sábado, 3 de novembro de 2012

A Vontade de Deus


Jo 19.11; Rm 9.14-18; Ef 1.11; Cl 1.9-14; Hb 6.13-18

A atriz Doris Day canta uma canção popular cujo título era "Que será, será" ("O que tiver que ser, será".). À primeira vista, este tema transmite uma espécie de fatalismo deprimente. A teologia do islamismo geralmente se refere a eventos específicos como "era a vontade de Alá".

A Bíblia tem um profundo interesse na vontade de Deus - sua autoridade soberana sobre a criação e tudo nela. Quando falamos sobre a vontade de Deus, fazemos isso pelo menos de três maneiras diferentes. O conceito mais amplo é conhecido como a vontade decretiva, soberana ou oculta de Deus. Por meio desta definição, os teólogos referem-se à vontade de Deus por meio da qual ele ordena soberanamente tudo o que acontece. Porque Deus é soberano, e sua vontade nunca pode ser frustrada, podemos ter certeza de que nada acontece que ele não esteja no controle. Ele pelo menos tem de "permitir" seja o que for que vá acontecer. Mesmo quando Deus permite passivamente que algo aconteça, ele decide permitir, de maneira que sempre tem o poder e o direito de intervir e evitar a ocorrência das ações e os eventos neste mundo. Desde que ele permite que as coisas aconteçam, num certo sentido elas acontecem de acordo com "sua vontade".

Embora a vontade soberana de Deus freqüentemente fique oculta de nós até que os eventos aconteçam, existe um aspecto da sua vontade que é claro para nós - Sua vontade perceptiva. Aqui Deus revela sua vontade através da  sua Lei santa. Por exemplo, é a vontade de Deus que não roubemos; que amemos nossos inimigos; que nos arrependamos; que sejamos santos. Esse aspecto da vontade de Deus é revelado em sua Palavra bem como em nossa consciência, por meio da qual Deus escreveu sua lei moral em nosso coração.

Suas leis, quer se encontrem na Bíblia ou em nosso coração, são obrigatórias. Não temos autoridade para violar esta vontade. Temos o poder ou a capacidade de obstruir a vontade perceptiva de Deus, embora nunca tenhamos o direito de fazê-lo. Tampouco podemos justificar nosso peado, dizendo: "O que será, será.". Pode ser a soberania de Deus ou sua vontade soberana que nos "permite" pecar, quando ele fez sua vontade soberana acontecer por meio das ações pecaminosas das pessoas. Deus determinou que Jesus fosse traído pela instrumentalidade da traição de Judas. Mas isso não tornou seu pecado menos vil e desleal. Quando Deus "permite" que violemos sua vontade preceptiva, isso não deve ser entendido como uma permissão no sentido moral de conceder-nos ele um direito moral. Sua permissão nos dá o poder para pecar, mas não direito de fazê-lo.

A terceira maneira pela qual a Bíblia fala sobre a vontade de Deus refere-se à vontade dispositiva de Deus. Essa vontade descreve a atitude de deus. Ela define o que lhe é agradável. Por exemplo, Deus não tem prazer na morte do ímpio, ainda que certamente queira ou decrete a morte do ímpio. O prazer supremo de Deus está em sua própria santidade e justiça. Quando julga o mundo, ele tem prazer na defesa da sua própria e integridade, embora não fique feliz, no sentido de ter prazer, na vingança contra aqueles que recebem seu juízo. Deus alegra-se quando nós encontramos nosso prazer na obediência. Ele se entristece profundamente quando somos desobedientes.

Muitos cristãos ficam preocupados ou mesmos obcecados em descobrir "a vontade" de Deus para sua vida. Se a vontade que buscamos é sua vontade secreta, oculta ou decretiva, então nossa busca será inútil. O conselho secreto de Deus é seu segredo. Ele não tem prazer em nos revelar isso. Longe de ser um sinal de espiritualidade, a busca pela vontade secreta de Deus é uma invasão injustificável de sua privacidade. O conselho secreto de Deus não é de nossa conta. Essa é a razão parcial por que a Bíblia tem uma visão tão negativa dos cartomancia, necromancia e outras formas de práticas proibidas.

Seríamos sábios em seguir o conselho de João Calvino; ele disse: "Quando Deus facha seus santos lábios, eu desisto de inquirir". O verdadeiro sinal de espiritualidade é visto naqueles que buscam conhecer a vontade de deus que é revelado em sua vontade perceptiva. Esta é aquela pessoa piedosa que medita na lei do Senhor dia e noite. Enquanto buscamos ser "guiados" pelo Espírito  Santo, é vital que tenhamos em mente que o Espírito Santo primeiramente quer nos guiar na justiça. Somos chamados para viver nossa vida por meio de toda palavra que sai da boca de Deus. Sua vontade revelada é de nossa contra; na verdade, deve ser o assunto principal em nossa vida.

Sumário

1. Os três significados da vontade de Deus:

(a) A vontade soberana decretiva é a vontade pela qual Deus faz com que tudo o que decreta aconteça. Ela é oculta de nós até que aconteça.

(b) A vontade perceptiva é a lei revelada de Deus, ou seus mandamentos, os  quais temos o poder, mas não o direito de violar.

(c) A vontade dispositiva descreve a atitude ou a disposição de Deus. Ela revela o que o agrada.

2. A "permissão" soberana de Deus para o pecado humano não equivale aprovação moral.

Autor:  R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br .

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