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Por André R. Fonseca
Chegamos então ao último artigo da série. Por simples Graça, já foi possível ouvir de algumas pessoas que a série foi abençoadora, contribuiu para construir uma fé mais sólida e espantar o medo promovido pela ignorância. E minha proposta para fechar a série é lançar algumas questões para reflexão.
Deus se revela ao homem por meios inteligíveis. Ele escolheu comunicar-se com o homem através de seus sentidos, emoções e linguagem. Sua “comunicação” com o homem nunca está fora de seu próprio tempo, apesar de ser um ser eterno e fora do tempo. Nunca está fora do contexto cultural, social ou alheio às necessidades humanas. Um dos conceitos básicos com relação aos atributos divinos é o seu “ser pessoal”. Deus é um ser pessoal que se relaciona com sua criação. Sua capacidade e “interesse” em ter um relacionamento com sua criação no nível mais pessoal possível foi grandioso ao ponto de se fazer carne, à semelhança de sua criação pecaminosa com suas limitações, para resgatá-los para si mesmo! Deus falou com o homem por meios de sonhos e visões, depois por meio de seus profetas; mas nada pode se comparar com sua manifestação em carne. Nada poderia ser mais pessoal do que tocar na carne leprosa com mãos humanas para curar, falar aramaico com som audível e inteligível para ensinar sua lei sem derreter montanhas e fulminar a carne de pecado! Enquanto debaixo da lei ninguém poderia tocar no monte de onde se ouvia a voz divina e continuar vivo; agora, por meio da Graça em Jesus Cristo, todos podiam se assentar no monte para ouvir as instruções do Logos Divino e ganhar a vida eterna!
Quando o Verbo da Vida se faz carne e fala ao povo em aramaico, não estamos diante de novidade alguma! Deus já havia, por meio de Neemias e Esdras, traduzido sua Lei do hebraico para o aramaico, visando entregar ao seu povo eleito a sua Palavra em linguagem que eles pudessem compreender para continuar a obedecer. Por causa da dispersão dos judeus entre as nações e o domínio do império helênico com sua influência também na língua, as sagradas letras são traduzidas para o grego. Isso é manifestação da Graça de um Deus zeloso por sua Palavra e por seu relacionamento com o homem. Sua Palavra é preservada e se transforma com o homem, em parte, porque Deus é um Deus pessoal. Hoje, não pode ser diferente! Deus continua desejando ser entendido e assim revelado a todas as pessoas independente de suas competências e instrução escolar. Deus é SENHOR de analfabetos e doutores. Não devemos limitar o conhecimento de Deus aos instruídos, é nossa obrigação facilitar o acesso dos fracos e humildes ao conhecimento de Deus. Devemos produzir Bíblias em áudio para quem não sabe ler, e aí não adianta falar um “almeidês” que eles não podem entender. Precisamos utilizar uma linguagem que eles compreendam com clareza a revelação divina, assim como ele mesmo, o Verbo da Vida, nos ensinou: “... Jesus falava ao povo de um modo que eles podiam entender” - Marcos 4:33.
Assim também pensavam os escritores do Novo Testamento. Não escreveram suas cartas e evangelhos em outra língua senão aquela que poderia ser compreendida por todos: o grego coiné. Não era o grego clássico que poderia ser compreendido apenas pela elite, mas um grego comum falado pelo povo comum e de maneira alguma longe da compreensão também da elite com bom e refinado grego. As citações do Antigo Testamento são, em sua maioria, da Septuaginta – a tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego.
A Septuaginta está longe de ser considerado um primor de tradução. Seria melhor para Paulo, fariseu culto e muito bem habilitado para fazer perfeita exegese do texto original hebraico, ter utilizado como fonte a Bíblia hebraica para suas citações e construções teológicas. Contudo, Paulo preferiu a clareza do texto citado em grego coiné à precisão exegética do texto original hebraico. Onde estava a neura dos hagiógrafos do Novo Testamento? Por que devemos insistir numa tradição quando não encontramos um paralelo sequer nos textos bíblicos?
Jesus disse: “As palavras que eu lhes disse são espírito e vida” – João 6:63. É evidente que essa declaração é verdadeira! Mas será que essa natureza de suas palavras está na “literalidade da letra”? Se a vida pudesse ser encontrada na precisão da letra, por que Jesus repreendeu os fariseus que buscavam encontrar a vida eterna nas “letras”? Ninguém conhecia a “letra” melhor do que um fariseu. Eles viviam contando cada letra, interpretando cada palavra, tudo minuciosamente. Toda a Torá era decorada, letra por letra, muito antes de atingir a vida adulta. Conhecer a “letra”, em sua literalidade e precisão, nunca foi garantia de vida eterna!
“Vocês estudam as Escrituras Sagradas porque pensam que vão encontrar nelas a vida eterna” – João 5:39. Como assim “pensam”? Não é para ser assim!? Pode ser frustrante para alguns pensar que estudar, examinar, analisar minuciosamente as letras da Palavra não resulta em encontrar nelas, automaticamente, a vida eterna. A “mágica” não está na “letra”! O dia que eu depender da “literalidade da letra” estarei longe da vida, antes ela me matará! O eleito será salvo pela regeneração do Espírito, pelo dom da fé que lhe será dado. Parafraseando 2 Coríntios 2:14-18, digo: Antes da regeneração do Espírito qualquer palavra não terá valor para a vida, terá cheiro de morte! Somente o Espírito faz, para os que vão sendo salvos, a “letra” ter um cheiro suave e agradável que dá vida! Então, qual tradução é capaz de realizar um trabalho como esse? Será a Almeida, NVI ou NTLH? Texto Recebido ou Texto Crítico? Quem é capaz de dar vida ao homem, morto em seus delitos e pecados? Se é a letra, por que os fariseus não enxergaram Cristo nas Escrituras (originais!) por meio de tanta dedicação à letra?
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