Embora tenha sido adotado como um santo, pela Igreja Católica Romana, e também considerado um dos trinta e três Doutores desta igreja, Atanásio de Alexandria (298 – 373) nos deixa o legado de um defensor da fé evangélica. Comprometido em defender a divindade de Cristo e a suficiência das Escrituras, contra as tradições religiosas, e fiel em ensinar que o batismo verdadeiro é por imersão, ele demonstra o que é "pelejar pela fé que uma vez foi entregue aos santos". Ao considerar sua vida, vemos que ele nunca foi Católico.
Nascido no Egito, na cidade de Alexandria, e filho de pais moderadamente ricos, Atanásio gozou de uma ótima educação secular. Embora fosse bem educado nas ideias e filosofias da sua época, Atanásio confessou que a sua educação na fé cristã foi de melhor proveito para ele. Em várias cartas autobiográficas, ele testemunha que seu pai, sua mãe e uma tia foram usados por Deus a ensinar-lhe o caminho da fé.
Frequentou, em sua meninice e adolescência, uma das principais igrejas em Alexandria, pastoreada pelo respeitado Alexandre. Logo, vendo a sua aptidão com as Escrituras, a diligência nos estudos (já aos 21 anos Atanásio era autor de dois livros: um sobre a encarnação de Cristo e outro uma comparação entre os deuses pagãos do Egito e as belezas de Cristo) e a sua fidelidade na obediência cristã, Alexandre pediu a Atanásio que fosse seu assistente no ministério. Com a morte de Alexandre, em 328, Atanásio foi chamado a ser o pastor da igreja em Alexandria.
No seu pastorado em Alexandria – um ministério a que ele foi dedicado e fiel até que faleceu, 47 anos depois – Atanásio se viu de frente com dois grandes problemas. O primeiro era a heresia Ariana. Ário, um velho e respeitado filósofo, ensinou que havia apenas um deus – o “Pai Eterno” e que este deus criou Cristo, fazendo-O parecido a si mesmo, mas sendo apenas uma criação. Os Arianos gostavam de dizer que Cristo era parecido com o Pai Eterno, mas não era propriamente divino nem eterno.
O segundo problema era a intervenção do império Romano em assuntos eclesiásticos e doutrinários. Tão influentes eram os Arianos que logo convenceram o Imperador Constantino de que tanto Atanásio como os outros que defendiam a divindade de Cristo eram perigosos e subversivos ao império Romano. Logo, os Arianos influenciaram Constantino (e alguns dos imperadores que vieram após Constantino) a tentar proibir que Atanásio continuasse como pastor em Alexandria.
Embora tenha sido exilado quatro vezes, por um total de 17 anos, Atanásio se dedicou a pastorear sua igreja em Alexandria. Enquanto não vinham soldados para levá-lo preso, seu ministério era público. Uma vez que enfrentava perseguição e ameaças de morte, os membros de sua igreja ajudavam a escondê-lo, pedindo até que pregasse em cultos secretos, se fosse necessário. Quando os Arianos se mostravam perigosos demais, ele se escondia no deserto ou em cemitérios, para poder continuar a ministrar aos seus membros e escrever os tratos e livros teológicos que defendiam a verdade bíblica acerca da divindade de Cristo.
Por quase 50 anos, Atanásio – muitas vezes sozinho na defesa da doutrina da trindade – batalhou contra a heresia Ariana, respondendo aos argumentos filosóficos dos Arianos com exposição bíblica. Quando faleceu, aos 77 anos, não só deixou para nós um acervo de munição teológica para combater as heresias do Arianismo de hoje em dia (tais como os Testemunhos de Jeová), mas também viu com satisfação o começo de um avivamento de conhecimento da doutrina da trindade que logo viria a espalhar-se pelo império Romano – e além!
A vida e exemplo de Atanásio nos deixa várias lições.
Para ser pastor, é necessário ser pastoreado
Antes de Atanásio virar um gigante da ortodoxia, ele passou quase uma década sendo guiado e educado pela instrução e exemplo de Alexandre, um fiel pastor. Mesmo depois da morte de Alexandre, e tendo assumido o pastoreado da igreja em Alexandria, Atanásio estava sempre ciente de que era sujeito ao Sumo Pastor das ovelhas.
