sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Minha declaração de não-fé


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Por: Rodrigo de Lima Ferreira


Existem várias e diversas declarações de fé. São documentos históricos importantes que servem como resumo daquilo que uma comunidade ou localidade específica crê. A mais conhecida delas é o Credo Apostólico, em que todo cristão se vê identificado. Há a Confissão de Westminster, a Helvética, a da Guanabara, o Pacto de Lausanne, entre outros.

Porém, como vivemos em um tempo estranho (passamos daquilo que Francis Schaeffer denomina “linha do desespero”) onde o “não” significa “sim”, o “sim”, talvez” e o “talvez”, “quem sabe, pode ser, passa lá em casa para tomar um café”, resolvo fazer uma confissão de fé diferente. Faço uma confissão de não-fé.

Não creio que o Espírito Santo mude de ideia a cada seis meses, feito barata tonta, teleguiado por gente com desejos inconfessáveis.

Não creio que Deus tenha se “esquecido” de derramar seus dons por dois mil anos, reavivando somente agora alguns dons específicos, como línguas.

Não creio em apóstolos auto-nomeados, auto-ordenados e auto-consagrados. Napoleão Bonaparte sagrou-se imperador e deu no que deu.

Não creio na autoridade bíblica de pessoas que não se submetem a outros, em atitude de total arrogância e prepotência, fazendo do espelho e do afago bajulador os melhores aliados.

Não creio que Deus tenha eleito pessoas especiais dentro de sua eleição salvadora. Tropa de elite é coisa só de filme, ou de polícia.

Não creio na total autonomia humana em fazer escolhas certas sem a ação direta de Deus, especialmente em relação à salvação. Se posso mudar de ideia sobre o que almoçar, quanto mais para algo tão importante quanto seguir a Jesus!

Não creio que meu ego, corrompido pelo pecado, seja um referencial na minha adoração a Deus. Não creio ainda que a adoração deva ser necessariamente individual. A experiência coletiva é altamente benéfica para quebrantar potenciais megalomanias.

Não creio que a submissão, ou melhor, a subserviência da igreja ao Estado seja algo do agrado de Deus. A história se repete como farsa, como bem disse Karl Marx, e Constantino serve de aviso contra a tentação de se aliar ao poder temporal e poder espiritual.

Não creio que constituições, estatutos, manuais, apostilas e coisas parecidas tenham o mesmo peso das Escrituras na vida de um cristão.

Não creio que o ego ou o espelho sejam padrão e medida para a espiritualidade e conduta na vida cristã de outros. Se temos a Bíblia como fonte inesgotável de sabedoria, qualquer tentativa de ir além disso é confissão de farisaísmo.

Não creio em barganhas com Deus. Se eu fosse abençoado única e exclusivamente com a salvação eterna, sem nenhuma bênção aqui na terra, ainda assim teria muito o que agradecer. Afinal, Deus salva e abençoa não por obrigação e pressão, mas por amor e misericórdia.

Não creio no divórcio entre minha vida religiosa e minha vida, digamos, “civil”. Os puritanos tinham um lema genial: “Aquilo que você faz fala tão alto que não consigo escutar aquilo que você diz”. São separações assim que geram episódios bizarros como a “oração pela propina alcançada”.

Não creio em demônios que tomam conta de certas regiões geográficas, ou mesmo de anjos que os combatem nessas mesmas regiões.

Não creio em copo de água em cima da televisão, rosa ungida, toco de carvão, corredor de sal grosso e outras “macumbas gospel”. Os sacramentos são elementos comuns (pão, água, vinho) que servem de canal para a graça em nossas vidas. Mas tudo o que citei anteriormente, em vez de ser só uma cópia malfeita dos sacramentos, é, em sua essência, tentativa de manipular um pretenso mundo espiritual a favor daquele que pede.

Vou terminar minha declaração de não-fé com uma declaração de esperança: “Creio e espero que Deus, em sua infinita graça, venha restaurar os corações e as mentes da igreja evangélica brasileira, tornando-a saudável e livrando de seus tumores e mau humores. Derrama sua graça sobre nós, Senhor!”.

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