No. 3236
Sermão pregado na noite de 20 de setembro de 1863
Por Charles Haddon Spurgeon
“Dai bebida forte ao que está prestes a perecer, e o vinho aos amargurados de espírito. Que beba, e esqueça da sua pobreza, e da sua miséria não se lembre mais.” Provérbios 31:6-7
Essas frases um pouco estranhas foram ditas pela mãe de Lemuel para seu filho, que provavelmente era Salomão. Já antes, lhe havia dito, “Não é próprio dos reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beberem vinho, nem dos príncipes o desejar bebida forte; Para que bebendo, se esqueçam da lei, e pervertam o direito de todos os aflitos (versos 4-5)” Mas um rei tal como era Salomão, deve ter tido uma adega repleta de vinhos de todas as classes – por isso sua mãe o instava a dar aos enfermos e aos tristes e pobres que o necessitam mais que ele.
Os judeus tinham por costume dar uma taça de uma bebida forte, misturada com uma potente droga, para drogar os que estavam a ponto de serem executados. Talvez seja esse o sentido das palavras “Dai bebida forte ao que está prestes a perecer.” Também sabemos de pessoas que estiveram muito frágeis e enfermas, a beira da tumba, e como foram aliviadas quando lhes foi dado o vinho que elas não podiam comprar. Creio que esse é um sentido literal do texto, e que, se qualquer homem fosse tão imoral para interpretar que, com a bebida, poderá esquecer sua miséria e pobreza, logo se dará conta de que está deploravelmente equivocado – pois, se antes tinha uma desgraça, depois terá dez desgraças a mais – e se previamente era pobre, depois estará em uma maior pobreza Aqueles que correm até a adega para encontrar consolo melhor poderiam correr para o inferno com a esperança de encontra um céu; e, em vez de ajudá-los a esquecer sua pobreza, a bebedeira os afunda ainda mais na lama.
Vou usar meu texto num sentido espiritual, pois creio que têm um sentido muito mais profundo do que o que brilha na superfície. Existem muitas pessoas que duvidam e se desesperam, e espiritualmente “irão perecer”; e existe na Palavra de Deus uma rica adega de verdades reconfortantes que são muito mais consoladoras para o espírito do que pode ser o vinho para o corpo; e devemos dar esse licor evangélico aos de ânimo amargurado, para que possam beber e esquecer suas misérias, e já não se lembrem mais de suas dúvidas e seus desesperos.
Pretendo obedecer ao mandato do texto, e por ele vou falar de três tópicos – primeiro, que existe um licor muito reconfortante no evangelho; em segundo, que é nosso dever e privilégio dar esse licor a todos que necessitam dele; e, em terceiro, que quando esse licor do evangelho lhes é dado, é seu dever e privilégio bebê-lo, e com ele esquecer sua pobreza espiritual e sua miséria.
I. Assim, pois, EXISTE UM LICOR MUITO RECONFORTANTE NO EVANGELHO. O Dr. Watts diz corretamente:
“Salvação! Oh, som jubiloso!
É prazer para nossos ouvidos;
Bálsamo soberano para toda ferida.
Licor para nossos temores.”
Tomarei primeiro o caso de um verdadeiro crente em Jesus dolorosamente posto a prova com preocupações, perdas e problemas. Irei supor que vocês vieram aqui essa noite com o temor de o que possa suceder amanhã. Talvez sua inquietude, meu irmão, é de que seu negócio não anda bem, e a pobreza lhe encara fixamente. Possivelmente você, minha irmã, têm pesar por esse querido menino que descansa em seu pequeno caixão no silencioso quarto do andar superior de sua casa. Ou, possivelmente, você, amigo, possui uma esposa doente e dia a dia, vê novos sinais e indícios de que a grande perda te espera certamente. Não posso mencionar todas as causas que podem entristecer o coração dos que são membros crentes dessa grande igreja, porém, meu Senhor me enviou aqui com Seu próprio bendito licor, que é mais que suficiente para consolar a cada santo aflito que lê essa mensagem.
