QUANDO PERDEMOS O AMOR POR DEUS
QUANDO PERDEMOS O AMOR POR DEUS - Por Leonardo Dâmaso
TEXTO BASE: AP 2.1-7
INTRODUÇÃO
“A carta de Jesus a igreja de Éfeso é também a carta de Jesus à nossa igreja”.1 Ela é oportuna, necessária e atual. Esta carta não somente retrata historicamente a situação espiritual da igreja de Éfeso no passado como também denota a mesma situação espiritual que assola a igreja hodierna.
As verdades benditas e oriundas contidas nesta passagem não são apenas para o aperfeiçoamento teológico, mas principalmente, para um estilo de vida a ser praticado através deste conhecimento aprendido.
(Tg 1.22) Sede praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganado a vós mesmos. Almeida Século 21
A síntese desta carta pode ser divide em 4 seções básicas:
1- Introdução com o remetente e seu caráter glorioso baseado no (1.12-20) e o destinatário da carta (vs.1).
2- Uma série de elogios de Jesus a igreja de Éfeso (vs.2-3,6).
3- Avaliação, crítica e exortação de Jesus a igreja de Éfeso (vs.4-5).
4- Uma Promessa de Jesus aos vencedores (vs.7).
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1- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 20.
ESPLANAÇÃO
1- O CARATER GLORIOSO DE CRISTO (2.1)
a) O remetente e o destinatário da carta (vs.1a).
A palavra “anjo άγγελος (aggelos) significa mensageiro, aquele que anuncia ou ensina algo. Neste caso se refere ao pastor da igreja sede de Èfeso”.2 Conforme é descrito na passagem, “Jesus instruiu João a escrever uma breve carta destinada ao pastor da igreja em Éfeso.
Na igreja primitiva, as pessoas consideravam Éfeso uma cabeça de ponte na província da Ásia, isto é, a cidade mais importante, daí ser ela a primeira entre as sete igrejas a receber uma carta e ser denominada a igreja mãe da província da Ásia”.3
Via de regra foi o Senhor Jesus que instituiu aos pastores a responsabilidade de serem os líderes da igreja (Ef 4.11), cuja função básica é ensinar a palavra de Deus e zelar pela vida dos irmãos em todos os aspectos seguindo o exemplo de Cristo como o supremo e bom pastor (Jo 10.11). Portanto, os pastores também são aqueles que prestarão contas a Deus das almas que estiveram ao seu cuidado (Hb. 13-17b).
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2- James Strong. Dicionário do Novo Testamento Grego, pág 2029.
3- Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 151.
b) O contexto de Éfeso (vs.1a).
Éfeso era a capital e a cidade mais rica e importante da província Romana da Ásia menor. “Era tanto um centro comercial quanto religioso (muitas vezes chamado de o mercado da Ásia) e também político”.4 Eles cultuavam a deusa Ártemis ou Diana, uma deusa da fertilidade e da abundância, Diana foi cedo identificada com a deusa grega Ártemis, que depois absorveu a identificação dela.
O templo da deusa Diana constituía uma das 7 maravilhas do mundo antigo, e era uma das grandes atrações turísticas daquela época, e uma das suas indústrias mais importantes era a fabricação de imagens dessa deusa (At.19-24,31,38). Por conseguinte, Éfeso era uma cidade mística, supersticiosa e também um dos centros do culto ao imperador Domiciano.
Paulo chegou naquela cidade no final da sua segunda viagem missionária (At.18-18-19), por volta do ano 52 d.c. em sua terceira viagem e permaneceu lá por 3 anos (At.20-31); sua mais longa permanência em um só lugar em face de todas as suas viagens missionárias.
Em virtude da pregação de Paulo, a maioria dos judeus e gentios que residiam em Éfeso a rejeitaram e se tornaram violentos perseguidores hostis do apóstolo e de sua mensagem (At 19.23-41). Por outro lado, alguns receberam de bom grado o evangelho e se converteram a Deus.
“Houve sinais de avivamento ali (At. 19-18, 19): 1) As pessoas ao ouvirem o evangelho denunciavam publicamente as suas obras; 2) As pessoas que se convertiam rompiam totalmente com o ocultismo, queimando seus livros mágicos; 3) O evangelho espalhou-se dali por toda a Ásia menor”.5
Não obstante, após ter sido preso em Roma por volta do ano 62 d.C., Paulo escreve uma carta aos Efésios, onde Timóteo estava pastoreando a igreja na época a fim de combater as falsas doutrinas disseminadas por alguns falsos mestres, entre eles Himeneu e Alexandre, os quais eram provavelmente presbíteros em alguma das congregações (1 Tm 3.3-20).
