M. Gray do Instituto Bíblico Moody, Reuben A. Torrey, do Instituto Bíblico
de Los Angeles, Harry A. Ironside, da Igreja Memorial Moody, e Lewis Sperry
Chafer da Faculdade Teológica Evangélica (atual Seminário Teológico de Dallas)
desempenharam um importante papel na popularização do arrebatamento
pré-tribulacionista. O fator único mais importante foi a ampla circulação da
Bíblia de Scofield, publicada em 1909 e revisada em 1917, que inculcava esse
ensino entre as massas como o único ponto de vista bíblico correto.

Ressurgimento do pós-tribulacionismo. Desde 1950 mais e mais eruditos
evangélicos vêm abandonando o pré-tribulacionismo e retornando ao
pós-tribulacionismo histórico que sustenta que a Igreja passará pela grande
tribulação, ao final da qual Cristo virá para ressuscitar os santos adormecidos
e salvar os crentes vivos.

Crédito para o ressurgimento do pós-tribulacionismo deve ser dado primeiro
de tudo à influência de George E. Ladd, Professor de Novo Testamento do
Seminário Teológico Fuller. Alguns de seus importantes livros sobre este assunto
são Crucial Questions About the Kingdom of God [Questões Cruciais Sobre o Reino
de Deus] (1952), The Blessed Hope [A Bem-aventurada Esperança] (1956) e The Last
Things [As Últimas Coisas] (1978). Sua respeitada erudição associada a sua
dedicação aos princípios evangélicos têm levado muitos eruditos evangélicos a
repensarem suas posições pré-tribulacionistas.

A influência de Ladd pode ser vista nos seguintes significativos estudos
produzidos por eruditos que acataram o pós-tribulacionismo e têm escrito em sua
defesa: The Greatness of the Kingdom [A Grandeza do Reino] (1959), de Alva J.
McClain, presidente do Seminário Teológico da Graça, em Winona Lake, Indiana;
The Imminent Appearing of Christ [O Iminente Aparecimento de Cristo] (1962), de
J. Barton Payne, Professor de Velho Testamento na Faculdade Evangélica Trinity;
e The Church and the Tribulation [A Igreja da Tribulação] (1973), de Robert H.
Gundry, Professor de Estudos Religiosos na Faculdade Westmont, California.
Tais estudos têm influenciado numerosos eruditos dentro de instituições
tradicionalmente pré-tribulacionistas a retornarem ao pós-tribulacionismo
histórico. A Igreja Evangélica Livre da América, por exemplo, que no passado era
defensora do arrebatamento pré-tribulacionista, permitiu que professores da
Escola Evangélica de Divindade Trinity desafiassem o pré-tribulacionismo em sua
conferência ministerial anual em janeiro de 1981. Os desafios e respostas,
publicadas em 1984 como um simpósio intitulado “O Arrebatamento: Pré- Mid- ou
Pós-Tribulacionistas” oferece um debate bastante erudito sobre as questões
relativas ao Arrebatamento.

Um pressuposto equivocado. Mesmo uma leitura superficial da literatura
pré-tribulacionista é suficiente para deixar uma pessoa ciente do fato de que a
crença no arrebatamento secreto repousa muito mais sobre pressuposições
subjetivas do que no ensinamento bíblico. O pressuposto principal é o de que
Deus tem um plano diferente para a Igreja em relação com Israel.
Conseqüentemente, presume-se que a Igreja deve ser removida da Terra antes que
Deus possa tratar com os judeus levando-os à conversão em larga escala mediante
a experiência da grande tribulação.

John F. Walvoord, destacado campeão do arrebatamento secreto, reconhece
explicitamente a importância desse pressuposto ao escrever: “A questão do
arrebatamento é determinado mais por eclesiologia do que por escatologia”. Em
outras palavras, mais pelo entendimento que se tem sobre a relação entre a
Igreja e Israel do que por ensinos bíblicos concernentes ao fim. C. C. Ryrie,
outro pré-tribulacionista destacado, expressa a mesma convicção, declarando: “A
distinção entre Israel e a Igreja leva à crença de que a Igreja será tomada da
Terra antes do início da tribulação (o que, num sentido mais amplo, diz respeito
a Israel)”.