Lembre-se, amado irmão, que tudo o que lhe sucede vêm seguindo o curso da Divina Providência. Seu amante Pai celestial previu, conheceu de antemão e, atrevo-me a dizer, predestinou tudo. O remédio que você tem que beber é muito amargo, mas o Médico infalível mediu todos os ingredientes gota a gota, e os misturou de maneira tal que pudessem ser mais efetivos para seu maior bem. Nada acontece nesse mundo por casualidade. Esse grande Deus que está sentado sobre o circulo dos céus, para quem todas as coisas que fez não são mais que o pequeno pó da balança, que faz das nuvens Sua carruagem, e que viaja sobre as asas do vento, esse mesmo Deus se preocupa por você com tamanho cuidado que tem contado até os fios dos cabelos de sua cabaça, e colocou suas lágrimas em um vaso. Consequentemente, você pode descansar seguro que todas essas experiências que lhe causam tanta aflição acontecem conforme Seu eterno conselho e decreto. Acaso esse licor divino não lhe faz esquecer sua pobreza e apaga sua desgraça?
Recorde, também, que tudo o que sucede aos crentes ajuda para seu bem presente e duradouro. “Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28). Se você tivesse oportunidade de escolher sua própria circunstancia e condição na vida, não poderia ter feito uma escolha mais sabia do que a que Deus fez por você.
O jardineiro sabe onde suas plantas florescerão melhor. Algumas delas talvez prefiram crescer banhadas com a luz do sol ainda que, como as da família das samambaias, estão melhores na sombra. Algumas delas prefeririam estar em um musgoso banco, mas o jardineiro a coloca em um arenoso solo, porque sabe que esse local está mais bem adaptado as necessidades de sua natureza. Você deve confiar nele, pois jamais um pai terreno esteve tão atento ás necessidade de seu filho do que como o Pai celeste está com suas necessidades. Quando alguém escolhe a ocupação que considera a mais adequada para seu filho, ele pode estar escolhendo sem querer a carreira que provará ser sua ruína – mas quando Deus planeja seu futuro, tem mais cuidado de endireitá-lo para você do que você em arrumar ele para seu filho, e como Ele vê o fim desde o começo, o que você não pode ver nem para você mesmo muito menos para seu filho, Ele faz a eleição em seu lugar com infalível sabedoria. Querido irmão e irmã em Cristo, não pretenda que seja diferente – não só esteja contente com o que possui como também diga como Davi, “O SENHOR é a porção da minha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte. As linhas caem-me em lugares deliciosos: sim, coube-me uma formosa herança.” (Salmos 16:5-6) Assim, bebe esse licor divino e esquece sua necessidade, e já não se lembre de sua miséria.
Ademais, querido amigo, não sabes que o Senhor Jesus Cristo está contigo em toda sua pobreza e sua miséria? Sadraque, Mesaque e Abed-Nego jamais se deram conta da presença do Filho de Deus de maneira tão maravilhosa quanto quando foram lançados vivos no forno de fogo ardente de Nabucodonossor – mas Sua presença em meio deles foi tão manifesta que até o rei pagão exclamou: “Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem sofrer nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus.” (Daniel 3:25)
Existem muitos bebês que não recebem mimos nem caricias quando tudo anda bem, porém, se ficam doentes, pareceria até que todo o amor da mãe se concentraria nesse membro da família – é para você que precisa especialmente de uma mensagem animadora que o Senhor diz: “Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados.” (Isaías 66:13) Foi para seu antigo povo que dei essa graciosa promessa, e era referente a eles que dizia “Em toda a angústia deles ele foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, e pela sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade.” (Isaías 63:9) É assim que ainda, terna e amorosamente, ocupa-se de seu povo atormentado e afligido, e esse pensamento deve ser como um licor que os faz esquecer sua necessidade e sua miséria.
Eu poderia continuar a noite inteira tratando de reconfortar aos santos que são provados, mas devo contentar-me em dar-lhes somente mais um gole desse licor divino, e será esse: lembrem-se como rapidamente essas duras experiências terminarão. Tem presença de ânimo, cansado peregrino – a mansão celestial onde você deve descansar para sempre está quase à vista – bem podes cantar –
“A casa de meu Pai no alto,
Lar de minha alma! Qual próxima,
Às vezes, em meu olhar de fé que vislumbra,
aparecem Tuas portas de ouro!”
aparecem Tuas portas de ouro!”