Depois de 40 anos em que a igreja de Éfeso fora fundada, possivelmente por Priscila e Áquila (At 18.18-26), o apóstolo João se muda para lá e se torna o pastor dos Efésios em meados do ano 90 d.c.. Agora, “na segunda geração de crentes, Jesus envia uma carta à igreja, mostrando que ela permanecia fiel na doutrina, mas já havia se esfriado em seu amor”.6
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4- Rubens Szczerbacki. Revelando os Mistérios do Apocalipse, pág 45.
5- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 20.
6- Ibid.
c) O poder de Cristo na sua igreja (vs.1b).
O verbo conservar διατήρηση (kratein) no grego “significa que Jesus tem o máximo poder e autoridade para guardar seus servos. Todo o seu povo está em sua mão, a fim de que nenhum dano ocorra a qualquer um deles fora da sua vontade”.7
Cristo não somente conserva as sete estrelas, que representam os pastores das sete igrejas da Ásia, juntamente com toda a igreja, ele os tem totalmente em sua mão, que significa poder para agir e governar (1.16).
Não é uma instituição denominacional visível que está na mão de Cristo; mas sim a sua igreja invisível que é composta por cada eleito individual espalhado por todo o mundo que se reúne num local para cultuá-lo. Esta é a igreja que Cristo conserva.
William Barclay que diz que “nossa segurança e nossa própria vida depende de estarmos sustentados por Jesus. Quando a igreja se submete ao controle de Cristo sua doutrina e sua vida deixou de correr perigo”.8
(Jo 10.28-29) Dou-lhes a vida eterna, e jamais perecerão (perder a salvação); e ninguém as arrancará da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim (as ovelhas), é maior do que todos; e
ninguém poder arrancá-las da mão de meu Pai. Almeida século 21
* Um ponto importante a ser observado é que não existiam somente sete igrejas na Ásia menor, isto é, em cada cidade mencionada não tinha uma congregação apenas, mas sim várias delas espalhadas por cada cidade. Simplesmente o número sete aqui é um simbolismo, e descreve a totalidade das igrejas.
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7- Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 151.
8- William barclay. Apocalipse, pág 71.
d) A presença de Cristo na sua igreja (vs.1b).
Cristo não somente tem todo o poder sobre a sua igreja a fim de conservá-la em todos os aspectos, no que tange livramentos de todo o mal, preservação para a salvação e bençãos espirituais quanto materiais, Ele também está presente na sua igreja (Lv 26.12; Dt 23.14; 1.12-13). Os sete candeeiros de ouro descritos por João eram candeeiros portáteis que sustentavam lâmpadas de óleo (Zc 4.2). Cada candeeiro representa uma igreja (1.20), da qual a luz da vida que é Cristo resplandece. Na Escritura sete é o número que indica perfeição.
Os sete candeeiros aqui denotam a igreja de Cristo num todo, ou seja, “são os membros das igrejas sobre quem os olhos de Jesus repousam incessantemente”.8 Todavia, vemos nesta passagem que Jesus se volta especificamente para os pastores das congregações locais.
Os pastores são os responsáveis pela saúde espiritual da igreja. São eles que alimentam o povo com a mensagem de Deus. Eles devem sempre exortar a igreja a permanecer fiel e fervorosa. Porém, se falharem em cumprir diligentemente esta pertinente tarefa, deixando de exortar e ensinar a palavra de Deus na sua integridade, a igreja estará à mercê de uma completa ruína espiritual.
Portanto, Jesus fala com autoridade para com o pastor da igreja em Éfeso e espera que ele desempenhe de maneira logre o seu papel como um bom ministro do Senhor. Noutras palavras, parafraseando o (vs.1), Jesus está dizendo o seguinte: Ao pastor líder da igreja em Éfeso: Estas são as palavras daquele que tem a sua igreja em seu poder e que está presente no meio dos seus.
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8- Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 151.
2- CRISTO TECE ELOGIOS A IGREJA DE ÉFESO (2.2-3,6)
a) Fidelidade no serviço a Deus (vs.2,6).
