quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Abusos Eclesiásticos


por Brian Schwertley

Tristemente, o conceito bíblico de liberdade de consciência tem sido freqüentemente mal-entendido, negligenciado ou simplesmente deixado de lado, durante toda a história da igreja. Os judeus farisaicos nos dias de Cristo inventaram todas as sortes de regras e regulamentos que não tinham base alguma, seja qual fosse, na Palavra de Deus. Suas leis arbitrárias eram tolas e opressivas. “Por exemplo, eles criaram regras sobre quais pratos deveriam ser lavados em água corrente e quais pratos deveriam ser lavados em água parada”. [1] Eles criaram regras de quantos passos poderiam ser dados no Sábado. Eles requeiram toda sorte de rituais de lavar mãos, umbrais e pratos. Eles criaram regras com respeito a onde lavar pratos que tinham carne e pratos que tinham produtos de leite. O Talmude contém muitos de tais regulamentos.

A perversão farisaica da ética e da adoração, com regulamentos feitos por homens, também corrompeu sua teologia. Eles abandonaram o sola Scriptura (cf. Deuteronômio 4:2; Provérbios 30:5-6; Josué 1:7-8) e desenvolveram a idéia de uma tradição não escrita autoritária, que funcionava como uma autoridade co-igual à revelação escrita. (Eles criam que quando Moisés recebeu a revelação escrita no Monte Sinai, ele também recebeu uma revelação não-escrita [oral] muito longa.

Esta revelação oral foi então supostamente passada para Josué, os setenta anciãos, os profetas e aos grandes professores rabinos, de geração em geração, até que foi escrita no Talmude.) Esta suposta autoridade co-igual foi usada para interpretar a revelação escrita e, então, tornou-se mais importante para os judeus do que a própria Bíblia. Suas tradições subvertiam (i.e., faziam nulas e vazias) o ensino da Escritura e eram usadas como uma ferramenta para manipular e oprimir o povo. Portanto, Jesus disse aos fariseus, “Por que vós também transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?” (Mateus 15:3); e, “E em vão eles Me adoram, ensinando como doutrinas os mandamentos de homens” (Mateus 15:9).

Os sacerdotes católicos romanos também negam a liberdade ao povo, impondo toda sorte de inovações humanas na adoração, bem como uma multidão de regras e regulamentos feitos por homens. As seguintes doutrinas e práticas romanistas não podem ser provadas a partir da Bíblia: o sinal da cruz; o sacrifício da Missa; o celibato do sacerdócio; confissão ao sacerdote; a imaculada concepção e virgindade perpétua de Maria; oração e adoração à Maria e aos santos, relíquias e lugares especiais; jejum antes da Missa; peregrinações; monges e monastérios; freiras e conventos; o papado; a hierarquia de Cardeais, arcebispos e bispos; transubstanciação; justificação por uma justiça infundida; purgatório; indulgências; regeneração batismal; o uso de crucifixos, estátuas, imagens de Cristo e outros ídolos na adoração; a suposta santidade das catedrais sagradas; as vestes sacerdotais; o uso religioso de incenso; o calendário litúrgico; o uso religioso de coral e instrumento de música; a celebração do Natal; água santa; genuflectir diante do crucifixo; ajoelhar para receber a hóstia; extrema unção; todos os sacramentos, exceto o batismo e a Ceia do Senhor; o ritual de exorcismo; a infabilidade papal; a lei cânone; a colocação dos livros apócrifos no cânon da Escritura e muitas outras coisas semelhantes.

