Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça. Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega; em verdade, promulgará o direito. (Isaías 42. 2, 3)
Um tema principal dos profetas do Antigo Testamento com relação ao reino glorioso do Messias era a forma como ele iria se contrastar com os reinos meramente humanos. Os reinos do homem surgem com grande pompa e se apresentam com orgulho e poder, esmagando todos os que ousam se opor a eles. Eles constituem manifestações visíveis da glória do homem, e são geralmente acompanhados por uma arrogância para com Deus e o homem.
Alternativamente, foi predito que o reino de Cristo chegaria em humildade, longe dos centros do poder humano (Miqueias 5.2). Quando examinamos os relatos dos evangelhos sobre o nascimento, vida e morte de Cristo, descobrimos que as profecias do Antigo Testamento foram infalivelmente cumpridas: Cristo nasceu em pobreza e humildade, não sendo anunciado por arautos reais, mas por humildes pastores. Os reis da terra não o aclamaram; o principal governante em Israel naquele tempo tentou matá-lo. Nosso Senhor foi criado por uma família humilde e temente a Deus, em relativa obscuridade. Seu ministério adulto de cura e ensino, embora com a presença de milhares, não assumiram o caráter de realeza terrena. Sua morte cruel e ignominiosa, sendo castigado como um criminoso comum, era a execução mais humilhante conhecida no mundo antigo.
Na verdade, se considerarmos sua vida sobre a terra, o reino de Cristo tem pouca semelhança com os reinos humanos.
Há uma boa razão para isso. O reino de Cristo não é principalmente um reino político. Os judeus nacionalistas no primeiro advento de Cristo esperavam que esse homem que alegava ser o Rei e Messias cumprisse as Escrituras do antigo pacto que profetizavam que o Escolhido de Deus quebraria o jugo dos opressores gentios de Israel (Jr 23.5-9; Ez 34.24-31; Mq 5.5, 6). Nessa suposição eles estavam absolutamente corretos. Eles estavam grosseiramente equivocados, contudo, em sua suposição da maneira na qual o Messias faria isso. Eles presumiram – como os dispensacionalistas da era moderna – que o reino de Cristo é um reino político induzido de modo cataclismático e centralmente reforçado. Eles de alguma forma esqueceram aquelas Escrituras do antigo pacto que prediziam que o Messias-Rei cumpriria sua vontade através de meios regenerativos, humildes e não coercivos (Is 15.14, 15; 42.1-7; 52.13 – 53.12; Zc 9.9). Cristo de fato esmagará os seus oponentes (Sl 2); mas ele não os esmagará da maneira que o faz um rei meramente humano.
O primeiro erro amilenista é considerar que o reino de Cristo está limitado à família e igreja cristã, ou ao estado intermediário ou eterno. Ele não reconhece todas as promessas do reino messiânico que pertencem à Era Dourada e Piedosa em toda a terra, incluindo a política e o Estado (e.g., Sl 2; 22.27; 47.2, 3, 7; 72; Is 2.2-4; 11.1-10; 42.1-4; 65.17-25; Mq 4.1-5).
Um erro central de todos os dispensacionalistas, da maioria dos pré-milenistas, e até mesmo de alguns pós-milenistas, por outro lado, está em supor que o reino de Cristo é um fenômeno fundamentalmente político. Os dois primeiros anteveem Cristo retornando fisicamente à terra acompanhado pelos santos mortos com, por assim dizer, armas de fogo e olhos flamejantes, com a intenção de ceifar o Anticristo e os seus discípulos ímpios a sangue frio. Alguns pós-milenistas equivocados, porém, trilham um erro similar. Eles parecem pensar que se os cristãos puderem simplesmente capturar o poder do Estado, eles estarão prestes a inaugurar um milênio intensificado pela imposição da lei bíblica, punindo os inimigos de Deus, e criando um Estado cristão. Embora a sinceridade deles possa ser impecável, sua agenda é impensável.
O Reino de Cristo terreno começa no coração do homem regenerado (Lc 17.21; Cl 1.13). Sob o poder do Espírito Santo, à medida que o cristão reordena sua vida, família e todas as outras áreas que ele influencia em termos de uma fé cristã e lei bíblica, Deus gradualmente reverte o mal e seus efeitos em tudo da vida e sociedade humana. A política é uma dessas áreas, mas nunca a principal. É um erro fatal daqueles enveredados na heresia da importância máxima das soluções políticas supor que o reino de Cristo progredirá principalmente por meio da política. Não será assim! O reino avançará principalmente pela operação do Espírito na vida de cristãos crescentemente santificados, que guardam a lei, que praticam sua fé na família, trabalho, escola, igreja e em todas as áreas de suas vidas.
Os pais inculcam a fé cristã ortodoxa em suas famílias. Os pastores conduzem o seu rebanho à maior obediência. Os educadores instruem seus alunos em termos de um sistema de vida cristão abrangente. As igrejas revivem o diaconato e cuidam dos doentes, dos necessitados, das viúvas e dos órfãos. Os médicos cristãos praticam o ofício divino de cura natural (algumas vezes, talvez, sobrenatural) ao seguir a lei de Deus e os produtos da graça comum de Deus. Os empresários produzem riqueza começando novos negócios que beneficiam a outros. E assim por diante em todas as esferas.
Não se engane: a política (como a medicina, arte, mídia, tecnologia, economia, etc.) é uma área legítima de ação com base nos princípios cristãos. Entregar a política, ou qualquer outra esfera legítima de atividade cristã, ao Diabo e os seus discípulos é uma coisa perversa. Mas o estabelecimento de um Estado explicitamente cristão será o efeito de uma fidelidade cristã abrangente, começando com o indivíduo e a família regenerados e a igreja reformada. Ele não será o efeito de eleger uns poucos políticos cristãos (embora eles sejam necessários), nem mesmo de um Presidente cristão (não importa quão benéfico isso seria). Eleja um Presidente e um Congresso cristão e nomeie um Judiciário totalmente cristão, e os problemas morais mais vexatórios da nação não se evaporariam. É à medida que o reino de Cristo progride entre os homens – por meio do evangelho de Cristo e a submissão e obediência individual à lei-palavra de Deus – que a política e o Estado desfrutarão a redenção cristã.
O reino de Cristo é menos espetacular externamente do que os reinos terrenos, assim como o seu nascimento foi externamente menos espetacular que o nascimento dos reis meramente humanos. Mas a pequena semente de mostarda e a pitada do fermento do reino de Cristo (Mt 13.31-33) não falharão em sobrepujar todos os outros reinos em sua profunda eficácia na terra.
O reino de Cristo está avançando de maneira quieta e discreta.
Mas ele não pode falhar!
Fonte: Faith for All of Life, Agosto de 1997.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – abril/2011
por: P. Andrew Sandlin
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