sábado, 4 de maio de 2013

A CORAGEM DE CRER EM DEUS - Jó 12-14




Texto base: Jó 12-14
Após fazer a experiência da angústia mais profunda, Jó começa a ser erguer para a vida, com uma percepção mais clara acerca da soberania de Deus. Esse processo gerou na consciência de Jó uma des-construção de todo edifício doutrinário que ele recebeu pela via da tradição. O fato é que depois do evento da angustia, a lente da doutrina da retribuição perdeu o sentido mais radical na organização do mundo de Jó.
Apesar dos pesares, o texto sagrado nos mostra que Jó teve uma grande coragem para continuar crendo em Deus a despeito de sua crise interna, dos conselhos de seus amigos e da teologia vigente.
Vejamos, pois no estudo de hoje como Jó expressou a coragem de crer em Deus.
I.   Jó teve a coragem de crer somente em Deus contra toda a sabedoria do mundo.
O capítulo 12 do livro Jó, marca o início de um novo diálogo entre Jó e seus amigos. Em cada nova rodada de debates, Jó abre ainda mais o seu coração diante dos seus espectadores. E o que nos surpreende, é que mesmo com toda a carga de pressão emocional, psicológica e física, o sofredor Jó se ergue do monturo com um espírito de confiança corajosa diante de Deus e dos homens.
Em sua consciência e com uma nova lente para ler o mundo ao seu redor, Jó afirma sua confiança exclusiva na sabedoria de Deus contra todas as formas de “saberes” do mundo. A realidade produzida pelo governo soberano de Deus invadiu de tal forma o mundo de Jó, que logo de pronto a velha sabedoria dos sábios se tornou para ele motivo de mera ironia. Por isso ele diz:
“Então, Jó respondeu: Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria. Também eu tenho entendimento como vós; eu não vos sou inferior; quem não sabe coisas como essas?” (Jó 12:1-3, RA)
Jó não zombou da sabedoria dos sábios como se ele fosse o mais sábio de todos, mas ele mesmo se colocou na mesma linha dos outros, assumindo que diante de muitos fatos a sabedoria do mundo simplesmente não tinha o poder para produzir respostas.
“Eu sou irrisão para os meus amigos; eu, que invocava a Deus, e ele me respondia; o justo e o reto servem de irrisão. No pensamento de quem está seguro, há desprezo para o infortúnio, um empurrão para aqueles cujos pés já vacilam. As tendas dos tiranos gozam paz, e os que provocam a Deus estão seguros; têm o punho por seu deus.” (Jó 12:4-6, RA)

Tomado pelo ceticismo em relação aos produtos da sabedoria humana, Jó se ergue na coragem de crer no Deus Soberano como princípio basilar para a organização de toda a vida e contra todas as outras formas de saber que desconsideram o governo absoluto de Deus. Jó teve a coragem de crer a favor de Deus e contra o mundo. Com ousadia ele disse: “Está a sabedoria com os idosos, e, na longevidade, o entendimento? Não! Com Deus está a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento.” (Jó 12:12-13, RA)
Existem fatos que não podem ser racionalizados de maneira satisfatória na mente humana. Há de ter um espaço na vida reservado para o mistério, no entanto não podemos cair na armadilha o irracionalismo como se nada fizesse sentido e tudo fosse arbitrário. Jó encontrou o sentido para a sua vida ao crer no Deus Soberano e hoje nós somos desafiados a organizar nossas vidas a partir da fé no Rei do Universo. Jó percebeu que o sofrimento nem sempre é por causa do pecado. Ele creu com ainda mais força existe um propósito divino em tudo o que acontece. Tudo o que sucede no mundo tem um propósito debaixo do plano de Deus. Nem sempre entendemos este propósito, por isso a melhor coisa a fazer é ter a coragem de crer em Deus. (ver: Sl 14; Sl 55.22)
 II.   Jó teve a coragem de crer em Deus para encontrar uma nova forma de viver.
Após a experiência da angústia a vida Jó nunca mais seria a mesma. A percepção nítida do governo absoluto de Deus abalou de maneira irreversível a cosmovisão de Jó quanto à sabedoria fornecida pelos teólogos da retribuição, ao ponto dele dizer:“Eis que tudo isso viram os meus olhos, e os meus ouvidos o ouviram e entenderam. Como vós o sabeis, também eu o sei; não vos sou inferior. Mas falarei ao Todo-Poderoso e quero defender-me perante Deus. Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras e vós todos sois médicos que não valem nada.” (Jó 13:1-4, RA)  E no outro momento também afirma: “As vossas máximas são como provérbios de cinza, os vossos baluartes, baluartes de barro.” (Jó 13:12, RA).
Diante de tais palavras, você pode até perguntar: o que resta para o homem quando a religião perde o sentido? No caso de Jó a religião perdeu a relevância, mas em hipótese alguma ele perdeu a fé em Deus. Muito pelo contrário, contra todo o sistema religioso do seu tempo, Jó teve a coragem de crer em Deus para encontrar uma nova forma de viver. Jó teve a coragem de crer em Deus a fim de encontrar para a sua vida o sentido, a direção e a verdade sobre a sua história. Certo de que somente diante de Deus a sua vida teria sentido, Jó disse: “Tomarei a minha carne nos meus dentes e porei a vida na minha mão. Eis que me matará, já não tenho esperança; contudo, defenderei o meu procedimento. Também isto será a minha salvação, o fato de o ímpio não vir perante ele. Atentai para as minhas razões e dai ouvidos à minha exposição. Tenho já bem encaminhada minha causa e estou certo de que serei justificado.” (Jó 13:14-18, RA)

