Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador! É isso mesmo?
Podemos
aceitar que existe um sentido genérico do amor de Deus. Ele demonstra e
fala de amor ao mundo, à humanidade, à sua criação. Como calvinista,
não tenho nenhuma dificuldade em aceitar isso. Temos que entender,
porém, que no sentido salvífico (a salvação eterna da perdição e
condenação do pecado) o amor de Deus é derramado exclusivamente sobre o
seu povo e, individualmente, sobre os que ele eficazmente chama para si.
Sobre aqueles que responderão, ao chamado eficaz, abraçando a Cristo
como único e suficiente Salvador.
A
frase "Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador", entretanto, por mais
que seja proferida e repetida, é uma forma simplista de expressar uma
situação complexa, pois realmente é impossível separar o pecado do
pecador, como se o pecado fosse uma entidade com vida independente, que
apenas se utiliza do corpo e da mente do praticante.
Tiago (1:12-15)
nos ensina que o pecado é gerado dentro das pessoas, partindo da
própria concupiscência, externando sua prática em um relacionamento
"simbiótico" (de dependência mútua) com o praticante. Sem barreiras e
controles, enfim, sem a redenção, leva à morte.
O
pecado é algo odioso em suas manifestações. Estas são verificáveis nas
pessoas, pecadoras, sem as quais ele é indescritível e amorfo.
Em Romanos 9:11-18
a Bíblia fala do "aborrecimento" (ódio) de Deus contra Esaú,
contrastando com o amor derramado sobre Jacó. Mas a Palavra de Deus
expressa em outras ocasiões (além desse caso específico, de Esaú e Jacó)
o ódio ("aborrecimento") de Deus a pecadores. Isso ocorre, porque ele é
tanto JUSTIÇA como AMOR.
Por exemplo, no Salmo 11:5,
lemos "O Senhor prova o justo e o ímpio; a sua alma odeia ao que ama a
violência". Veja que ele não odeia somente a violência (inexistente, sem
o praticante), mas "ao que ama a violência" - uma pessoa, o pecador.
Em Provérbios 6:16-18
lemos sobre sete coisas que o senhor abomina (odeia): olhos altivos,
língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama
projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha
falsa que profere mentiras, e o que semeia contenda entre irmãos. Quando
lemos essa descrição das "coisas" que o Senhor odeia, vemos que elas
não são especificamente "coisas", mas são pessoas que realizam certas
ações; a descrição é a de pessoas que Deus abomina. Isso fica bem claro
nas duas últimas "coisas" - uma pessoa, ou outra, que é: "testemunha
falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos".
Não
resta dúvida, portanto, que pelo menos nessas instâncias específicas
Deus odeia pecadores. Consequentemente, isso deve nos fazer cautelosos
de dar uma declaração genérica e abrangente de que ele não odeia
pecadores, pois esse ensinamento não pode ser atribuído, dessa maneira, à
Bíblia e carece de inúmeras qualificações.
by Solano Portela
Fonte: O Tempora, O Mores Via Bereianos
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