segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Falta da Verdadeira Piedade - L. R. Shelton, Jr


 Examinemos juntos, de novo, Mateus 7.21, onde nosso Senhor nos diz em palavras assustadoras: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus”. Este trecho do Sermão da Montanha é muito perscrutador e solene, porque aqui o Senhor Jesus Cristo – Aquele que conhece cada pensamento e imaginação do coração, e diante de cujos olhos penetrantes todas as coisas ficam desnudas e abertas – deixa muito claro que para Ele os protestos de devoção somente verbais não valem nada.

Ele nos diz que até mesmo as ações mais graciosas não valem nada quando falta a piedade vital e prática. Declara que aqueles que têm uma forma de piedade, mas que desconhecem seu poder transformador, estão enganados, e que serão repudiados no Dia do Juízo.

Nosso bendito Senhor declara abertamente que chamá-Lo de “Senhor, Senhor”, sem fazer a vontade do Pai celestial, é pura zombaria diante dEle. Seria a mesma coisa como seu eu desapossasse uma mulher para ser chamada pelo meu nome, para ficar no meu lar, para gastar o meu dinheiro, e para criar os meus filhos, mas que não me ama. É como uma esposa que recebe todas as vantagens da minha parte, mas que não tem amor pela minha pessoa, pelo meu nome, nem pela minha autoridade; mas que sempre pratica sua própria vontade e que segue seu próprio caminho. Ou, noutras palavras, usufrui do meu lar, do meu dinheiro, do meu nome, mas tem algum amante. Ou é como uma esposa que tem bastante tempo disponível para todas as outras pessoas e todas as outras coisas, mas que não tem tempo para mim; tem tempo para os amores dela, mas não para o meu amor.

É assim também que nosso Senhor está lidando com cristãos professos que reconhecem o seu nome, mas que não amam a sua Pessoa. Querem um lar no céu; querem gastar seu dinheiro espiritual, mas não têm nenhum amor ao seu nome nem à sua autoridade. Sempre estão praticando sua própria vontade e seguindo seus próprios caminhos, e nada sabem do seu caminho, da sua vontade, nem da sua autoridade. Sobra-lhes bastante tempo para todas as outras pessoas e para todos os outros assuntos, mas nenhum tempo para Ele na comunhão, na meditação, na oração, nem na leitura da sua preciosa Palavra – suas cartas de amor à sua noiva, que são as pessoas resgatadas ao preço do seu sangue precioso.

Ele está falando com você, dizendo: “Você tem bastante tempo para seus próprios amores – para seu ego, para a comida, a bebida, a pesca, a leitura, o trabalho, a televisão, os vizinhos e os parentes, para a prática até mesmo de obras religiosas, mas não tem tempo para Cristo, para comer sua carne e beber o seu sangue”. Como isto nos sonda a consciência! Se você não tem tempo para Cristo, para sua palavra, para sua autoridade, para a comunhão com Ele, você não está salvo! Você está enganado, e está no caminho para o inferno. Você tem uma forma de piedade, mas nenhum poder transformador do evangelho da graça de Deus na sua vida; porque aquele que recebeu a salvação divina ama a Pessoa do Senhor Jesus Cristo em Si mesmo e deseja adorá-Lo.

Ressaltemos: Nosso senhor aqui define uma lei: o mero reconhecimento verbal da verdade a respeito da sua pessoa, ou uma profissão de fé em meras palavras, dizendo que somos os seus discípulos, não nos dará por si só a entrada no reino dos céus. Não! Deve haver, ao mesmo tempo, a prática da vontade do Pai.
Surge, então a pergunta: “O que é mesmo a vontade do Pai?” Preste atenção enquanto exponho o assunto, e ore para o Espírito Santo o aplique ao seu coração.

A vontade do Pai é, em primeiro lugar, que abandonemos todo o pecado, com sinceridade de coração, como aquela coisa abominável que Deus odeia. Conforme diz Isaías 55.7: “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar”. Sim, a vontade do Pai é que abandonemos nosso próprio caminho e nossos próprios pensamentos. Provérbios 28.13 diz: “O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”. Praticar a vontade do Pai, portanto, é renunciar ao pecado, virar-se contra ele, clamar contra ele, abandoná-lo e fugir dele; porque o Senhor Jesus Cristo não veio salvar-nos em nossos pecados, mas dos nossos pecados (Mt 1.21).

