Marketing Evangélico. Evangélico? Sério?! (Jesus era o fiasco do marketing.)
Vendo
TV e notícias na internet, logo constato que os programas e eventos
organizados pelas igrejas estão ficando cada vez mais exóticos e
excêntricos. Os apelos evangelísticos lançados ao proselitismo nos
templos e nas ruas pelos novos pouco menos de 20% de evangélicos que
ganhamos nos últimos anos têm mudado a cara da igreja cristã e rompido
com os velhos paradigmas.
Não
consigo enxergar muita semelhança na mensagem e no modo de transmiti-la
quando comparo as igrejas modernas com Jesus Cristo. O evangelismo
acelera para a bancarrota total da apostasia, uma vez que tem buscado
agradar e refletir mais os anseios egoístas dos homens do que a Deus e
sua palavra.
Jesus
era o fiasco do marketing. Ele era aquele que, a julgar pelas
estratégias e métodos de propaganda e divulgação atuais, deveria ter
sido o aluno esquisito, o irrritante, o do contra, o baderneiro do
fundão da sala de aula – o irônico e politicamente incorreto. E o motivo
é muito simples: enquanto as igrejas tentam propagar o evangelho
tornando-o mais apetecível, cômodo, promissor e atraente para os seus
“consumidores”, “usuários”, “espectadores” e “clientes”, Jesus fazia o
contrário: ele praticamente “espantava” os aspirantes a seguidores
valendo-se de desafios, dificuldades e exigências, fazendo com que
muitos deles, especialmente os mais ambiciosos, tímidos, interesseiros e
intransigentes desistissem antes mesmo de tentar segui-lo.
Ele
era péssimo propagandista. Conseguiu arrebanhar, confundir e dispersar
multidões, irritar autoridades, expor o verdadeiro caráter de seus
contemporâneos, dividir uma religião e desprezar todas as demais
(pondo-se como único camnho para Deus) e contrariar o mundo.
Ele
estabeleceu uma nova ordem, apresentando-se como servo e como Deus: o
Caminho, a Verdade e a Vida, o Salvador do Mundo: o que o distinguia de
todos os outros que o antecederam. O Homem era uma dinamite implodindo o
sistema. Conseguiu a proeza de, mesmo sendo muito carismático e
acessível a todos, diminuir o número de seus seguidores de setenta e
dois para doze, sendo que um deles, desde o princípio, era um joio do
mal, e, mesmo assim, antiestrategicamente (em relação ao marketing), foi
escolhido por ele, para tentar destrui-lo.
Ele
afirmava pregar um tal “evangelho”, o qual tornou-se obsoleto e
desprezível para uma multidão controvertida que o afirma seguir hoje, a
qual se denomina com a palavra que designava aquele ensinamento (“os da
boa-notícia”), sem, entretanto, guardar identidade ideológica e prática
com ela – antes contrariando-a, e perdendo, assim, o rumo e a essência
da palavra do Senhor.
Ele
não usava “jingles” nem “slogans” e apresentava os entraves à sua
mensagem até mais enfaticamente do que as benesses prometidas; atraía
pessoas de má-fama e censurava pessoas de boa fama; exigia mudança de
vida e renúncia total, perfeição de caráter e de coração; exaltava os
que passam por dificudades e lhes prometia a solução de seus problemas –
mas não nesta vida, que lhes guaradava provações; garantia a todos que o
seguissem que não seria fácil, que se conformassem com o pouco, que
dependessem da fé em Deus, e, ainda assim, não permitia que se
envergonhassem dele e que o negassem diante dos homens; falava de
pecado, inferno, redenção, perdão, humildade e novidade de vida... E
quem não quisesse deixar tudo para trás, incluindo a própria família,
para ser seu discípulo, era julgado indigno: poderia dar meia-volta e ir
embora. Jesus era categórico. Com ele não tinha nhe-nhe-nhém, oba-oba,
moleza e nem mas.
Hoje
algumas igrejas promovem lutas de boxe, de jiu-jitsu, espetáculos,
campanhas de promessas de bênçãos monetárias, materialismo, curas
instantâneas e sem comprovação, centralização das pessoas em torno de
uma casta de líderes de moral e princípios questionáveis, a supremacia
do ego, a desimportância do arrependimento, a soberania absoluta e
onipotente da fé na fé, o senhorio divino meramente professo, o
discipulado da inquestionabilidade pastoral, a abolição do pensamento, o
entorpecimento espiritual, a carnalidade do aprender, a maldade
intrínseca do prazer, e, quando convém, o hedonismo disfarçado de
cristianismo, alianças políticas escusas em busca do poder temporal, um
deus subserviente, um salvador mosca-morta e um espírito de baderna,
loucura e confusão, um diabo com atrbutos divinos e uma mensagem que
agrega indivíduos a empresas de família com fachada de igreja,
destinadas a enriquecimento ilícito de seus donos, cobertura de crimes e
extorção da fé alheia.
Toda
esta cloaca humana, infelizmente, é chamada de “evangelho” hoje. E é
divulgada como uma espécie de “commodities” de grife eclesiástica,
utilizando-se do melhor (e do pior) que a ciência da propaganda pode
fazer. Nada tão oposto ao que Jesus pretendeu.
Como
eu dizia, Jesus implodia o sistema para fazer novas todas as coisas.
Muitas “igrejas” apenas rebolam para se encaixar no obsoleto sistema
mutante da moda humana, que, em breve, será conjugado no pretérito, para
sempre, e relegado ao esquecimento eterno, porque já foi condenado e
pregado na cruz pelo mais-que-perfeito Verbo Divino, o Autor da
história.
by Avelar Jr.
Fonte: Não, obrigado! Via: Bereianos
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