Por C. Matthew McMahon - Tradução: Francisco Alison Silva Aquino
É importante notar que os pais da igreja primitiva tinham certas ideias que diferiam do contexto histórico da idade média, ou da reforma. Desta maneira, muitos dos termos e ideias que eles utilizavam “teologicamente falando” são abrigados diferentemente. Por exemplo, “regeneração” para os pais da igreja primitiva significava a “integridade da vida cristã”, ou o que nós poderíamos querer dizer como parte da santificação. Isso esclarece a enorme quantidade de passagens problemáticas que a maioria das pessoas não entenderia se elas os lessem, ou distorceriam para querer dizer algo mais. Em nossos dias, ou mesmo já na reforma, este termo “regeneração”, é usado mais especificamente em relação ao passo inicial da conversão que é operado pela mudança do coração pelo espírito de Deus sobre o pecador. Subsequentemente, muitos que se opõe contra o evangelho, vão aos pais da igreja simplesmente porque eles acreditam que a igreja primitiva não ensinava o que a reforma ensinou, ou que Westminster ensinou depois. Eles veem a teologia como progressiva. Isto é um erro. Cristo ensinou o mesmo evangelho que Agostinho, Gottschalk, Lutero, Calvino, os puritanos, ou a teologia de Princeton acreditavam—ou mesmo você. Cabe ao estudante organizar uma teologia histórica consistente baseada em uma representação delicada do contexto histórico para cada período da história da igreja.
Estas citações são simplesmente citações tiradas do contexto que ensina as doutrinas da graça. Isto não significa que são áreas incômodas da teologia de Tertuliano, ou difícil entender Agostinho. Isto significa que o estudante deve ser cuidadoso ao tomar os escritos deles como compêndios, não simplesmente textos de prova. Mas isto será de grande ajuda.
Depravação Total
Barnabé (70 D.C): “Aprenda: antes de nós crermos em Deus, a habitação do nosso coração era corrupta e débil.”
Inácio (110 D.C): “Aqueles que são carnais não podem fazer as coisas que são espirituais... nem podem os incrédulos fazer as coisas da fé.”
Justino, o Mártir (150 D.C): “Com a trapaça da serpente a humanidade cai em morte em Adão. Nós nascemos pecadores, nada de bom habita em nós... Pois nem pela natureza, nem pelo entendimento humano é possível para mim adquirir o conhecimento das coisas tão grandes e divinas, mas pela “energia” do espírito santo...Ele nos condenou da impossibilidade de nossa natureza obter vida...O livre-arbítrio nos destruiu; Nós que éramos livres nos tornamos escravos e por nossos pecados somos vendidos...sendo pressionados por nossos pecados, nós não podemos nos mover para Deus; nós somos como pássaros que tem asas, mas são incapazes de voar.”
Clemente de Alexandria (190 D.C): “A alma não pode subir nem voar, nem ser levantada sobre as coisas que estão nas alturas, sem a graça especial.”
Orígenes: “Nosso livre-arbítrio... ou natureza humana não é suficiente para buscar Deus de forma alguma.”
Eusébio (330 D.C): “A liberdade de nossa vontade em escolher as coisas que são boas está destruída.”
Agostinho (370 D.C): “Se, portanto, eles são escravos do pecado (2 Co 3.17), por que eles se gabam do livre-arbítrio? Oh, homem! Aprenda do preceito que você deve fazer; aprenda da correção, que é sua própria falha que você não tem poder...deixe o esforço humano, que pereceu por Adão, aqui ficar em silêncio, e deixe a graça de Deus reinar por Jesus Cristo...o que Deus promete, nós mesmos não fazemos através do livre arbítrio da natureza humana, mas ele mesmo pela graça dentro de nós...Os homens trabalham para encontrar em nossa própria vontade algo que é nosso mesmo e não de Deus; como eles podem encontrá-lo, eu não sei.”
