Conforme aprendemos em 2 Crônicas 26:5, Uzias "deu-se a buscar a Deus nos dias de Zacarias, entendido nas visões de Deus: e nos dias em que buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar". Ele saiu a guerrear e o Senhor o ajudou.
Não
precisamos nos deter na descrição do numeroso exército do rei Uzias.
Passaremos às instruções que Deus nos dá a este respeito. "E voou a sua
fama até muito longe; porque foi maravilhosamente ajudado até que se
tornou forte."
Existem
poucas expressões mais marcantes do que esta. Alguém poderia ter
pensado que o objetivo que Uzias buscava era ser forte. Todavia, a força
que por natureza cobiçamos é independência de Deus. Vemos santos se
lamentando de sua fraqueza, e o que querem dizer com isso? Acaso não é
por não terem recursos em si próprios? Esquecemo-nos de que toda a
verdadeira força provém da plenitude que há em Jesus, do contrário
deveríamos estar sempre prontos a dizer, como Paulo, "Quando estou fraco
então sou forte" (2 Co 12:10). É preciso que sejamos privados de todos
os recursos que existem em nós mesmos, para podermos reconhecer que
nossa força está nEle.
Quando
Uzias sentiu-se forte, transgrediu contra o Senhor Deus. Há grande
perigo em substituirmos os múltiplos meios pelo Senhor. Podemos nos
apoiar nos meios esquecendo que não são eles a fonte de suprimento.
Assim
foi com a história da Igreja. Ela foi maravilhosamente auxiliada até
que ficou forte, e então, quando estava forte, seu coração se enalteceu.
Os santos em Corinto dispunham de múltiplos recursos: homens, riquezas e
sabedoria, e foram tentados a acreditar que pelo exercício dessa
sabedoria poderiam refutar os pagãos. Mas o apóstolo lhes disse que a
verdadeira sabedoria vem somente pela recepção da sabedoria de Deus, a
qual é loucura para o homem, e do poder de Deus, que é fraqueza para o
homem.
O
Espírito de Deus nos mostra, em Atos, que a Igreja, embora pequena em
número, é maravilhosamente ajudada. Mas quão cedo a Igreja começou a
olhar para si mesma e para seus próprios recursos e grandeza, ao invés
de olhar para o Senhor. Será que isto não nos diz algo? Nossa bênção
está em nos colocarmos num lugar de fraqueza, de modo que Deus possa nos
ajudar por amor de Seu próprio nome.
Existe
perigo em dizer, ou mesmo supor, que alcançamos algo. Trata-se de uma
evidência de fracasso quando um cristão (ou um grupo de cristãos) passa a
se preocupar com sua própria honra e com o que tem, ao invés de
considerar a honra do Senhor; o que importa é a preocupação com a
reputação dEle. Um "olho simples" estará ocupado com Cristo.
A
palavra dirigida aqui, em referência a um santo, é bastante forte:
"Exaltou-se o seu coração até se corromper" (2 Cr 26:16). Mas há, no
Novo Testamento, uma palavra tão forte quanto esta: "O que semeia na sua
carne, da carne ceifará a corrupção" (Gl 6:8). Se qualquer pessoa, até
mesmo um santo de Deus, semear na sua carne, só irá conseguir uma triste
colheita de corrupção, havendo desperdiçado todo o seu tempo. Temos que
dar atenção às palavras penetrantes das Escrituras, e não
desviarmos de nós o seu gume, com a desculpa de que não se aplicam a
nós. Tal pensamento tem sido a origem de muito engano na Igreja. A alma
que treme da Palavra de Deus é a que prosperará - aquela que está
desejosa de se expor às suas partes mais penetrantes. O santo de Deus
pode semear na carne, pode andar "segundo a carne", pode militar
"segundo a carne", mas o miserável fim será que "da carne ceifará a
corrupção".
Quando
Uzias era forte, estando sua força baseada em sua capacidade própria,
"exaltou-se o seu coração" e tornou-se mais semelhante ao coração do Rei
Nabucodonosor (Dn 4:30) do que ao do rei de Judá ungido por Deus. Um
coração exaltado encontra-se em uma perigosa condição, e quase sempre à
beira de uma queda .
Embora
Uzias fosse o rei ungido de Deus, ele não era o sacerdote ungido de
Deus. Mas ele não queria que coisa alguma lhe fosse impedida, e o
encontramos transgredindo contra o Senhor seu Deus. Ele foi ao templo do
Senhor para queimar incenso sobre o altar do incenso, o que não era
prerrogativa sua, mas tão somente dos sacerdotes. Os filhos de Aarão
eram consagrados para queimar incenso.
Que
nós também tenhamos cuidado para não tratarmos com o Senhor com impura
familiaridade; um espírito humilde é sempre um espírito confiante, mas
um espírito humilde só pode confiar no sangue de Jesus. Não corre com
ímpeto para a presença de Deus como faz o homem de coração exaltado. Só
podemos nos aproximar através do incenso do Senhor Jesus, não com base
em nossos atributos ou por nossa devoção ou fervor carnal.
Azarias, o sacerdote, com oitenta valentes sacerdotes, disse a Uzias:
"A
ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o Senhor, mas aos
sacerdotes, filhos de Aarão, que são consagrados para queimar incenso;
sai do santuário, porque transgrediste; e não será isto para honra tua
da parte do Senhor Deus. Então Uzias se indignou; e tinha o incensário
na sua mão para queimar incenso; indignando-se ele pois contra os
sacerdotes, a lepra lhe saiu à testa perante os sacerdotes, na casa do
Senhor, junto ao altar do incenso." (2 Cr 26:18-19).
A
história do Rei Uzias é escrita para nossa admoestação. A exaltação do
coração busca sempre seus próprios interesses, não os de Deus. Bendito
seja Deus, nós temos liberdade para entrar no santo dos santos - pois
somos sacerdotes para Deus pelo sangue de Jesus - mas é sempre por meio
do incenso de nosso grande Sumo Sacerdote.
Em 2 Crônicas 27:6 temos a referência feita ao grande exército de Jotão; ele "se fortificou... porque dirigiu os seus caminhos na presença do Senhor seu Deus".
É este o caminho para o santo crescer em força prática. Assim foi com
os Tessalonicenses, cuja "obra da vossa fé... trabalho do amor, e...
paciência da esperança" estavam "diante de nosso Deus e Pai" (1 Ts 1:3).
Jotão sempre teve o Senhor diante de si, e seguiu uma linha de conduta
equilibrada. Aos olhos dos homens ele pode não ter sido tão poderoso
quanto Uzias, mas o Espírito Santo registra seu nome como o de um
"fortificado" aos olhos de Deus.
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