Jesus aqui elogia aos Efésios por se manterem firmes e fieis no serviço cristão com 3 substantivos: Obras, labor e perseverança. Jesus declara categoricamente: Conheço as tuas obras, o que ressalta a sua onisciência (atributo incomunicável) em relação ao conhecimento perscrutador de todas as coisas (Sl 139.1-4).
“O uso do singular significa que o pastor a quem Jesus se dirige é responsável pelo bem estar espiritual da igreja. Mas também este singular fala a cada membro individualmente”.9 O substantivo obras é bem vasto em seu significado e tem um duplo sentido. Ele se refere tanto as boas atitudes quanto as más atitudes.
Porém, de acordo com o contexto, a ênfase é centrada mais no lado positivo, isto é, nas boas obras e no exímio serviço que os Efésios prestavam a Cristo. Russel Norman Champlin escreve:
“As obras que Jesus conhece representam as condições espirituais em geral da igreja e não apenas aquilo que chamamos de serviço ativo. A palavra obra neste caso indica o caráter geral, a natureza da pessoa que age, mas também aquilo que ela faz. Esta expressão equivale ao termo vetotestamentário temor do Senhor, que é usado para exprimir as condições espirituais em geral daquele que professava tentar agradar a Deus, reconhecendo seu senhorio”.10
Portanto, as obras em geral mencionadas por Jesus são compostas pelo labor εργασία (kopos) que indica “trabalho árduo até a exaustão”; 11 pela perseverança επιμονή (Hupomone) que denota “resistência, permanência. Significa firmeza e constância sob condições adversas”; 12 isto é, “resistência nesse labor (trabalho), e sob as perseguições”.13
APLICAÇÃO
Hernandes Dias Lopes escreve:
“A igreja de Éfeso não era apenas teórica, ela agia. Havia labor, trabalho intenso. Os crentes eram engajados e não meramente expectadores. A congregação se envolvia, não era apenas um auditório. A igreja não vivia apenas intra muros. Não se deleitava apenas em si mesma. Por meio dela o evangelho espalhou-se por toda a Ásia Menor. E Jesus pode dizer ao mesmo ao nosso respeito? Temos sido uma igreja operosa? Temos sido cristãos frutíferos? Ou apenas temos sido um membro dinâmico no corpo de Cristo”? 14
11- BARCLAY salienta que o substantivo kopós descreve o trabalho que nos faz suar, o trabalho duro, que nos deixa exaustos, a classe de trabalho que demanda de nós toda nossa reserva de energia e toda nossa concentração mental. (Apocalipse, pág 72).
12- BARCLAY também descreve que a palavra grega Hupomone traduzida por perseverança é a coragem que aceita os sofrimentos e as dificuldades, a luta e a derrota, mas é capaz de sair sempre vitoriosa. Em qualquer situação, é a virtude daquele que sabe finalmente, alcançar a graça e a glória. (Apocalipse, pág 73).
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9- Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 152.
10- Russel Norman Champlin. Apocalipse, pág 387.
11- Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguistica do Novo Testamento Grego, pág 607.
12- Rubens Szczerbacki. Revelando os Mistérios do Apocalipse, pág 47.
13- Russel Norman Champlin. Apocalipse, pág 387.
14- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 22.
b) Fidelidade na doutrina (vs.2,6).
Esta é mais uma qualidade que compunha o conjunto de excelentes obras da igreja de Éfeso, era uma igreja fiel na doutrina. A igreja estava enfrentando oposição de homens maus e dos falsos apóstolos que se auto-intitulavam apóstolos que estavam ensinando a igreja heresias perniciosas.
A rejeição da igreja a este grupo de homens descritos como homens maus que pervertiam o evangelho de Cristo, entretanto, não são um grupo distinto de pessoas além dos falsos apóstolos, mas são os próprios falsos apóstolos mediante o contexto do (vs.6). Haja vista que no (2.14-15) é mencionado também sobre os Nicolaítas; porém, esta passagem não detalha de forma concisa sobre a possível identidade deles. Provavelmente eles eram estes mesmos falsos apóstolos da igreja de Éfeso e também os que propagavam o ensino de Balaão na igreja de Pérgamo.
Conforme a recomendação que Paulo havia feito aos presbíteros da igreja em Eféso (At 20.29-31) sobre a possibilidade do surgimento de falsos mestres no meio da igreja com intuito de enganar e corromper a fé dos cristãos, todavia, a igreja de Éfeso tendo em mente as palavras de Paulo “exercia o discernimento.
