Nessas últimas semanas fui surpreendido na internet com dois vídeos curiosos que transbordavam arrogância em nome de Deus pela tela do meu notebook. Em um deles o “apóstolo” Agenor Duque testava seu próprio caráter diante de Deus e amaldiçoava seus críticos (Veja). No outro o cantor Thalles Roberto fazia algo parecido. De boné, óculos escuro, cheio de anéis de ouro nos dedos, chamando seus críticos de fariseus na maior arrogância, batendo no peito e dizendo que é homem de Deus e fazendo uma pose estranha no final pra mostrar os anéis, Thalles falou sobre seus projetos e pediu para descurtirem a página dele, caso não gostassem do seu trabalho (Veja).
Diante de tanta arrogância ficamos triste por ainda escutarmos coisas desse tipo no meio cristão. É triste ver como a doutrina neopentecostal engradece o orgulho no coração do homem. É triste ver que nesse meio a prepotência é uma das principais características do "homem de Deus".
Sobre esse assunto quero pedir ajuda do grande Jonathan Edwards. Sobre o orgulho ele disse certa vez:
“A primeira e a pior causa de erro que prevalece nos nossos dias é o orgulho espiritual. Essa é a principal porta que o diabo usa para entrar nos coraçõesdaqueles que têm zelo pelo avanço da causa de Cristo. É a principal via de entrada de fumaça venenosa que vem do abismo para escurecer a mente edesviar o juízo. É o meio que Satanás usa para controlar cristãos e obstruir uma obra de Deus. Até que essa doença seja curada, em vão se aplicarão remédios para resolver quaisquer outras enfermidades.”
Edwards foi pastor puritano no século 18 e considerado por muitos o maior teólogo da história dos Estados Unidos. Mesmo com tamanha reputação prezou por um espírito humilde. Em sua obra “Alguns Pensamentos a Respeito do Atual Avivamento Religioso na Nova Inglaterra” ele escreveu sobre esse problema naquela determinada situação história que seu país passava. É impressionante como as palavras ainda são atuais. Elas merecem ser lembradas nos dias de hoje no brasil. A seguir deixo vocês com Jonathan Edwards e seu contraste entre um coração orgulhoso e um coração humilde em Cristo.
- “A pessoa espiritualmente orgulhosa sente que já está cheia de luz, não necessitando assim de instrução. Assim, terá a tendência de prontamente rejeitar a oferta de ajuda nesse sentido. Por outro lado, a pessoa humilde é como uma pequena criança que facilmente recebe instrução. É cautelosa no seu conceito de si mesma, sensível à sua grande facilidade em se desviar. Se alguém lhe sugere que está, de fato, saindo do caminho reto, mostra pronta disposição em examinar a questão e ouvir as advertências.”
- “As pessoas orgulhosas tendem a falar dos pecados dos outros: o terrível engano dos hipócritas, a falta de vida daqueles irmãos que têm amargura, a resistência de alguns crentes à santidade. A pura humildade cristã, porém, se cala sobre os pecados dos outros ou, no máximo, fala a respeito deles com tristeza e compaixão. A pessoa espiritualmente orgulhosa critica os outros cristãos por sua falta de crescimento na graça, enquanto o crente humilde vê tanta maldade em seu próprio coração, e se preocupa tanto com isso, que não tem muita atenção para dar aos corações dos outros. Queixa-se mais de si próprio e da sua própria frieza espiritual; sua esperança genuína é que todos os outros tenham mais amor e gratidão a Deus do que ele.”
- “As pessoas espiritualmente orgulhosas falam freqüentemente de quase tudo que percebem nos outros em termos extremamente severos e ásperos. É comum dizerem que a opinião, conduta ou atitude de outra pessoa é do diabo ou do inferno. Muitas vezes, sua crítica é direcionada não só a pessoas ímpias, mas a verdadeiros filhos de Deus e a pessoas que são seus superiores. Os humildes, entretanto, mesmo quando recebem extraordinárias descobertas da glória de Deus, sentem-se esmagados pela sua própria indignidade e impureza. Suas exortações a outros cristãos são transmitidas de forma amorosa e humilde e, ao lidar com seus irmãos e companheiros, eles procuram tratá-los com a mesma humildade e mansidão com que Cristo, que está infinitamente superior a eles, os trata.”
- “O orgulho espiritual comumente leva as pessoas a se comportarem de modo diferente na sua aparência exterior, a assumirem um jeito diferente de falar, de se expressar ou de agir. Por outro lado, o cristão humilde – mesmo sendo firme no seu dever, permanecendo sozinho no caminho do céu ainda que o mundo inteiro o abandone – não sente prazer em ser diferente só para ser diferente. Não procura se colocar numa posição onde possa ser visto e observado como uma pessoa distinta ou especial; muito pelo contrário, dispõe-se a ser todas as coisas a todas as pessoas, a ceder aos outros, a se adaptar aos outros e a agradá-los em tudo menos no pecado.”
- “Pessoas orgulhosas dão muita atenção a oposição e a injúrias; tendem a falar dessas coisas freqüentemente com um ar de amargura ou desprezo. A humildade cristã, em contraste, leva a pessoa a ser mais semelhante ao seu bendito Senhor, o qual, quando foi maltratado não abriu sua boca, mas se entregou em silêncio àquele que julga retamente. Para o cristão humilde, quanto mais clamoroso e furioso o mundo se manifestar contra ele, mais silencioso e quieto ficará, com exceção de quando estiver no seu quarto de oração: lá ele não ficará calado.”
- “Um outro padrão de pessoas espiritualmente orgulhosas é comportar-se de forma a torná-las o foco de atenção. É natural que a pessoa sob a influência do orgulho tome todo o respeito que lhe é oferecido. Se outros demonstram disposição de se submeterem a ela e a cederem em deferência a ela, esta pessoa receberá tais atitudes sem constrangimento. Na verdade, ela se habituou a esperar tal tratamento e a formar uma má opinião de quem não lhe oferece aquilo que pensa merecer.”
- “Uma pessoa sob a influência de orgulho espiritual tende mais a instruir aos outros do que a fazer perguntas. Tal pessoa naturalmente assume ar de mestre. O cristão eminentemente humilde pensa que precisa de ajuda e todo o mundo, enquanto a pessoa espiritualmente orgulhosa acha que todos precisam do que ela tem para oferecer. A humildade cristã, sentindo o peso da miséria dos outros, suplica e implora; o orgulho espiritual, em contraste, ordena e adverte com autoridade.”*
Esse artigo surgiu com acontecimentos entre os neopentecostais e sua “teologia do ungido”, mas seria útil aplicarmos a nós também do meio reformado. Que possamos aprender e viver essas palavras de Edwards em nossos dias!
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.” Provérbios 16:18
Soli Deo Gloria
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