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Esse artigo é um verdadeiro show de horrores de um ponto de vista ético, porque usa de desonestidade intelectual, indigna de alguém que se denomina cristão.
Como exemplo de desonestidade intelectual, transcrevo abaixo uma de suas afirmações na busca de provar que os cessacionistas fundamentam a sua posição comum, de que determinados dons cessaram na era apostólica, na experiência pessoal:
“O pastor presbiteriano Misael Nascimento, por exemplo, em seu artigo Porque sou cessacionista, já, logo de início, confessa que seu texto não é resultado ‘de cogitações teóricas de gabinete, mas de prática pastoral’. Isso quer dizer que sua negação à atualidade da existência dos dons sobrenaturais está baseada mais em sua própria experiência do que em um raciocínio fundamentado nas Escrituras”.
Eis um exemplo objetivo de desonestidade intelectual, pois quem se dispuser a ler o texto de Misael Nascimento (o qual eu nem conheço, nunca o vi mais gordo ou mais magro), logo em seu início, perceberá que a frase destacada não visa demonstrar a veracidade do cessacionismo a partir das experiências pastorais do autor de “Porque Sou Cessacionista”, mas sim destacar a sua motivação em escrever o artigo, o fato de que permanentemente em seu ministério ele é instado a responder sobre a posição da Igreja Presbiteriana do Brasil a respeito dos dons espirituais. Senão vejamos, abaixo:
“O presente texto não resulta de cogitações teóricas de gabinete, mas de prática pastoral. O contato cotidiano com os crentes exige, repetidas vezes, a resposta à pergunta: “Pastor, qual é a posição de nossa igreja sobre os dons espirituais?”
Ou seja, Misael Nascimento diz que o texto que escreveu sobre cessacionismo não foi motivado por preocupação meramente acadêmica, mas sim pela necessidade prática que o seu ministério pastoral lhe impunha. Ele não está tentando provar a veracidade bíblica do cessacionismo pela experiência obtida em seu gabinete pastoral.
Eu não consigo entender como alguém, denominado de cristão, necessita distorcer uma frase tão clara para fundamentar a sua argumentação e ainda se ache digno de confiança em sua interpretação bíblica.
Porém, a desonestidade intelectual a que me referi se encontra, também, na afirmação seguinte:
De novo, quem se dispuser a ler o pequeno artigo do pastor Misael Nascimento entenderá, à luz de suas palavras iniciais, que ele está buscando demonstrar a posição da IPB a respeito da cessação dos dons ligados ao ministério apostólico, e por isso cita os símbolos de Westminster, as decisões do Supremo Concílio da IPB, etc. O pastor Misael não escreveu um artigo bíblico-exegético-teológico sobre a veracidade do cessacionismo, mas sim um que busca fundamentalmente demonstrar a posição da IPB sobre o assunto. Qualquer alusão à veracidade bíblica do cessacionismo é meramente incidental.
“O próprio pastor Misael, para justificar a doutrina que defende, faz uso de tudo: de documentos presbiterianos, como a Confissão de Westminster e decisões conciliares e até da experiência prática de outros ministros de sua denominação. Na verdade, do que ele menos faz uso, neste caso, é da Bíblia, o que não combina muito com a tradição calvinista”.
De novo, quem se dispuser a ler o pequeno artigo do pastor Misael Nascimento entenderá, à luz de suas palavras iniciais, que ele está buscando demonstrar a posição da IPB a respeito da cessação dos dons ligados ao ministério apostólico, e por isso cita os símbolos de Westminster, as decisões do Supremo Concílio da IPB, etc. O pastor Misael não escreveu um artigo bíblico-exegético-teológico sobre a veracidade do cessacionismo, mas sim um que busca fundamentalmente demonstrar a posição da IPB sobre o assunto. Qualquer alusão à veracidade bíblica do cessacionismo é meramente incidental.
A IPB é uma igreja confessional, que adota símbolos de fé como expressão teológica de sua interpretação das Escrituras, por isso o pastor Misael apelou a esses símbolos para demonstrar aos presbiterianos, e nem a todos os presbiterianos (há várias denominações presbiterianas), mas aos membros da IPB, a posição dessa igreja sobre determinados dons espirituais. Ou seja, o pastor Misael adotou um procedimento absolutamente coerente com o seu propósito. Onde está a incoerência?