Assim como os anos passam rápido, nossas duras experiências e problemas também voam rápido assim. Paulo corretamente escreveu concernente a “nossa leve e momentânea tribulação” (2 Coríntios 4:17); porque, depois de todas nossas aflições, elas são só como sonhos que nos atormentam, um pequeno sobressalto no dormir da vida, e logo despertaremos para já não dormirmos nunca mais. Esse mundo é, para o crente, como uma pousada do lado do caminho, onde existem muitas pessoas que constantemente vem e vão, e existem tantos ruídos perturbadores que ninguém pode descansar. Bem, não importa, você está detendo-se ali só por uma curta noite, e logo se levantará e irá a seu eterno lar, para não sair de lá jamais. Esse licor não lhes fará esquecerem sua pobreza e não apagará suas misérias?
Agora considerarei o caso de um verdadeiro crente em Jesus que tem uma alma muito abatida. Você, meu amigo, inclina-se a dizer, com Hemã, o ezraíta: “SENHOR Deus da minha salvação, diante de ti tenho clamado de dia e de noite.” (Salmo 88:1) “Puseste-me no abismo mais profundo, em trevas e nas profundezas” (Salmo 88:6) “SENHOR, porque rejeitas a minha alma? Por que escondes de mim a tua face?” (Salmo 88:14) Está agora inclinado a pensar que agora pode entender esse grito de Cristo na cruz, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46) O Senhor parece por um ouvido surdo a suas suplicas, orar é uma pesada carga para você, não tem visões reconfortantes do rosto do Salvador, as épocas passadas de santo gozo só são recordadas por você com pesar de que já não terá de novo essas felizes experiências – até mesmo quando olha para palavra de Deus, seu olho parece fixar-se somente nas ameaças, e nunca adverte das muitas “grandíssimas e preciosas promessas” (2 Pedro 1:4) – e sua alma “irá perecer” na desesperação. Bem, meu pobre irmão, se alguma vez houve um tempo em que precisasse do vinho condimentado do pacto da fidelidade de Deus e o delicioso e nutritivo néctar do eterno amor de Jesus Cristo, é agora. Pergunto-me o que fazem os arminianos quando são possuídos desse tipo de calafrio espiritual, e tremem aterrorizados desde a cabeça a planta dos pés – eu sei isso, e quando tenho esses ataques (e os tenho muito seriamente as vezes) volto-me para aqueles textos que falam mais da graça imerecida e soberana, e tento obter a medula e a grossura deles para alimentar minha alma faminta. Aqueles que espiritualmente “negociam nas grandes águas,” (Salmos 107:23), encontram que nada lhes servirá de ajuda a não ser somente os decretos eternos de Deus, os propósitos inalteráveis de Deus, a fidelidade infalível de Deus, a graça de Deus que distingue e que discrimina – pelo menos essa é minha própria experiência, e lhe exorto, irmão e irmã que não possui esperança, a que dê um grande trago desse licor divino para que se esqueça de sua pobreza espiritual, e não se toque mais de sua miséria. Não é provável que converta as elevadas doutrinas do evangelho em algo mau, logo, venha e alimente-se delas até que sua alma se satisfaça com esses requintados bocados da casa dos banquetes do Senhor. Aceita seu convite imerecido, “comei, amigos, bebei abundantemente, ó amados.” (Cânticos 5:1)
Entre as outras coisas reconfortantes que diria a um irmão que sofre de abatimento em sua alma, estaria essa: lembre-se, irmão, que se alguma vez foi um filho de Deus, é um filho de Deus agora mesmo. Você passa por muitas mudanças, porem, possui um Salvador que sempre é o mesmo, “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente!” (Hebreus 13:8) Tem seus altos e baixos, muda como cada fase da Lua, porem, com o grande “Pai das luzes … não há mudança nem sombra de variação.” (Tiago 1:17) Corretamente cantamos –
“Imutável sua vontade
Qualquer que seja meu estado;
seu coração amoroso é sempre
Eternamente o mesmo
Minha alma por muitas mudanças passa,
Seu amor não conhece variação.”
