terça-feira, 2 de outubro de 2012



O Deus que desafiou o Olimpo




Autora: Rosa Lima

Fonte: blog Saia da Fôrma

Como professora de grego, acho que nunca vou me cansar de admirar a grandeza dos gregos. Enquanto muitos povos ainda lascavam pedras para produzir ferramentas e outras nem dominavam o fogo, os gregos já desenvolviam um dos mais elaborados sistemas filosóficos que jamais houve e veio a tornar-se base de toda cultura ocidental. Mas nossa dívida com os gregos vai além da filosofia, tomamos emprestado de suas artes, ciência, matemática, poesia, política, língua e ética.

A mitologia grega, assim como todos os demais bons tesouros nascidos às margens do Egeu, permanece até hoje, surpreendendo e encantado gerações. E como não se maravilhar com todo aquele mundo povoado por faunos e centauros, dríades, deuses e heróis? Todas aquelas batalhas épicas que se eternizaram como os contos de tróia, o labirinto do minotauro, o covil da medusa, Perceu, Hércules, e tantos personagens encantadores. Não posso negar que sou fã de todas essas estórias e mitologias.

De modo que sou forçada a perceber a presença e todo impacto da cultura e mitologia grega no Novo Testamento. Houve até mesmo um momento em que Paulo foi confundido com Hermes e barnabé com Zeus, não tivessem eles impedido o povo lhes teriam sacrificado um touro. Todavia é justamente neste ponto que a estória toda perde a graça. Quando lemos hoje a mitologia grega como mera mitologia, estória da carochinha, pra encantar e divertir é realmente fascinante e divertido. Mas não tem graça nenhuma saber que no tempo de Paulo e de Cristo mais da metade do mundo conhecido realmente sacrificava e cultuava a essas divindades falsas e bizarras do Olimpo.

Mais uma coisa porém me chama atenção. Como real admiradora da cultura grega, percebo que grande parte dela subsiste de alguma forma até hoje, todavia essa mesma mitologia que foi forte o bastante para que o povo de fato adorasse e cultuasse seus deuses já não subsiste, senão como já foi dito, na forma de mito desacreditado, mero conto de fadas. Onde foi parar a força da religião do Olimpo, que conquistou seus conquistadores, que permeou toda cultura clássica? Onde foram parar os deuses da antiga Grécia?

Teremos que vasculhar na história e descobrir que fato tão grandioso varreu dos altares o Grande Zeus, destronou o poderoso Poseidon, fez calar Hera, Atena, Apolo, Dionísio, Hermes e todos os outros. Parece que em algum momento da poderosa cultura Greco-romana levantou-se um Deus grande o bastante para destruir todo o Olimpo, um Deus que até então talvez fosse meramente um Deus Desconhecido.

Quando apavorados pela tormenta que os surpreendeu no mar da Galiléia, os discípulos viram Jesus acalmar a tempestade, percebo que eles ficaram demasiadamente espantados, esse milagre não parecia tão grande afinal Jesus já tinha feito tanta coisa, mas sou tentada a crer que talvez o espanto dos discípulos tenha sido porque pela primeira vez viram alguém desafiar os domínios de um dos três grandes, Posseidon, o deus dos mares e Zeus o deus dos raios e das tormentas. Mas essa não foi a única vez, quando trouxe a vida seu amigo Lázaro e o filho da viúva de naim Jesus mostrou que seus domínios se estendiam também no submundo, Hades não fora capaz de manter lá aquelas almas. Não apenas os grandes, mas também os demais deuses foram devidamente desafiados e derrotados. Ao realizar curas Jesus mostrou-se maior que Apolo, o curandeiro dos deuses. Ao amaldiçoar a figueira ele invadiu os terrenos de Deméter, e quando transformou água em vinho, deixou sem fala o Dionísio.

A mensagem de Jesus, o Deus que se fez homem, não pareceria novidade alguma aos gregos, cujos deuses freqüentemente desciam ao mundo dos homens para saciar seus desejos de luxúria e vingança. O que os gregos não podiam imaginar era um Deus capaz de se sacrificar pela raça humana, capaz de morrer em favor dos homens. E foi assim que o Calvário por fim tomou o lugar do Olimpo. Desmoralizados diante do verdadeiro Deus os deuses olimpianos tiveram que contentar-se com sua inferioridade, tiveram que obedecer às ordens do único soberano. Permaneceram como legado de uma grande cultura, de um grande povo, como marcas da criatividade humana, estórias fantásticas e envolventes e felizmente, nada mais.

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