Eleição Incondicional
Clemente de Roma (69 D.C): Portanto nos aproximemos dele em santidade da alma, erguendo mãos puras e imaculadas a ele, com amor em direção ao nosso gentil e compassivo pai porque Ele nos fez uma porção eleita para ele... Vendo então que nós somos a porção especial eleita de um Deus santo, façamos todas as coisas que dizem respeito à santidade... foi dado uma declaração das bem-aventuranças àqueles que tem sido eleitos por Deus através de Jesus Cristo, nosso Senhor, Jesus Cristo é a esperança do eleito...”
Barnabé (70 D.C): “Nós somos eleitos para esperança, enviados por Deus a fé, apontados para salvação.”
Inácio (110 D.C): “Aos predestinados antes de todos os tempos, isto é, antes da fundação do mundo, unidos e eleitos em uma paixão verdadeira, pela vontade eterna do pai.”
Justino, o Mártir (150 D.C): “Em todos esses discursos eu tenho trazido toda as minhas provas dos seus próprios escritos santos e proféticos, esperando que alguns de vocês possam ser encontrados dentre o numero de eleitos que através da graça que vem do Senhor, é deixado ou reservado para a salvação eterna.”
Irineu (198 D.C): “Deus tem completado o numero que ele antes determinou consigo, todos aqueles que estão escritos ou ordenados para a vida eterna... sendo predestinados na verdade de acordo com o amor do pai que nós pertenceríamos a ele para sempre.”
Clemente de Alexandria (190 D.C): “Pela fé os eleitos de Deus são salvos. A geração daqueles que buscam a Deus é a nação eleita, não um lugar [terreno], mas a congregação dos eleitos, que eu chamo igreja... se cada pessoa tivesse conhecido a verdade, todos eles teriam se movido para o caminho e não haveria eleição... vocês são aqueles escolhidos de entre os homens e aqueles que são predestinados de entre os homens, e em seu próprio tempo chamados, fiéis e eleitos, aqueles que antes da fundação do mundo são conhecidos intimamente por Deus pela fé; isto é, são apontados por ele à fé, amadureçam.”
Cipriano (250 D.C): “Esta é, portanto a predestinação que nós fielmente e humildemente pregamos.”
Ambrósio de Milão (380 D.C): “A predestinação da igreja de Deus tem sempre existido.”
Agostinho (380 D.C): “Aqui certamente, não há lugar para o vão argumento daqueles que defendem o pre-conhecimento de Deus contra a graça de Deus e consequentemente mantém que nós fomos eleitos antes da fundação do mundo porque Deus previu que nós seríamos bons, não que ele mesmo fizéssemos bons. Esta não é a linguagem dele quem disse: “Vós não escolhestes a mim, mas eu vos escolhi’” (João 15.16)
Expiação Limitada
Barnabé (70 D.C): “[Cristo falando] Eu assim oferecei meu corpo pelos pecados do novo povo.”
Justino, o Mártir (150 D.C): “Ele suportou os sofrimentos por aqueles homens de quem as almas são [na verdade] purificadas de toda iniquidade... como Jacó serviu Labão pelo gado que havia visto e de várias formas, assim Cristo serviu à cruz pelos homens de todo tipo, de muitas maneiras, adquirindo-os por seu sangue e o mistério da cruz.”
Irineu (180 D.C): “Ele veio para salvar todos, todos, eu digo, que através dele nascem de novo para Deus, bebês e pequeninos, e crianças, e jovens e velhos... Jesus é o Senhor daqueles que creem; mas não o Senhor daqueles que não acreditam. Portanto, Cristo é apresentado no evangelho exausto... prometendo dar sua vida em resgate de muitos.”
Tertuliano (200 D.C): “Cristo morreu pela salvação do seu povo... pela igreja.”