Ele nunca começou um trabalho de graça em alguém, para logo deixá-lo sem terminar. Jamais adotou um filho em sua família, e logo o deixou para que perecesse. O Senhor Jesus Cristo jamais se casou primeiro com uma alma, e logo se divorciou dela, porque Ele odeia abandonar. Ele nunca se apartará de nenhum membro de seu corpo místico – se pudesse fazer uma coisa tão terrível, Ele mesmo estaria incompleto. Assim, meu irmão desesperado, digo-lhe que se alguma vez teve a luz e o amor de Deus em sua alma, não só é, todavia, um homem salvo, antes, que logo virá o tempo quando saibas que é assim. Como Jonas, sairá das profundezas e também com ele dará toda a glória de sua salvação ao Senhor.
Também quero tentar reconfortar a alguns verdadeiros crentes em Jesus que temem não ser realmente do Senhor. Dá-me gosto que John Bunyan mencionou alguns de seus nomes em sua imortal alegoria “O Peregrino”, porque ainda temos ente nós exemplares de pessoas que respondem a descrição do Sr. Temeroso, Sr. Mente Fraca, Sr. Desalento e sua filha a senhorita Muito Assustada, o Sr. Pronto Pra Parar, um tal Sr. Pouca Fé, e, eventualmente aqui e ali, encontramos a um Sr. Grande Coração, ou a um Sr. Firme, ou a um Sr. Valente Pela Verdade. Bem, queridos amigos, se estão aqui essa noite, deixem-me recordar-lhes quem, ainda que sejam os menores da família de Deus, não são pequenos aos olhos do Senhor. Ele os ama tanto como ao maior santo que tenha vivido. Quando o Senhor deu o mandamento a Moisés referente ao resgate por cada alma contada entre os filhos de Israel, estabeleceu expressamente, “O rico não dará mais, e o pobre não dará menos da metade do siclo, quando derem a oferta alçada ao SENHOR, para fazer expiação por vossas almas.” (Êxodo 30:15)
Igualmente, na expiação efetuada pelo Senhor Jesus Cristo, custou-lhe a Ele o mesmo, e não mais, resgatar tanto o menor de Seu povo quanto ao maior, e os ama por igual. Pode usar algum deles, como seus instrumentos, mais do que usa outros, mas lhes têm a mesma consideração a todos. Se alguma vez faz uma diferença em seu trato para com eles, são os mais frágeis os que têm a preferência – leva aos cordeiros em seu peito, porem, deixa que as ovelhas fortes o sigam em seu caminho.
Tenham, pois, bom consolo, frágeis companheiros que pertencem a Cristo, e também lembrem que os santos menores estão tão seguros como os maiores. Se estivermos com Cristo no barco de sua Igreja, estamos tão seguros que jamais pereceremos, porque se pudéssemos perecer, também Cristo pereceria, e isso nunca pode ou poderá suceder. O maior santo que tenha servido a seu Senhor com zelo apostólico até mesmo com o próprio sacrifico de sua vida imitando a Cristo, tem que confiar para sua salvação no sangue e na justiça de Jesus Cristo, e o santo mais débil tem que fazer precisamente o mesmo – e um não é mais salvo, nem está mais seguro que outro. Assim, que o Sr. Temeroso e a senhorita Muito Atemorizada bebam do licor divino, e já não tenham dúvidas e nem estejam mais tristes.
Creio que meu texto possui também uma mensagem especial para o pecador que tem seu coração afligido, e seu espírito desanimado. Para alguém assim, hoje eu ofereceria o licor do evangelho assim: meu amigo, lembre-se que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar aos pecadores.” Essa palavra: pecadores, inclui a você; e se você me perguntar, “O que devo fazer para ser salvo?” repondo como Paulo fez quando lhe fizeram essa pergunta, “Crê no senhor Jesus e serás salvo.” Assim, como vocês tem um mandato de crer em Cristo, de descansar Nele, de confiar que Ele os salva, a vocês mesmos, não pode ser presunção de parte de vocês crer que é assim. Jesus Cristo é “grande para salvar,” Ele é capaz de salvar plenamente a todo o que venha a Deus por Ele. Se aqui existe um pecador que é tão mal que eu não poderia descrever seu caso diante de vocês, não é tão mal para que Cristo lhes lave – então, porque se desespera, ó você que “irá perecer,” vendo que Deus entregou a Seu Filho amado por pecadores como você? Seus pecados são grandes, eu sei, e gritam em voz alta pedindo seu castigo; porem, no momento em que você arrependa-se deles, e confia no sangue de Jesus para lhe limpar deles, você será feito perfeitamente são. Seus pecados lhe serão borrados tão completamente que Deus diz que se fossem buscados, não seriam mais achados; sim, não seriam encontrados. Serão tão absolutamente apagados como se você nunca os tivesse cometido. Que licor mais reconfortante é esse que pode ser servido para você? Então, beba dele e esqueça-se de sua necessidade, e não se lembre mais de sua miséria.
