domingo, 4 de novembro de 2012

O valor da mortificação – John Owen (1616 – 1683)




Agora a verdade a ser destacada é que a vitalidade, a força e o conforto de nossa vida espiritual dependem em grande parte de nós mortificarmos o pecado. Esta verdade pode ser melhor introduzida explicando-se duas coisas que ela não significa:

a) Não significa que se os cristãos consistentemente mortificarem o pecado, desfrutarão automaticamente de uma vida espiritual vigorosa e confortável.

Por exemplo, Hemã, o escritor do Salmo 88, viveu uma vida de constante mortificação. Hemã foi um homem que verdadeiramente andou com Deus e, contudo, nunca desfrutou de um bom dia de paz e consolação. Se Hemã, tão notável servo de Deus, deixou de gozar da paz e consolação que uma vida de constante mortificação normalmente traz, precisamos entender que Deus tem a Sua razão para isso. Deus nos deu Hemã como um exemplo para confortar outros em situação semelhante. Ainda que cada cristão deva usar os meios de mortificação para obter paz, deve, também, compreender que só Deus pode dar-lhe paz e consolação (veja Is. 57:18,19).

b) Não significa que a mortifícação seja a maior fonte pela qual Deus nos dá uma vida espiritual forte e confortável.

As maiores fontes que nos concedem estas coisas são os privilégios de nossa adoção, reveladas às nossas almas ("O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" - Rom. 8:16). O ministério do Espírito ao nos assegurar nossa adoção e nossa justificação é a maior fonte de uma vida espiritual vigorosa e confortável.

Vejamos agora o que é que essa verdade significa:
No nosso relacionamento normal com Deus e nos Seus tratamentos normais conosco, uma vida espiritual forte e confortável depende em grande medida de nossa consistente mortifícação do pecado. Como uma regra geral, a mortifícação tem uma influência efetiva na produção de uma vida espiritual forte e confortável. Três considerações nos ajudarão a provar este ponto:

1. Somente a mortifícação do pecado fará com que o pecado não possa privar uma vida espiritual de seu vigor e conforto Cada pecado que não for mortificado produzirá duas coisas:

a) Enfraquecerá a alma e a privará da sua força.

Quando Davi permitiu que um desejo pecaminoso não mortificado se alojasse no seu coração ele ficou sem vigor espiritual. Davi disse: "Não há parte sã na minha carne, por causa da tua indignação; não há saúde nos meus ossos, por causa do meu pecado... Estou aflito e muito quebrantado" (Sal. 38:3,8). Qualquer desejo pecaminoso que não seja mortificado fará murchar o espírito e todo vigor da alma e desse modo a enfraquecerá para o cumprimento de todos os seus deveres. O pecado faz isso de três maneiras:

i) Ele desequilibra o bem-estar espiritual de todo o coração. Faz isso desviando o coração do estado espiritual que é necessário para a comunhão vigorosa com Deus. Este desvio é obtido cativando o coração com desejos mundanos, de modo que o amor do Pai é excluído.

ii) Ele age na mente, estimulando pensamentos que encorajam a gratificação dos desejos pecaminosos. Visará exagerar os prazeres do pecado e suprir as razões porque os desejos pecaminosos deveriam ser gratificados.

iii) Ele interrompe e impede o cumprimento do dever. Faz isso apelando para os desejos pecaminosos particulares de uma pessoa. Por exemplo, quando um homem anela estar engajado na adoração a Deus, ele o levará a substituí-la pelo estudo.

b) Assim como o pecado enfraquece, ele também obscurece a alma e a priva do seu conforto e da sua paz. O pecado é como uma nuvem espessa que se espalha sobre a face da alma  e a separa dos raios do amor  e do favor de Deus. Rouba a pessoa da sua percepção e do gozo dos privilégios da sua adoção.

A mortificação é o único remédio contra estes dois efeitos malignos do pecado na alma.

2. A mortificação também tem um efeito muito benéfico sobre o crescimento da graça de Deus no coração humano

Se compararmos o coração humano a um jardim então a mortificação pode ser assemelhada ao trabalho de se remover as ervas daninhas que impediriam o crescimento das plantas da graça de Deus. Pense num jardim onde uma planta preciosa tenha sido plantada. Se o jardim for regularmente cuidado a planta florescerá. Se, porém, ervas daninhas forem deixadas, a planta será fraca, murcha e sem utilidade. Onde a mortificação não consegue destruir as ervas daninhas do pecado, as plantas da graça de Deus estão prestes a morrer (Apoc. 3:2). Estão murchando e morrendo. Tal coração é como o campo do preguiçoso - tomado tanto por ervas daninhas que mal se pode ver o trigo. Quando você olha para esse coração, as graças da fé , do amor e do zelo lá estão; todavia são tão fracas, tão entrelaçadas com as ervas daninhas do pecado, que são de pouca utilidade. Que esse coração seja liberto do pecado pela mortificação; e então, estas plantas da fé, do amor e do zelo começarão a florescer e estarão em condições de ser utilizadas para todo bom propósito.

3. A mortificação é um meio pelo qual Deus pode dar paz à alma

A sinceridade é um fator fundamental sobre o qual a paz verdadeira da alma repousa. A mortificação é uma das mais claras evidências da sinceridade de uma pessoa. Que um homem evidencie sua sinceridade pela oposição vigorosa de sua alma ao seu ego, e esse homem gozará um seguro sentimento de paz na sua alma.

AUTHOR: JOSEMAR BESSA 

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