O significado teológico do documento
A Declaração Teológica de Barmen é a resolução fundamental do Primeiro Sínodo Confessante da Igreja Evangélica Alemã, realizado entre 29 a 31 de maio de 1934, em Barmen, Alemanha. O documento quer proporcionar orientação para os cristãos confusos diante da ideologia do nacional-socialismo. O documento corrige os posicionamentos da Igreja em relação à sua tarefa, natureza e ordem. O documento foi redigido por Karl Barth. Karl Barth tornou-se um dos líderes da Igreja Confessante, salientando publicamente que a Igreja deve obediência exclusiva a seu Senhor e ao Evangelho. Mostrou que a característica essencial da Igreja é ouvir a Deus. “O que faz da igreja uma igreja não é isto ou aquilo, por mais indicado e necessário que seja, mas sempre uma só coisa: que a pessoa ouve porque Deus lhe falou, e ela ouve o que Deus lhe falou”. “A igreja não vive em arbítrio próprio, por mais bem-intencionado que seja, e sim ela vive em obediência”. Salientou também que “o mundo nem sempre foi grato à igreja por ela ignorar seus deuses”.
A Declaração
Tese I – Jesus Cristo, tal qual é testemunhado nas Sagradas Escrituras, é a única Palavra de Deus – a qual devemos ouvir e nela confiar e a ela obedecer tanto na vida como na morte.
Tese II – Assim como Jesus Cristo é a garantia de Deus para o perdão de todos os nossos pecados, do mesmo modo e com a mesma seriedade ele também é a reivindicação mais poderosa de Deus sobre toda nossa vida; por intermédio dele experimentamos uma libertação feliz das amarras ímpias deste mundo, para que possamos prestar um serviço livre e agradecido às suas criaturas.
Tese III – A Igreja cristã é a comunhão dos irmãos, na qual Jesus Cristo, em Palavra e sacramentos, através do Espírito Santo, age de uma maneira presente como Senhor. Na condição de Igreja de pecadores agraciados, ela tem a tarefa de testemunhar em meio a um mundo pecador, tanto com sua fé como com sua obediência, tanto com sua mensagem como com sua ordem, que ela é somente propriedade do Senhor, que vive e pretende viver somente de seu conforto e a partir de sua orientação na expectativa de sua volta.
Tese IV – Os diversos ofícios existentes na Igreja não estabelecem o domínio de uns sobre os outros, porém fundamentam o exercício do ministério confiado e destinado a toda a comunidade.
Tese V – As Sagradas Escrituras testemunham que o Estado, por ordem divina, tem a tarefa de, neste mundo ainda não redimido, no qual também se encontra a Igreja, providenciar a justiça e a paz. O Estado estará se desincumbindo da tarefa e para a tal poderá fazer ameaças e o uso da força de acordo com o bom senso e a capacidade humana. A Igreja reconhece o benefício dessa ordem divina com gratidão e reverência a Deus. Ela evoca o Reino de Deus, os mandamentos e a justiça de Deus, proclamando assim a responsabilidade de regente e regidos. Ela confia e obedece ao poder da Palavra, mediante a qual Deus sustenta todas as coisas.
Tese VI – A tarefa da Igreja, sobre a qual se fundamenta a sua liberdade, consiste em pregar a todos os povos a mensagem da graça libertadora de Deus em Cristo, e por essa razão está a serviço de sua Palavra e obra, mediante a pregação e sacramentos.
Com essas seis teses, a Declaração Teológica de Barmen estabeleceu critérios para a delimitação do Estado. A Igreja se encontrava ameaçada por um Estado totalitário. Diante da ideologia do nacional-socialismo, alguns cristãos se depararam com a tarefa e o compromisso de integrar a “Igreja confessante”, ou seja, confessar de uma maneira inequívoca a sua fé cristã. A partir de sua missão no mundo, a Igreja tem uma responsabilidade perante a humanidade. É um compromisso com a criação de Deus. A Igreja também precisa estar vigilante a respeito de sua relação com o poder constituído. Diante desse desafio, a Igreja precisa prestar contas de sua fidelidade à Palavra de Deus. A “Igreja confessante” não aceitou a subordinação da Igreja ao Estado. A Igreja tem o seu fundamento única e exclusivamente em Jesus Cristo. Foi afirmada a revelação suprema e definitiva em Jesus Cristo. Nenhum outro acontecimento ou poder tem a possibilidade de se tornar fonte e fundamento da fé e da pregação. Para o cristão não existe nenhum âmbito da vida que esteja fora da reivindicação do senhorio de Jesus Cristo. Nenhum outro poder deve ser reconhecido como revelação de Deus. Como propriedade de Jesus Cristo, a Igreja deve testemunhar sua fé. A Declaração Teológica de Barmen expressa esse testemunho, colocando-se sob a autoridade da Sagrada Escritura. O historiador Arnold Toynbee legou-nos este alerta: Como o homem não pode viver sem algum tipo de religião, a recessão do cristianismo no Ocidente tem sido seguida pelo aparecimento de religiões substitutas na forma das ideologias pós-cristãs, nacionalismo e comunismo. Das três ideologias pós-cristãs, o nacionalismo mostrou-se o mais poderoso. É lamentável que, das três, também seja o mais poderosamente divisor.
Estejamos todos alertas para que o nosso espírito esteja preenchido pela fé em Deus – revelado em Jesus Cristo. Pois se o nosso espírito não estiver preenchido pela fé em Cristo, ele será um espaço aberto para alguma ideologia. E as ideologias proliferam sempre mais, sobretudo em época de eleições. Esteja o nosso espírito em comunhão e em sintonia com o Espírito de Deus, para descobrirmos – a partir de nossa reflexão teológica – o verdadeiro compromisso da Igreja de Jesus Cristo.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_Teol%C3%B3gica_de_Barmen
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