II. Posso falar só brevemente do segundo ponto, o que é, que É NOSSO DEVER E PRIVILÉGIO DAR ESSE LICO A TODOS OS QUE PRECISAM DELE.
Irmãos e irmãs em Cristo, quero que todos obedeçam ao mandato do texto dando esse licor do Evangelho aos que estão com seu coração aflito e “irão perecer.” Alguns de vocês podem fazê-lo falando de sua própria experiência. Quando se encontrem com almas que duvidam e que estão desanimadas, digam-lhes como o Senhor os libertou do sóbrio calabouço do grande Gigante Desespero no Castelo da Dúvida; recorde-lhes dessa chave chamada Promessa, que pode abrir as portas da prisão onde estão presos com grilhões de ferro.
É-nos dito que Orígenes, enquanto sua força o permitia, sempre se dirigia as prisões onde os cristãos estavam confinados durante a perseguição de Décio, e depois acompanhava-lhes até o campo de sua execução, confortando-lhes com as Escrituras que ele tinha encontrado que eram um grande apoio para sua própria alma – imitem ele até onde possam ainda que os cristãos não sejam perseguidos de morte
Muitos de vocês podem regalar desse licor do Evangelho visitando ao enfermo e ao pobre. Em uma igreja tão grande como essa, é impossível que o pastor ou os anciãos visitem todos os membros e muito menos que possam visitar a todos aqueles que formam nossa grande congregação – por isso eu os exortaria que vocês façam o máximo de visitas que possam. Especialmente eu chamaria a aqueles que possuem a experiência mais profunda das coisas de Deus para que encontrem o doente e ao afligido em suas vizinhanças, e os confortem, com o consolo com que vocês mesmo são reconfortados por Deus.
Então, muitos mais dos que atualmente o fazem poderão regalar esse licor evangélico, pregando em qualquer lugar e em qualquer momento que tenham oportunidade. Em uma cidade como Londres, onde cada esquina pode proporcionar um púlpito, e cada rua pode proporcionar uma congregação, não há desculpa para que o homem que tenha só um talento não o utilize para Cristo. A boa nova que ele tem para falar, meu irmão, é tão doce que deve ser repetida, repetida e repetida até que todo vento difunda a boa notícia para –
“Todas as gentes que habitam sobre a terra.”
Também rogo ao Senhor que avive muitos irmãos e irmãs dentre nós, para que se encaminhem às “regiões mais adiante”, como missionário da cruz, e que lhes movam a vocês, que não podem pregar, para que ofertem de acordo a suas possibilidades, quer seja para a preparação de nossos irmãos no Colégio do Pastor[1], ou para suporte daqueles que são chamados por Deus para pregar e ensinar a Palavra em terras longínquas onde Jesus não é conhecido. Dessa forma, também estarão ajudando a dar o licor do evangelho aos que tem seu coração angustiado e “irão perecer.”
III. Agora, finalmente, mas de forma breve, QUANDO ESSE LICOR DO EVANGELHO É DADO A ESSAS PESSOAS, É SEU DEVER E PRIVILÉGIO BEBÊ-LO e esquecer-se de sua pobreza espiritual, e não lembrar mais de sua miséria.
