Algumas vezes o escritor faz uma distinção entre realidades celestiais e as cópias imperfeitas que vemos na terra (p. ex., 9.23), e tem havido muitos estudos sobre até que ponto ele empresta idéias do platonismo para seus argumentos. Platão dizia que a "idéia" perfeita de tudo existe no céu, de modo que aquilo que vemos na terra não passa de uma atualização imperfeita do arquétipo celestial. Alguns estudiosos concluíram que o escritor aos Hebreus está fazendo uso dessa distinção.
Contudo, tem sido rebatido com sucesso que a carta como um todo não apresenta nenhuma indicação de que seu autor era um filósofo estudado. Somos lembrados de que o Antigo Testamento nos informa que Moisés foi instruído a preparar tudo para o tabernáculo "segundo o modelo" que lhe foi mostrado no monte (Ex 25,40); por isso, alguns estudiosos acham que não precisamos de mais nada para explicar a terminologia do autor,
Há afirmações e textos judaicos que dizem mais ou menos a mesma coisa que Êxodo — por exemplo: "Mandaste-me construir um templo em teu santo monte e um altar na cidade onde fixaste a tua tenda, cópia da tenda santa que preparaste desde a origem" (Sabedoria 9,8), A dificuldade com isso é que a ênfase nos escritos judaicos está em que o terreno é uma cópia exata do celeste, e não é isso que o autor de Hebreus está dizendo.
Provavelmente devemos entender que ele está fazendo uso de uma forma de platonismo popular em Alexandria. Seu pensamento principal concorda com o Antigo Testamento, mas ele também declara que o celestial excede de longe o terreno; em algumas passagens isso é muito importante. Por exemplo, ele vê os sacerdotes levitas servindo em um santuário que não passava de "figura e sombra" do celestial (8.5), o antítipo do verdadeiro (9.24). A própria lei não era mais que sombra das coisas boas que viriam; ela não era a própria realidade (10.1). O ministério de Cristo não foi exercido no templo, no santuário terreno, mas no "maior e mais perfeito tabernáculo" (9.11), e seu sacrifício foi melhor do que qualquer uma das "figuras das coisas que se acham nos céus" (9.23).
Talvez devamos acrescentar:
1) A avaliação sobre Moisés de que "o opróbrio de Cristo" tinha mais valor do que os "tesouros do Egito" (11.26).
2) O contraste entre o monte Sinai e o monte Sião (12.l8ss), com sua advertência que faz o contraste entre a voz do céu e a da terra (12.25).
Todas essas passagens ajudam o autor a demonstrar que o que aconteceu em Cristo é muito superior ao que pode ser encontrado em qualquer religião na terra, incluindo o judaísmo. A maneira por que ele formula isso varia; a convicção de que Cristo e o caminho aberto por ele devem ser considerados acima de tudo mais é constante.
Fonte: Leon Morris - Teologia do Novo Testamento.
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