Cipriano (250 D.C): “Todas as ovelhas que Cristo adquiriu por seu sangue e sofrimentos são salvas... quem quer seja encontrado no sangue e com a marca de Cristo escapará... Ele redimiu os crentes com o preço do seu próprio sangue. Deixe-no temer morrer quem não é acreditado ter nenhuma parte na cruz e sofrimentos de Cristo.”
Lactâncio (320 D.C): “Ele estava para sofrer e ser morto pela salvação de muitas pessoas... quem sofreu a morte por nós, nos fez herdeiros do reino eterno, tendo abdicado e deserdado o povo dos judeus... Ele tem estendido suas mãos em paixão e medido o mundo, que Ele podia ao mesmo tempo mostrar que um grande povo, colhidos de todas as línguas e tribos, deveriam vir abaixo de suas asas, e receber o maior e sublime sinal.”
Eusébio (330 D.C): “A que “nós” Ele se refere senão àqueles que creem nele? Para aqueles que não creem nele, Ele é o autor de seu fogo e inflamação. A causa da vinda de Cristo é a redenção daqueles que estavam para ser salvos por ele.”
Júlio (350 D.C): “O filho de Deus, pelo derramar de seu sangue, redimiu seus separados; eles são libertados pelo sangue de Cristo.”
Hilário (363 D.C): “Ele permanecerá à vista de Deus para sempre, tendo já tirado todos aqueles que Ele redimiu para serem reis do céu, e coerdeiros da eternidade, entregando a eles como o reino de Deus ao pai.”
Ambrósio (380 D.C): “Antes da fundação do mundo, era a vontade de Deus que Cristo deveria sofrer pela nossa salvação... Ele pode condenar a quem redimiu da morte, a quem ele ofereceu a si mesmo, cuja vida ele sabe que é a recompensa da sua própria morte?
Paciano (380 D.C): “Muito mais, Ele não permitirá que o que é redimido seja destruído, nem ele lançará fora aqueles a quem ele tem redimido com um alto preço.”
Epifânio (390 D.C): “Se vocês são redimidos... se, portanto vós sois comprados com sangue, não sois vós o numero daqueles que foram comprados com sangue, ó almas! porque negam o sangue, ele deu sua vida pelas suas próprias ovelhas.”
Jerônimo (390 D.C): “Cristo foi sacrificado pela salvação dos crentes... nem todos são redimidos, pois nem todos serão salvos, mas o remanescente... todos aqueles que são redimidos e libertos pelo seu sangue retornam a Sião, que tem preparado para ele mesmo por seu próprio sangue... Cristo veio redimir Sião com seu sangue... mas para que nós não devêssemos pensar que todos são Sião ou cada um é Sião é verdadeiramente redimido do Senhor, que são redimidos pelo sangue de Cristo formam a igreja... Ele não deu sua vida por cada homem, mas por muitos, isto é, por aqueles que creriam.”
Graça Irresistível
Barnabé (70 D.C): “Deus nos dá o arrependimento, apresentando a nós no templo incorruptível.”
Inácio (110 D.C): “Ore por eles, se eles podem se arrepender, o que é muito difícil; mas Jesus Cristo, nossa vida verdadeira, tem o poder disto.”
Justino, o Mártir (150 D.C): “Tendo algum tempo antes nos convencido da impossibilidade de nossa natureza obter vida, tem agora nos mostrado o salvador, que é capaz de salvá-los que do contrário era impossível serem salvos... o livre-arbítrio tem nos destruído; nós somos escravos do pecado.”
Irineu (180 D.C): “Não de nós mesmos, mas de Deus, é a bênção da nossa salvação... o homem que antes era cativo é tirado do poder da escravidão, de acordo com a misericórdia do Deus pai, e restaurando, dá salvação pela palavra; isto é, por Cristo, que muitos podem experimentalmente aprender que não por si mesmo, mas pelo dom de Deus, ele recebe imortalidade.”
