O apóstolo Pedro foi um homem simples, pescador, afeito à vida dura do mar, talvez vivendo com certas privações, decorrentes de sua baixa renda, conseguida com o produto da pesca.
A exemplo do apóstolo Paulo que mais tarde iria dizer também que aprendera a contentar-se com o que tinha, o apóstolo Pedro nos dá um conselho muito sábio em uma de suas cartas: "deixando, pois toda a malícia e todo o engano, fingimentos e invejas e todas as murmurações". (1 Pedro 2.1) Esta última palavra - murmurações - é que nos interessa mais de perto.
Já reparou o leitor que o homem é um eterno insatisfeito? É regra geral, viver reclamando de tudo. Nada presta. Nada está bom! Houve uma época em que as pessoas eram mais otimistas e sobre qualquer coisa diziam: podia ser pior. Hoje, por melhor que sejam as coisas, sempre se diz que podia ser melhor. Isso é pessimismo puro. Deixando todas as murmurações ou reclamações, recomenda-nos o apóstolo.
Há pessoas que vivem reclamando contra o trabalho, que o trabalho cansa, que o trabalho é rotineiro etc. Essas pessoas não consideram que há milhões de pessoas desempregadas no mundo, desesperadas por um trabalho, por mais pesado que seja, mas que lhe permita, e à sua família, a subsistência!
Outros reclamam porque a empregada ou a esposa, deixou a comida um pouco insossa ou um pouco salgada demais. Não param para pensar, esses reclamadores, que há milhões de pessoas morrendo de fome e outros tantos conseguindo no lixo o que comer!
Há pessoas que reclamam contra uma decepção. Não consideram que há muita gente para quem a vida em si é uma decepção!
Outros murmuram contra um sonho desfeito, mas foi só um sonho. Por que não pensar um pouco nas milhares de pessoas para quem a vida é um verdadeiro pesadelo!
Se temos um trabalho que nos cansa, mas que garante a nossa subsistência digna; se temos uma comida que nem sempre está como nós queremos, mas que nos alimenta e nos mantém a vida; se temos uma decepção em que meditar e aprender, tirando dela lições que nos ajudarão no futuro; se temos um sonho que se desfez, mas que pode ser substituído por outros que se realizarão; nada disso deve ser motivo de murmurações.
Tudo isso, se bem analisado, é motivo de gratidão a Deus, pois há milhares que gostariam de estar em nosso lugar. Nunca somos os últimos. Temos muita gente acima de nós, mas também temos muita gente abaixo de nós.
Daí a necessidade de se atender a recomendação do apóstolo Pedro, de deixarmos todas as murmurações e, além dessa, outra do apóstolo Paulo: "dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai em nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (Efésios 5.20).
Ele diz - em tudo - porque, de acordo com a sua experiência: "todas as coisas cooperam, em conjunto, para o bem daqueles que amam a Deus" (Romanos 8.28).
Vem-me à mente uma frase de um velho professor de Ética no Seminário: "quem tem o bastante tem tanto quanto o rico". Pensamento que parodio dizendo que quem tem o bastante não precisa de bastante.
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