Hal Lindsey vai ao ponto de tornar a distinção entre Israel e a Igreja sua
“principal razão” para crer que “o Arrebatamento ocorre antes da Tribulação”.
Ele argumenta que “se o Arrebatamento tivesse lugar ao mesmo tempo da segunda
vinda, não haveria mortais deixados que fossem crentes; portanto, não haveria
ninguém para ir para o reino e repovoar a Terra”. Ou seja, uma vez que Lindsey
presume que o Reino messiânico predito pelos profetas do Velho Testamento será
estabelecido por Cristo por ocasião de Seu Segundo Advento como um reino
terrestre que consiste predominantemente de judeus mortais e crentes, então a
necessidade do arrebatamento da Igreja deve ocorrer antes. Como pode Cristo vir
estabelecer um Reino milenial judaico sobre a Terra se todos os crentes estão
arrebatados desta Terra por ocasião de Sua Vinda?

O segundo advento dividido em duas fases. Para solucionar este dilema, os
dispensacionalistas dividem o Segundo Advento em duas fases: Primeiro uma vinda
invisível para arrebatar secretamente a Igreja, e, segundo, uma vinda visível
sete anos mais tarde para destruir os ímpios e estabelecer o Reino Judaico
milenial. O raciocínio por detrás desse arranjo pode parecer correto, mas está
errado em vista de fundamentar-se sobre o incorreto pressuposto de que há uma
distinção radical entre o plano de Deus para Israel e para a Igreja.

Não há respaldo bíblico para uma distinção radical entre Israel e a Igreja.
O futuro de Israel não é visto no Novo Testamento como um reino político
milenial separado na Palestina, mas como um de bênçãos duradouras compartilhado
juntamente com todos os remidos de todas as era numa nova Terra restaurada.

Desafortunadamente, é esse pressuposto equivocado que determina a
interpretação de textos bíblicos aduzidos em apoio ao arrebatamento.

Argumenta-se, por exemplo, que um certo texto não pode referir-se à Igreja
porque descreve a grande tribulação, que se supõe aplicar-se apenas a Israel.
Esse tipo de raciocínio circular, com base num pressuposto gratuito, não é o
método correto de interpretar textos bíblicos. As conclusões devem ser extraídas
de exegese cuidadosa, não de pressupostos preconcebidos.

Quatro razões para rejeitar o arrebatamento secreto

Um cuidadoso estudo de textos bíblicos relevantes quanto ao Retorno de
Cristo sugere pelo menos quatro razões principais para rejeitar o ponto de vista
de uma Segunda Vinda de Cristo em dois estágios.

O vocabulário do segundo advento. A primeira razão para rejeitar um
arrebatamento secreto que antecede à tribulação é o fato de que o vocabulário do
Segundo Advento não oferece respaldo para tal ponto de vista. Nenhuma das três
palavras gregas usadas no Novo Testamento para descrever o Retorno de Cristo, ou
seja, parousia-vinda, apokalypsis-revelação, e epiphaneia-aparecimento, sugere
um arrebatamento secreto pré-tribulacional como objeto da esperança cristã no
Advento.

Os pré-tribulacionistas alegam que a palavra parousia-vinda é usada por
Paulo em 1ª Tessalonicenses 4:15 para descrever o arrebatamento secreto. Mas em
1ª Tessalonicenses 3:13 Paulo emprega a mesma palavra para descrever “a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos”-uma descrição, segundo os
pré-tribulacionistas, da segunda fase do Retorno de Cristo. Novamente, em 2ª
Tessalonicenses 2:8, Paulo emprega o termo parousia-vinda em referência à Vinda
de Cristo que causará a destruição do anticristo-um evento que, de acordo com os
pré-tribulacionistas, supostamente ocorrerá na segunda fase da Vinda de Cristo.