Tertuliano (200 D.C): “Vocês acham, ó homens, que nós deveríamos já ter sido capazes de ter entendido essas coisas nas escrituras a menos que pela vontade dele que quer todas as coisas, tivéssemos recebido graça para entendê-las? Mas é claro que a fé não é dada a vocês por Deus pelo fato de vocês não a atribuírem a ele apenas.”
Cipriano (250 D.C): “Todo aquele que é grato é para ser atribuído não ao poder do homem, mas ao dom de Deus. É de Deus, eu digo tudo é de Deus o que nós podemos fazer. Sim, Não devemos nos gloriar em nada, desde que nada é nosso.”
Arnóbio (303 D.C): “Vocês colocam a salvação de suas almas em vocês mesmos, e confiam que vocês podem ser feitos deuses por seu próprio esforço interior, ainda que não é de nosso próprio poder alcançar as coisas de cima.”
Atanásio (350 D.C): “Crer não é nosso, ou em nosso poder, mas o espírito que está em nós, e habita em nós.”
Jerônimo (390 D.C): “Esta é a principal justiça do homem, acreditar que seja qual for o poder que ele pode ter, não é seu próprio, mas do Senhor quem o dá... vede quão grande é o auxílio de Deus, e quão frágil a condição do homem que nós não podemos por nenhum meio cumprir isso, que nós nos arrependemos a menos que o Senhor primeiro nos converta... quando Jesus diz “nenhum homem pode vir a mim”, ele quebra a liberdade orgulhosa do livre-arbítrio, pois o homem não pode desejar nada, e em vão ele se esforça...Onde está a ostentação do livre-arbítrio? Nós oramos em vão se é em nossa própria vontade. Por que os homens deveriam orar por aquilo que parte do Senhor que eles tem no poder do seu próprio livre-arbítrio?
Agostinho (370 D.C): “A fé ela mesma é para ser atribuída a Deus. A fé é um dom. Estes homens, porém, atribuem a fé ao livre-arbítrio, então a graça é rendida a fé não como um dom gratuito, mas como uma dívida... eles devem parar de dizer isso.”
A Perseverança dos Santos
Clemente de Roma (69 D.C): “É a vontade de Deus que todos a quem ele ama deveriam participar do arrependimento, e então não perecer com o incrédulo e impenitente. Ele estabeleceu isso por sua poderosa vontade. Mas se qualquer daqueles a quem Deus quer que participem da graça do arrependimento, deveriam depois perecer, onde está a sua soberana vontade? E como isto é resolvido e estabelecido por tal vontade dele?
Clemente de Alexandria (190 D.C): “A alma de um cristão nunca em qualquer tempo será separada de Deus... a fé, eu digo, é algo divino, que não pode ser despedaçada por qualquer amizade mundana, nem ser dissolvida por medo presente.”
Tertuliano (200 D.C): “Deus impediu que nós devêssemos crer que a alma de qualquer santo deveria ser retirada pelo demônio... pois o que é de Deus nunca é exterminado.”
Agostinho (370 D.C): “Destes crentes nenhum perece, porque eles foram todos eleitos. E eles foram eleitos porque eles foram chamados de acordo com o propósito, porém, não o seu próprio, mas de Deus... obediência então é um dom de Deus... isto, na verdade, nós não somos capazes de negar, que a perseverança no bem, progredindo até o fim, é também um grande dom de Deus.
OBS: Outros teólogos afirmavam essas doutrinas, como por exemplo:
Anselmo (1033): “Se você morreu em incredulidade, então Cristo não morreu por você.”
***
Fonte: A Puritans Mind
Citações dos pais da Igreja compilados em: Michael Horton, Putting Amazing Back into Grace (Grand Rapids, MI Baker, 2002), Appendix.
Citações dos pais da Igreja compilados em: Michael Horton, Putting Amazing Back into Grace (Grand Rapids, MI Baker, 2002), Appendix.
Tradução: Francisco Alison Silva Aquino
Divulgação: Bereianos
Nenhum comentário:
Postar um comentário