Odiado Cramulhão Encardido Junior,
Desejo amargamente que você esteja experimentando todo tipo de sofrimento.
Escrevo-lhe essa missiva para lhe orientar quanto a melhor maneira de fazer com que os filhos do adversário esqueçam o que aconteceu em 31 de outubro de 1517. Só de pensar naquele alemão miserável me dá vontade de proferir os piores impropérios. Maldito Lutero que desencadeou essa coisa horrorosa chamada reforma protestante.
Desgraçado Cramulhão, tenho algumas orientações a lhe dar e ordeno que siga a risca as minhas determinações. Neste 31 de outubro desvie a atenção deste povinho. Não permita que lembrem desta maldita Reforma. Faça com que se ocupem com falsas doutrinas, instigue-os a pensar que nesta data o que se deve comemorar não é o inicio do protestantismo, mais sim o dia da bruxas.
Odiado sobrinho, tive uma ideia infernal, que com certeza foi inspirada pelo nosso pai Belzebu, que tal instigá-los a se divertirem neste dia? Isso seria muito bom, até porque, eles não lembrariam daquelas teses horrorosas que foram fixadas em Wittenberg por aquele asqueroso monge agostiniano.
Maldito Encardido, diante disto a melhor coisa a ser feito é tirá-los do foco. Sim! Incentive-os a criar um tipo de entretenimento gospel, faça-os organizar um Halloween evangélico. Dê a eles a desculpa de que isto servirá para evangelizar os perdidos, com certeza isso será ótimo para os nossos planos.
Espero que cumpra com esmero minhas recomendações.
Termino esta carta, desejando todo tipo de maldade,
Com ódio,
Seu tio diabão.
Nota explicativa:
Há alguns anos, o conhecido autor evangélico C. S. Lewis, professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, escreveu uma série de artigos sob o título: "The Screwtape Letters" , ou seja, "Cartas do Inferno" , Edições Vida Nova SP, e os publicou no jornal "Guardian", conhecido órgão da imprensa britânica, lá pelos idos de 1940. Depois, essas cartas foram reunidas em um livro com o mesmo título, que se tornou a obra mais popular desse eminente escritor de temas cristãos. Nessas cartas, o autor imagina uma série de conselhos que Roldão, experiente oficial da hierarquia diabólica, envia a seu sobrinho Lusbim, um diabo neófito que recebeu a incumbência de corromper a fé de um homem que se tornara cristão. Visto que, daquela época para cá, tem-se multiplicado as artimanhas satânicas, é lícito imaginar mais alguns terríveis conselhos enviados pelo sinistro oficial ao seu infernal emissário, em plena ação diabólica para desviar os fiéis do caminho estreito. Usando os mesmos personagens, apenas mudamos os nomes, e tomando emprestado o gênero literário do autor mencionado, aqui apresentamos aos amados leitores uma nova carta imaginária, vinda dos abismos infernais.
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