Eles sabiam como avaliar homens que reivindicavam liderança espiritual por meio de sua doutrina e comportamento (1Ts 5.20-21; 1 Jo 4.1)”.15 Portanto, os efésios foram intolerantes com a heresia e com a libertinagem que os Nicolaítas queriam propagar no seio da igreja.
APLICAÇÃO
O neoevangelicalismo moderno tem gerado crentes opostos aos crentes que vemos descritos na bíblia. Crentes fieis e sérios de todas as idades desde o jovem até o idoso como José, Daniel, Priscila e Áquila, Timóteo juntamente com sua mãe e sua avó, Lidia entre outros. Os crentes de hoje não são como os Beranos (At 17.11), estudantes assíduos da palavra que examinavam meticulosamente se o que era pregado estava de acordo ou não com a Escritura, e nem como os crentes de Éfeso fiéis à doutrina.
Estamos vivendo uma geração de analfabetos bíblicos, crentes ingênuos e tolos que são ávidos por experiências místicas como sonhos, visões revelações etc.. Crentes interessados somente em novidades gospel e ensandecidos por milagres e bênçãos materiais. Há uma preguiça mental e um interesse pífio ou quase nenhum que impede os crentes de estudarem a palavra de Deus e crescerem no conhecimento (2 Pe 3.18).
Tudo o que ouvem dos pregadores acreditam piamente. Os crentes engolem tudo aquilo que lhes é oferecido em nome de Deus porque são leigos na fé e não sabem discernir entre o certo e o errado. Crentes que estão há anos na igreja e que já deveriam ter um conhecimento relevante da bíblia (Hb 5.12) e não tem, ainda são crianças no entendimento que vão de um lado para o outro guiados por todo vento de doutrina (Hb 13.9). Este é o retrato atual da igreja e dos que se dizem evangélicos.
* Os Nicolaítas significa (destruidores do povo) pregavam uma nova versão do Cristianismo. Eles pregavam um evangelho sem exigências, liberal, sem proibições. Eles queriam gozar o melhor da igreja e o melhor do mundo. Eles incentivavam os crentes a comer comidas sacrificadas aos ídolos. Eles ensinavam que o sexo antes e fora do casamento não era pecado. Eles acabavam estimulando a imoralidade. Mas a igreja de Éfeso não tolerou a sua heresia e odiou as suas obras. HERNANDES DIAS LOPES (Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 21).
* Sobre a possível identidade de quem seriam os Nicolaítas, temos alguns estudiosos que associam essa seita a Nicolau, prosélito de Antioquia, um dos sete discípulos da igreja de Jerusalém (Atos 6.5). Outros, porém, acham que era uma seita gnóstica conhecida por os Nicolaítas; Ainda existe outra posição que diz que o Nicolau em foco foi um personagem histórico, que residia em Éfeso ou naquela área em geral, embora não deva ser identificado com o homem do mesmo nome, que de Jerusalém.
E por fim, há aqueles que supõem que não devemos imaginar que Nicolau fosse o nome de alguma pessoa real e viva, mas que tudo não passa de um titulo de dominador do povo ou destruidor do povo escolhido para representar a heresia que havia em Éfeso e que ameaçava à igreja cristã dali. Até mesmo nesse caso, é quase certo que alguma forma de gnosticismo esteja sob consideração. RUSSEL NORMAN CHAMPLIN (Enciclopédia da Bíblia de Teologia e Filosofia vol 4, pág 498).
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15- Bíblia de Estudo Macarthur. Notas de Rodapé, pág 1780.
c) Fidelidade em meio ao sofrimento (vs.3).
Depois de Jesus elogiar os Efésios pela sua fidelidade ao serviço cristão e a sã doutrina, agora Ele os elogia pela sua perseverança em suportar os sofrimentos pelo seu nome e por manterem-se firmes sem desanimar.