Semelhantemente, as palavras apokalypsis-revelação e
epiphaneia-aparecimento, são utilizadas para descrever tanto o que os
pré-tribulacionistas chamam de arrebatamento (1ª Cor 1:7; 1ª Tim. 6:14) e o que
chamam de Retorno, ou segunda fase da Vinda de Cristo (2ª Tess. 1:7-8, 2:8).
Destarte, o vocabulário da Bendita Esperança não propicia base alguma para uma
distinção do Retorno de Cristo em duas fases, uma vez que seus termos originais
são empregados intercambiavelmente para descrever o mesmo evento. Mais
importante ainda é o fato de que cada um desses três termos é claramente
empregado para descrever o Retorno de Cristo pós-tribulacional, o que é visto
como objeto da esperança do crente.

A parousia, por exemplo, é indisputavelmente pós-tribulacional em Mateus
24:27, 38, 39 e em 2ª Tessalonicenses 2:8. O mesmo é verdade de
apokalypsis-revelação, em 2ª Tessalonicenses 1:7 e de epiphaneia-aparecimento em
2ª Tessalonicenses 2:8. Portanto, o vocabulário da Bendita Esperança exclui a
possibilidade de uma Vinda Secreta de Cristo para arrebatar a Igreja, seguida de
uma tribulação de sete anos e da Vinda gloriosa, visível para estabelecer o
Reino Judaico milenial. Os termos usados claramente apontam a um Advento de
Cristo único, indivisível, pós-tribulacional para trazer salvação aos crentes e
retribuição aos descrentes.

Nenhum arrebatamento da igreja. Uma segunda razão para rejeitar um
arrebatamento pré-tribulacional secreto da Igreja é o fato de que não há
qualquer indício no Novo Testamento de um arrebatamento instantâneo da Igreja. A
descrição mais notória do Segundo Advento encontrada em 1ª Tessalonicenses
4:15-17, sugere exatamente o oposto quando fala que o Senhor desce do céu “dada
a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus”
. . . “os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que
ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro
do Senhor nos ares”.

O clamor, a trombeta e o grande ajuntamento dos vivos e santos ressurretos
dificilmente sugeriria um evento secreto, instantâneo e invisível. Pelo
contrário, como freqüentemente se tem assinalado, esta talvez seja a passagem
mais barulhenta da Bíblia. A referência a um ressoar “da trombeta” e
paralelamente ao texto de Mateus 24:31 e 1ª Coríntios 15:52, que falam de fortes
sons de trombeta, corroboram a visibilidade e natureza pública do Segundo
Advento. Nenhum traço de um arrebatamento secreto pode ser encontrado em
qualquer destas passagens.

Nenhuma remoção da igreja da grande tribulação. Uma terceira razão para
rejeitar a noção de um arrebatamento secreto pré-tribulacional da Igreja é o
fato de que tal noção não tem apoio das passagens que tratam da tribulação. Por
exemplo, em seu discurso no Monte das Oliveiras, Jesus fala da “grande
tribulação” que imediatamente precederá a Sua vinda e promete que “por causa dos
escolhidos tais dias serão abreviados” (Mat. 24:21-22, 29). Alegar que “os
eleitos” são apenas os crentes judeus, e não membros da Igreja, representa
ignorar que Cristo está se dirigindo a Seus apóstolos que representam não só o
Israel nacional, mas a Igreja em escala ampla. Isto é confirmado pelo fato de
que tanto Marcos quanto Lucas fazem referência ao mesmo discurso para a Igreja
gentílica (Marcos 13; Lucas 21).

É também digna de nota a grande semelhança entre a descrição que Cristo
faz do arrebatamento da Igreja em Mateus 24:30, 31 e a de Paulo em 1ª
Tessalonicenses 4:16, 17. Ambos os textos mencionam a descida do Senhor, a
trombeta que soa, os anjos acompanhantes e a reunião do povo de Deus. Tais
semelhanças sugerem que ambas as passagens descrevem o mesmo evento. Contudo, em
Mateus o arrebatamento de Cristo é explicitamente situado “após a tribulação”
(Mat. 24:29), ao tempo da Vinda de Cristo “com poder e grande glória” (vs. 29,
30). O paralelismo entre as duas passagens indica claramente que o arrebatamento
da Igreja não precede, mas, pelo contrário, segue-se à grande tribulação.

