ALGUMAS IMAGENS PAULINAS DA SALVAÇÃO
As epístolas de Paulo determinaram-se a explicar alguns dos aspectos da fé cristã a seus leitores — em geral, em situações de controvérsia — e a encorajar sua aplicação na vida dos cristãos. Portanto, não deve surpreender-nos o fato de Paulo tratar, com freqüência, da questão sobre aquilo que havia sido especificamente alcançado para os cristãos por meio da morte de Cristo. Dentre as imagens utilizadas por Paulo com essa finalidade, agora analisaremos quatro delas:
1. Adoção. Em diversos pontos Paulo se refere aos cristãos como "adotados" na família de Deus (Rm 8.15,23; Gl 4.5). De modo geral acredita-se que Paulo esteja aqui se fundamentando em uma prática legal, comum à cultura greco-romana (embora não reconhecida pela lei judaica, o que é curioso). De acordo com diversos intérpretes de Paulo — como, por exemplo, F. F. Bruce - referir-se aos "cristãos" como adotados na família de Deus é defender a tese de que os cristãos compartilham dos mesmos direitos herdados por Cristo e que, portanto, receberão a glória que Cristo alcançou (embora somente após ter primeiro compartilhado de seu sofrimento).
2 Justificação. Especialmente nas epístolas que tratam da relação entre cristianismo e judaísmo (como Gálatas e Romanos), Paulo declara que os cristãos foram "justificados pela fé" (e.g., Rm 5.1,2). De modo geral, considera-se que essa afirmação envolve uma mudança na posição legal do cristão aos olhos de Deus, bem como a certeza de sua justificação final diante de Deus, apesar de sua natureza pecaminosa. Portanto, o termo "justificação" e o verbo "justificar" adquirem o significado de "entrar em relacionamento com Deus" ou, talvez, "ser tido como justo aos olhos de Deus". A Reforma testemunhou um importante debate sobre o significado do termo justificação, que será analisado.
3 Redenção. Esse termo primordialmente guarda o sentido de "assegurar a libertação de alguém mediante pagamento". No mundo antigo, que serviu de cenário ao pensamento de Paulo, esse termo poderia ser usado em relação à libertação de prisioneiros de guerra, ou, ainda, para assegurar a liberdade daqueles que haviam sido vendidos como escravos, usualmente para pagamento de dívidas da família. A idéia básica de Paulo parece ser a de que a morte de Cristo assegura a liberdade dos cristãos da escravidão, da lei e da morte, para que possam se tornar assim servos de Deus (lCo 6.20; 7.23).
4 Salvação. E importante considerar o fato de que Paulo emprega uma rica diversidade de imagens para esclarecer que benefícios Cristo assegura aos cristãos. Um dos termos que ele utiliza com esta finalidade é, "salvação". Por razões óbvias, este termo normalmente é visto como o principal, superando em importância os demais. Na verdade, ele possui uma série de associações específicas, que precisam ser analisadas. A noção básica é a de libertação do perigo ou da escravidão, abrangendo também a idéia de libertação de alguma forma de enfermidade fatal. Podemos ver noções como "cura" e "libertação" sendo englobadas por esse termo. Como já dissemos, Paulo vê a salvação como algo que possui uma dimensão passada (e.g., Rm 8.24), presente (e.g., lCo 1.18), e futura (e.g., Rm 13.11). Isso tem importantes implicações para uma compreensão escatológica da salvação.
Fonte: Alister E. Mcgrath – Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica.
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