Conhecer a religião e dominar sistemas teológicos ou filosóficos não significa de maneira nenhuma a erradicação das perguntas sobre a vida. Olhando para a experiência de Jó, e mesmo constando como é difícil responder o que ele sugere, podemos perceber como a fé no Deus Soberano concedeu a ele um norte em meio ao temporal de aflições que sacudiam a sua alma.
Olhando para o trono de Deus, o sofredor Jó se viu como uma coisa podre, como um pecador, como uma mera palha seca que necessitava urgentemente de uma Palavra vinda do Soberano Senhor. Jó em nenhum momento se desviou de Deus. Em nenhum momento ele deixou de crer em Deus para encontrar um novo sentido para a sua vida. O testemunho de Jó mostra que a coragem em confiar em Deus nos conduz por um caminho de muitas lutas, onde nem sempre tudo a respondido, mas daquilo que podemos perceber fica ainda mais evidente o quanto somos pequenos e como dependemos da luz do Senhor para encontrar o verdadeiro sentido da vida.
O fato é que existe uma hora na vida em que somente a voz de Deus faz sentido. Existe uma hora na vida em que toda nossa alma é quebrantada, todos os nossos conceitos são desmantelados e reduzidos ao pó. É nessa hora absorta que o nosso coração se abre em meio às questões da existência, para receber a Palavra de Deus. (Mt 5.8)
III.   Jó teve a coragem de crer em Deus para se agarrar na esperança.
Em muitas linhas da sua história Jó confessa não ter mais esperança (13.15), todavia, no capítulo 14, ele passa a descrever uma luta interna onde a partir da fé ele corajosamente se agarra as migalhas da esperança. Diante de Deus, o sofredor Jó diz: “Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco, ao cheiro das águas brotará e dará ramos como a planta nova. O homem, porém, morre e fica prostrado; expira o homem e onde está?” (Jó 14:7-10, RA)
Ainda sem entender porque o justo sofre e mesmo sem muitas esperanças de felicidade na vida, Jó se agarra a figura de uma árvore que mesmo cortada, ao cheiro das águas se torna uma nova planta. A partir dessa visão da esperança, Jó olha para o sentido da morte para então encontrar alguma esperança para continuar vivendo. Entre a morte e a esperança, mas crendo em Deus, Jó disse: “Como as águas do lago se evaporam, e o rio se esgota e seca, assim o homem se deita e não se levanta; enquanto existirem os céus, não acordará, nem será despertado do seu sono. Que me encobrisses na sepultura e me ocultasses até que a tua ira se fosse, e me pusesses um prazo e depois te lembrasses de mim! Morrendo o homem, porventura tornará a viver? Todos os dias da minha luta esperaria, até que eu fosse substituído. Chamar-me-ias, e eu te responderia; terias saudades da obra de tuas mãos; e até contarias os meus passos e não levarias em conta os meus pecados. A minha transgressão estaria selada num saco, e terias encoberto as minhas iniqüidades.” (Jó 14:11-17, RA)

Na caminhada da fé, o ato de ter esperança nem sempre é tranqüilo. Mesmo assim, somos desafiados a acreditar em coisas mais excelentes, ainda que nossa mente seja estimulada pela nossa ignorância a ver apenas aquilo que julgamos ser ruim. Por mais difícil que seja o drama o qual você esteja atravessando agora, tenha a coragem de crer em Deus e assim como Jó, esperar por dias melhores.
Conclusão – Hoje se fala muito na coragem de ser aquilo que você quer ser. A bíblia, através do testemunho da vida de Jó nos ensina o quanto precisamos ter a coragem de crer em Deus. É quando temos a coragem de crer no Soberano Deus o sentido da vida salta aos nossos olhos, invade nossa existência em forma de decisões concretas quanto a romper com velhas amarras. A vida passa a fazer sentido quando nada mais nos interessa a não ser a voz de Deus. O mundo ganha contornos do tamanho da esperança, desde o momento em que desesperamos de nossas forças, para aguardar por um tempo novo vindo do trono de Deus.
Aplicação
Você já parou para pensar naquilo que o Senhor está des-montando em sua vida? Você precisa de uma nova direção para viver? O que você faz para superar os pensamentos negativos?
Lembre-se: “O necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente.” (Salmos 9:18, RA)

Rev. Francisco Macena da Costa
Igreja Presbiteriana do Cambeba
Extraído de: http://www.materiasdeteologia.com

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