REGRAS DE INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS
Se toda pessoa tem o direito, e a obrigação de ler as Escrituras, bem como de julgar por si mesma o que elas ensinam, então deve ter certas regras que a guiem no exercício desse privilégio e dever. Tais regras não são arbitrárias. Não são impostas por autoridade humana. Não possuem nenhuma força compulsória que não flua de sua própria verdade e propriedade intrínseca. Elas são poucas e simples.
1. As palavras da Escritura devem ser tomadas em seu sentido nitidamente histórico. Isto é, devem ser tomadas no sentido a elas aplicado na época e pelo povo a quem se destinavam. Isso apenas pressupõe que os escritores sacros eram honestos e queriam ser entendidos.
2. Se as Escrituras são o que alegam ser, a palavra de Deus, é a obra de uma só mente, a mente divina. À luz desse fato, segue-se que a Escritura não pode contradizer a Escritura. Deus não pode, em um lugar, ensinar algo que seja inconsistente com o que ele ensina em outro lugar. Por conseqüência, a Escritura deve explicar a Escritura. Se uma passagem admite diferentes interpretações, a única que pode ser verdadeira é aquela que concorda com o que a Bíblia ensina em outros lugares sobre o mesmo tema. Se as Escrituras ensinam que o Filho é da mesma substância e igual em poder e glória com o Pai, então, quando o Filho diz: "O Pai é maior do que eu", a superioridade deve ser entendida de maneira consistente com essa igualdade. Ou ela deve indicar a subordinação quanto ao modo de subexistência e operação, ou deve ser de caráter oficial. O filho de um rei pode dizer: "Meu pai é maior do que eu", embora pessoalmente ele seja igual a seu pai. Essa regra de interpretação é às vezes chamada de analogia da Escritura, e às vezes de analogia da fé. Não existe diferença substancial no sentido das duas expressões.
3. As Escrituras devem ser interpretadas sob a diretriz do Espírito Santo, a qual deve ser humilde e solicitamente buscada. A base desta regra é dupla: Primeiro, o Espírito é prometido como um guia e mestre. Ele viria para guiar o povo de Deus ao conhecimento da verdade. E, segundo, as Escrituras ensinam que "o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1Co 2.14). A mente não renovada é naturalmente cega para a verdade espiritual. Seu coração está em oposição às coisas de Deus. A congenialidade da mente é necessária para a correta apreensão das coisas divinas. Como somente os que têm uma natureza moral podem discernir a verdade moral, assim apenas os que estão espiritualmente dispostos podem realmente receber as coisas do Espírito.
O fato de que todo o verdadeiro povo de Deus em todas as épocas e em todas as partes da Igreja, no exercício de seu juízo privado, em consonância com as regras simples supramencionadas, concorda quanto ao significado da Escritura em todas as coisas necessárias tanto para a fé quanto para a prática, é prova decisiva da perspicuidade da Bíblia e da segurança de permitir ao povo que desfrute do divino direito do juízo privado.
Fonte: Charles Hodge – Teologia Sistemática
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