segunda-feira, 16 de julho de 2018

Escuridão: A Doença Espiritual do Cristão (Parte 1) - Wilhelmus à Brakel



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Na regeneração, o homem é atraído das trevas para a  maravilhosa luz do Evangelho. Ele recebe os olhos iluminados do entendimento e percebe realidades invisíveis. Essas questões, ocultas para o homem natural e vistas de uma perspectiva natural, são vistas agora de maneira totalmente diferente pela pessoa que foi iluminada. Aquele que estava na mais densa escuridão torna-se iluminado no Senhor, e o Espírito Santo brilha em seu coração, para dar a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo. Esta luz alegra o coração, aquece a alma, faz com que ela queime em amor, converte e santifica todo o homem. Portanto, aqueles que começam a ver esta luz ficam tão encantados com que desejam ser levados mais profundamente a esta luz.
Com efeito, ao acontecer, eles não se atentam para a distinção entre a luz da contemplação (que pode e deve ser desejada, mas é reservada para o céu), e a luz da fé, concedida àqueles que andam sobre a terra, permitindo-lhes atravessar a escuridão com alegria. Por não considerar essa distinção, eles não ficam satisfeitos em andar na luz da fé, mas desejam viver aqui à luz da contemplação. Eles, contudo, trazem problemas à sua alma e começam a pensar que ainda estão inteiramente nas trevas e não convertidos. Sim, isso pode causar grandes trevas sobre eles, de modo que até a luz da fé se torna tão fraca que eles não conseguem perceber nenhuma luz.
Essa escuridão espiritual não é a mesma que os não-convertidos estão, uma vez que ainda são inteiramente cegos. Isso também não se compara ao que os iniciantes na experiência da graça, em quem há um vislumbre de luz. Nós também não entendemos que essa trevas espirituais sejam ondas que ocasionalmente surgem na vida de um crente e prontamente se dissipam.
Uma Doença Espiritual 
Esta escuridão é uma doença espiritual de alguém que fez algum progresso na vida cristã. Na ausência das influências iluminadoras normais do Espírito Santo, e devido à escuridão residual de sua antiga natureza, a luz que está nele torna-se tão obscura que ele agora contempla os assuntos espirituais, que anteriormente percebeu com clareza, como um brilho distante, e apenas retrata o que aconteceu no passado por meio da memória. Isso faz com que o crente fique sem alegria, calor e direção, e viva com medo e ansiedade, fazendo-o vagar sem rumo, como em um deserto.
A experiência não apenas ensina que o crente entra em tais trevas (de modo que muitos não precisam de nenhuma outra prova exceto o seu próprio caso), mas a Palavra de Deus nos mostra abundantemente que isso é assim.
Aqueles que estão em tal condição precisam tomar conhecimento disso, visto que eles geralmente chegam à conclusão de que estão sem a graça, sendo da opinião que os piedosos não entram em tal condição. Aquilo que se abateu sobre Abraão, o pai dos fiéis, também recai sobre seus filhos. “Ao pôr do sol, um profundo sono caiu sobre Abrão, e grande pavor e densas trevas tomaram conta dele” (Gênesis 15:12). Jó testifica isso a respeito de si mesmo: “Se me adianto, Deus não está ali; se volto para trás, não o percebo. Se ele age à minha esquerda, não o vejo; se ele se esconde à minha direita, não o enxergo” (Jó 23:8-9). A igreja reclama disso: “Ele me levou e me fez andar nas trevas e não na luz”. (Lamentações 3:2). O Senhor ameaça o seu povo com a escuridão espiritual: “Deem glória ao SENHOR, seu Deus, antes que ele faça vir as trevas, antes que os pés de vocês tropecem nos montes tenebrosos e antes que, esperando vocês a luz, ele a mude em sombra de morte e a reduza à escuridão” (Jeremias 13:16). O profeta aconselha aqueles que estão em tal estado: “Quem de vocês teme o SENHOR e ouve a voz do seu Servo? Aquele que anda em trevas, sem nenhuma luz, confie no nome do SENHOR e se firme sobre o seu Deus” (Isaías 50:10).
Há temporadas de escuridão como resultado da perseguição e da ausência de conforto, bem como devido à cegueira. Todavia, essas coisas geralmente coexistem nos filhos de Deus, pois a escuridão externa traz escuridão interna.
As Causas da Escuridão Espiritual
A visão natural pode ser obstruída por várias causas: o desaparecimento do sol, o espessamento das nuvens, a interferência de objetos opacos, doença nos olhos ou o brilho do sol. As trevas espirituais também possuem várias causas.
(1) O desaparecimento do Sol da Justiça, o Senhor Jesus Cristo, e a retenção da influência iluminadora do Espírito Santo.
(2) O diabo, obscurecendo essa luz, ofuscando o entendimento, gerando a fumaça do erro e da heresia, gerando uma falsa luz, obscurecendo a verdade e seduzindo uma pessoa por meio de enganadores.
(3) A pessoa que não dá ouvidos à luz da fé, considerando que isso é insignificante demais; um enfraquecimento do amor pela verdade, um esforço por algo mais elevado, insistindo em ser iluminado pela luz da contemplação, e por estar desejoso de receber luz diferente da luz pela qual o Senhor geralmente conduz o seu povo.
(4) O afastamento dos nossos olhos da luz, cedendo aos nossos desejos, fechando nossos olhos e espalhando areia neles – por meio dos quais a verdade, em sua eficácia e preciosidade, não é percebida.
(5) Exercendo nossa visão espiritual em demasia para compreender as perfeições e os caminhos incompreensíveis de Deus. Isso, em vez de nos proporcionar mais luz, nos levará a mais escuridão. Pois, quando nos afastamos da luz da Palavra de Deus e não podemos alcançar uma imediata contemplação, nosso intelecto corrupto e nossa razão irracional voltarão ao primeiro plano, enganando a alma com falsas contemplações, pelas quais a luz verdadeira é cada vez mais obscurecida.

Autor: Wilhelmus à Brakel
Trecho extraído de The Christian’s Reasonable Service, volume 4.
Tradução: Leonardo Dâmaso

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