Cristo nunca prometeu a Sua Igreja um arrebatamento pré-tribulação deste
mundo. Antes, prometeu proteção em meio à tribulação. Em Sua petição ao Pai, Ele
disse: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (João 17:15).
Semelhantemente à Igreja de Filadélfia, Cristo promete: “Eu te guardarei da
hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que
habitam sobre a Terra” (Apoc. 3:10). Se a Igreja estivesse ausente desta Terra
durante a hora de prova, não haveria necessidade de proteção divina.

Nenhum arrebatamento pré-tribulação nas Escrituras. Por último, a noção de
um arrebatamento secreto pré-tribulacional é negada por Paulo e pelo livro de
Apocalipse. Em suas admoestações aos tessalonicenses, Paulo explica que os
crentes terão “alívio” da tribulação desta era presente “quando do céu se
manifestar o Senhor Jesus Cristo com os anjos do Seu poder, em chama de fogo,
tomando vingança contra os que não conhecem a Deus. . .” (2ª Tess. 1:7-8). Em
outras palavras, os crentes experimentarão libertação dos sofrimentos desta era,
não mediante um arrebatamento secreto, mas por ocasião da revelação
pós-tribulacional de Cristo.

No segundo capítulo Paulo refuta as concepções errôneas que prevaleciam
entre os tessalonicenses de que o dia do Senhor havia vindo. Para refutar esse
equívoco ele cita dois eventos principais que deveriam dar-se antes da Vinda do
Senhor, ou seja, a rebelião e o aparecimento do “homem da iniqüidade” (2ª Tess.
2:3) que perseguiria o povo de Deus.

O que é crucial nesta passagem é que Paulo não faz menção de um
arrebatamento pré-tribulacional como um precedente necessário para a Vinda do
Senhor. Contudo, este seria o argumento mais forte que Paulo poderia apresentar
para provar aos tessalonicenses que o dia do Senhor não poderia possivelmente
ter vindo, uma vez que o seu arrebatamento para fora deste mundo ainda não
tivera lugar. A omissão de Paulo desse argumento vital sugere fortemente que
Paulo não cria num arrebatamento pré-tribulacional da Igreja.

Esta conclusão também é apoiada pela menção por Paulo do aparecimento do
anticristo, um evento indiscutivelmente tribulacional que os crentes verão antes
da vinda do Senhor. Se Paulo esperasse que a Igreja fosse arrebatada deste mundo
antes da tribulação causada pelo aparecimento do anticristo, ele dificilmente
teria ensinado que os crentes veriam tal evento antes da vinda do Senhor. Que
interesse os tessalonicenses teriam no aparecimento do anticristo, juntamente
com a tribulação que o acompanharia, se devessem ser arrebatados para longe
desta Terra antes de esses eventos terem lugar? Assim, tanto por sua omissão
quanto por sua afirmação, Paulo nega o ponto de vista de um arrebatamento
pré-tribulacional da Igreja.

Nenhum arrebatamento pré-tribulacional no Apocalipse. O livro de Apocalipse
trata em maiores detalhes do que qualquer outro livro do Novo Testamento dos
eventos associados com a grande tribulação, tais como o soar das sete trombetas,
o aparecimento da besta que inflige uma terrível perseguição sobre os santos de
Deus, e o derramamento das sete últimas pragas (Apoc. 8 a 16). Conquanto João
descreva em grande detalhe os eventos tribulacionais, ele nunca menciona ou
sugere um Advento de Cristo secreto e pré-tribulacional para levar embora a
Igreja. Isto surpreende muito, em vista de que o expresso propósito de João é
instruir as Igrejas com respeito aos eventos finais.