“Ser crente em Éfeso não era popular (como hoje é no Brasil). Lá ficava um dos maiores centros do culto ao imperador. Muitos crentes estavam sendo perseguidos e até mortos por não se dobrarem diante de César. Outros estavam sendo perseguidos por não adorar a grande Diana dos Efésios. Outros estavam sendo seduzidos a cair nos falsos ensinos dos falsos apóstolos. Mas, os crentes estavam prontos a enfrentar todas as provas por causa do Nome de Jesus”.16
A expressão não te deixaste esmorecer vem do grego κουραστεί (kopos), que é a mesma palavra usada no (vs.2) que indica labor ou trabalho. Porém aqui, o sentido vai mais além e sintetiza labor ou trabalho até a exaustão, “o que levaria a qualquer pessoa à desistir do evangelho”.17
Indubitavelmente os Efésios não se cansaram em meio às perseguições e tribulações que os assolavam, que tentavam fazê-los retroceder e desistir, pelo contrário, antes continuavam a perseverar no caminho da fé. Nessa mesma linha de pensamento, Simon Kistemaker diz:
“Os crentes de Éfeso eram zelosos do nome de Jesus e eram incansáveis em promover sua honra. Em oposição ao moto: César é o Senhor, ousadamente confessavam que Jesus é o Senhor. Ao honrarem o nome de Cristo e prontamente suportarem perseguição e dificuldades, os Efésios demonstraram que não chegaram à exaustão em sua vida espiritual”.18
APLICAÇÃO
Hernandes Dias Lopes ressalta com muita propriedade que “a igreja atual está perdendo a capacidade de sofrer pelo evangelho. A igreja hoje prefere ser reconhecida pelo mundo do que ser conhecida no céu. Perdeu a capacidade de denunciar o pecado. Esquemas de corrupção já estão se infiltrando dentro das igrejas. Já temos igrejas empresas. A igreja está se transformando em negócio familiar. O púlpito está se transformando num balcão, o evangelho num produto e os crentes em consumidores.
Pastores com ares de super-espirituais já não aceitam ser questionados. Estão acima do bem e do mal. Estão acima dos outros e até da verdade. Consideram-se os "ungidos". Dizem ouvir a voz direta de Deus. Nem precisam mais das Escrituras. E o povo lhes segue cegamente para a sua própria destruição”.19
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16- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 22.
17- Rubens Szczerbacki. Revelando os Mistérios do Apocalipse, pág 48.
18- Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 154-155.
19- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 22.
3- CRISTO AVALIA A IGREJA DE ÉFESO (2.4-5)
Nesta terceira seção, vemos que Jesus passa dos elogios a igreja de Éfeso para uma íntima avaliação. Todavia, esta avaliação sondadora de Jesus é baseada nestes 4 imperativos em pauta:
a) Uma singela repreensão (vs.4).
Após sua avaliação, Jesus repreende os Efésios enfaticamente por eles terem abandonado o primeiro amor. “A luta pela ortodoxia, o intenso trabalho e as perseguições levaram a igreja à aridez”.20 Michael Wilcock salienta que “na busca constante pela preservação da verdade, a igreja em Éfeso tinha perdido o amor, qualidade sem a qual todas as outras (vs.2-3,6) não têm sentido”.21
O primeiro amor não são as emoções fortes que nos faziam sentir a presença de Deus no inicio da fé, pois não se pode esperar que elas permaneçam em todo o tempo. Mas o primeiro amor é o zelo por Deus que tem de ser renovado dia após dia pela convicção de pecados, pelo arrependimento e pela constante consagração.
O que os Éfesios haviam abandonado era este intenso e fervoroso amor que nos faz amar estarmos sempre na presença de Deus gozando da alegria de uma comunhão profunda com Ele através da oração e dos louvores. (Sl 16.11b) Na tua presença há plenitude de alegria. ARA
Adolph Pohl diz que a igreja de Éfeso havia abandonado o primeiro amor “não como um ato de rejeição, e sim de esquecimento. Assim como se empenhavam com disposição pelo presente e pelo futuro (vs.2-3), assim sofriam de um esquecimento perigoso do seu tempo inicial e originário”.22
Simon Kistemaker expande a questão alume:
“Quando Jesus diz que os Efésios haviam perdido o seu primeiro amor, ele não quer dizer que eles vivam e agiam sem sentir amor por Deus ou pelo seu próximo. O adjetivo primeiro enfatiza que a igreja em que Jesus se dirigiu não mais consistia de crentes da primeira geração, mas de cristãos da segunda e terceira geração. Tais pessoas eram destituídas do entusiasmo demonstrado por seus pais e avós. Eles não mais agiam como propagadores da fé cristã, mas apenas como zeladores e guardiões.