Em segundo lugar, a vontade do Pai é que nos arrependamos: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam” (At 17.30). Arrepender-se do pecado é confessá-lo, sem esconder nada de Deus; é sentir tristeza por causa dele, pois é cometido contra to Deus três vezes santo; é deixá-lo de lado assim como você afastaria uma doença mortífera; é fugir dele por ser aquilo que condena a sua alma ao inferno; odiá-lo como aquilo que pregou as mãos e os pés do nosso bendito Senhor à cruz, que morreu para carregar o fardo do pecado em nosso lugar, e evitá-lo como a pestilência ao seu coração.

Isto, sim, é praticar a vontade do Pai: lutar contra todo pecado e contra todo caminho falso em nossa vida, e trazer diariamente frutos apropriados para o arrependimento.

Em terceiro lugar, a vontade do Pai é que confiemos no seu Filho. Em João 6.40 nosso Senhor, diz: “De fato a vontade meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”. Essa é a tal ponto a vontade de Deus – que creiamos em seu filho de modo salvífico – que Marcos 16.16 oferece a promessa da salvação para aqueles que crêem, e da condenação para aqueles que não crêem. Preste atenção à Palavra de nosso Senhor! “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”. 1João 5.9-12, ainda, nos informa que aquele que não crê em Jesus Cristo de modo salvífico chama Deus de mentiroso: “Se admitimos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; ora, este é o testemunho de Deus, que ele dá acerca do seu Filho. Aquele que crê no Filho de Deus tem em si o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus, o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho. E o testemunho é este, que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida”. E crer em Cristo de modo salvífico importa em quer nEle e confiar nEle em todos os seus ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei: como Profeta, para nos ensinar, como Sacerdote, para fazer a mediação por nós, e como Rei, para nos governar como Senhor. A verdadeira fé salvífica é entregar todo o nosso ser ao Cristo completo.
A Palavra de Deus nos ensina, portanto, que praticar a vontade do Pai é crer na sua Palavra e confiar no seu Filho; porque os justos viverão pela fé. E esse crer não é só ato isolado; é a confiança contínua no decurso de toda a nossa vida.

Em quarto lugar, praticar a vontade do Pai é tomar sobre nós o jugo de Cristo. Mateus 11.28-30 registra estas palavras do Senhor: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Nosso Senhor disse, em Lucas 14.27: “E qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo”. Lemos, ainda, em Hebreus 13.13: “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério”.

Aqueles três textos bíblicos confirmam esta verdade: Não podemos ter o nome de Cristo sem seu jugo, sem sua cruz e sem seu opróbrio. A Escrituras não ensinam nenhuma salvação à parte do jugo de Cristo, da sua cruz e do seu opróbrio. Para participarmos da libertação do inferno, também havemos de ter a libertação do pecado. Para Ele nos libertar da escravidão de Satanás, precisamos estar no jugo dEle. Seu jugo é sua autoridade sobre nossa vida. Ele é Mestre, Senhor, Rei e Soberano. Todo aquele a quem Deus salva, curva os joelhos, a vontade e o coração diante do Senhorio de Cristo, e se submete obedientemente ao seu jugo, à sua autoridade. Quero adverti-lo de novo, caro leitor, e isto por amor à sua alma imortal: a bíblia não ensina salvação à parte do senhorio do Senhor Jesus Cristo. Nós nos curvamos ao seu jugo. É essa a vontade do Pai; assim fazemos para a glória de Deus Pai.

Preste atenção: Ele não o salva do inferno sem torná-lo sua propriedade exclusiva. Ele não salva a ninguém que não se disponha a abandonar tudo por amor a Ele. Por que Ele deveria fazer tal coisa? Portanto, renegue o tipo de religião que salva do inferno mas não do pecado! Fora com a religião que deixa você viver como quiser, e que promete que, no fim, levará você para o céu! Fora com o tipo de salvação que deixa você amaro ao mundo, e Cristo, também!

Em quinto lugar, a vontade do Pai é que sigamos a Cristo. Repetidas vezes, Cristo disse: “Segue-me”. Como, pois, seguimos a Ele? A resposta vem da Palavra eterna de Deus: “até à morte!” Morremos para o próprio eu, para o pecado e para o mundo quando seguimos a Cristo, e essa é a vontade do Pai. Preste atenção a Gálatas 6.14: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo”.