Infelizmente, hoje em dia, há muitos pastores que tomaram este cargo para si mesmos, sem serem membros fieis e com pouco interesse em obedecer a Cristo no pastoreado. Mark Driscoll, pastor da mega-igreja Mars Hill Church, admite que antes de pastoreá-la, nunca tinha sido membro de uma igreja qualquer – e a sua conduta como “executivo e presidente” desta igreja demonstra esta falta de conformidade às escrituras.
O mandamento de Paulo em 2 Timóteo 2:2, “e o que de mim ouviste de muitas testemunhas, transmite-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”, foi importantíssimo para a educação de Timóteo, de Atanásio, e de pastores fiéis até aos dias de hoje.
A obra do ministério e o seguir a Cristo requerem sacrifícios
Devido à perseguição do império Romano e dos Arianos, Atanásio jamais casou nem possuiu bens materiais. Mas dedicou-se inteiramente à defesa da verdade e a sua igreja. Gregório de Nazianzus, lembrando Atanásio e o seu ministério, nos diz:
"Alguns irão elogiá-lo por seus jejuns e orações... outros, por seu zelo em vigílias e salmodia; outros, pela sua ajuda aos necessitados; outros, por sua coragem perante os poderosos, ou a sua condescendência com os humildes... [ele era] a consolação dos infelizes, o apoio àqueles de cabelos grisalhos, o instrutor de jovens, o recurso dos pobres, o mordomo dos ricos. Mesmo as viúvas... louvarão o seu protetor; os órfãos, seu pai, até mesmo os pobres bendirão seu benfeitor; os viajantes e estrangeiros, o seu anfitrião; os irmãos, um homem de amor fraternal; os doentes, seu médico”.
Outra vez, no meio de um culto, soldados do império chegaram para levá-lo preso. Com a chegada dos soldados, os crentes presentes entraram em pânico. Atanásio se recusou a fugir até que teve a certeza que os membros de sua igreja tinham escapado e estavam salvos.
As religiões falsas – tais de Joel Osteen, do Papa Bento XVI e de Silas Malafaia – são religiões em que os pastores e líderes perseguem riquezas e confortos mundanos. Atanásio nos mostra que, assim como o Apóstolo Paulo, perseguição, sacrifício e sofrimento são realidades que devem ser abraçadas.
Ser fiel às Escrituras e a Deus requer defender proposições doutrinárias
John Piper nos lembra, em sua biografia de Atanásio, que, para ser fiel às Escrituras e amar a Cristo, devemos defender doutrinas proposicionais sobre Cristo. Hoje em dia, há muitos que rejeitam a necessidade de estruturas doutrinárias, preferindo apenas “crer a Bíblia”. Porém, o Arianismo, na época de Atanásio, e as Testemunhas de Jeová, de hoje, usaram e continuam a usar a Bíblia para defender e propagar suas doutrinas falsas.
Doutrina – tanto em geral (como o Calvinismo), quanto especificamente (como a doutrina de eleição ou da trindade) – é necessária para comunicar e ensinar verdades bíblicas. Ortodoxia doutrinária é uma função de diligência em estudar e entender a Bíblia. Atanásio escreveu comentários bíblicos e nos deu uma das primeiras formulações de teologia sistemática em sua defesa da divindade de Cristo. O raciocínio e a pedagogia, quando servos das Escrituras, são aliados poderosos – e apropriados – na luta contra a heresia.
Homens são falhos
Da vida de Atanásio também podemos aprender que homens são falhos. Por mais que Atanásio fosse fiel em defender a divindade de Cristo, foi ele que ajudou a popularizar a expressão theotokos, traduzido como “portadora de Deus” ou, menos literalmente, “mãe de Deus” referindo-se a Maria, mãe de Cristo.
Embora saibamos que Atanásio não venerava Maria, seu uso casual desta frase e a sua falta de explorar este conceito biblicamente facilitou o desenvolvimento da Mariologia e Mariolatria, em tempos seguidos.
Homens são sempre falhos. Assim como Atanásio, e por mais que amamos a João Calvino por sua formulação doutrinária e defesa bíblica da soberania de Deus na salvação, reconhecemos que ele também era falho e imperfeito. Por mais que amamos (e devemos amar!) os nossos pastores, reconheceremos que eles são sempre humanos e falhos.
Em relação a isto, Atanásio estaria entre os primeiros a nos afirmar que apenas Cristo é perfeito.
Pr. Calvin e a Equipe Palavra Prudente
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