Esta confirmação é o poder habitual da graça, distinto das eventuais confirmações pela influência da graça de Deus. Deus pode em um determinado instante confirmar uma pessoa fraca para que possa resistir a alguma tentação em particular, pela sua livre assistência; entretanto não é disso que o texto fala aqui, mas de uma habitual confirmação em um estado de graça.
Um crente confirmado, ao contrário de um crente fraco, não deve ser avaliado,
1) Pela ausência de todas as dúvidas e temores.
2) Nem pela sua eminência na estima ou observação do homens.
3) Nem por seu poder de memória.
4) Ou por liberdade de expressão na oração, pregação ou discurso.
5) Ou por sua postura e cortesia para com os outros.
6) Nem por seu temperamento quieto, calmo e agradável, e livre de alguma precipitação e paixão a que outros temperamento são mais tendentes.
7) Nem pela capacidade fingida, mas que agrada aos homens, de refrear a língua, impedindo-a de revelar a corrupção da mente, e de suprimir todas as palavras que poderiam fazer com que os outros soubessem quão perverso é o coração. Há muitos dons louváveis e desejáveis, os quais não evidenciam tanto a sinceridade com relação a graça; e muito menos o estado de confirmação e estabilidade.
Confirmação consiste no elevado grau daquelas graças que caracterizam um crente, e este elevado grau se manifesta nas suas práticas:
1) Quando a santidade é como que uma nova natureza em nós, nos dá prontidão para atos santos, nos torna livres e prontos para tais atos, e os torna fáceis e familiares para nós; enquanto que o crente fraco sente dificuldade, e mal consegue compelir e forçar sua mente à estas ações.
2) Quando há constância e freqüência de ações santas; que demonstram vigor e estabilidade de inclinações santas.
3) Quando estas graças mostram-se poderosas para suportar oposições e tentações, podem superar os maiores impedimentos no caminho, tirar proveito de toda resistência e desprezar as mais esplêndidas iscas do pecado.
4) Quando tais graças estão ficando cada vez mais firmes, e inclinam a alma mais e mais próximo de Deus; quando o coração torna-se mais celestial e divino, e estranho para o mundo e para as coisas terrenas.
5) E quando as coisas celestiais são mais doces e agradáveis à alma, e são procuradas e usadas com mais amor e prazer. Todas estas coisas mostram que as operações da graça são vigorosas e fortes, e conseqüentemente mais constantes.
Esta confirmação deve manifestar-se:
1) No entendimento.
2) Na vontade.
3) Nos sentimentos.
4 ) Na vida.
1. Quando a mente de uma pessoa adquire uma maior compreensão das verdades de Deus, e da ordem, lugar e utilidade de cada verdade, com uma convicção mais profunda da veracidade delas e da excelência dos assuntos nelas revelados; quando os olhos se abrem mais para o conhecimento e a fé, e temos uma plena, verdadeira, firme e segura apreensão das coisas reveladas e invisíveis; quando a natureza, razões, propósitos e benefícios da religião estão muito clara, ordenada, adequada e fortemente impressos na mente; então a mente está em um estado confirmado (ou estabelecido).
2. Quando a vontade é dirigida por tal compreensão confirmada; e não está tolamente determinada, sem saber por que; quando o entendimento iluminado firma de tal modo a vontade, que todas as dúvidas, hesitações, vacilações e relutâncias indesejáveis consideráveis, tornam-se coisas do passado, e o homem que está buscando a Deus e sua salvação e evitando pecados conhecidos - como o homem natural está interessado em preservar sua vida e acumular bens e evitar o que lhe é danoso, fome e tormentos; quando as inclinações da vontade para com Deus, os céus e a santidade assemelham-se a sua inclinação natural para o bem como bem, e para sua própria felicidade, e suas ações são tão livres ao ponto de não ter a menor indeterminação, e a serem semelhantes a atos naturais necessários, como são os atos dos abençoados espíritos nos céus; quando as menores sugestões de Deus prevalecem, e a vontade responde a elas com prontidão e prazer, e quando ela se deleita em esmagar toda oposição e tudo o que possa ser oferecido para corromper o coração e atraí-la para o pecado, e afastá-la de Deus; este é um estado de vontade confirmada.
3. Quando os sentimentos procedem de tal vontade, e estão prontos para assisti-la, motivá-la e servi-la, e impulsionar-nos aos deveres necessários; quando os sentimentos menos elevados de temor e tristeza purificam, restringem e preparam o caminho; e os sentimentos mais elevados de amor e alegria estão apegados a Deus, desejam e anseiam Sua presença, dispõem a alma para propósitos justos, e estão libertando mais o coração para a possessão de desejos santos e para o amor; e quando estes sentimentos - os quais são preferivelmente mais profundos do que imediatamente sensíveis para com o próprio Deus - são sensíveis para com a Sua palavra, Seus servos, Suas graças e Seus caminhos, e contra todo pecado; então os sentimentos, assim como a pessoa, está em um estado confirmado.
4. Quando consideramos nós mesmos, nosso tempo, e tudo o que temos, de Deus e não nosso, e somos inteiramente e sem reservas entregues a Ele e usados por Ele; quando nos aplicamos aos nossos deveres e confiamos nEle para nossa recompensa; quando vivemos como quem tem muito mais a ver com os céus do que com a terra, e com Deus do que com o homem ou qualquer outra criatura; quando nossas consciências são absolutamente submissas à autoridade e leis de Deus, e não se dobram diante dos competidores; quando estamos habitualmente dispostos, como Seus servos, a sermos constantemente empregados em Seus serviços, e a fazer disso nossa vocação e negócio neste mundo, considerando que nada temos a fazer no mundo senão o que podemos fazer com Deus e para Deus; quando não acalentamos nenhum desejo ou esperança secreta de felicidade mundana, nem buscamos o prazer da carne, sob a capa da fé ou piedade, mas subjugamos a carne como nosso inimigo mais perigoso, e podemos facilmente negar satisfazer seus apetites e concupiscências; quando vigiamos todos os nossos sentimentos e mantemos nossas paixões, pensamentos e línguas em obediência à santa lei de Deus; quando não consideramos indevidamente nossa estima ou desejos acima ou contra nosso próximo e o bem estar deles; e amamos os piedosos com amor tolerante, e os ímpios com amor benevolente, embora sejam nossos inimigos; quando somos fiéis com relação aos nossos relacionamentos, e discernimos nossos deveres, a fim de não enveredarmos para o extremismo; e demonstramos habilidades, prontidão e prazer para realizarmos nosso deveres, e paciência quando em sofrimento; esta é a vida de um cristão confirmado, em vários graus, conforme a graça que Deus concedeu a cada um.
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