João explicitamente menciona uma incontável multidão de crentes que passarão
pela grande tribulação. “São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas
vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apoc. 7:14). Os
pré-tribulacionistas argumentam que esses crentes são somente da raça judaica,
supostamente em vista de que a Igreja em Apocalipse 4 a 19 não mais está sobre a
Terra, mas no céu. Tal raciocínio perde o seu crédito, primeiramente pelo fato
de que em parte alguma João diferencia entre os santos na tribulação que sejam
judeus ou gentios.

João explicitamente declara que os crentes vitoriosos da tribulação vêm de
“toda nação, tribo, língua e povo” (Apoc. 7:9). Esta frase ocorre repetidamente
no Apocalipse para designar não exclusivamente os judeus, mas inclusivamente
todo membro da família humana (Apoc. 5:9; 10:11; 13:7; 14:6). O Cordeiro, por
exemplo, é louvado pelos 24 anciãos por ter resgatado homens “de toda tribo e
língua e povo e nação” (Apoc. 5:9). Obviamente, Cristo não resgatou somente
judeus, mas pessoas de todas as raças.

Êxtase de João, não arrebatamento da igreja. O argumento de que a Igreja
em Apocalipse 4 a 19 está no céu baseia-se num falso pressuposto de que a ordem
a João, “Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas
cousas” (Apoc. 4:1) refere-se supostamente ao arrebatamento da Igreja no céu.
Esta é uma interpretação sem fundamento, porque o texto não fala do
arrebatamento da Igreja, mas da experiência visionária extática de João. Até
mesmo John F. Walvoord, destacado pré-tribulacionista, reconhece abertamente que
“não há autoridade para ligar o arrebatamento com esta expressão”.

As semelhanças entre as admoestações dadas nas cartas às sete Igrejas e as
que são dadas aos santos que enfrentam a tribulação sugerem que os dois são
essencialmente o mesmo povo. Por exemplo, quatro vezes nas sete cartas a
necessidade para “suportar” é realçada (Apoc. 2:2, 3, 19; 3:10), e se espera a
mesma qualidade dos santos que passam pela tribulação (Apoc. 13:10; 14:12).
Semelhantemente, a necessidade de “vencer”, expressa sete vezes nas cartas às
Igrejas (Apoc. 2:7, 11, 17, 26; 3:5, 12, 21), é o próprio atributo dos santos
na tribulação “que venceram a besta e sua imagem” (Apoc. 15:2). Dificilmente se
conceberia que João tencionava atribuir as mesmas características a dois grupos
diferentes de pessoas.

A igreja sofre a tribulação, mas não a ira Divina. Em Apocalipse 22:16
Jesus reivindica ter enviado o Seu anjo a João “para testificar estas cousas à
Igreja”. É difícil ver como as mensagens dadas pelo anjo a João poderiam ser um
testemunho para as Igrejas, se a Igreja não está diretamente envolvida na maior
parte dos eventos descritos no livro (Apoc. 4 a 19).

O ponto básico da questão é que a Igreja em Apocalipse sofrerá perseguição
por poderes satânicos durante a tribulação final, mas não sofrerá a ira divina.
A ira divina, que é retratada pelas sete pragas apocalípticas, não é derramada
indiscriminadamente sobre todos, mas seletivamente sobre aqueles que são
“portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem” (Apoc. 16:2; cf.
14:9-10).

Tal como os antigos israelitas desfrutaram da proteção de Deus durante as
dez pragas (Êxo. 11:7), assim o povo de Deus será protegido quando Sua ira
divina cair sobre os ímpios. Essa divina proteção é representada em Apocalipse
por um anjo que sela os servos de Deus em suas testas (Apoc. 7:3) de modo a que
sejam poupados quando a ira de Deus sobrevir sobre os impenitentes (Apoc. 9:4).
Por fim, o povo de Deus será resgatado pelo glorioso Retorno de Cristo (Apoc.
16:15; 19:11-21). Destarte, a Revelação não retrata um arrebatamento
pré-tribulacional da Igreja, mas um Retorno pós-tribulacional de Cristo.