Como os fariseus antes deles, os romanistas justificam suas tradições humanas, suas adições não-autorizadas à Bíblia, apresentando uma segunda fonte de autoridade ao lado da Escritura. O Concílio de Trento diz: “Vendo claramente que esta verdade e disciplina estão contidas nos livros escritos, e nas tradições não escritas” (4th Sess.; 1546; veja também o Segundo Concílio do Vaticano, Dei Verbum, 8; 1962-1965; e O Catecismo da Igreja Católica Romana [New York: Doubleday, 1994], p. 31). Em ambos, judaísmo e romanismo, a tradição humana como uma fonte de autoridade tem sido usada para tornar o ensino da Escritura nulo e vazio. Portanto, ambas as religiões são apostatas, heréticas, supersticiosas e demoníacas.

Anglicanos e Luteranos também impõem muitas tradições humanas sobre o povo, sem autorização bíblica. A razão da existência de práticas de adoração feitas por homens nestas igrejas é que ambas dão ao clero, através de seus credos, autoridade autônoma para decretar ritos e cerimônias (por exemplo, veja os artigos 20º e 34º nos 39 artigos da igreja da Inglaterra; lei também o Artigo 7, Da Igreja na Confissão de Augsburgo e Artigo 10, Das Cerimônias Eclesiásticas na Fórmula de Concordância). Tal autoridade dá à liderança poder arbitrário sobre outros homens e, então, tem levado e sempre levará à tirania eclesiástica. Além do mais, quando homens participam nestas práticas inventadas, humanísticas, eles não estão honrando a Deus, que nunca planejou tais coisas (João 7:31; cf. Deuteronômio 12:32), mas, antes, estão prestando uma homenagem religiosa ao homem. A Bíblia chama tais rituais de adoração voluntária (Colossenses 2:23 AV) e adoração vã (Mateus 15:9). Os rituais feitos por homens, o papado, as superstições medievais e todas as invenções humanas, diz Paulo, não levam à santificação (Colossenses 2:23; cf. João 17:17).

Esta cobiça pecaminosa por poder autônomo na adoração e controle humanista arbitrário sobre outros homens, não é limitado às igrejas ritualísticas. Os evangélicos modernos também amam roubar dos homens a liberdade que eles têm, em Cristo, de serem presos à adoração, regras e regulamentos feitos por homens. Todo o movimento moderno de crescimento de igreja é baseado na idéia de que os homens podem manipular as ordenanças e o conteúdo do serviço de adoração à vontade, para agradar os que não são membros de igreja. Assim, se jogos, paródias, comédias, cerimônias de Natal, vídeos de rock, solistas musicais e sermões com estilo pop-psicológico trazem pessoas para a igreja, então, sem dúvida a adoração bíblica deve ser posta de lado. A fonte de autoridade em tal esquema não é a Bíblia somente, mas a “Bíblia um pouco” ou as “Escrituras não totalmente”, mais idéias autônomas de homens pecaminosos. Tal adoração, em princípio, não é diferente do ritualismo de Roma.

 Ambas as igrejas dão aos oficiais uma autoridade independente das Escrituras. Ambas fluem de uma filosofia humana de pragmatismo (i.e., tudo o que pensarmos que funcionará, deve ser feito). Ambas formas de adoração são sincretistas. Isto é, ambas são combinações de Cristianismo com paganismo. O Catolicismo Romano foi forjado na atmosfera sincretista da idade média e, portanto, é cheio de misticismo e parafernálias que impressionaram os camponeses iletrados do século XIV. O evangelicalismo moderno foi largamente forjado na cultura americana contemporânea, onde sucesso, pragmatismo, divertimento, grandeza e estupidez são rei. Dessa forma, a adoração evangélica dos dias atuais freqüentemente tem mais em comum com o show do Johnny Carson ou com um concerto de rock, do que com a adoração autorizada por Deus na Bíblia. Ambas as igrejas são humanistas, pois ambas rendem homenagem ao homem (i.e., sabedoria do homem, invenções do homem, artifícios do homem, imaginação do homem) na adoração, antes do que somente a Deus. Ambas levam à corrupção da doutrina bíblica. A adoração católica romana do homem está intimamente relacionada com o seu esquema satânico de salvação pela fé mais obras ou méritos humanos. A adoração voluntária dos evangélicos está também intimamente relacionada ao seu entendimento sinergístico (livre-arbítrio) de salvação.