Sim, na salvação somos crucificados para o mundo, para o pecado para o próprio eu. O que significa a morte senão a “separação”? Nesse caso, significa a separação do poder do pecado. Na nossa salvação, o pecado recebe seu golpe mortal. Se não morremos para o pecado, não fomos salvos! Baseio essa declaração em Romanos 6.1-13. Quatorze vezes aparecem as palavras “morrer”, “morte”, “morto”, nas suas várias formas gramaticais. Em que sentido são usadas essas formas de “morrer”, “morte”, etc.? Veja! Morto para o pecado, morto para o mundo, e morto para o próprio eu. Ensinam que o crente, o verdadeiro filho de Deus, morreu em Cristo; o pecado já não tem domínio sobre ele, e o poder do mundo é rompido no seu coração e na sua vida. Estou avisando você: se o poder do pecado nunca foi rompido na sua vida, você está perdido e nada sabe da salvação divina que é a libertação do pecado, do próprio eu e do mundo.

Caro leitor, o pecado ainda reina no seu corpo mortal? Se for assim, a graça não está reinando; você ainda está nos seus pecados. Somos informados, pois, em Gálatas 5.24: “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências”. O verbo está num tempo passado que, traduzido “tem crucificado”, também se refere a uma ação contínua que está presente agora mesmo. Ainda está acontecendo. O crente está diariamente crucificando o velho homem.

Há muitas outras coisas que são da vontade do Pai, mas mencionarei mais uma, apenas. Em 1Tessalonicenses 4.3, lemos: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação”. A Palavra de Deus declara abertamente que a santificação é a sua vontade; porque a todos aqueles que Deus salva, Ele os santifica ou os separa para seu uso santo. Dá-lhes um novo coração, um novo espírito e uma nova natureza; e os faz andar na retidão e na verdadeira santidade. “...e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). A vontade do Pai é que sejamos feitos à imagem e semelhança do seu Filho Amado, o Senhor Jesus Cristo, e é na santidade que somos tornados semelhantes a Ele.

A vontade do Pai, portanto, é que nos arrependamos e que abandonemos o pecado, que creiamos no Senhor Jesus Cristo, que confiemos nEle enquanto à salvação prometida gratuitamente, que tomemos o jugo da autoridade de Cristo e que O sigamos até à morte – morte ao pecado, ao próprio eu e ao mundo – e que sejamos santificados ou preparados para o uso santo de Deus. Quem não fez assim, não está salvo; ainda está nos seus pecados, e ouvirá o veredito: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”.

Por mais alto que uma pessoa fale a respeito da sua aceitação dos ensinos de Cristo, se não for praticante da Palavra, seus protestos verbais de devoção de nada valem. É uma zombaria horrível chamá-Lo de “Senhor”, enquanto continuarmos a fazer nossa própria vontade, enquanto professarmos obediência a Ele, mas tratarmos com desprezo os seus mandamentos, ou quando selecionarmos os textos da Palavra de Deus que nos agradam, e deixarmos de lado o resto, como se não nos pertencesse. É a obediência que marca os homens como discípulos de Cristo, e que os distingue dos súditos de satanás. Clamemos, portanto, a Deus, pedindo que nos dê um coração quebrantado e obediente, a fim de que pratiquemos de todo o coração a vontade do Pai que está no céu.

Rogo que o Senhor aplique sua mensagem ao nosso coração. Você conhece a Cristo? Ele é uma realidade viva para a sua alma? Ele é o seu Senhor? Você já se curvou ao seu jugo e à sua autoridade? Pergunto assim por amor à sua alma imortal! Sei como é ficar como um proscrito diante de Deus, mas, (graças a Ele) também sei o que é ser aceito no Amado, porque Ele me tornou disposto, no dia do seu poder, a buscar a sua face, a invocar o seu nome, e a clamar por Ele. Clame por Ele agora mesmo: “Senhor, dá-me um coração novo. Quebranta a minha vontade teimosa e rebelde; quebranta-me diante dos teus pés”. Clame por Ele, dependa dEle e confie nEle. Convoco-o a deixar de lado as suas armas de rebelião, a olhar com fé para o Senhor Jesus Cristo e a cumprir de todo o coração a vontade do Pai.

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