Em contrapartida, a primeira geração dos crentes fizeram um extraordinário esforço para que em Éfeso a palavra do Senhor se difundisse amplamente e crescesse em poder (At 19.20). Nos últimos anos, Paulo escreveu uma carta e os elogiou por sua fé no Senhor Jesus e seu amor por seus irmãos (Ef 1.15). Os filhos e netos dessas pessoas se opunham a heresia e demonstravam persistência no preenchimento das necessidades da igreja, porém seu entusiasmo pelo Senhor era muito pouco”.23
APLICAÇÃO
Assim como os Efésios, nós podemos perder o amor por Deus quando trocamos o amor pelo trabalho; quando trocamos o amor pelo zelo doutrinário e quando denunciamos o erro doutrinário nos outros sem olhar para nós mesmos e ver se estamos errados ou não.
É possível trabalhar diligentemente para Deus, perseverar em meio ao sofrimento glorificando a Cristo, ser um profundo conhecedor e exímio defensor irrefutável do verdadeiro evangelho denunciando as heresias sem amor por Deus.
Que possamos mudar esta realidade crescendo tanto na graça quanto no conhecimento de Cristo Jesus o nosso Senhor (2Pe 3.18).
*BARCLAY diz que a expressão abandonaste o teu primeiro amor pode ter dois significados: 1) A perda pelo amor inicial a Cristo (ver Jr 2.2); 2) A perda do amor fraternal entre os irmãos. Posição na qual ele estava inclinado a acreditar como a mais provável aqui neste contexto. (Apocalipse, pág 74-75).
* Existem pelo menos 3 linhas de opiniões sobre o possível significado deste amor que os Efésios haviam perdido. 1) O amor por Cristo; 2) O amor pelos irmãos; 3) O amor pelas pessoas em geral. Ao meu entender, a melhor interpretação acerca do significado do amor perdido pelos Efésios, e que não causaria problemas hermenêuticos seria o amor por Cristo (ver Mt 22.37-40).
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20- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 22.
21- Michael Wilcock. A mensagem de Apocalipse, pág 18.
22- Adolph Pohl. Comentário Esperança. Apocalipse, pág 57.
23- Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 155-156.
b) Um alerta solene (vs.5a).
A igreja de Éfeso agora é alertada por Cristo a relembrar-se de sua queda. A igreja não deveria relembrar em qual situação ou em que pecado caiu, mas de onde caiu, ou seja, de qual posição havia caído.
Os Efésios deveriam refletir e trazer a memória os tempos passados, quando a devoção por Cristo de seus antepassados e familiares na igreja há 40 anos era intensa e fervorosa, e com isto, fazerem uma comparação com o seu estado espiritual presente e reconhecerem sua queda. A perda do primeiro amor é considerada por Jesus uma queda.
* O verbo caiu (vs.5a) está no pretérito perfeito e indica que se passou um bom tempo desde que começou o declínio da igreja de Éfeso.
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c) Uma ordem imediata (vs.5b).
O termo “arrepende-te no grego μετανοώ (metanoeo) significa mudar de mente, pensar diferente”.24 “A ordem para arrepender-se está no tempo aoristo, que sintetiza uma ação única que está para terminar de uma vez por todas”.25
O que Jesus está querendo dizer com esta ordem é que os Efésios deveriam se arrepender imediatamente e sinceramente de sua condição espiritual ofusca, e este arrependimento deveria consistir no retorno a prática das mesmas obras que os seus antecessores praticavam no princípio da igreja.
Estas obras não são classificadas como novas obras, no entanto, são as mesmas obras que já estavam sendo praticadas pelos Efésios, (zelo no serviço para Cristo, zelo pela sã doutrina e a perseverança em meio ao sofrimento) porém, agora, estas obras deveriam ser motivadas pelo ardente amor por Cristo (Rm 12.11).
APLICAÇÃO
“Arrependimento não é emoção, é decisão. É atitude. Não precisa existir choro, basta decisão. O Filho pródigo não só se lembrou da Casa do Pai, mas voltou para a Casa do Pai. Lembrança sem arrependimento é remorso. Essa foi a diferença entre Pedro e Judas. Arrepender é mudar a mente, é mudar a direção, é voltar-se para Deus”.26
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24- Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguistica do Novo Testamento Grego, pág 607.
25- Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 156.
26- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 24.
d) Uma grave ameaça (vs.5c).
Caso os Efésios falhassem em não colocar em prática tudo o que Jesus havia lhes ordenado a fazer, isso culminaria numa drástica conseqüência, a saber, a remoção do candeeiro. Este fato faz alusão a Jesus executar o seu juízo riscando definitivamente do mapa a igreja de Éfeso, ou seja, seria o fim da existência desta igreja (1Pe 4.17).