Podemos levar um cavalo até onde haja água, mas não podemos forçar ele a bebê-la; e podemos levar esse licor evangélico ao pecador, porem só o Espírito Santo pode forçar-lhe docemente a que tome um gole grande e profundo dele. Tratei de dar esse licor outra vez essa noite a todos aqueles que o necessitam, como seguramente o estive fazendo desde que o Senhor abriu minha boca pela primeira vez para falar Dele, mas o que passa com a parte que toca a vocês, meus queridos leitores? É meu dever e privilégio pregar o evangelho, porem, também é dever o privilégio de vocês crerem nele quando lhes é pregado; “A fé vem pelo ouvir;”, porem, ai, existem muitos que ouvem a Palavra e que são como aqueles dos quais o apóstolo descreveu que “a eles de nada se aproveitou ouvir a palavra, porque não se identificaram por fé com os que a obedeceram.” Ter o remédio em sua mão, e não o tomar, é cometer um suicídio espiritual; lhe suplico, pecador, que não agregue esse crime para coroar com ele todas a suas outras iniquidades; porém, rogo-lhe, nessa mesma hora, que aceite essa dádiva concedida. A água de vida está posta diante de você. Bebe e vive. O pão de vida está colocado a seu alcance, por que sua alma imortal teria que padecer de fome e perecer?
Teme ser um pecador tão terrível que não possa ser salvo? Lembre das palavras de Agur referentes a uma das “quatro coisas são das menores da terra”, e “porém bem providas de sabedoria.” Ele disse, “A aranha se pendura com as mãos, e está nos palácios dos reis.” (Provérbios 30:24-28) Pode ser que Agur tenha visto uma grande e negra aranha no palácio de Salomão, e que, ao refletir nisso, disse a si mesmo, “essa feia criatura é muito sabia, porque via vir uma grande tormenta, e seu lar não era um lugar segura; assim, buscando refugio, deu-se conta de uma janela aberta no palácio do rei, e por ali entrou. Ela não tinha direito de estar lá, ninguém a tinha convidado, mas ali estava.” Agora, pobre pecador, essa aranha não estava tão cheia de veneno como você está de pecado – se aproxima a tormenta mais grande do que a que assustou a aranha, e a porta da misericórdia de Deus está tão certamente aberta como estava a janela no palácio de Salomão – e você sim está convidado a entrar, mas a aranha nunca foi chamada. Pecador seja ao menos tão sábio quanto a aranha, e entra no palácio real da salvação de Deus, porque, uma vez dentro, jamais será tirado!
Ainda tem medo de vir a Jesus? Então, deixa-me lembrar-lhe da pobre mulher que veio e tocou a orla de Sua veste, e foi curada instantaneamente da enfermidade que a possuía desde muito tempo. Você lembra que ela estava cerimonialmente impura, e não podia nem sequer estar em meio da multidão; no entanto, estava tão ansiosa de ser curada que abriu caminho através da turba até que esteve suficientemente perto de Jesus para tocar a ponta de Seu manto sem costura, porque ela disse, “Se somente tocar seu manto, serei curada.” Assim fez, e Cristo imediatamente honrou sua fé, e lhe deu segurança imerecida dizendo-lhe “vai em paz”, conservando a cura que ela tinha obtido, por assim dizer, às escondidas. Oh pecador, não quer ser tão sábio como foi essa pobre mulher? Não precisa tentar roubar a benção, porque você está convidado a vir tomar ela abertamente.
Jesus ainda diz “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28) Descanso é o que você precisa, descanso de mente, de coração, da consciência – esse descanso só pode chegar a você pela fé, “Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso” (Hebreus 4:3), Ah, vocês pecadores oprimidos pela pobreza e pela miséria, creiam em Jesus: tomem seu julgo sobre vocês, e aprendam dele, porque assim acharão repouso para suas almas; e então também se darão conta que “há” um outro repouso, um mais completo e mais bendito , o eterno “guardar o dia de repouso” que é a bendita herança de todo “o povo de Deus.” Ali está o divino licor que nos é mandando colocar ao alcance de vocês – bebam dele e esqueçam de sua pobreza e não lembrem mais de sua miséria. Deus os abençoe, por Cristo. Amém.
FONTE:
Traduzido do espanhol El Licor Del Evangelio, tradução de Allan Román, com autorização e permissão deste para o português para o Projeto Spurgeon , de http://www.spurgeon.com.mx/
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público
Sermão nº 3236—Volume 57 do Metropolitan Tabernacle Pulpit
Tradução: Armando Marcos Pinto
revisão: Camila Freire
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