Por Rafael Santos
Escravo, imigrante, judeu e jovem. Entre o conglomerado de material humano que era traficado à Babilônia, como parte dos despojos da invasão à terra de Judá, se encontrava uma das mais célebres personalidades da historiografia bíblica, o jovem Daniel.
Durante o período de expansão territorial do Império Babilônico, um dos mecanismos de controle de massas que se utilizava para prevenir as insurreições dos povos subordinados era o enfraquecimento dos laços étnicos. Através da desconfiguração das raízes culturais que seus cativos traziam na bagagem de seus respectivos lugares de origem, a potência lograva fragmentar as relações sociais e seu potencial revolucionário.
Por isso, logo ao chegar à Babilônia, Daniel foi posto em uma espécie de “extrator sócio-cultural”. Recebeu um nome caldeu e foi instruído a respeito do universo linguístico, cultural e científico do seu novo habitat.
No caso de Daniel, havia uma preocupação especial. Devido às suas faculdades, ele havia sido selecionado juntamente com outros jovens para ser introduzido à casta dos trabalhadores do palácio imperial.
No entanto, esse processo não se deu de maneira mecânica, como desejava o então imperador Nabucodonosor. A relação entre a identidade do jovem hebreu, profundamente arraigada no zelo pelas leis de Moisés, e o novo contexto no qual se encontrava, não se deu de maneira harmônica.
Daniel se viu repedidas vezes na difícil tarefa de se adaptar aos ditames do imperador sem corromper sua integridade e zelo pelas leis de Deus. Uma situação nada fácil, já que devido a sua condição de escravo, desobedecer ao imperador significava perder a vida. E por sua vez, desobedecer às leis de Deus significava perder a eternidade.
O drama do jovem cristão na atualidade não se difere muito do de Daniel. Porque ainda que não exista um poder absoluto personificado em um kaiser soberano, a pressão por reproduzir os padrões sociais muitas vezes se torna uma verdadeira potestade. E se por um lado não se vive em uma condição de exilado, por outro, a desterritorialização da identidade juvenil com a intensificação da globalização, por vezes faz com que o jovem atual se sinta sozinho mesmo na sociedade pós-baby boom.
O jovem hebreu soube entender os limites entre os costumes culturais negociáveis e os aspectos imprescindíveis que constituíam a essência de sua própria existência.
O jovem cristão de hoje, se depara com semelhante desafio: o de trilhar seu caminho mantendo os valores e princípios de Cristo, porém, conectado a um espaço/tempo que lhe conferira sentido no teatro social, sem o qual (tal como Daniel), morreria socialmente.
É interessante notar que foi justamente o fato de Daniel haver mantido sua integridade que o fez ser socialmente relevante para o Império Babilônico. Disto, resulta que o maior desafio do jovem cristão, também é sua maior oportunidade de imprimir os valores do Reino de Deus na sociedade.
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