Conclusão. À luz das razões acima discutidas, concluímos que o ensino
popular de uma Vinda Secreta de Cristo para arrebatar a Igreja antes da
tribulação final é um sinal errado do Tempo do fim destituído de qualquer
respaldo bíblico. Tal crença torna a Deus culpado de chocante discriminação, por
dar tratamento preferencial à Igreja que é removida da Terra antes da tribulação
final reservada aos judeus. As Escrituras ensinam que a Segunda Vinda de Cristo
é um evento único que ocorre após a grande tribulação e será experimentada pelos
crentes de todas as eras e de todas as raças. Esta é a Bendita Esperança que une
“toda nação, e tribo, e língua e povo.” (Apoc. 14:6).

Deixados para trás?


O Dr. Bacchiocchi declara em um de seus artigos sobre a campanha do “Left
Behind”:

O ensino popular promovido por “Left Behind” [deixado para trás, um popular
filme religioso e série de livros de ficção escatológica] de um desaparecimento
súbito de milhões de cristãos, deixando para trás uma massa de judeus descrentes
e pessoas não convertidas, é uma ficção enganosa e não uma verdade bíblica. A
popularidade desse engano pode ser atribuído à falsa premissa de que os crentes
serão poupados de sofrer a tribulação final.

Numa época em que as pessoas engolem toda sorte de analgésicos para evitar
ou aliviar a dor, não é surpresa que muitos estejam dispostos a engolir também o
engano de um Arrebatamento pré-tribulacional, um ensino que promete às pessoas
isenção do sofrimento da tribulação final. Tal ensino atraente, contudo, não
carece apenas de suporte bíblico, mas é também incriminatório do caráter de
Deus. Retrata a Deus como um Ser discriminador que dá tratamento preferencial à
Igreja removendo-a de sobre a Terra, antes de despejar a tribulação final sobre
os que são deixados para trás.

“Left Behind” [deixado para trás] posiciona a conversão de muitos descrente
durante a tribulação, um ensino alheio à Bíblia. Repetidamente o Apocalipse
afirma que aqueles que experimentam as pragas finais “não se arrependeram de
suas obras” (Apo. 16:11; 16:9). Ademais, destrói a unidade e finalidade da Vinda
de Cristo, apresentada nas Escrituras como um evento único que ocorre após a
Grande Tribulação. Nessa ocasião os santos adormecidos serão ressuscitados, os
santos vivos serão transformados, os crentes de todas as eras se reunirão com o
Senhor, e aqueles que são deixados para trás “sofrerão penalidade de eterna
destruição, banidos da face do Senhor” (2ª Tess 1:9).

Não haverá uma segunda chance para os que são deixados para trás por
ocasião da vinda de Cristo, porque o fogo purificador de Sua presença consumirá
todos os pecadores e todo o vestígio do pecado: “Virá, entretanto, como ladrão o
dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo e os elementos se
desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas”
(2ª Ped. 3:10). Nossa bendita esperança repousa não sobre a ficção de
desaparecer subitamente no espaço, mas na promessa do retorno de Cristo para
criar “novos céus e uma nova terra nos quais habita a justiça” (2ª Ped. 3:13).

Referências:
1. Hal Lindsey, The Rapture: Truth or Consequences (New York, 1983), p. 24.
2. Hal Lindsey, The Late Great Planet Earth (Grand Rapids, 1970), p. 54.
3. Para uma pesquisa breve, mas informativa, do desenvolvimento do
pré-tribulacionismo, ver Richard R. Reiter, "A History of the Development of the
Rapture Position," The Rapture. Pre-, Mid-, or Post-Tribulational Symposium
(Grand Rapids, 1984), pp. 24-34.
4. Ver também Norman F. Douty, Has Christ's Return Two Stages? (New York,
1956); Alexander Reese, The Approaching Advent of Christ (Grand Rapids, 1975).
5. John F. Walvoord, The Rapture Question (Grand Rapids, 1957), p. 50.
6. C. C. Ryrie, Dispensationalism Today ( Chicago, Moody Press, 1965), p. 159.
7. Hal Lindsey, The Late Great Planet Earth (Grand Rapids, 1970), p. 143.
8. Ibid.
9. John F. Walvoord, The Revelation of Jesus Christ (Chicago, 1966), p. 103.

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