O padrão bíblico e histórico é totalmente claro. A autonomia e o caos litúrgico levam ou estão relacionados com o caos doutrinário e ético. Se os homens pensam que eles podem arbitrariamente adicionar ou diminuir algo da adoração que Deus institui em Sua palavra, porque eles gostam de suas próprias invenções ou querem agradar cristãos nominais e incrédulos, então, por que não mudar a doutrina também? Este cenário já tem aconteceu em certo grau nas principais denominações protestantes liberais, que aderiram a diferentes doutrinas em cada década, dependendo do que o último filósofo secular ou a última moda teológica disse. Declínios sérios similares também são comuns entre os evangélicos onde o aconselhamento, ensino e pregação são saturados com psicologia-pop, auto-estima tola, modelos de liderança de negócios, teorias sociológicas de crescimento de igreja, auto-adoração hedonista influenciada pelo lixo de Hollywood e entretenimento grosseiro.

As igrejas reformadas também, certamente, não são imunes de violar a liberdade Cristã. Muitos têm sido influenciados pelas visões sacramentalistas de adoração (por exemplo, David Chilton, James Jordon, Steve Wilkins) e têm abraçado o calendário litúrgico, a idéia de lugares de adoração santos e especiais, como catedrais, o uso do sinal da cruz, a pedo-comunhão e assim por diante. Tais pessoas odeiam o principio regulador de culto, porque ele limita severamente a capacidade deles de imporem suas invenções humanas sobre outros crentes. Um número de crentes professamente Reformados tem voltado à igreja apóstata papal e à igreja Ortodoxa Oriental pelos escritos e influência destes professores heterodoxos perigosos.

Outros líderes e pastores “Reformados” (por exemplo, John Frame) têm abraçado a assim chamada adoração celebrativa Arminiana-Carismática. Muitos homens que advogam as novas formas de adoração e conteúdo não rejeitam abertamente o sola Scriptura na esfera da adoração, eles meramente o redefinem para deixá-lo sem sentido.

Intrusões não autorizadas afetam, não somente a adoração, mas também o governo da igreja. Muitos pastores evangélicos e até mesmo um numero de pastores e presbíteros Reformados governam a igreja como se eles tivessem uma autoridade arbitrária que é independente da Escritura. Portanto, denominações criam toda sorte de organizações burocráticas não autorizadas, que não têm nenhuma relação com a Escritura, seja qual for: presbitérios de mulheres; grupos e pastores jovens; comunidades missionárias de mulheres; organizações de Escola Dominical; programa de lideres congregacionais; conselho de missões e assim por diante. Freqüentemente a participação em tais grupos é uma obrigação, seja explícita ou implícita. Em outras palavras, é posta pressão sobre as pessoas para se conformarem às coisas não ensinadas ou autorizadas pela Escrituras.

Tais organizações e a pressão para suportá-las é claramente uma violação da liberdade Cristã. As pessoas tem sido até mesmo perseguidas por não colocarem suas crianças no assim chamado grupo jovem, embora grupos de jovens sejam uma inovação muito recente na história da igreja. Além do mais, é totalmente comum hoje ver sessões presbiterianas conservadores, presbitérios e sínodos basearem decisões disciplinares sob a base do pragmatismo, ao invés da justiça bíblica. Em outras palavras, os homens basearão sua decisão não diretamente sobre os princípios bíblicos, mas sobre o que eles pensam ser o melhor para a igreja. Dessa forma, as pessoas estão negando a justiça bíblica em nome da paz, ou compaixão, ou amor, bondade, ou crescimento da igreja, ou dinheiro.

 NOTAS:

[1] Gordon Clark, What Do Presbyterians Believe? [O que os Presbiterianos Crêem?], 190.

Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto

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