quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Há Pecado mais Grave que Outro?


Há algum tempo um grupo de jovens cristãos discutia sobre pecado. Com base no primeiro capítulo da Epístola de Paulo aos Romanos, tentavam chegar à conclusão de que não há pecado mais grave ou menos grave que outro, já que o apóstolo condena tanto o homossexualismo (1.26-27) como a injustiça, a avareza, a inveja, o homicídio, a contenda, a soberba, a calúnia e outros delitos (1.28-32).

É muito positivo que se chame honestamente o pe­cado de pecado. Porque as primeiras providências para superar o problema do pecado começam com o reco­nhecimento explícito dele. Mas é preciso tomar todo cuidado para não diminuir a gravidade de alguns peca­dos por uma questão de cultura e conveniência. Seja grave ou não, pecado ainda é "qualquer falta de confor­midade com a Lei de Deus e qualquer transgressão dessa Lei", como reza o Catecismo Menor, elaborado pela Assembléia de Westminster, que se reuniu em Londres, de 1643 a 1649.

Certamente há pecados mais graves que outros pecados. A Bíblia tanto fala de “grave aflição” (Ec 6.2), “causa grave” (Êx 18.22), “grave chuva de pedras” (Êx 9.18), “enfermidade grave” (2 Cr 16.12) e “defeito [físico] grave” (Dt 15.21) como de “grave delito” (Gn 26.10), “grave mal” (Ec 5.13), “pecado grave” (Am 5.13), “rebelião grave” (Lm 1.20) e “grave transgressão” (Ez 14.13). Uma das lamentações de Jeremias enfoca essa questão: “Jerusalém pecou gravemente, por isso se tornou repugnante; todos os que a honravam, a desprezam, porque lhe viram a nudez; ela também geme e se retira envergonhada” (Lm 1.8).

As Escrituras Sagradas chegam a mencionar o mais grave de todos os pecados. É o “pecado eterno” (Mc 3.29), o “pecado sem perdão” (Mt 12.32), o “pecado para morte” (1 Jo 5.l6). Trata-se do pecado da blasfêmia contra o Espírito Santo, o pecado da rejeição consciente do evangelho, o pecado da “negação total e persistente da presença de Deus em Cristo” (G. M. Burge), o pecado da impenitência final.

Mede-se a maior gravidade de um pecado sobre outro quando se leva em conta o seguinte: 1) o volume de transtornos que esse pecado provoca na vida do próprio pecador; 2) o número de vítimas inocentes atingidas pelo pecado individual; 3)a intensidade do risco de se cair naquele círculo vicioso de que “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7); 4) o tamanho do prejuízo que o pecado causa no testemunho da igreja de Deus.

Além disso é necessário ter em mente que quanto mais responsabilidade tem uma pessoa, mais grave se torna o seu pecado, seja ele qual for. O adolescente que rouba do supermercado uma barra de chocolate comete pecado. Mas o pastor que rouba um envelope de dízimo do gazofilácio comete pecado muito mais grave, que pode destruir por completo o seu ministério.

Um rapaz e uma jovem que entram em acordo para praticarem o amor livre estão em pecado à luz da lei de Deus, que prevê o saudável exercício sexual sob a proteção do matrimônio. Mas se o mesmo rapaz obriga a moça a se deitar com ele, seu pecado é muito maior.

O adultério mental é pecado, de acordo com o Sermão do Monte (Mt 5.27-28). Mas a efetivação do adultério é muito mais grave, pois envolve outra pessoa e fere profundamente o cônjuge e os filhos traídos. O mesmo se pode dizer da ira e do homicídio (Mt 5.21-22). O primeiro é muito menos grave que o segundo.

A prostituição é pecado, pois trata-se de uma profanação do corpo (1 Co 6.15-20) e de uma comercialização do sexo, mas a prática homossexual é mais grave, porque, além de ser uma relação ilícita, é contrária à natureza (Rm 1.26-27).

A classificação do pecado em grave e menos grave é inevitável e, até certo ponto, saudável. Porém este exercício exige um acentuado critério. Ninguém está livre para cometer pecados “leves”. Muito menos para cometer pecados graves, especialmente o “pecado para a morte”. Todos precisam se resguardar da tentação de considerar o pecado alheio como pecado grave e o pecado próprio como pecado não grave. A gravidade ou não de um pecado não pode ser avaliada por aquele esquema sutil e duvidoso de defesa pessoal e de cultura coletiva.

Fonte: Elben M. Lenz César

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