Por fim, tenho que salientar que há um ser que se deleita em distorcer as palavras alheias, dando-lhes sentidos diversos dos pretendidos por seus autores. Tal ser é o pai da mentira, e a Bíblia o chama de diabo.
Resposta do Fabio Blanco a esta primeira parte:
Primeiramente, quero esclarecer que não o chamei simplesmente de desonesto, porque tudo o que conheço de sua vida é o artigo que li. Não sei como é sua vida na igreja, nas suas relações de consumo, nas suas relações interpessoais, etc. Então, jamais o chamaria de desonesto.
É impressionante como os brasileiros usam adjetivos depreciativos com tanta facilidade. Chamar alguém de desonesto parece tão trivial como dizer oi! De qualquer forma, relendo o texto do pastor Misael, percebi que você tem razão quanto à primeira frase. Porém, convenhamos que a redação é passível de confusão. Ele deveria ter escrito que o texto é uma resposta e não um resultado. Ainda assim, todo seu argumento, apesar de ser uma confirmação da própria doutrina da IPB, é, ao mesmo tempo, uma adesão do próprio pastor. Ele usa os documentos e as razões presbiterianas para confirmar seu próprio entendimento. A incoerência, porém, reside no fato de que as razões presbiterianas estão, em grande parte, baseadas nos supostos males causados pelo continuísmo (ornamentado, obviamente, com uma justificativa bíblica forçada). Isso é incoerente com os pressupostos calvinistas da Sola Scriptura. No caso, mais do que as Escrituras, é uma lógica teológica específica que está prevalecendo. Ainda assim, farei uma referência ao seu comentário no próprio texto.
Primeiramente, quero esclarecer que não o chamei simplesmente de desonesto, porque tudo o que conheço de sua vida é o artigo que li. Não sei como é sua vida na igreja, nas suas relações de consumo, nas suas relações interpessoais, etc. Então, jamais o chamaria de desonesto.
Veja que inicio meu comentário com “Esse artigo...usa de desonestidade intelectual...”. Tudo o mais no meu comentário é determinado pela introdução. A desonestidade a que me referi se refere estritamente à argumentação no artigo que comentei. Usando como analogia uma conhecida parêmia jurídica, a de que o que não está nos autos não está no mundo, digo que o que não está no artigo não está no mundo, ou seja, não conheço o seu viver para chamá-lo de desonesto. Reitero que me referi unicamente à desonestidade que vislumbrei na argumentação, de modo que levaria seus leitores à uma má avaliação do escrito de Misael Nascimento. Julguei que a minha introdução deixaria absolutamente claro isso.
Reitero, também, que a introdução que Misael Nascimento fez em seu artigo é muito clara, e não deixa qualquer dúvida a respeito de sua significação, de que a sua experiência pastoral foi a motivadora de ele escrever um artigo para demonstrar aos presbiterianos a posição oficial da IPB sobre os dons espirituais. Também a estruturação do artigo demonstra seu intento, e a coerência do uso das fontes que fez.
Um leitor com vasta formação acadêmica, como parece ser o seu caso, não poderia tropeçar em interpretação tão fácil. Um ginasial, usando uma antiga denominação, até o poderia, mas não é o seu caso, que deve ser um homem habituado à leitura.
Quero dizer que meu comentário foi forte, mas foi intencionalmente para levá-lo a enxergar o erro de avaliação que tinha feito a respeito do escrito do Sr. Misael Nascimento. Foi com motivação cristã.
Fico absolutamente feliz em ver que pelo menos em parte você reconheceu que avaliou mal as palavras que citou do Pr. Misael. Digo isso porque tenho visto nesse mundo de blogueiros cristãos, e de usuários cristãos de redes sociais, tanta truculência, tanta falta de humildade, tanta relutância em se voltar atrás, que embora desejasse que você reconhecesse o erro, não esperava que isso ocorresse. Por isso, eu o louvo, pois uma das coisas mais belas do cristianismo é que ele é constituído de homens pecadores, que erram, mas que voltam atrás, quando necessário.
Penso que o seu anticessacionismo o levou a argumentar da forma que fez. As pressuposições de alguém podem levá-lo à avaliação distorcida de dados que se lhe apresentam. Todos nós estamos sujeitos a isso, pois todos temos as nossas pressuposições. No entanto, cabe-nos o esforço para que as nossas pressuposições interfiram o mínimo possível em nossas críticas daquilo que se nos aparece diante dos olhos.