“A igreja de Éfeso deixou de existir. A cidade de Éfeso deixou também de existir”.27 “Este acabou sendo o fim de Éfeso: seu candeeiro foi removido. A cidade nunca mais reconquistou seu primeiro amor. Os mongóis, (um exercito de caçadores e rebanhistas guerreiros) destruíram-na em 1403”.28 “Hoje, só existem ruínas e a lembrança de uma igreja que perdeu o amor por Deus”.29
* Uma década após João haver escrito o apocalipse, Inácio escreveu uma carta à igreja de Éfeso, na qual ele enaltece os cristãos locais por sua perseverança e sua resistência aos enganos. Ele nota que algumas pessoas da Síria se transferiram para Éfeso com ensinos nocivos, porém os Efésios se recusaram a dar-lhes ouvidos. Ele os elogia por serem de uma só mente com os apóstolos no poder de Jesus Cristo. (Simon Kistemaker citando Inácio, Efésios 3.1; 6.2; 8.1; 9.1; 11.2).
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27- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 24.
28- Rubens Szczerbacki. Revelando os Mistérios do Apocalipse, pág 49.
29- Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico expositivo de Apocalipse, pág 24.
CONCLUSÃO
4- UMA PROMESSA DE CRISTO AOS VENCEDORES (2.7)
a) Um chamado a obediência (vs.7a).
Depois dos elogios, da avaliação critica e da exortação, Jesus agora conclui sua mensagem a igreja de Éfeso convocando-os os a aplicarem todo o conteúdo descrito nesta carta na vida prática e mostrando o resultado doravante a esta aplicação.
A primeira expressão: “quem tem ouvidos para ouvir denota a capacidade de uma pessoa ouvir, e uma disposição acompanhada de dar ouvidos.
A segunda expressão: ouça o que o Espírito é uma ordem para ouvir atentamente e de maneira obediente às palavras de Jesus ditas por meio do Espírito”.30 E por fim, a última expressão: diz as igrejas significa que a mensagem desta carta não foi restrita somente a igreja de Éfeso, mas ela foi destinada e se aplicava as outras igrejas das outras cidades da Ásia menor, e também se aplica a todas as igrejas de todas as épocas.
* A expressão quem tem ouvidos, ouça foi usada muitas vezes por Jesus durante ser ministério terreno (Mt 11.15; 13.9, 43; Mc 4.9,23; Lc 8.8;14.35; ver também Ap 13.9). Aqui uma versão extensa aparece com as palavras o que o Espírito diz às igrejas, ocorrendo em cada uma das 7 cartas (2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13, 22).
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30- Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 160.
b) O resultado da obediência (vs.7b).
Através da resposta em aplicar a série dos imperativos apresentados por Jesus na vida prática, esta pessoa é considerada pelo próprio Cristo como vencedor. E como resultado disso, o vencedor terá direito a se alimentar da árvore da vida que está no paraíso de Deus.
O vencedor aqui é o verdadeiro cristão que permaneceu fiel sendo zeloso no serviço a Deus, sendo zeloso a são doutrina opondo-se aos falsos mestres, e sendo perseverante no sofrimento glorificando assim o nome de Jesus (vs.2-3).
Entretanto, todas estas exigências feitas por Jesus ao cristão não é a condição para que ele possa ser salvo. Pelo contrário, a observância do cristão as estas exigências atestam o seu genuíno caráter de vencedor (Tg 2.14-26). Noutras palavras, o cristão não obedece às palavras de Jesus para ser salvo, mas ele é salvo para obedecer às palavras de Jesus, e por isto obedece (Ef 2.10).
O termo paraíso no grego παράδεισος (paradeisos) traz a idéia de “um jardim fechado. Conforme o ensino rabínico havia um tríplice paraíso: o de Adão onde estava a árvore da vida, o das almas no céu, que é o lugar de habitação dos redimidos entre a morte e a ressurreição; e o paraíso escatológico era considerado o paraíso de Adão restaurado com a árvore da vida”.31
Esta palavra descreve também a vida mais que abençoada que os verdadeiros cristãos terão no novo céu e na nova terra, onde não haverá mais choro, dor, angustia e sofrimento, haverá sim uma alegria indizível, paz e uma doce comunhão inefável com os irmãos e com Deus para todo o sempre amém!
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31- Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguistica do Novo Testamento Grego, pág 607
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