A existência humana é vivida coram Deo, "diante de Deus" ou "na presença de Deus", diz Lutero. Calvino fez uma afirmação semelhante ao insistir que, em todas as dimensões da vida, os seres humanos têm "negócios com Deus" (negotium cum Deo).
Isso não está relacionado a uma crença formal em Deus, daí ele ter rejeitado os argumentos clássicos da existência de Deus. Para Lutero, "Deus" nunca pode ser colocado entre aspas. O grande pecado da teologia escolástica (e também, da perspectiva de Lutero, da filosofia neokantista) foi precisamente a tentativa de fazer de Deus um conceito ordenador, o Princípio Primeiro ou mesmo o Ser Necessário.
Tal procedimento colocava Deus à distância, fazia dele o objeto de uma inquirição neutra e, assim, eximia as pessoas de decidirem a favor de Deus ou contra ele. Mas o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo não é um Deus que possamos discutir ou raciocinar, um Deus cuja existência possa ser verificada na fria objetividade de um seminário. O Deus vivo da Bíblia é o Deus que nos encontra em juízo ou misericórdia, o Deus que nos condena e salva.
Coram Deo significa que, enquanto estamos sempre à disposição de Deus, ele nunca está à nossa disposição. "Acreditar num Deus assim", disse Lutero, "é cair de joelhos."
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