Como exemplo, cito que você afirma que não há na Escritura qualquer menção de que os dons serviram para a autenticação da mensagem apostólica. O Evangelho de Marcos não é canônico? O final desse Evangelho, a despeito das disputas existentes sobre ele em nível de crítica textual, não tem sido considerado canônico pela igreja cristã nos últimos dois mil anos?
Contudo, nesse evangelho, nos é dito que Jesus apareceu aos seus onze apóstolos e os censurou por descrerem em sua ressurreição, ou melhor, no relato da sua ressurreição: “Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado.”(Marcos 16:14 RA). Perceba que Jesus os censurou “... porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado...”.
Nesse contexto, Jesus os manda pregar por todo o mundo: “... Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”(Marcos 16:15 RA). No que consistiria, então, a pregação apostólica do evangelho? Obviamente que na mensagem da ressurreição daquele que era o Cristo, Jesus. Então, em conexão com a mensagem de sua ressurreição, Jesus disse:“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados” (Marcos 16:17-18 RA).
Veja que Jesus designa de sinais dons como o de línguas, de expulsar demônios e de cura. Ele também enfatizou que seria em seu nome, ou seja, em consonância com a mensagem de sua ressurreição (o contexto implica nisso) que tais dons seriam exercidos.
Então, o evangelho arremata: “E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.” (Marcos 16:20 RA). Claramente o autor do evangelho está afirmando que os sinais dos quais Jesus falara que acompanhariam a mensagem de sua ressurreição foram atestatórios da pregação apostólica: “E eles (os apóstolos), ... pregaram..., cooperando com eles (os apóstolos) o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais...”.
Como, então, você afirma que não há na Escritura passagem alguma que afirme que os dons foram atestatórios da pregação apostólica? A não ser que se extirpe o final do evangelho de Marcos do Cânon, ou que se o torça, há, sim, passagem clara ensinando que determinados dons seriam atestatórios de que os apóstolos pregavam a mensagem de um Cristo ressuscitado. O Seu anticessacionismo o leva a não enxergar algo tão límpido como a água mais cristalina.
Espero, sinceramente, que você reveja o seu escrito por completo. Reveja que você asseverou que a igreja de Corinto era uma igreja gentílica (verdade), localizada fora do ambiente judaico e distante dos apóstolos (não é verdade), e que por isso quando Paulo falou dos dons não poderia estar se referindo a algo ligado à pregação apostólica (também não é verdade).
E por acaso Paulo não era apóstolo? Que ele responda: “Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros...” . E nesse mesmo versículo ele diz: “... vós sois o selo do meu apostolado no Senhor” (1 Coríntios 9:2 RA). A igreja de Corinto era tão apostólica (sob a autoridade dos apóstolos) que Paulo diz que ela selava o seu apostolado no Senhor, isto é, selava o fato de que ele era um verdadeiro apóstolo de Cristo.
Todavia, Paulo foi mais além, e disse que as suas credenciais apostólicas entre os coríntios foram autenticadas por sinais que se manifestaram no meio deles: “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós, com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas” (2 Coríntios 12:12 RC).
Ora, mas entre os sinais que Jesus disse que acompanhariam a pregação apostólica estão aqueles listados na carta aos coríntios, e um apóstolo inspirado afirmou que tais sinais se manifestaram entre eles como autenticação de seu apostolado, o que equivale a dizer que tais sinais foram atestatórios de sua pregação da ressurreição de Jesus, pois esse apóstolo disse que antes de qualquer coisa entregou a eles, aos coríntios, o que recebeu, a mensagem da morte e ressurreição de Jesus: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. [...] e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo” (1 Coríntios 15: 3-5;8 RA).
Então, somente com desconsideração de todas as evidências alguém pode afirmar que não há na Escritura correlação entre determinados dons e a pregação apostólica da ressurreição de Jesus Cristo. Seu anticessacionismo o impede de ver claramente.
Veja que eu não argumentei em prol do cessacionismo, ou seja, no sentido de prová-lo, embora eu mesmo seja cessacionista, e um ex-continuísta. Meus argumentos não provam a posição cessacionista, pois eu teria que refiná-los, e adicionar mais coisas a eles, mas apenas que há na Escritura prova de que determinados dons se relacionavam com a pregação apostólica.
Que Deus te dê olhos para ver e ouvidos para ouvir.
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Divulgação: Bereianos
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